As ferramentas ora apresentadas foram propostas como facilitadores para as empresas no processo de implementação da norma de desempenho. Tais ferramentas foram apresentadas para as empresas nas quais o estudo de caso foi desenvolvido e foram parcialmente aplicadas nessas empresas, devido ao momento em que se encontravam os empreendimentos.
Para aprimoramento das ferramentas, as mesmas foram submetidas à avaliação de especialistas da área que apresentaram suas considerações e sugestões de melhorias, as quais foram analisadas e se consideradas pertinentes foram acatadas.
a) o mapa de risco, que identificou a necessidade de contratação de consultorias previamente à aquisição do imóvel;
b) as diretrizes para especificações de acabamentos, que mostraram que mesmo com a apresentação dos laudos de ensaios pelos fornecedores, deve-se analisar se os resultados apresentados estão dentro dos valores requeridos pelas normas;
c) o fluxograma do processo de projeto, que demostrou os momentos ideais para cada marco e atividade, deixando claro que algumas contratações de projeto precisam ser antecipadas;
d) o checklist de recebimento de projetos, que pôde identificar várias falhas ou omissões nos projetos no tocante ao atendimento normativo.
As análises feitas pelos especialistas identificaram que as ferramentas estão tecnicamente corretas e que são, portanto, passíveis de serem usadas no contexto das empresas em que trabalham. Nas considerações feitas apresentam-se sugestões de melhorias nos documentos, as quais foram analisadas e quando não feriam ao objetivo da ferramenta, foram acatadas. As ferramentas desenvolvidas, têm, portanto, usabilidade, quer seja do ponto de vista da sua coerência técnica, quer seja do ponto de vista da oportunidade e viabilidade de uso, ou seja, tendem a ser efetivamente aplicáveis.
6 CONCLUSÕES
O presente trabalho apresentou um estudo exploratório em empresas construtoras de pequeno e médio porte, verificando como essas empresas têm se mobilizado para atendimento dos requisitos da norma de desempenho. Apresentou, ainda, um conjunto de ferramentas desenvolvidas para apoio das empresas na implementação da norma de desempenho as quais foram validadas parcialmente nas empresas estudadas e também validadas por especialistas.
Os resultados apresentados demostram que os objetivos foram cumpridos. A proposta era identificar como as empresas construtoras de pequeno e médio porte têm se mobilizado para implantação da ABNT NBR 15575:2013, apresentar sugestões para melhorias no processo de projeto e propor roteiro e ferramentas para contratação e desenvolvimento de projetos visando a garantia / atendimento do desempenho.
Para tanto, o método adotado foi o Design Science Research, que demonstrou estar adequado para o trabalho proposto visto que seu foco não se limita ao estudo do tema, mas também na proposta de solucionar os problemas encontrados, testar as soluções propostas e contribuir com a teoria existente para área de estudo.
Para o estudo do tema, como mencionado anteriormente, foram trabalhadas duas frentes:
a) foi realizada pesquisa bibliográfica na linha da coordenação de projetos e também na linha do desempenho das edificações: o que a literatura brasileira apresenta como roteiros, diretrizes e ferramentas para garantia do desempenho.
b) foi feito estudo exploratório em empresas construtoras de pequeno e médio porte, avaliando como elas estão se mobilizando para atendimento e garantia dos requisitos da norma de desempenho, suas maiores dificuldades, entraves e avanços: foram identificados pontos de controle e registros já realizados pelas
construtoras para atendimento da norma, observando as maiores dificuldades no processo.
De maneira sintética, na análise feita nas empresas, observou-se que:
a) todas as empresas possuíam conhecimento da existência da norma de desempenho, mas em todas faltava conhecimento técnico específico da norma e o que fazer ou como fazer para aplicá-la. Essa foi uma das maiores dificuldades observadas, muito provavelmente, pelo tamanho reduzido das empresas, e volume de trabalho nas equipes, o que impediu seus profissionais de focarem no estudo e entendimento da norma de desempenho;
b) empresas como as B e C, com processos mais estruturados e fluxos de trabalho mais bem definidos (análise crítica, verificação e validação de projetos) tiveram mais facilidade de entendimento das demandas normativas e maior pré- disposição em atendê-las;
c) o nível de desenvolvimento e maturidade gerencial das empresas em geral, e no que diz respeito ao processo de projeto, varia, apesar das empresas terem porte e produtos similares em alguns casos. Essa variação condiciona a maior ou menor dificuldade de as empresas implementarem a norma;
d) as empresas ainda não desenvolveram processos associados à garantia do desempenho: novos escopos de projeto, ampliação da gama de disciplinas de projetos, alteração nos momentos de algumas contratações, criação de roteiros para análise das soluções técnicas visando o desempenho;
e) as análises apresentadas no trabalho corroboram outras observações feitas, por Okamoto e Melhado (2014), por exemplo, relativas a empresas de projeto que tem dificuldade no entendimento das diretrizes descritivas da normas e que precisam se mobilizar para realização de treinamentos e criação de comitês de
estudo para entendimento da norma de forma a viabilizarem as soluções de projeto voltadas para o desempenho;
f) nas quatro empresas estudadas apresenta-se uma dificuldade não técnica e que dize respeito à lógica ou dinâmica do mercado: postergar contratação dos projetos até se ter um retorno positivo de vendas e, com isso, gerar um prazo muito pequeno para o desenvolvimento dos projetos. A antecipação da contratação dos projetos de engenharia, para o fechamento da concepção arquitetônica, é fundamental para garantia de qualidade e desempenho do projeto, sem a necessidade de sua reaprovação;
g) a postura passiva dos projetistas que não alertou as construtoras sobre a norma de desempenho, sobre as evidências necessárias e nem mesmo apresentou registros de atendimento nos projetos mostra que eles estão acomodados à forma de trabalho que veem prestando e, se não são exigidos pela construtora, não se mobilizam.
Para solucionar os problemas encontrados, foram desenvolvidas as seguintes ações:
a) apresentação dos pontos de melhoria no processo de projeto das empresas como meio de garantia do desempenho;
b) desenvolvimento de ferramentas e proposição de modelos para o processo de projeto, tendo em vista a garantia do desempenho: fluxo de trabalho, ferramentas, checklists, roteiros, os quais foram apresentados para as empresas estudadas.
Essas ferramentas foram apresentadas às quatro empresas objeto de estudo.
Não foi possível a aplicação de todas as ferramentas nas empresas estudadas, pelo momento em que se encontrava o processo de projeto, durante a fase de
intervenção nessas empresas. Ainda assim, as empresas estudadas tomaram conhecimento das ferramentas, apresentando interesse e intenção de sua aplicação nos próximos empreendimentos desenvolvidos.
Observou-se nas empresas mais bem estruturadas:
a) maior receptividade;
b) mais facilidade na implementação de ações de melhorias no processo de projeto com criação de marcos e etapas;
c) maior abertura para criação ou adequação de procedimentos de controle durante todo o processo.
Para testar as ferramentas e procedimentos desenvolvidos e ter a sua validação, foi feita a sua aplicação parcial nas empresas estudadas e, na sequência, foram apresentados para profissionais e pesquisadores com experiência na área de gestão de projeto voltados para o desempenho, que fizeram análise de cada uma das ferramentas propostas.
Observou-se que:
a) de modo geral, as ferramentas foram muito bem avaliadas, atestando seu potencial para aplicação em projetos reais;
b) foram apresentadas sugestões para seu aprimoramento, as quais foram analisadas e, com base na literatura, quando não desviavam o modelo proposto de seu objetivo inicial, foram prontamente acatadas.
As ferramentas desenvolvidas contribuem para mudanças das práticas de projeto das empresas construtoras criando mecanismos que tornem mais viável a garantia do desempenho. A intenção é que as ferramentas façam parte da rotina de trabalho
das empresas e que o seu uso passe a ser constante, não apenas para contribuir com o atendimento normativo, mas, também, para garantir a qualidade do projeto.
Importante ressaltar, que os estudos de caso desenvolvidos e os resultados apresentados não pretendem generalizar as conclusões obtidas, mas explorar a situação das empresas e as dificuldades para estruturação do processo de projeto tendo em vista a garantia do desempenho
Como contribuição para a área de estudo, o trabalho apresenta importância por ainda não existirem muitos estudos focando a integração do processo de projeto e a garantia do desempenho requerido pela norma ABNT NBR 15575:2013. Devido ao pouco tempo de publicação da norma de desempenho, esse tema é muito recente e, durante a pesquisa bibliográfica deste trabalho identificou-se pouco material disponível com foco nessa integração e como o processo de projeto e os fluxos de trabalho são alterados pela inserção de atividades que venham a garantir o desempenho.