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1. CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS

3.2 Desenvolvimento infantil

Desde o momento da concepção, tem início nos seres humanos um processo de transformação que continuará ao longo da vida. Uma célula que se torna indivíduo, um ser único, com transformações que as pessoas experimentam durante a vida certos padrões em comum. Igualmente, as características têm padrões em comum. Outras influências podem

modificar esses traços, pelo menos em grau moderado, especialmente as crianças (Papalia e Feldman, 2013).

As autoras abordam que o desenvolvimento humano está em constante evolução. Essa disciplina em seus objetivos busca incluir informações, explicação, previsão e intervenção no comportamento em várias idades. Procuram explicar como as crianças adquirem linguagem, e por que algumas crianças aprender a falar mais tarde do que o normal.

Todavia, o ser humano se desenvolve dentro de um contexto social e histórico, situação que está sujeito as influências externas, como o divórcio. O divórcio é uma espécie de ruptura no sistema familiar, trazendo uma série de mudanças na estrutura da família e nos relacionamento, especialmente para os filhos. O período do divórcio ocorre quando foram esgotados as possibilidades de convivência e os conflitos não puderam ser resolvidos por menor que sejam.

A existência da família resulta do relacionamento entre os pais no quadro social em que vivem. A família protege a criança do mundo, este aos poucos, vai se introduzindo ao convívio de tias, vizinhos e escola. A criança com aproximadamente 18 meses já se reconhece e com o passar do tempo começa a perceber seu corpo e nomeia suas características (Newcombe, 1999). O autor relata que o desenvolvimento dos filhos depende dos pais, de como eles estão psicologicamente, como promovem a segurança da criança e a sua independência. No caso de pais divorciados seria de extrema importância que o outro cônjuge permanecesse perto para melhor adaptação da criança no novo contexto familiar.

O desenvolvimento é uma função da herança de um processo de maturação e da acumulação de experiências de vida, mas esse desenvolvimento só pode ocorrer num ambiente propiciador. É muito importante o ambiente para o processo em desenvolvimento e um caminhar rumo à independência (Winnicott, 2005).

Cada indivíduo surge, desenvolve-se e torna-se maduro, mas não podemos considerar a maturidade adulta como algo separado do desenvolvimento anterior. Esse desenvolvimento é extremamente complexo que passa pela infância e adolescência. Quando proporcionamos um ambiente saudável e tratamos com amor, elas se tornam confiantes e independentes. Os pais que conseguem manter seus lares unidos estão na verdade prestando aos seus filhos um serviço

de inestimável importância, “é o ambiente circundante que torna possível o crescimento de cada criança; sem uma confiabilidade ambiental mínima, o crescimento pessoal da criança não pode se desenrolar, ou desenrola-se com distorções” (Winnicott, 2005).

As crianças têm sempre a necessidade de verificar se ainda podem confiar nos seus pais, essas verificações podem continuar até quando tenham crescido. Os adolescentes tendem a testar as mediadas de segurança e disciplina. A capacidade da criança só se manifesta com o crescimento e a maturidade, consequentemente só poderá sustentar sua opinião quando adulta, desde que não coloque em risco o crescimento de sua personalidade e o estabelecimento de seu caráter (Winnicott, 2005).

Todavia, muitas crianças mais jovens acreditam serem culpadas pelo divórcio de seus pais, além de outros efeitos negativos. Com a saída de casa de um dos genitores, além da perda do contato, a criança perde a atenção da figura paternal e do tempo de disposição. O filho começa a ter sentimento de insegurança em relação aos vínculos familiares, levando a dificuldades em autoestima.

Igualmente, para os pais também é difícil já que o fato daquela relação acabar e com ela for junto um conjunto de trocas, sejam financeiras ou afetivas. O ex-cônjuge experimenta uma nova rotina e modifica toda a dinâmica familiar. A separação traz sentimentos de incertezas, ressentimento e dúvida que perpassam por todos. Há muita angústia decorrente da separação e mudanças de humor que em muitos casos perdura por anos. Logo, esse período é extremamente delicado para todos e por isso é importante dedicar o máximo de tempo com as crianças durante esta fase, para que a mudança repentina na base familiar não afete diretamente os filhos, podendo prejudicar no desenvolvimento intelectual, social, emocional e físico dos infantes.

De acordo com Papalia e Feldman (2013), os cientistas do desenvolvimento humano estudam três principais domínios: físico, cognitivo e psicossocial. No que tange ao crescimento físico temos o crescimento do corpo e do cérebro, as capacidades sensoriais, motoras e a saúde. Já o desenvolvimento cognitivo compõe a aprendizagem, a tensão, pensamento, raciocínio e criatividade. E o psicossocial, a personalidade a as relações sociais, sendo que todos estão interligados.

Os filhos no processo de divórcio podem sofrer uma desordem, podendo gerar danos irreparáveis em vários aspectos para o seu desenvolvimento. Esses danos variam de acordo com a idade devido ao sentimento de abandono, perda de identidade e perda de proximidade deu um dos genitores. Muitas vezes não conseguem entender o que está acontecendo e podem se sentir culpados pelo divórcio, influenciando negativamente na sua formação como sujeito. Alguns menores podem apresentar um comportamento mais solitário, distanciando-se dos colegas, amigos e também da família, ou até mesmo agindo de forma agressiva.

Por isso, é muito importante que um dos genitores esteja equilibrado emocionalmente para dar o suporte necessário aos filhos. Além disso, deve observar o rendimento escolar como sinal de adequação à nova situação familiar, podendo apresentar choro fácil e isolamento, conforme destaca Araújo (2010, p. 41):

O rendimento escolar é um importante indicador. Quando o divórcio ocorre nessa fase, o bom desempenho escolar é interpretado como um sinal de boa adequação à nova situação familiar. No entanto, existindo um insucesso escolar e alterações comportamentais não satisfativas como agressividade, choro fácil, isolamento, dentre outros sintomas, são os principais motivos que acarretam à consulta especializada de um Psicólogo.

O mesmo autor salienta que pode haver sintomas como baixa autoestima, falta de maturidade, falta de atitudes para atividades habituais, negação de responsabilidades de seus atos, menos nível emocional, ocasionando instabilidade nos relacionamentos e maior consumo de álcool e drogas. Já as crianças em idade escolar, estas têm reações mais complexas e indiretas, podendo manifestar depressões, dificuldades na escola e transtornos psicossomáticos.

No entanto, nem toda criança apresenta problemas decorrentes da separação dos pais, pois não é a separação que traz consequências emocionais negativas para os filhos, mas outras variáveis como a existência de conflitos entre os cônjuges e a habilidade dos pais na educação das crianças. As práticas educativas relacionadas à aceitação, como manter conversação com os filhos, podem minimizar esses efeitos negativos. Dessa forma, seria uma fonte de apoio para compartilhar sentimento e receios sobre a separação dos pais.

A situação de vida pode ser traumática para uma pessoa e não para outra. E a questão de como a situação é manejada, ou seja, se a criança recebe ajuda adequada ou não. Assim, afirmar que a separação gera problemas nos filhos é rotular, sendo que eles ainda não cresceram

ou demonstraram suas características pessoais. Nesse sentido, a doença das crianças que sofreram privações não resulta da perda em si, mas que ocorreu em um estágio de desenvolvimento emocional em que ainda era capaz de ter uma reação madura.

Assim, muitas vezes as crianças buscam ocupar e concretizar o papel do outro cônjuge, como assevera Dolto (1989, p. 14):

[...] o pai só assume a importância na vida da criança pequena pelo fato de a mãe falar dele e pela maneira como esta lhe fala sobre ele. Já a menina tem por si mesma – mesmo que a mãe não lhe fale dele – uma ração direta diante do pai, uma atração direta por ele [...]. O pai é protótipo eletivo dos homens para as meninas, a não ser que a mãe realmente se oponha a eles de tal maneira que não consiga suporta-los.

É identificado como Édipo Invertido, quando as crianças concretizam fantasias agressivas em relação ao casal, com objetivo de separar os pais e ter o outro cônjuge. Os pais mesmo separados devem dentro de o possível manter a imagem do outros para atravessar esse período delicado.

Muitas crianças apresentam sofrimentos que devem ter acompanhamento médico, cujas situações litigiosas dos pais criaram profundas marcas somáticas. Aspectos emocionais que foram guardados e que ressurgem como dificuldade em relacionamentos afetivos e até mesmo repetição de um processo inconsciente.

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