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Desenvolvimento do processo de projeto

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (páginas 31-36)

Diante das dificuldades observadas, apresentam-se duas linhas de pesquisa para o desenvolvimento do processo de projeto: Engenharia Simultânea (Concurrent

Engineering), e Integrated Project Delivery (IPD – Soluções Integradas de Projeto). 2.2.1 Engenharia Simultânea

O termo Engenharia Simultânea (ES) foi cunhado no final dos anos 80 para definir um método sistemático para desenvolver simultaneamente o projeto do produto e as atividades subsequentes de produção e suporte do processo (EVBUOMWAN e ANUMBA, 1995; HUOVILA et al. 1997). A proposta da ES é a redução do tempo de desenvolvimento do produto.

Melhado (2003), define o sucesso do projeto como dependente das características da gestão do projeto. Isso envolve questões tais como o projeto como serviço, onde apesar do projeto ser um produto, com padrões de controle e de documentos, deve- se ter a exata compreensão das necessidades dos clientes, para transformá-las em informações que deverão ser repassadas para a equipe pelos coordenadores de projeto. Envolve ainda a capacidade de o coordenador de projetos usar métodos de ES levando em consideração soluções tecnológicas de produção e a integração e colaboração entre todos os envolvidos.

O conceito da ES parte da premissa que os produtos, devem ser desenvolvidos considerando-se as demandas dos clientes internos e externos e durante todo o seu ciclo de vida (desde a concepção até a disposição), e que demanda colaboração intensa e precoce, muitas vezes obtida através de parcerias entre os agentes do empreendimento. A aplicação dos conceitos de ES traz mudanças no setor da construção civil, que vão desde alterações na estrutura organizacional e cultural das organizações e dos profissionais envolvidos até a adoção de novas tecnologias de informática e de comunicação, para facilidade do processo (FABRICIO, 2002).

Fabrício (2002), apresenta que a denominação Engenharia Simultânea foi proposta e caracterizada pelo Institute for Defense Analysis (IDA) do governo americano:

Engenharia Simultânea: uma abordagem sistêmica para integrar, simultaneamente, projeto do produto e seus processos relacionados, incluindo manufatura e suporte. Essa abordagem é buscada para mobilizar os desenvolvedores (projetistas), no início, para considerar todos os elementos do ciclo de vida da concepção até a disposição, incluindo controle da qualidade, custos, prazos e necessidades dos clientes. (WINNER et al.,1988, p. v).

A ES envolve dois princípios fundamentais: integração e simultaneidade. Integração em relação ao processo e conteúdo de informação e conhecimento, entre e dentro das etapas do projeto, e de todas as tecnologias e ferramentas utilizadas no processo de desenvolvimento do produto. A ES também envolve análise de requisitos iniciais por equipes multidisciplinares e consideração inicial de todas as questões do ciclo de vida que afetam um produto. A simultaneidade é determinada pela forma como as tarefas são agendadas e as interações entre diferentes atores (pessoas e ferramentas) no processo de desenvolvimento do produto (KAMARA et al., 2007).

a) a valorização do projeto e das primeiras fases de concepção do produto – quanto antes no processo de concepção, mais flexibilidade e liberdade para a proposição de soluções. As mudanças nessa fase de projeto são menos onerosas e devem ser feitas de forma multidisciplinar e integrada para reduzir o número de modificações futuras;

b) realização em paralelo de várias etapas do desenvolvimento do produto, reduzindo o tempo de projeto, porém aumentando a interface entre os envolvidos e as disciplinas de projeto;

c) integração de visões de diferentes agentes do processo de produção, criando equipes de projeto multidisciplinares e multidepartamentais: equipes capazes de levar para o projeto a experiência de várias especialidades e funções de forma a considerar as demandas dos clientes e o desempenho do produto ao longo do seu ciclo de vida (produção e utilização);

d) estrutura organizacional matricial, com recrutamento de pessoas de diferentes departamentos ou mesmo a estrutura funcional mais achatada com a eliminação de vários níveis hierárquicos e a formação de grupos transversais para o desenvolvimento de novos produtos;

e) uso da tecnologia da informação como facilitador - adoção de novas tecnologias e softwares para desenvolvimento de projetos, cálculos e simulações - e catalisador da integração – possibilidade de comunicação e colaboração à distância agilizando a troca de informações entre os agentes;

f) coordenação de projetos – fundamental a presença de um coordenador com função de mediação de conflitos, intercâmbio entre os agentes e controle do fluxo de informações;

g) orientação para a satisfação do cliente e para o mercado – o processo de projeto deve garantir a agilidade na confecção dos produtos, após identificação das

necessidades e desejos dos clientes e para isso adota-se a busca de inovações tecnológicas.

Barbosa (2013) aplicou os conceitos de engenharia simultânea e propôs um fluxograma do processo de projeto, com a determinação de marcos e etapas em cada uma das fases do processo de projeto.

2.2.2 Integrated Project Delivery

O IPD é uma abordagem que integra todos os intervenientes envolvidos no processo da construção civil, podendo ser aplicada a uma variedade de disposições contratuais. A integração vai muito além da tradicional tríade proprietário, desenhista, contratante e envolve, no mínimo uma colaboração profunda e fina entre proprietário, arquiteto / engenheiros e construtores, responsáveis pela construção do empreendimento desde a concepção até a sua entrega (AIA, CALIFORNIA COUNCIL, 2007). O conceito de IPD segue transcrito:

Uma abordagem de entrega de empreendimentos que integra pessoas, sistemas, estruturas e práticas empresariais em um processo que, colaborativamente, aproveita os talentos e ideias de todos os participantes para reduzir o desperdício e otimizar a eficiência em todas as fases do projeto, fabricação e construção. (AIA, CALIFORNIA COUNCIL, 2007, p. 1)

Ainda segundo o American Institute of Achitects (AIA), California Council (AIA, 2007), o IPD, para trabalhar de forma colaborativa, usa as estruturas empresariais, práticas e processos e incentiva a contribuição de experiência e conhecimento dos participantes, através de envolvimento proativo, desde o início do processo, passando por todo o ciclo de vida, até o uso. O IPD é construído sobre a colaboração e só tem sucesso se os envolvidos compartilham e aplicam valores e objetivos comuns. O IPD tem como princípios:

a) respeito mútuo – as regras não são restritivas, mas baseadas na boa conduta; todos os envolvidos entendem o valor da colaboração e dos processos e estão comprometidos a trabalhar em conjunto, de forma eficaz, para os melhores interesses do empreendimento;

b) benefício mútuo – a estrutura de remuneração deve reconhecer e recompensar a participação precoce. Para tanto, o IPD utiliza modelos de negócio inovadores; c) definição precoce dos objetivos – os objetivos são definidos logo no início e são

acordados pelos participantes;

d) comunicação aprimorada – comunicação, aberta, direta e honesta, com responsabilidades claramente definidas. Busca-se identificar e resolver os problemas e não identificar de quem é a culpa;

e) padrões abertos – uso de dados abertos que possibilitem a interoperabilidade com outros aplicativos, softwares e versões, sem custos.

f) tecnologias apropriadas – definição, no início do projeto, das tecnologias a serem adotadas para garantir funcionalidade, generalidade e interoperabilidade. Embora seja possível falar no IPD, sem pensar em Building Information

Modeling (BIM – Modelagem da Informação da Construção), a adoção de

ferramentas BIM permite avançar o projeto num nível de detalhamento muito elevado, antes do início da obra, garantindo uma construção mais eficiente e mais rápida;

g) alto desempenho – IPD deve gerar soluções de projeto otimizadas, edifícios com alto padrão de desempenho e projeto sustentável;

h) liderança – a liderança é dada à pessoa mais capacitada da equipe e a responsabilidade da tomada de decisão é caracterizada como “a melhor para o projeto”.

Para implementação do IPD, os modelos de negócio devem, segundo o AIA

California Council (2007): promover a participação precoce dos participantes;

equilibrar risco e recompensa; ter estruturas de compensação que recompensam "o melhor para o projeto"; comportamento como "livro aberto" ou incentivos vinculados para a realização dos objetivos do projeto; responsabilidades claramente definidas; implementar as estruturas de gestão e controle construídos em torno da equipe.

Assim, alguns modelos de negócios se adaptam melhor ao IPD do que outros. Para as concorrências do tipo projeto-obra, o IPD não pode ser aplicado pois os participantes só são conhecidos após a abertura das propostas, quando já está tardio para desenvolver o IPD. O modelo de negócio mais comumente adotado no IPD é o contrato de aliança, em que o lucro (ou prejuízo) de cada participante é determinado pelo sucesso (ou insucesso) da equipe como um todo e não por resultados individuais.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (páginas 31-36)