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Capítulo V – Apresentação e Discussão dos Resultados

2. As reflexões das estagiárias sobre as intervenções que foram protagonizando no decurso

2.4 Desenvolvimento pessoal e profissional

Nesta categoria explicitam-se as perceções das estagiárias relativamente aos ganhos e conquistas pessoais e profissionais que ocorreram durante o estágio. Numa primeira leitura dos dados referentes aos dois momentos dedicados às auto e heteroscopias confirma-se que os discursos se tornam mais focalizados nas experiências profissionais vividas, tal como tentaremos demonstrar pela análise que se passa a propor.

Assim, os discursos que poderão ser enquadrados na primeiras auto e heteroscopias poderão ser organizados em função do modo como contribuíram para que as estagiárias: ( i) se consciencializassem dos erros e dos aspetos a melhorar; (ii) se consciencializassem da importância da postura, tom de voz ou posição física do educador; (iii) valorizassem as oportunidades de auto e heteroavaliação suscitadas pelas auto e heteroscopias e (iv) refletissem sobre o contributo deste dispositivo como instrumento capaz de contribuir para a construção/desconstrução do pensamento profissional.

Os momentos de partilha, de análise critica e de reflexão em grupo, a julgar pelos discursos que temos vindo a apresentar, parecem ter oferecido, a cada estagiária, a possibilidade de se confrontar com as suas crenças, a sua imagem, os seus erros, as suas práticas mas também as crenças, as imagens, os erros e as práticas dos outros. As autoscopias foram momentos propulsores da autorreflexão cooperada que permitiram a cada estagiária refletir sobre o que viu, ouviu e discutiu em grupo, de forma a reformular estratégias e atividades, perspetivando novas possibilidades de ação. Como advoga Perrenoud (2005)

“Para que a reflexão não seja um sofrimento ou uma fonte de angústia, mas antes de desenvolvimento pessoal e de domínio do real, importa que a pessoa encontre o seu modo “egoísta” de existir, porque refletir confere sentido, significado e valor à vida profissional” (Idem, p.3).

Encarar o erro como algo positivo, encarar as falhas como possibilidade de reflexão e de aprendizagem são aspetos referidos por algumas estagiárias e que já mencionamos neste trabalho.

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“Uma vez que aprendemos com os erros, após a visualização das autoscopias encontrei lacunas a ter em atenção na minha prática profissional” (excerto reflexão -1AH, estagiária H, 19 /02/2014).

“(…) uma forma de aprendermos uns com os outros, ou seja, por vezes os erros dos outros podem ser os nossos” (excerto reflexão -1AH, estagiária A, 21/01/2014).

“(…) oferece-nos a possibilidade de ter a perceção de muitos erros que cometemos inconscientemente e muitas vezes nem são percetíveis no momento em que realizamos as atividades com as crianças(…) visto que existem momentos em que não reparamos nas nossas falhas, mas elas estão lá e as autoscopias ajudam-nos a ter uma visão maior e mais aprofundada das nossas falhas como estagiárias” ( excerto reflexão -1AH, estagiária I, 15/01/2014).

“A realização da minha autoscopia, centrada numa atividade em pequeno grupo, possibilitou observar e ter a percepção de alguns aspetos significativos que passaram despercebidos durante a atividade” (excerto reflexão -1AH, estagiária F, 19/02/2014).

“O objetivo principal da autoscopia é termos a perceção real do nosso comportamento e desempenho. Na prática do exercício educativo normalmente agimos de uma forma natural e muitas vezes não nos apercebemos dos erros cometidos (…). Posso dizer que esta autoscopia correu muito mal. Mas isto tem um lado positivo, pois permitiu-me aperceber das minhas falhas e lacunas e por isso poder evitá-las no futuro” (excerto reflexão-1AH, estagiária MP, 22/01/2014).

Se este é um aspeto decisivo de um projeto de formação inicial, importa valorizar um outro, a partir da identificação dos discursos das estagiárias, o qual tem a ver com o modo como o processo de análise permitiu tomar consciência de aspetos do comportamento que, de outro modo, não seriam valorizados, tal como é o caso, por exemplo, do tom de voz ou da proximidade física face às crianças.

“Na realização da autoscopia considero que devo ser o mais natural, espontânea e expressiva possível (…)” (excerto reflexão-1AH, estagiária J,15 /01/2014).

“(…) a posição em que me encontrava impedia uma visualização ampla entre mim e crianças, possibilitando e permitindo a falta de interesse e atenção” (excerto reflexão-1AH, estagiária F, 19/02/2014).

“Quando fazemos uma atividade devemos posicionarmo-nos de forma a que todas as crianças consigam ver, ou seja, não devemos estar à frente delas, nem fazer com que as crianças tampem a visão uma das outras só para me conseguirem ver” (excerto reflexão-1AH, estagiária JM, 15/01/2014).

“Assistimos à apresentação de uma actividade plástica na qual foi chamada a atenção para a posição corporal dos adultos, que devem adotar uma posição cómoda e disponível para as crianças” (excerto reflexão-1AH, estagiária S, 1/01/2014).

“(…) ao visualizar as autoscopias, aprendi a considerar alguns aspetos que, por vezes, não ponderamos que possam acontecer e que contribuem para que as atividades não corram da melhor forma, tais como a posição do adulto que deve

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ser adequada, para que todas as crianças consigam ver o que se passa no decorrer da atividade; a voz de quem está a dinamizar a atividade que deve ser bem colocada” (excerto reflexão-1AH, estagiária MB, 11/02/2014).

“No que concerne à minha autoscopia, após a sua visualização detetei e como algumas colegas notificaram a posição da voz não estava na melhor colocação (…) Na próxima terei especial atenção a este aspeto” (excerto reflexão-1AH, estagiária H, 6/02/2014).

“(…) a minha colocação num ponto estratégico dando campo de visão sobre todas as crianças que realizam a atividade, estar ao nível das crianças” (excerto reflexão - 1AH, estagiária J, 15/01/2014).

Se foi possível identificar os erros e inseguranças como oportunidades de aprendizagem e condição do desenvolvimento de competências pessoais e profissionais das estagiárias, foi graças à leitura pessoal e partilhada das diferentes situações visualizadas, que o processo de formação se desenvolveu, como um processo de reflexão em torno de práticas de auto e heteroavaliação. Esta foi uma mais-valia decorrente das auto e heteroscopias que foi reconhecida pelas estagiárias pelo impacto no seu processo de aprendizagem profissional. A análise partilhada, entre as estagiárias e a supervisora, incentivou a avaliação permitindo a construção de significados sobre a ação desenvolvida.

“Por fim, é de referir a importância de momentos de partilha e reflexão conjunta para que possamos desenvolver o nosso espírito de auto e hetero-avaliação e para recolhermos diferentes opiniões e pontos de vista (…) esta análise conjunta permite-nos refletir sobre a nossa conduta, recebendo as diferentes críticas e apropriando-nos de diferentes sugestões e visões a incorporar em futuras atividades” (excerto reflexão-1AH, estagiária S, 1/01/2014).

“Cada visualização assistida determinou a auto consciencialização do trabalho realizado (…)” (excerto reflexão-1AH, estagiária H, 19/02/2014).

“(…) acho que esta forma de auto-avaliar a nossa prestação e os colegas nos avaliarem a nós, demonstrou ser de extrema importância” (excerto reflexão-1AH, estagiária I, 15/01/2014).

“(…) todas as colegas observaram a sua própria metodologia, e automaticamente realizaram uma autoanálise e uma autoavaliação de forma a corrigir aspetos significativos e arranjar novas estratégias para melhorar a atividade e a interação com o grupo” (excerto reflexão-1AH, estagiária F,19/02/2014).

“(…) permite ter uma perceção de determinados aspetos que por vezes não temos consciência” (excerto reflexão-1AH, estagiária A, 21/01/2014).

“(…) quando visualizei a autoscopia da minha colega percebi em que momentos ela não aproveitou os comentários mas, quando se trata da minha pratica, tenho dificuldades em saber identificar esses momentos” (excerto reflexão-1AH, estagiária V, 19/02/2014).

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179 A unanimidade destes testemunhos foi reiterada numa reflexão do portfólio reflexivo de uma estagiária, onde se assinala a importância da autoavaliação regulada, como forma de consciencializar as dificuldades, quer se trate do educador ou do aluno.

“Para finalizar a autora considera a autoavaliação regulada como a melhor forma de regular a aprendizagem. Assim, é fundamental que o aluno tome consciência dos seus erros e se confronte com as suas dificuldades. O papel do professor é construir um contexto favorável para que isto aconteça. Este texto foi-me extremamente útil pois permitiu-me compreender a importância da autoavaliação. Fez-me também refletir sobre a minha postura como futura educadora e também sobre a minha postura enquanto aluna do mestrado. De uma forma clara consegui aperceber-me dos dois lados da questão Educador/Aluno” (excerto reflexão, estagiária MP, 16/10/2013).

É a partir deste conjunto de discursos sobre a importância de criar condições para se realizarem processos de reflexão que permitam aos estudantes tomar consciência dos erros e partilhá-los, de forma a encontrar soluções para superar os mesmos, que poderá compreender os discursos sobre o contributo das auto e heteroscopias para a construção do pensamento profissional desses estudantes.

“(…) uma mais-valia para a minha formação profissional e pessoal(…)” (excerto reflexão -1AH da estagiária A, 21/01/2014).

“(…) visualizar a nossa prática se traduz numa mais-valia imprescindível ao nosso desenvolvimento e crescimento enquanto profissionais da educação” (excerto reflexão-1AH, estagiária S, 1/01/2014).

“(…) as autoscopias permitem ter uma melhor visibilidade e noção dos aspetos a evoluir e das estratégias que poderíamos adequar, com vista a melhorar e a tornar a atividade em questão o mais relevante, dinamizada e concretizada da melhor forma, de modo a evoluir enquanto futura profissional da educação” (excerto reflexão-1AH, estagiária F,19/02/2014).

“A visualização desta autoscopia foi extremamente importante. Ela permitiu-me crescer tanto a nível pessoal como profissional. Tomei consciência do meu comportamento (…) das minhas falhas e dos meus erros. Desta forma posso corrigi-los e tentar melhorar. Isto é uma mais-valia em termos profissionais pois permite-me crescer e melhorar enquanto profissional” (excerto reflexão-1AH, estagiária MP, 22/01/2014).

Tal como já havíamos referido, os discursos resultantes da reflexão sobre as segundas autoscopias ampliam-se, diversificam-se e focalizam-se. Por isso, é que os enquadramos num conjunto de subcategorias que, de algum modo, confirma esta análise:

a. Expandir a reflexão para reformular a intervenção;

b. Evolução do desempenho profissional;

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180 d. Encarar as diversas críticas como oportunidades de mudança /desenvolvimento

pessoal e profissional;

e. Abordagem de novos conceitos e metodologias;

f. Consciencializar a importância da postura, tom de voz, posição física do educador.

Confrontando com a categorização referente às primeiras auto e heteroscopias observa-se que a categoria f) se encontra, igualmente, presente nesta segunda auto e heteroscopia, assim como é possível estabelecer pontes entre as subcategorias referidas na alínea a) e o facto, referido anteriormente, das autoscopias e heteroscopias permitirem que as estagiárias tomem consciência dos erros e dos aspetos a melhorar. A valorização da possibilidade do dispositivo em análise se assumir como um instrumento capaz de contribuir para a construção/desconstrução do pensamento profissional, referido na análise das primeiras auto e heteroscopias, pode ser visto, finalmente, como uma problemática que é objeto de reflexão, também, na alínea d). Mesmo assim, importa reconhecer que a reflexão do segundo momento é não só mais prolixa como mais focalizada nos desafios profissionais que têm a ver com as salas de aula.

Concordamos com Campeão (2000) para quem a melhoria da intervenção resulta, em grande parte, do processo de tomada de consciência individual dos pontos fortes e das fragilidades e não é um mero exercício de descrição das ações realizadas. Uma conceção que está presente nos discursos das estagiárias, as quais, de um modo geral, consideram que a reflexão constitui uma condição para reformular a intervenção.

“A visualização das autoscopias, que vou falar mais à frente permite-me refletir sobre os aspetos que eu considero poder mudar durante as minha intervenção, apesar de nenhuma autoscopia ter sido a minha, foi importante para eu conseguir perceber o que tenho de mudar quando faço atividades semelhantes às atividades das autoscopias que foram apresentadas pelas minhas colegas” (excerto reflexão- 2AH, estagiária JM, 6 /03/2014).

“(...) a oportunidade de visualizar autoscopias de três colegas permitiu-nos (…) retirar conclusões que nos sirvam de suporte à nossa prática pedagógica futuramente” (excerto reflexão-2AH, estagiária S, 21/05/2014).

“Estas autoscopias e avaliações são de extrema importância, pois é possível fazer uma análise dos comportamentos a corrigir no futuro” (excerto reflexão-2AH, estagiária MP, 26/05/2014).

“Considero as autoscopias como instrumento essencial para minha formação. Estas têm uma função auto-avaliar, na medida em que implica a contemplação e

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consequentemente a reflexão sobre o meu próprio comportamento” (excerto reflexão-2AH, estagiária A, 20/05/2014).

“É importante salientar que foi muito benéfico para mim enquanto aluna, ouvir as diversas sugestões que foram sido comentadas para o melhoramento da atividade (…) As autoscopias observadas foram igualmente importantes. Desta forma, podemos observar as atividades dinamizadas pelas colegas e detetar os erros que cometeram. Desta forma, ajuda-nos a não os praticar” (excerto reflexão-2AH, estagiária MB, 30/04/2014).

De acordo com estes testemunhos, as auto e heteroscopias permitiram expandir a reflexão a partir do diálogo, discussão e interação em grupo, tendo-se revelado a alavanca para o desenvolvimento do sentido crítico e para a compreensão da realidade situacional de cada estagiária. Trata-se de uma perspetiva que se vê reforçada quando as estagiárias defendem que a reflexão sistemática sobre as práticas permitiu um autoconhecimento que as levou a questionarem-se sobre a intencionalidade da sua ação.

Pelos testemunhos das estagiárias concluímos que, ao longo do estágio, as estagiárias desenvolveram competências de reflexão, fruto do treino e hábito de refletir com os pares, mas também do aprofundamento do seu nível pessoal de reflexão que ultrapassou o nível da mera descrição dos factos (nível 1) para se aproximar do nível do questionamento das práticas (nível 3), tal como propõe Sá-Chaves (2000). Especificando esta hierarquização dos níveis de qualidade da reflexão, é possível identificar três níveis de lógica reflexiva: o nível um, que se traduz na descrição de episódios epistemicamente relevantes; o nível dois, que representa a reflexão sobre os factos narrados nos episódios e o nível três, que espelha a reflexão sobre si próprio, o questionamento sobre os seus próprios papéis, funções, desempenhos e conceções (Idem).

“O trabalho de um educador tem momentos positivos bem como momentos menos positivos. Um bom profissional é reflexivo. Através da sua reflexão deteta aspetos a melhorar assim como possíveis soluções” (excerto reflexão-2AH, estagiária H, 30/04/2014).

“Considero que olhei para estas autoscopias com uma outra capacidade critica e observei diferentes aspetos não realçando apenas aspetos negativos ou positivos para as minhas colegas ou para mim relativamente à minha autoscopia” (excerto reflexão-2AH, estagiária J, 27/05/2014).

“Ao verem as filmagens das colegas, perceberam, na minha opinião, a importância que estas têm para o nosso aperfeiçoamento na prática, desenvolvimento profissional e ainda, o desenvolvimento da capacidade reflexiva uma vez que observamos, comentamos, argumentamos, proferimos aspetos positivos e negativos e ainda damos sugestões para aquelas determinadas atividades” (excerto reflexão-2AH, estagiária I, 30/04/2014).

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“A visualização das autoscopias torna-se positiva no sentido em que enriquece o meu perfil quer pessoal quer profissional” (excerto reflexão-2AH, estagiária H, 30/04/2014).

Como releva Bolívar (2012), “(...) é melhor concentrarmo-nos na melhoria das habilidades e conhecimentos dos professores de modo a poderem obter uma incidência direta no modo de ensinar e dos alunos aprenderem” (Idem, p.202). Tal constatação, recoloca no debate, a necessidade do projeto de formação inicial promover o desenvolvimento de competências que permitam aos futuros educadores mobilizar o seu saber, o saber fazer, e o ser, na resolução de problemas no seu quotidiano. Trata-se do reconhecimento da responsabilidade dos formadores trabalharem as hard skills, (competências técnicas e da especialidade) nos futuros educadores mas, também, as soft

skills (competências comunicacionais, de resiliência, trabalho em equipa, entre outras).

As narrativas das estagiárias mostram que passaram a compreender que a reflexão em grupo não é um mero exercício de descrição das ações realizadas, tal como já o referimos anteriormente, mas, antes, um processo que envolve análise crítica, identificação de erros e questionamento sobre os fundamentos da ação que levam a agir de determinada forma. Confirmamos que, para além das aprendizagens geradas pela partilha de experiências, técnicas e estratégias e do feedback das colegas, também se registou um processo de desenvolvimento pessoal, o que as motivou e possibilitou a aceitação da crítica como oportunidades de aprendizagem profissional e pessoal.

“Visualizar a nossa atuação, bem como a dos outros, aproveitar ideias e opiniões de diferentes pessoas, com diferentes personalidades e provenientes de diferentes contextos e encarar as críticas como oportunidades de desenvolvimento permite-nos amadurecer e dota-nos de mecanismos e técnicas essenciais ao nosso futuro como docentes” (excerto reflexão-2AH, estagiária S, 5 /03/2014).

“(…) as autoscopias permitem a confrontação, pela imagem, que cada uma de nós tem de si, permitindo uma mudança de atitude, assim como a possibilidade de modificação, a partir de vários pontos de vista” (excerto reflexão-2AH, estagiária A, 20/05/2014).

“(…) importa mencionar a evolução das estagiárias que apresentaram as autoscopias, demonstrando preocupação em corrigir erros passados. Neste sentido não só elas cresceram como futuras educadoras, como nós, como espectadoras retiramos proveitosos dividendos para o nosso futuro profissional” (excerto reflexão-2AH, estagiária S, 21/05/2014).

“Com a visualização das autoscopias das outras colegas, visualizamos os erros que elas cometem, aprendendo assim também com eles. A heteroscopia é “ um modelo de interacção social (que) constrói a inovação a partir de uma rede complexa de troca de informações entre os vários agentes de intervenção que emprestaram o seu contributo através de um jogo onde as práticas de influência interpessoal e a circulação de mensagens se mostraram determinantes” (Gomes,

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A.F. 2005:133 cit. Nogueira et al., 1990: 18). “Com as críticas construtivas das pessoas na qualidade de observadores da heteroscopia, o indivíduo que está a ser observado, pode igualmente melhorar as suas estratégias e ter um feedback dos seus colegas” (excerto reflexão-2AH, estagiária MB, 7/03/2014).

A opinião das estagiárias é consensual quanto ao reconhecimento da evolução do seu desempenho profissional. A possibilidade reconhecer os progressos, por via das duas auto e heteroscopias realizadas, bem como de ser capaz de melhorar o desempenho, alimenta e reforça a satisfação pessoal e a realização profissional de cada estagiária, tal como se pode percecionar através dos depoimentos que se transcrevem.

“No entanto notou-se uma evolução da outra autoscopia para estas, e percetível uma maior aproximação do adulto com as crianças” (excerto reflexão-2AH, estagiária JM, 30/04/2014).

“Nestas autoscopias vamos perceber o que já melhorámos em relação às primeiras. Isto permite ver a nossa evolução e ao mesmo tempo ajuda-nos a ultrapassar as dificuldades que vão surgindo” (excerto reflexão-2AH, estagiária MP, 26/05/2014).

“Esta demonstração das autoscopias mais uma vez fez com que fosse percetível a grande evolução das estagiárias de uma autoscopias para as outras, já não apresentado aquele medo e receio tanto de intervir com as crianças como de mostrar às colegas a filmagem” (excerto reflexão-2AH, estagiária I, 30/04/2014).

“No que se refere às segundas visualizações das autoscopias é possível verificar já uma evolução a nível do desempenho e dos cuidados a ter na realização de atividades de umas colegas para as outras” (excerto reflexão-2AH, estagiária I, 10/03/2014).

“Ao refletir na observação das autoscopias do passado dia 5 de março deparei-me com melhorias relativamente às últimas apresentadas por outras colegas. Isso aconteceu porque, na minha opinião todas nós estivemos atentas refletindo nas autoscopias apresentadas” (excerto reflexão-2AH, estagiária J, 10/03/2014).

“Devo realçar que a partilha de informação me fez ter uma maior perceção de toda a evolução do meu percurso ao longo deste ano e ainda que, todas as dúvidas que se faziam sentir numa fase inicial, revejo-as agora nas minhas colegas. Considero muito importante este tipo de exercício de visualização pois ajuda-nos a melhorar a nossa prática” (excerto reflexão-2AH, estagiáriaV, 9/04/2014).

“(…) os aspetos positivos e negativos que vivemos e observamos são momentos de aprendizagem e de desenvolvimento” (excerto reflexão-2AH, estagiária MB,21/05/2014).

“Relativamente às autoscopias observadas, todas elas apresentam uma evolução relativamente às primeiras” (excerto reflexão-2AH, estagiária A, 9/04/2014).

“Apesar da grande melhoria que se faz sentir no desenvolvimento de todas as alunas ainda podemos destacar aspetos tanto positivos como negativos que devemos ter em conta no nosso futuro profissional e pessoal” (excerto reflexão- 2AH, estagiária J, 27/05/2014).

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184 É apontado o impacto da reflexão no processo de crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional da estagiária, a consciência das mudanças que ocorreram ao nível das suas competências pessoais. Segue-se a reflexão do portfólio de uma estagiária que evidência esta ideia.

“(…) sem dúvida que estou a construir a minha identidade profissional e pessoal e só quando parei para refletir é que me apercebi de como mudei. Esta perceção não existiria se não tivesse refletido sobre este processo, sobre o meu percurso.(…) Quando visualizei e registei este acontecimento pensei “Que bom exemplo para mostrar o impacto do projeto nas crianças!”. Mas assim que comecei a escrever dei por mim a avaliar o impacto do projeto em mim própria, no meu

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