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1 DESENVOLVIMENTO: DO QUE SE ESTÁ FALANDO?

1.6. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, 1972 colocou o tema do meio ambiente na agenda internacional. Precedida da reunião de Founex, 1971 e seguida de diversos encontros, pela primeira vez discutiu-se a relação entre desenvolvimento e meio ambiente (SACHS, 2002).

Durante a preparação da Conferência, duas posições opostas foram assumidas. Uma que considerava descabida a preocupação com o meio ambiente. A prioridade era o crescimento e com o avanço da tecnologia seria possível resolver as externalidades negativas derivadas por esse crescimento. A outra, extremamente pessimista, anunciava o apocalipse caso o crescimento demográfico e econômico não fossem estagnados (SACHS, 2002).

Essas duas posições foram rejeitadas em Founex e na Conferência. Era evidente que o crescimento econômico ainda era necessário, porém o estabelecimento de um aproveitamento racional e ecologicamente sustentável da natureza também era fundamental para o desenvolvimento. Assim, surge o caminho do meio que perdurou até a definição oficial do conceito de desenvolvimento sustentável, adotada na Rio 92 (SACHS, 2002).

O conceito de desenvolvimento sustentável tem como referência inicial a definição formulada pela Comissão Brundtland que o define “como o processo capaz de satisfazer as necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades” (CMMAD, 1987 apud BUARQUE, 1998). Posteriormente, este conceito foi aprimorado, definindo-o como um processo multidimensional e intertemporal que implicam na noção de sustentabilidade (SEPULVEDA, 2005).

O que se tem atualmente é um conceito amplo e genérico. Ninguém é contra, porém, há múltiplas definições e entendimentos a respeito do que seja um desenvolvimento sustentável. Um dos autores importantes deste campo é Sachs (1986, 2002, 2004) que conceitua desenvolvimento a partir de uma nova relação com o meio ambiente, o ecodesenvolvimento.

Este autor faz uma severa critica aos modelos clássicos de crescimento. Para ele, é fundamental a noção de “eficácia social do investimento”. Ou seja, ele reconhece a importância das variáveis crescimento, investimento e poupança, no entanto, critica a sua finalidade e seus beneficiários (ENRÍQUEZ, 2007). O fundamental é que todo investimento tenha um alcance na sua base social.

Por outro lado, Sachs (2004, p.23), também é contrário àqueles que consideram que o desenvolvimento é “uma armadilha ideológica construída para perpetuar as relações assimétricas entre as minorias dominadoras e as maiorias dominadas, dentro de cada país e entre os países”. Para Sachs, “falta conteúdo operacional concreto”. Assim, suas idéias se distinguem tanto dos otimistas tecnológicos como dos pessimistas ecológicos. Ambos erram pelo reducionismo e pela ignorância histórica (ENRÍQUEZ, 2007).

Desta forma, a noção de desenvolvimento sustentável para Sachs (2002) está baseada em oito dimensões – social, cultural, ecológica, ambiental, territorial, econômica, política nacional e internacional. No que se refere às dimensões ecológica e ambiental, os objetivos de sustentabilidade formam um tripé: a) preservação do potencial da natureza; b) limitação do uso de recursos não renováveis; c) respeito à capacidade dos ecossistemas naturais. Além do valor ético da solidariedade com as gerações atuais e futuras. Ou seja, coloca a importância de reconhecer as múltiplas escalas de tempo e espaço, o que contraria a visão economicista convencional (VEIGA, 2008).

Esta formulação pode ser entendida como uma resposta aos problemas e desigualdades sociais e ao processo de degradação ambiental gerado pela adoção de modelos de crescimento econômico baseados na superexploração dos recursos econômicos e naturais.

Outra abordagem sobre o conceito de desenvolvimento sustentável refere-se à idéia de sustentabilidade “forte” e “fraca”. A sustentabilidade fraca trata do tema como uma nova forma de eficiência econômica(Solow, 1993) e a sustentabilidade forte considera que esse é um critério inadequado.

Sustentabilidade fraca assume que, no limite, o estoque de recursos naturais pode ser exaurido, desde que esse decréscimo seja equilibrado por acréscimos dos outros fatores – capital e trabalho. Ou seja, o importante é a capacidade das gerações futuras em produzir, isso é possível graças ao avanço tecnológico (VEIGA, 2008). Neste sentido, a idéia de desenvolvimento sustentável acaba sendo absorvida e reduzida a crescimento econômico (AMAZONAS, 2002, p.136).

Contrários a esta visão estão os que defendem a idéia da sustentabilidade forte. As principais linhas teóricas são: a) as interpretações conservacionistas - Herman Daly (1991, 1992, 1996, 1997), Cleveland e Ruth (1997); b) as análises da Escola de Londres – Pearce & Atkinson (1992) (ENRÍQUEZ, 2007).

Para os teóricos da primeira visão, o desenvolvimento sustentável é definido como o desenvolvimento máximo que pode ser atingido sem diminuir os ativos de capital natural da nação, que são os seus recursos de base. Eles defendem a manutenção do estoque de capital natural (estado estacionário), o que é importante é desenvolver indicadores de sustentabilidade não-monetários, baseados em medidas físicas materiais e energéticas (ENRÍQUEZ, 2007).

A Escola de Londres admite a substituição dos recursos naturais desde que haja limites nesta substituição. O capital natural que se manifesta em pequena escala, pode ser tratado por intermédio de critérios tradicionais de eficiência econômica. Mas, para aqueles capitais cujo uso gera irreversibilidade e atinge grande escala, deveria haver limitação prévia. É nesse sentido que a Escola de Londres defende a necessidade da preservação de um limite mínimo de “capital natural crítico” (ENRÍQUEZ, 2007).

O que se pode observar é que a idéia de sustentabilidade tem vários sentidos e é justamente por sua imprecisão, contradição e ambivalência que ela se tornou totalmente aceita como idéia base de desenvolvimento. O sentido deste conceito nasceu de um debate teórico e político. Assim, sua força está em delimitar um campo amplo onde se dá a luta política sobre o sentido do meio ambiente no mundo contemporâneo (AMAZONAS, 2002). Para este autor, a questão é fundamentalmente de natureza ética. Ou seja, fazer ou não opções normativas em direção ao favorecimento de gerações futuras, em detrimento de afluência imediata.

1.7. CONSIDERAÇÕES

O que se pretendeu neste capítulo foi mostrar como o conceito desenvolvimento ainda é muito pertinente, apesar de suas inúmeras vertentes conflituosas. E, que a sua qualificação pode significar a necessidade da negação e/ou superação, na direção de uma nova utopia: “a visão de futuro sobre a qual uma civilização cria seus projetos, fundamentando seus objetivos ideais e suas esperanças” (GORZ, 2003).

Desta forma, o que é importante é que o processo de desenvolvimento deve promover a ativação de recursos materiais e simbólicos e a mobilização de sujeitos sociais e políticos buscando ampliar o campo de ação da coletividade, aumentando sua autodeterminação e liberdade de decisão, sempre tendo como referência a sustentabilidade no tempo e no espaço. Neste sentido, o verdadeiro desenvolvimento exige a construção de trajetórias históricas, que sejam includentes e sustentáveis (BRANDÃO, 2004), bem como a qualificação das instituições como fundamentais nos processos de mudança (NORTH, 1990) e a visão de desenvolvimento como meio e fim e não um padrão a ser alcançado. A articulação destas vertentes pode ser bastante interessante para os estudos sobre a abordagem territorial do desenvolvimento rural.

O que é fundamental problematizar neste estudo é como o conceito de desenvolvimento é tratado nas políticas com enfoque territorial. Para tanto, faz-se necessário aprofundar, primeiro, o conceito de desenvolvimento rural, para posteriormente entrar no debate sobre essa nova abordagem.