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1 DESENVOLVIMENTO: DO QUE SE ESTÁ FALANDO?

1.3. DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL

Esta abordagem exerce um papel teórico importante ao apontar a necessidade de se compreender as mediações entre as estruturas sociais, os comportamentos individuais e a ação dos indivíduos e suas manifestações coletivas, que se dão a partir das instituições (THERET, 2003).

Um aspecto fundamental para entender esta nova abordagem é ter claro que existem várias escolas institucionalistas, tendo como base a Economia, a Sociologia e a Ciência Política1. As duas principais diferenças entre elas situam-se no campo da oposição entre: o peso que atribuem à gênese das instituições aos conflitos de interesse e de poder ou à coordenação entre indivíduos e o papel que atribuem à racionalidade instrumental, às representações e à cultura na relação entre instituições e no comportamento dos agentes (THERET, 2003). A ênfase nesta pesquisa será dada à nova economia institucional por ser a mais recorrente nos estudos sobre desenvolvimento territorial e por aprofundar os debates sobre a mudança institucional.

A teoria neo-institucionalista parte do princípio geral de que as instituições são fundamentais para o processo de desenvolvimento. North (1991) demonstra por meio da história qual é o papel das instituições no desempenho das economias. Ele parte do princípio de que a história pode ser entendida como a história do desenvolvimento institucional.

Para a nova economia institucional, instituições são as regras do jogo e podem ser formais, tais como as leis e regras, em geral impostas por um governo ou agente com poder de coerção, e informais, que seriam as normas, códigos de conduta ou valores constituídos pela sociedade. O Estado tem um papel fundamental, pois impõe e responde diretamente pela manutenção das regras formais (NORTH, 1990). Esta abordagem apresenta um avanço em relação às teorias econômicas neoclássicas, pois incorpora elementos para além da acumulação de capital e da escolha racional para explicar o desenvolvimento.

As instituições proporcionam a estrutura de incentivos de uma economia e têm um papel fundamental na direção da mudança, seja em direção ao crescimento, estagnação ou









1 Para maiores detalhes sobre as diferenças de escolas ver o texto de Theret, 2003. Hall e Taylor (2003) apresentam outras divisões da teoria neo-institucionalista: o institucionalismo histórico, institucionalismo da

declínio, pois são elas, junto com a efetividade das imposições e/ou acordos, que determinam os custos de transação. Para North, (1990) as instituições reduzem os custos de transação porque diminuem os problemas da incerteza e, assim, incentivam as soluções cooperativas. Para o institucionalismo histórico, desenvolvido na Ciência Política, as instituições são formas de regulação de conflitos de interesses (THERET, 2003).

A solução para a evolução econômica está nas regras ou arranjos institucionais que estimulam ou inibem atividades produtivas. Para explicar sua tese, North (1990) trabalha a partir da relação entre matriz institucional, estrutura organizativa e mudança institucional e se utiliza do conceito de path dependence ou dependência do caminho. Isto significa que os mecanismos de retornos crescentes que reforçam a direção uma vez adotada, estimulam as resistências à mudança institucional.

Para North (1990), a fonte da mudança é o aprendizado de longo prazo e a questão essencial é “como este aprendizado individual se transforma em aprendizado coletivo e como isto se relaciona com a emergência das instituições” (FAVARETO, 2007, p.64).

Apesar de avanços em relação à economia neoclássica, este é um dos pontos frágeis da teoria de North, pois ele não explica com clareza como esta mudança ocorre, ou seja, como os estímulos e restrições se transformam em regras e como as regras se transformam em formas de conduta. Uma das maiores insuficiências desta teoria é que ela dá pouca relevância à estrutura social e aos conflitos (FAVARETO, 2004). Ou de acordo com Portes (2006), ela esquece de incorporar aspectos fundamentais para análise como relações de poder, classes sociais e cultura. Para este autor, as mudanças institucionais mais importantes dependem dos níveis mais profundos da cultura e da estrutura social.

Portes (2006) aponta para uma questão importante, que é a falta de interação entre os elementos da vida social. Para ele, a cultura é a esfera dos valores e dos conhecimentos acumulados e a estrutura social é a esfera dos interesses, individuais e coletivos. Esta distinção proporciona os fundamentos para se analisar as diferenças nos diversos contextos sociais (MERTON, 1936/1968, citado apud PORTES, 2006), pois os papeis desempenhados e as ações dos agentes sociais variam conforme o contexto social, o ambiente cultural e as relações de poder. Assim, o fundamental numa abordagem institucional não é somente analisar como as instituições moldam as condutas, mas como estas são moldadas pelos planos simbólicos e pelas estruturas sociais.

Entender as instituições em torno das quais se organizam as interações sociais locais é fundamental no que se refere à abordagem territorial (ABRAMOVAY, 2006). No entanto, fica claro que a nova economia institucional não responde a todas as questões fundamentais pertinentes a estes estudos. As críticas dos vários autores demonstram a

fragilidade de algumas explicações teóricas, especialmente no que diz respeito às questões relacionadas às estruturas sociais, às relações de poder e à cultura.

Desta forma, faz-se necessário lançar mão de outras teorias que visem complementar essas lacunas. É preciso levar em conta que o contexto social em que estão inseridos os agentes pode facilitar ou dificultar a cooperação, pois há uma situação de enraizamento (embededness) das relações sociais (ORTEGA, 2008).

O que fica claro é a importância das instituições. Os ganhos econômicos, sociais e ambientais podem ser utilizados para reforçar uma matriz institucional conservadora e oligárquica construída historicamente e, desta forma, manter as mesmas condições de exploração e exclusão sócio-econômica. Ou pode se traduzir em mudanças. Neste sentido, articular a ampliação das liberdades, incluindo a dimensão ambiental, às mudanças institucionais é um aspecto essencial da construção de propostas de desenvolvimento.