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Desde os primórdios nas sociedades patriarcais as mulheres sofrem preconceitos, são menosprezadas e sofrem um tratamento destoante em relação ao sexo masculino.

Um dos principais temas que geram esse conflito entre sexos é também aquilo que proporcionou à mulher atual a maior liberdade em se tratando desse mundo cheio de preconceitos. Trata-se do mercado de trabalho.

Foi através do trabalho que a mulher pode se desenvolver por conta própria, quebrou barreiras, tabus e conseguiu se libertar das amarras masculinas que a estigmatizavam como sendo inferiores. Xenofonte, pensador grego, consegue retratar bem esse preconceito quando diz que:

Os Deuses criaram a mulher para as funções domésticas, o homem para todas as outras. Os Deuses a puseram nos serviços caseiros, porque elas suportam menos bem o frio, o calor e a guerra. As mulheres que ficam em casa são honestas e as que vagueiam pelas ruas são desonestas.

(Xenofonte: 427 – 355 a.C ).

Este é um claro exemplo de como as mulheres eram menosprezadas na antiguidade. Porém esse preconceito continua, talvez de forma mais branda, mas ainda persiste em acometer a sociedade.

Ainda, se tratando dessa forma de visão do mundo, Sonia Bossa, Advogada e escritora destaca em seu estudo acerca do tema.

Em tempos antigos, a mulher era escravizada pelo marido, permanecendo na mais perfeita ignorância. Era considerada como um ser marginalizado, a quem se devia deixar no desconhecimento e na servidão. Reclusas a uma vida doméstica, vivia com a única finalidade de procriar e cuidar dos filhos, contribuindo nos afazeres domésticos, muitas vezes além das suas forças.

Era considerada como um campo fértil destinado a receber a semente masculina a fazê-la frutificar. Aos homens devia total obediência e respeito nas formas de contrato matrimonial, onde prevaleciam os interesses materiais da união em detrimento de possíveis aspirações pessoais.

(BOSSA, 1998, p.01).

A autora usando uma metáfora simples consegue deixar claro o que pretendia. A mulher em tempos passados era propriedade do homem e deveria esquecer qualquer vontade própria para que pudesse assim fazer apenas as vontades de seu marido, visando apenas a família.

Hoje se sabe que foi com a revolução industrial que a mulher pode adentrar ao mercado de trabalho.

O primeiro contingente feminino que o capitalismo marginaliza do sistema produtivo é constituído pelas esposas dos prósperos membros da burguesia ascendente. A sociedade não prescinde, entretanto, do trabalho das mulheres das camadas inferiores. Muito pelo contrário, a inferiorização social de que tinha sido alvo a mulher desde séculos vai oferecer o aproveitamento de imensas massas femininas no trabalho industrial. As desvantagens sociais de que gozavam os elementos do sexo feminino permitiam a sociedade capitalista em formação arrancar das mulheres o máximo de mais-valia absoluta através, simultaneamente, da intensificação do trabalho, da extensão da jornada do trabalho e de salários mais baixos que os masculinos, uma vez que para o processo de acumulação rápida de capital era insuficiente a mais-valia relativa obtida através do emprego da tecnologia então. A máquina já havia, sem dúvida, elevado a produtividade do trabalho humano; não, entretanto, a ponto de saciar a sede de enriquecimento da classe burguesa. (SAFFIOTI, 1978, p.36).

Mesmo se inserindo no mercado de trabalho a mulher recebia salários menores e ainda tinha de aguentar jornadas exaustivas maiores que as empregadas aos homens. Através de uma ordem de fatores a mulher pode colaborar com o sistema de industrialização, mesmo este sendo injusto e opressivo.

O autor Octavio Bueno Magano, em sua obra, trata dessa inserção da mulher ao trabalho industrial.

A Revolução Industrial constituiu o fato gerador das normas de proteção ao trabalho feminino. Com efeito, o manejo das máquinas e a sua vigilância podiam ser feitos tanto por homens como por mulheres, sendo certo que a preferência dos empresários recaia frequentemente sobre as últimas, por aceitarem salários inferiores aos dos primeiros. E explica-se isso porque se sentiam deslocadas já que não estavam afeitas senão aos afazeres domésticos. Com salários baixos, vencidas na concorrência que tinham de travar com os homens, sujeitas a péssimas condições de trabalho, era natural que despertassem o sentimento de que necessitavam de leis protetoras. (MAGANO, 1992, p.98).

Tendo em vista toda a desvantagem que acompanhava as mulheres quando estas tentavam a independência, fica fácil compreender porque os patrões capitalistas, sedentos por mais fortuna as preferiam em detrimento dos homens.

Lógico que isso tinha de acabar e deveria, portanto, ocorrer a criação das primeiras leis que visassem o cuidado e a preservação do trabalho feminino.

O trabalho feminino ficava desprotegido, se tornando assim manipulável e de certa forma, uma espécie de escravidão legal.

O Estado não interferia nas relações jurídicas de trabalho, permitindo toda a sorte de exploração. As mulheres eram remuneradas ao livre arbítrio dos patrões, eram desprezadas e colocadas em postos inferiores, com menores salários; as menos instruídas eram consideradas aptas somente em certos períodos de sua vida, ou seja, quando jovens e solteiras, exercendo apenas um tipo de atividade sem qualquer profissionalização. (BOSSA, 1998, p.03).

Através do estudo da autora, percebe-se então que a mulher ficava a mercê da boa vontade do patrão e de seu bom senso. Embora, como visavam apenas o lucro e não se tinha um ordenamento jurídico qualquer, estes por sua vez apenas exploravam mais e mais o trabalho feminino.Houve, portanto, a tentativa de se criar leis que fariam com que a mulher fosse protegida.

As normas de proteção do trabalho da mulher, deram-se com o objetivo de retirar a mesma de certas condições de trabalho. Essas medidas protetivas provocaram um barateamento na força de trabalho e o deslocamento das mulheres para setores não regulamentados e em industrias menos desenvolvidas. (BOSSA, 1998, p.03).

Desta forma, até mesmo as normas de direito do trabalho que vieram para regular e dar proteção, não foram de fato benéficas, tendo em vista que as mulheres tinham de procurar empregos que não seguissem estas regras, para que assim conseguissem ser contratadas.

As primeiras normas de direito do trabalho que protegiam especificamente as mulheres datam de 1842 na Inglaterra.

O referido sistema de proteção à mulher consubstanciou-se, na Inglaterra, no “Coal Mining Act”, de 1842, em que se proibiu o trabalho de mulheres em subterrâneos; no “Factory Act, de 1844, que limitou a doze horas o trabalho da mulher, proibindo-o no período noturno (de dezoito e trinta a cinco e trinta); no “Factory and Workshop Act”, de 1878, que vedou o emprego de mulheres em trabalhos perigosos e insalubres. Na França, devem ser citadas a lei de 19 de maio de 1874, que proibiu o trabalho das mulheres em minas e pedreiras, vedando-lhes também o trabalho noturno, desde que menores de vinte e um anos; a lei de 2 de novembro de 1892 que limitou a onze horas a jornada das mulheres, e impôs aos chefes de estabelecimentos industriais e comerciais, em que trabalhassem, o dever de zelar pela observância dos bons costumes e das normas de decência pública; a lei de 31 de dezembro de 1900, que impôs aos proprietários de estabelecimentos comerciais a obrigação de os aparelhar com tantas

cadeiras quantas fossem as mulheres neles empregadas; a lei de 28 de dezembro de 1909, que atribuiu as mulheres grávidas o direito ao repouso não remunerado de oito semanas, proibindo-lhes carregar objetos pesados;

o decreto de 21 de junho de 1913, que interditou o trabalho de mulheres nas partes exteriores das lojas; o decreto de 21 de março de 1914, que vedou às mulheres a confecção ou distribuição de escritos ou outros objetos, cuja circulação fosse proibida pelas leis penais como contrária aos bons costumes.(MAGANO, 1992, p.99).

Foram, portanto, grandes conquistas na época para as mulheres que sofriam abusos. Porém no decorrer deste estudo percebe-se que não foi algo tão benéfico ao trabalho feminino, sendo que, muitas vezes, torna-se um fator discriminante.

Magano ainda destaca o que houve nos demais países europeus.

Nos demais países europeus, adotaram-se medidas semelhantes, o mesmo ocorrendo nos Estados Unidos da América do Norte, a partir de 1908, com o julgamento do famoso caso Muller Versus Oregon, em que se admitiu a constitucionalidade das leis editadas pelos Estados-membros, visando à proteção das mulheres. Nos países da América Latina, a legislação de tratando dos direitos femininos estipulados pela Organização Internacional do Trabalho e como estes foram ratificados no Brasil.

Inicia citando a Conferência da Paz, a qual deu origem ao Tratado de Versalhes que veio criar a Organização Internacional do Trabalho e ainda, nos diz que ficava assegurada a aplicação de leis e regulamentos para a proteção das trabalhadoras. Essa regulamentação por sua vez se apresentou sob um critério protecionista genérico, tratando apenas quanto à jornada de trabalho nas atividades insalubres e perigosas e especialmente sobre maternidade, gravidez e prole.

Com relação à jornada de trabalho, tal regulamentação se justificou no início, em razão das diferenças físicas da mulher, bem como das múltiplas tarefas a que estava submetida. A limitação para o exercício da atividade da mulher nas condições insalubres e perigosas é devido as agressões que o organismo feminino pode sofrer, ocasionando consequências prejudiciais posteriores. (BOSSA, 1998, p.6).

Segundo Bossa, o legislador, ao criar o regramento protecionista levou em consideração as diferenças físicas da mulher. Considerou que exercícios físicos em atividades insalubres ou perigosas apresentava demasiado risco para o organismo feminino, ocasionando consequências prejudiciais posteriores.

Ainda, Bossa, continua a sua linha do tempo no tocante ao trabalho feminino.

As normas protetoras da maternidade visam garantir melhores condições de cuidar da gravidez, do parto e da primeira infância, dada a importância desses processos para a vida da mãe e da criança. Diversas convenções e recomendações foram adotadas. Entra elas, a Convenção n. 3, de 1919, referente ao emprego da mulher antes e depois do parto. Ela foi ratificada no Brasil através do Decreto n. 51.627, de 18 de dezembro de 1962, sendo revista pela de n. 103, em 1952, que dispunha: “em hipótese alguma, deverá o empregador estar obrigado, pessoalmente a custear as prestações referentes à licença maternidade, a qual ficará a cargo de um sistema de seguro social obrigatório, ou de fundos públicos” (art. 4°, §§ 4° e 8°).

(BOSSA, 1998, p.6).

A autora traz como surgiu a regra e quando foi ratificada e estabelecida no Brasil, já acompanhando a ideia das prestações recebidas enquanto gozando do benefício da licença maternidade, ficando essas prestações a cargo do seguro social obrigatório e ou fundos públicos, não cobrando dos patrões, portanto.

Complementa a autora elucidando as outras Convenções da Organização Internacional do Trabalho. Tais como a de número 103 que assegura o direito a licença maternidade de doze semanas, com apresentação de atestado médico, sem prejuízo do salário e do emprego, com direito a assistência médica.

Foram assim surgindo outras Convenções, dando direitos e regrando o mercado de trabalho feminino.

A convenção n.4 de 1919, proibindo o trabalho noturno da mulher, foi revista em 1934 pela n.41, ratificada pelo Brasil e promulgada pelo Decreto n.

1396, de 19 de janeiro de 1937. Essa Convenção foi revista em 1948, pela Convenção n.89, ratificada pelo Brasil em 1965 e promulgada pelo Decreto n. 66.875, de 16 de julho de 1970. (BOSSA, 1998, p.6).

Assim acontecia, a Organização Internacional do Trabalho organizava suas Convenções e o Brasil ratificava suas normas depois.

Através dos anos foi se alterando e atualizando essas normas, como a última citada que depois foi alterada pelo Protocolo de 1990, da Organização Internacional do Trabalho.

Segundo Bossa ainda tivemos a Convenção n° 171, de 1990, dispondo novamente sobre o trabalho noturno, porém essa compreendendo homens e mulheres, gozando estas, entretanto, de proteção especial em relação a maternidade.

Depois a convenção n° 45 de 1935 referiu-se à proibição do trabalho feminino em minas subterrâneas. Esta Convenção foi ratificada pelo Brasil e promulgada pelo Decreto n° 3233, de 3 de novembro de 1938.

Assim se seguiu, versando sobre intoxicação por chumbo, emprego de cerusita na pintura e pesos máximos que a mulher poderia suportar. Umas das Convenções futuras ainda tratou da intoxicação por benzeno em mulheres grávidas ou no período de amamentação.

Depois, segundo Bossa, surgiram medidas protetivas quanto a salário, devendo este ser igual aos oferecidos aos homens que executavam o mesmo trabalho. Tivemos também normas que tentavam uma não discriminação em relação a matéria de emprego e ocupação.

2 DIREITOS ADQUIRIDOS PELAS MULHERES NO ATUAL ORDENAMENTO

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