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Os direitos fundamentais no Estatuto da criança e do adolescente

1. CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS

2.1 Os direitos fundamentais no Estatuto da criança e do adolescente

O art. 2º da Lei do Estatuto da Criança e do Adolescente considera criança até 12 anos de idade e adolescentes entre 12 anos e 18 anos de idade incompletos. Segundo Amin (2014) levou-se em conta o critério biológico para fixação do âmbito da aplicação do estatutário. Assim, é necessário abordar os direitos essenciais para os jovens que garantem as condições para um viver digno e respeitável, uma vez precisando de auxílio, a sociedade e o próprio Estado devem criar um ambiente propício para o desenvolvimento saudável.

No âmbito do Estatuto da Criança e do Adolescente, os direitos fundamentais da criança e do adolescente são divididos em: a) direito à vida e à saúde (art. 7 a 14), b) direito à liberdade, ao respeito e à dignidade (art. 15 a 18), c) direito à convivência familiar e comunitária (art. 53 a 59), d) direito à educação, à cultura, ao esporte e a lazer (art. 53 a 59) e e) direito à profissionalização e à proteção no trabalho (art. 60 a 69). Além disso, vale destacar que esse rol é exemplificativo, devendo ser aplicado em todos os campos, direitos fundamentais que também estão destacados no art. 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, como assim dispõe:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Os direitos fundamentais podem ser entendidos como direitos do homem, ou da sua personalidade, devem entender-se aqueles que o ser humano tem em face de sua própria

condição. São direitos naturais, impostergáveis, anteriores ao Estado, e inerentes à natureza livre do homem (Bittar, 2000).

Nesse sentido, os direitos fundamentais são impostos pela soberania popular aos poderes constituídos do Estado como destaca José de Afonso da Silva (1990, p.160):

A expressão direitos fundamentais do homem [...] não significa esfera privada contraposta à atividade pública, como simples limitação do Estado ou autolimitação deste, mas limitação pela soberania popular aos poderes constituídos do Estado que dela dependem.

Observa-se, que o primeiro direito fundamental das crianças e adolescentes é o direito à vida e a saúde. O direito à vida é um direito fundamental homogêneo considerado como elementar e absoluto dos direitos, pois indispensável para o exercício dos demais. É o direito de viver bem, desde o momento da formação do ser humano (Amin, 2014).

Trata-se de assegurar dignidade na forma de viver, seja ela propiciando uma cadeira de rodas, transporte escolar e eventual cirurgia, todas as formas de resguardar o sadio desenvolvimento da criança. Existe proteção a personalidade civil da pessoa desde no nascimento com vida, em que são postos a salvo os direitos do nascituro, de acordo com o art. 2º do Código Civil.

O Estatuto da Criança e do Adolescente menciona no art. 7º que esse direito chama o Estado para o dever de efetivar as políticas públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento harmonioso. A gestante também é sujeito especial no Estatuto quando se aborda o disposto no art. 8º, sendo-lhe assegurado o atendimento pré-natal pelo Sistema Único de Saúde (Lamenza, 2011).

Como se pode ver, o direito fundamental à vida está na essência do ser humano, passando em todas as fases desde a sua concepção, “[...] o direito fundamental à vida é previsto no ordenamento jurídico para o fim de tutelar o ser humano desde a sua concepção, passando para a fase gestacional, caminhando pela infância e tendo seu ápice na adolescência [...]” (LAMENZA, 2011, p. 35).

Contudo, no direito fundamental à saúde, diz respeito à integridade física da criança e do adolescente, mas também o equilíbrio entre o físico e o psicológico no organismo em fase de desenvolvimento, mediante a efetivação de políticas públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento harmonioso, disposto no art. 7º do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Além disso, o Estado é chamado para que assegure a saúde das crianças e adolescentes, mediante o fornecimento de medicamentos necessários para o combate de doenças, pela estrutura de hospitais e para redução de dificuldades vivenciadas no dia-a-dia pelos portadores de necessidades especiais (Lamenza, 2011).

No sistema de garantias do Estatuto da Criança e do Adolescente, cabe à família, à comunidade e o poder público assegurar esse direito fundamental. Cabe aos pais, como dever inerente do poder familiar, cuidar do bem-estar dos filhos, levando-os regularmente no médico e principalmente na infância, período mais frágil. No aspecto psíquico, já que os filhos acolhidos, amados e ouvidos terão menos problemas de sofrerem abalos psicológicos (Amin, 2014).

Todavia, se a família não tem condição de manter as crianças, cabe muitas vezes ao poder público elaborar políticas sociais por meio de programas garantidores de renda mínima, como a Bolsa Família e a Fome Zero. O Conselho Tutelar também pode fazer o encaminhamento quando houver suspeita ou confirmação de tratamento degradante, castigo físico e tratamento cruel contra crianças e adolescentes, de acordo com o art. 13 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

O direito à saúde é tão relevante que há a preocupação no fornecimento de apoio alimentar à gestante e ao recém-nascido por ocasião da amamentação, conforme preconiza o art. 8º, § 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 8o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde.

A prestação do serviço público de saúde ficou a cargo do Sistema Único de Saúde (SUS), seguindo as premissas de descentralização, atendimento integral com prioridade para atividades preventivas e participação da comunidade. Se houver falta de programas, cabe o envolvimento do Ministério Público e da comunidade para provocar o poder público ao atendimento da demanda social (Amin, 2014). Nesse sentido, todas as esferas e particularidades tem obrigação de zelar pelo bem-estar das crianças e adolescentes, garantindo-lhes um desenvolvimento sadio.

Em seguida, temos os direitos fundamentais à liberdade, ao respeito e à dignidade. O direito à liberdade não pode ser tolhido das crianças e adolescentes, eles são livres para ir e vir, para pensar, para se expressar e para se dedicar ao credo religioso. O art. 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que liberdade é também a liberdade de brincar, praticar esportes e participar da vida em família.

No entanto, essa liberdade não é absoluta, há oportunidades que o Estado pode valendo- se de seu papel de protetor dos interesses infantojuvenis expressos na Lei nº 8.069/90, não apenas como dever de intervir, mas garantir a integridade física e moral, conforme salienta Lamenza (2011, p. 42):

O art. 75 da referida Lei menciona hipótese em que crianças e jovens têm direito a acesso a diversões e espetáculos público, “classificados como adequados a sua faixa etária”, vedando-se o ingresso em eventos ou ambientes perniciosos a sua regular formação [...] o direito fundamental da liberdade de locomoção e circulação de crianças e jovens ainda sofre restrições por parte do Estado no tocante a sua viagem em território nacional ou para o estrangeiro, sendo fixadas condições para sua autorização em caso de deslocamento sem os pais ou responsáveis [...]

O direito fundamental ao respeito e à dignidade também merece destaque. O direito ao respeito está previsto no art. 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente que versa sobre o direito da inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral dos jovens, abrangendo os valores, crenças e identidade. No entanto, respeitar a criança e o adolescente é não agir com abuso de poder disciplinado, sejam eles pais, padrastos, responsáveis, que transformam a criança e o adolescente em meros objetos, conforme salienta Ferreira (2008, p. 38):

[...] uma das manifestações mais evidentes de ofensa ao direito ao respeito consiste na prática da violência doméstica, que se manifesta sob a modalidades de agressão física, sexual,, psicológica ou em razão da negligência, que, como

já afirmamos, está presente em todas as classes sociais, sem distinção, e ocorre de forma intensa como resultado do abuso de poder disciplinados dos adultos, sejam eles pais, padrastos, responsáveis, que transformam a criança e o adolescente e meros objetos, como consequente violação de seus direitos fundamentais, em especial o direito ao respeito como ser humano em desenvolvimento.

Destarte, há processos nas Varas de Família nos quais os pais separados fazem os filhos verdadeiros joguetes, pedindo que inventem histórias ou que ocultem verdades, como é o caso do pai e a mãe que cala a filha pra que não denuncie abusos sofridos. Essa conduta, além de não trazer nada de positivo para o encerramento das pendências judiciais entre as partes, contribui para lançar os filhos nessa fogueira que já estão traumatizados pelo rompimento do vínculo dos pais (Lamenza, 2011).

Nesse sentido, destaca o autor que esse direito especialmente quando aborda a questão atinente à intimidade infanto-juvenil, não é absoluto. Em alguns casos, evidentemente esse direito ao respeito dará lugar ao direito de terceiros ou ao interesse público. Um exemplo é o direito à imagem, em que deve ser resguardado o seu direito de intimidade. Quanto à dignidade infanto-juvenil, o art. 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente, dispõe: “Art. 18. É dever de todos velarem pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”.

Nesse sentido, salienta Lamenza (2011, p. 66, grifo do autor):

Em primeiro lugar, há de se imaginar os contornos que o legislador deu à noção relativa à dignidade infantojvenil. Embora o contido no referido artigo da Lei 8.069/90 se refira unicamente às hipóteses em que crianças e jovens estão com seus direitos potencial ou efetivamente abalados pela ocorrência de fatores externos negativos (desumanidade, violência, terror, vexame ou constrangimento), devemos ter em mente que a noção de dignidade de crianças e jovens é bem mais abrangente, alcançando todos os direitos fundamentais a eles correspondentes. Temos, pois uma vida digna não apenas para os infantes e jovens postos a salvo de tratamento indevido por parte de quem quer que seja.

Dessa forma, o legislador deu ao respeito e à dignidade as feições dos direitos fundamentais, buscou abranger o máximo de bens jurídicos envolvidos e, sobretudo salientou que essa demanda é de responsabilidade de todos. Já no que se refere ao direito à convivência familiar e comunitária, por disposições expressas do Estatuto da Criança e do Adolescente, os infantes e jovens têm o direito essencial de serem criados de modo a se assegurarem valores

essenciais como o sustento, guarda e proteção, caso em que falhar a família, caberá ao Estado buscar família alternativa para zelas pelos interesses da criança, conforme salienta Lamenza, (2011, p. 68)

Falhando a família de origem injustificadamente nessa tarefa, caberá ao Estado, na qualidade de guardião essencial dos direitos da criança e do adolescente (incorporado na figura do Ministério Público) e de Poder a decidir sobre o melhor para o público inafntojuvenil (na pessoa do Estado-juiz), buscar família alternativa, adequada para melhor adimplir a tarefa de bem zelar pelos interesses básicos da criança e do adolescente.

Por obséquio, o Estado nessas condições diligenciará nos diversos patamares da sociedade até que se encontre um lar substituto adequado. Primeiro buscará junto aos outros familiares como avós, tios e primos, depois procurará junto às pessoas com quem determinado infante tenha mais afinidade, conforme art. 28, § 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.

§ 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido em audiência.

Assim, caso não tenha nenhuma pessoa nessas condições, e esgotadas as possibilidades de inserção da criança, iniciará o Estado a busca a outra família substituta, estranha aos círculos pessoais. Em que pese também não haver sucesso, será aberto a possibilidade de diligenciar junto a família substituta que venha a ter domicílio estrangeiro, conforme art. 31 do Estatuto da Criança e do Adolescente: “Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente admissível na modalidade de adoção”.

Segundo Lamenza (2011), o Estado como ente responsável pela tutela integral dos infantes deve propiciar igualmente a convivência familiar. A ideia reside no fato de que jovens que passaram por situações de risco serão institucionalizados em obras públicas ou privados, onde aguardarão o desenrolar dos acontecimentos. Sendo assim, deve o Estado estar atento para que o jovem permaneça o menor tempo possível para ir à família substituta. Essas crianças e adolescentes não podem ser privados de terem contato com outros membros sociais que o cerca, devendo ser propiciado as conduções à escola e clube.

Observa-se, pois, importante tarefa do Poder Pública no trato da questão referente às crianças e aos adolescentes em situação de abrigo. No caso de uma internação excepcional, deverão ser buscadas alternativas para que tal situação não se perenize, indo o infante ou o jovem para seu lar de origem- ou, na impossibilidade, para família substituta.

Por outrora, temos o direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer. O processo educacional visa à integral formação da criança e do adolescente, buscando o seu desenvolvimento, para o preparo do exercício da cidadania, disposto no art. 205 da Constituição Federal e no art. 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente. É um direito fundamental que permite a instrumentalização dos demais, pois sem conhecimento não há o implemento dos demais direitos. A ignorância leva a uma passividade generalizada que impede questionamentos e impede o amadurecimento da nação (Amin, 2014).

Ressalta-se que apesar da educação ser um direito fundamental, seu exercício deve ser regular. Caso a criança ou adolescente que se comporta de maneira contrária à escola, prejudicando o regular exercício, num primeiro momento cabe à escola em conjunto com o os pais diagnosticar os motivos que levam o aluno a apresentar um comportamento prejudicial, podendo ser aplicado medidas disciplinar (Amin, 2014).

Pela cultura, a criança e o adolescente apreendem o que está ao seu redor e desenvolvem noções conceituais. A cultura deve ser respeitada conforme as peculiaridades regionais e as relativas à origem dos povos, de modo que as crianças possam expressar livremente o resultado de sua criação. No esporte, os infantes desenvolvem atividades físicas, favorecendo seu bem- estar corporal e também seu equilíbrio interior. E o lazer está caraterizado pelas práticas de atividades que venham em benefício de sua recreação e da quebra das rotinas do dia a dia, como a leitura e o descanso (Lamenza, 2011).

E por fim, temos o direito à profissionalização e à proteção no trabalho de crianças e adolescentes. O art. 7º, XXXIII da Constituição Federal versa sobre a possibilidade do jovem de 16 anos de idade possam iniciar atividade laborativa, com a exceção dos aprendizes, que podem começar com 14 anos a trabalhar. E no Estatuto da Criança e do Adolescente versa o art. 60 que podem ter acesso ao mercado de trabalho aos 14 anos e o art. 67 do mesmo dispositivo, traz sérias limitações ao trabalho de jovens em condições que possam pôr em risco

a sua situação física e psíquica, conforme dispõe: “Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menor de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz”.

O inciso I do art. 67 do Estatuto da Criança e do Adolescente, veda o trabalho noturno para o adolescente, tendo em vista que a falta de descanso apropriado pode minar essa evolução, sendo necessário respeitar os períodos de repouso noturno, além daqueles que possam contaminar a esfera moral do adolescente. O trabalho insalubre, perigoso e penoso (inciso II) também é vedado, o penoso é aquele que traz sofrimento ao adolescente, o insalubre, o inciso III versa sobre a proibição de trabalho em locais prejudiciais à sua formação e ao desenvolvimento saudável, como boates e cassinos (Lamenza, 2011).

Nesse sentido, também é vedado o trabalho ao jovem em horários e locais incompatíveis com a frequência escolar disposto no inciso IV do mesmo dispositivo, como salienta Lamenza (2011, p. 78):

[...] Trata-se de vedação perfeitamente compreensível, já que, entre o direito fundamental à educação e referente ao trabalho, prevalece o primeiro. A formação intelectual do jovem é primordial porque constitui base para uma série de passos no futuro profissional do adolescente. Se ele deixa de estudar para trabalhar, abre mão de um currículo que poderia muito bem ser utilizado para futuros avanços no campo do trabalho.

Vale ressaltar que também é assegurado aos adolescentes os seus direitos trabalhistas e previdenciários, disposto no art. 227, § 3º, II da Constituição Federal. Trata-se de importante garantia que não permite o trabalho juvenil como forma de burlar a legislação. Além disso, os deficientes também gozam de proteção especial no trabalho, conforme art. 66 do Estatuto da Criança e do Adolescente, como forma de inclusão social, recebendo tratamento diferenciado no que tange, por exemplo, à construção de rampas de acesso (Lamenza, 2011).

O autor também salienta que o Estatuto da Criança e do Adolescente, como visto, traz uma série de direitos considerados como fundamentais para infantes e jovens como condição necessária para um desenvolvimento harmonioso. Todavia, o Estado tem papel fundamental na tutela dos direitos fundamentais, já que dele depende a garantia deles como corolário dos princípios da proteção integral, ao lado da família e da sociedade.

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