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CAPÍTULO III – CIRCUITO ESPACIAL DA PRODUÇÃO DO AÇAÍ NA

4.7. PERSPECTIVAS DO PONTO DE VISTA DO PRODUTOR DE AÇAÍ

Investigamos do ponto de vista do produtor de açaí sobre o que significaria para ele melhoria da qualidade de vida, sugerindo em outras palavras durante a entrevista o que seria desenvolvimento a partir da ótica do produtor. Obtivemos respostas diversas com um peso maior em algumas respostas que se repetiram bastante. Os resultados são apresentados no gráfico 19.

Gráfico 19 - Medidas que poderiam melhorar a qualidade de vida do produtor de açaí do ponto de vista dos entrevistados, em Cametá, Igarapé-Miri e Oeiras do Pará, anos 2014-2016

Fonte: Pesquisa de Campo, 2014-2016, Org. Rosivanderson Baia Corrêa

A resposta mais frequente para que medidas poderiam melhorar a qualidade de vida foi a implantação de agroindústria, sendo a resposta de 47,78% dos entrevistados. Principalmente estes entrevistados são dos municípios de Cametá e Oeiras do Pará. Desta forma, fica evidente nestes dois municípios o desejo da implantação de agroindústria para processamento do fruto, na opinião deles trazendo determinada estabilidade para o preço do produto no período da safra. Como bem podemos vislumbrar na fala desse entrevistado:

Assim né, assim, se tivesse uma fábrica se tornava muito melhor, mais fácil. Melhorava o preço do açaí. Porque aqui em Oeiras, ela é piquena não tem tanta preferência, sobre o negócio do litro do açaí. Porque na safra aqui, se viu aqui sai muito açaí. Tem barqueiro que vem aqui meti mil, dois mil rasa aí. Aqui em Oeiras, ela não aguenta, ela é piquena. Não tem como. Não consome muito, gente apanha negócio de dez quinze rasa já abastece a cidade. A coisa que espero é o respeito das autoridades, do governo atenção das autoridades e ajuda pra criar a fábrica. E esperar em Deus que as coisas mude” (PRODUTOR DE AÇAÍ PESQUISADO, Oeiras do Pará)

Ainda existe certa crença de que a implantação da agroindústria no município melhoraria a qualidade de vida tendo um mercado certo para o produto, uma vez que o mercado local não consegue absorver o volume da produção do município. Precisa de formas de despolpamento da produção, para armazenar ou exportar.

Essa ideia está muito presente na fala dos entrevistados e da sociedade em geral, que a microrregião não se desenvolve porque não tem indústrias e não tem como gerar emprego para as pessoas. Paradoxalmente muitas regiões são industrializadas e não são desenvolvidas.

Outra resposta que recorrente foi a necessidade de criar cooperativas do produtores, obtendo 26,67% das respostas dos pesquisados. Esses entrevistados são principalmente do município de Igarapé-Miri, uma vez que este município é o único da microrregião que já possui seis agroindústrias de processamento de polpa de açaí.

Desta forma, as respostas foram no sentido da falta de organização dos produtores e fomentar a criação de cooperativas do produtor que pudessem barganhar um melhor preço de venda do fruto, uma vez que as agroindústrias já existem.

No município de Cametá existem várias cooperativas, mas estão centradas na compra e venda do produto, não foi feito nada em relação a agregação de valor ao produto e ainda estão nas mãos de empresários, não são cooperativas organizadas por produtores de açaí, conforme demonstramos anteriormente, os atravessadores ainda desempenham papel importante na intermediação entre o produtor e essas cooperativas.

No município de Oeiras não existem cooperativas de compra e venda do produto a relação é feita entre o produtor e os atravessadores que compram para revender o produto para agroindústrias de outros municípios.

A necessidade de políticas públicas apareceu na fala de 12,22% dos entrevistados. Aqui consideramos aqueles que defenderam em suas falas não apenas o termo políticas públicas, mas aqueles que defenderam mais investimento, maior incentivo ao produtor e geração de emprego. Deixando

claro um baixo grau de políticas públicas nessas comunidades, mesmo os programas governamentais que logram algum tipo de incentivo ao produtor do açaí aparecem rebatidos em grau muito baixo, o acesso ao crédito ainda é muito limitado.

Finalmente, 6,67% afirmaram não saber o que poderia ser feito para melhorar a qualidade de vida nessas comunidades. Houve uma ocorrência de outras respostas diversas como preservação do açaí e intensificação do manejo na entressafra, estas apareceram como outros no gráfico, por termos utilizado o corte de 5% para a geração do gráfico.

Investigamos também sobre o momento atual, a partir da década de 1990 quando o açaí começa a ser comercializado mais intensamente fora da região, se houve melhoras das condições de vida e 96,7% dos entrevistados responderam que sim e pedimos que citassem exemplos da melhoria da qualidade de vida o obtivemos resposta diversas, alguns tendo citado até quatro exemplos, os resultados obtidos estão elencados na tabela 15.

Tabela 15 - Exemplo apontados como melhoria da qualidade de vida na perspectiva dos produtores de açaí pesquisados em Cametá, Igarapé-Miri e Oeiras do Pará, anos 2014-2016

Nº % TELEVISOR 46 52,9 VALORIZAÇÃO DO AÇAÍ 41 47,1 CELULAR 33 37,9 CASA PRÓPRIA 33 37,9 BARCO MOTORIZADO 31 35,6 FOGÃO A GÁS 22 25,3

MÁQUINA DE BATER AÇAÍ 20 23

CASA NA CIDADE 19 21,8

MELHOR QUALIDADE DE VIDA 18 20,7

MOTOSERRA 10 11,5

CARRO 6 6,9

Total 281 323

Fonte: Pesquisa de Campo, 2014-2016, Org. Rosivanderson Baia Corrêa

Observe que as respostas foram muito associadas a compra de objetos eletrônicos com destaque para televisor (52,9%) barco motorizado (35,6%), aparelho de celular (37,9%) fogão a gás (25,3%) e máquina de bater açaí (23,0%), referindo-se estes percentuais ao número de casos encontrados. Tendo sido dadas como resposta valorização do açaí (aumento do preço) e a própria melhora da qualidade de vida.

Também merece destaque a compra de casa própria (37,9%) e a compra de casa própria na cidade (21,8%). Tabulamos essas duas modalidades de casa para destacar que no caso de casa própria refere-se a casa onde mora e a casa própria na cidade refere-se a uma segunda em geral para os filhos estudarem ou para ficarem quando precisam ficar na cidade. Esse indicador demonstra a concretização de um sonho para alguns produtores de açaí que se veem obrigados a mandar os filhos para estudarem na cidade e precisam de uma casa para morar.