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CAPÍTULO II – ABORDAGEM SOBRE TERRITÓRIO, DESENVOLVIMENTO

2.6 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Um dos grandes desafios nos dias atuais é conciliar o desenvolvimento com a questão ambiental, com a clara consciência de que os recursos naturais são finitos. O paradigma atual de desenvolvimento, com um alto grau de consumo dos recursos naturais, é inviável, e a sua continuidade levará ao esgotamento das fontes de recursos naturais.

Um conceito que ganhou bastante destaque no meio acadêmico de um modo geral como na mídia por exemplo, é o conceito de desenvolvimento sustentável, tentando conciliar, em sua proposição o desenvolvimento com a questão ambiental. Para Diegues (2008) Gifford Pinchot6 engenheiro florestal

americano de formação alemã, no século XIX foi o criador do movimento de conservação dos recursos naturais e defendendo seu uso racional, conforme salienta:

Na sua concepção, a natureza é freqüentemente lenta e os processos de manejo podem torná-la eficiente; acreditava que a conservação deveria basear-se em três princípios: o uso dos recursos naturais pela geração presente; a prevenção do desperdício; e o uso dos recursos naturais para benefício da maioria dos cidadãos. (DIEGUES, 2008, p. 31)

Não muito distante essa concepção das mais difundidas atualmente e daquelas definidas pelas conferências ambientais. Destaque para a defesa do uso dos recursos naturais pela maioria da população naquele contexto histórico, sendo que hoje há um aprofundamento da concentração do consumo principalmente pelos Estados Unidos. Defende Pinchot uma utilização racional e não uma concepção preservacionista, sendo ele um dos principais expoentes do conservacionismo ambiental.

Nesse sentido muitas discussões têm sido apresentadas, muitas conferências foram realizadas como a ECO-92 no Brasil, com o intuito de

6 Gifford Pinchot (1865-1946) Engenheiro florestal e político norte-americano, grande defensor

da conservação dos recursos naturais, notável político tendo sido duas vezes governador da Pensilvânia.

apontar soluções para viabilizar o desenvolvimento com qualidade ambiental. Dentre as questões cruciais estão a emissão de carbono, o aquecimento global, a escassez da água entre outras.

O conceito de desenvolvimento sustentável começa a ser utilizado pela primeira vez com a publicação do relatório intitulado “Nosso futuro comum”, no qual se define desenvolvimento sustentável como sendo "O desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades" (BRUNDTLAND, 1987, p. 24-tradução livre)7. Esse relatório também ficou conhecido como Brundtland,

pois a comissão foi chefiada pela ministra da Noruéga, Gro Harlem Brundtland. Sachs (2007, p. 37) elenca cinco dimensões para ser levadas em consideração para a sustentabilidade:

Sustentabilidade social: a meta é construir uma civilização

com maior eqüidade na distribuição de renda e de bens, de modo a reduzir o abismo entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres; sustentabilidade econômica: deve ser

tornada possível através da alocação e do gerenciamento mais eficiente dos recursos e de um fluxo constante de investimentos públicos e privados; sustentabilidade ecológica:

ampliar a capacidade de carga da espaçonave terra, limitar o consumo de combustíveis fósseis, reduzir o volume de resíduos e poluição etc.; sustentabilidade espacial:

deve ser dirigida para a obtenção de uma configuração rural-urbana mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e das atividades econômicas; sustentabilidade cultural: incluindo a procura de

raízes endógenas de processos de modernização e de sistemas agrícolas integrados.

A partir dessas cinco dimensões é possível afirmar que a questão do desenvolvimento não é apenas ecológica, mas envolve outras dimensões como a social e a econômica, pois a dimensão ecológica é um reflexo de como as outras dimensões se organizam. Dependendo das escolhas feitas, de como a

7 development sustainable to ensure that it meets the needs of the present without

sociedade produz seu espaço. A matriz de desenvolvimento influenciará diretamente no consumo de recursos naturais.

Para Managhi (2000) apud Flores e Medeiros (2013, p. 137), "a sustentabilidade deve ser pensada além de uma concepção ecológica, abordando cinco dimensões de sustentabilidade ou "cinco sustentabilidades": política, social, econômica, ambiental e territorial. A dimensão espacial presente no relatório Nosso futuro comum é substituída pela dimensão territorial, enquanto que a dimensão cultural por estar contida no território, é substituída pela dimensão política.

Flores e Medeiros concluem que:

o fato é que trabalhar sustentabilidade nos obriga a repensar perspectivas e tratamentos. Apesar de ser uma meta global, a sustentabilidade, não aceita regras generalizadoras e uniformizantes, e requer um pensamento contextualizado para fazer sentido e o que pode ser favorecido pela utilização da abordagem territorial (2013, p. 141).

Neste contexto, a região amazônica tem sido alvo de bastante "preocupação" mundial pelo fato de ainda apresentar uma rica biodiversidade. Mendes e Sachs (1997, p.135) denominam esse processo de "inserção ideológica da Amazônia" no cenário mundial, sobretudo as bandeiras levantadas pelos movimentos ecologistas.

Num primeiro patamar a região é chamada à cena como a última reserva mundial de energia seja sob a forma de gás natural ou de potencial hidrelétrico, seja sobretudo como enorme depósito de biomassa a ser oportunamente explorada (MENDES; SACHS, 1997, p.135).

É dessa forma que o açaí da Amazônia é inserido no contexto internacional, pois ao ser retirado o fruto, mantém sua árvore em pé, o açaizeiro, para que possa cumprir o papel de capturar carbono e de reserva da biodiversidade. Além de ser um produto orgânico facilmente aceito no mercado externo.

Portanto, o açaí tem uma contribuição muito grande para a questão da sustentabilidade na Amazônia, pois é um produto ambientalmente equilibrado, e que pode trazer renda para as famílias, ajudando na melhoria de vida das

mesmas, contemplando as dimensões econômica, social e ambiental da sustentabilidade.