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CAPÍTULO III – CIRCUITO ESPACIAL DA PRODUÇÃO DO AÇAÍ NA

4.9. MEIOS DE TRANSPORTE UTILIZADOS

Os meios de transporte utilizados pela comunidade são de fundamental importância para compreendermos a realidade local, já que a denominação barcos seria muito genérica, partindo do ponto de vista onde o principal espaço de circulação é o rio. Os trajetos mais longos são feitos sempre de barco motorizado sendo rabudo, rabeta ou lancha. No gráfico 20 elencamos o principal tipo de transporte utilizado e caracterizaremos cada um deles.

Gráfico 20 - Meio de transporte mais utilizado para se locomover internamente na comunidade pelos entrevistados em Cametá, Igarapé-Miri e Oeiras do Pará, anos 2014-2016

Fonte: Pesquisa de Campo, 2014-2016, Org. Rosivanderson Baia Corrêa

A canoa a remo enquanto meio de transporte tradicionalmente utilizado pelas comunidades ribeirinhas é uma herança indígena. Consiste em um barco leve feito do caule extraído de árvore apropriada (angelim, castanheira, piquiá)

que ao ser escavada com estreitamento chanfrado nas extremidades (proa e popa) serve de meio de transporte, na região amazônica também se utiliza a denominação de casco. Desta forma 40% dos entrevistados ainda se utilizam deste meio de transporte para circular internamente na comunidade.

Outro tipo de transporte utilizado pelos entrevistados é o chamado regionalmente de rabudo, que consiste em uma canoa ou casco, as vezes o mesmo movido a remo, que equipado com motor de popa recebe o nome de rabudo pelo fato do eixo e a hélice ficarem da popa para traz quando o motor está funcionando e parece um rabo. Este meio de transporte é utilizado por 38,89% dos entrevistados para viagens internamente na comunidade.

Observe que os percentuais dos que utilizam a canoa a remo e o rabudo praticamente são as mesmas, o que indica que o uso desta canoa motorizada vem assumindo papel importante, se no passado a canoa a remo preponderava agora existe uma tendência a maior utilização do rabudo para esses trajetos, mesmo em trajetos muito curtos. Isso de dá em função da melhoria das condições de vida conforme indicado anteriormente, com uma maior inserção de objetos tecnológicos.

Obviamente não podemos perder de vista a questão cultural, pois alguns mesmo tendo condições ou possuindo um barco motorizado preferem usar a canoa a remo. Também ressaltamos a coexistência entre esses meios de transportes, sendo que a chegada de outros meios de transporte mais rápido não tem anulado a utilização da canoa, apesar da sua utilização de ter diminuído consideravelmente.

A utilização da rabeta que é o barco de porte médio, mas se diferenciando dos anteriores por ter o motor quase no centro do barco, também apareceu na fala de 15,56% dos entrevistados. Merece destaque que os tipos de transporte, tanto a canoa a remo, o rabudo, a rabeta não possuem toldo.

Apenas 1,11% dos entrevistados afirmaram usar a lancha como meio de transporte, esta se diferencia dos meios anteriores por possuir o toldo como cobertura para proteger do sol e da chuva e no geral possuir maior capacidade de carga.

Finalmente 4,44% dos entrevistados afirmaram usar bicicleta como meio de transporte, esta é utilizada por aqueles que moram nas proximidades das áreas de terra firme, que moram nas áreas de várzea alta ou de transição com a terra firme.

Nesse contexto dos transportes investigamos a frequência que o entrevistado viajava para a cidade sede de seu município, no gráfico 21 apresentamos os resultados.

Gráfico 21 - Frequência em que os entrevistados vão até a cidade sede do município em Cametá, Igarapé-Miri e Oeiras do Pará, anos 2014-2016

Fonte: Pesquisa de Campo, 2014-2016, Org. Rosivanderson Baia Corrêa

Observe que os resultados foram bastante diversificados. Sendo que a maioria se concentrou na faixa de uma, duas ou três vezes por semana. Obtivemos que 24,24% vão a cidade, em média, uma vez por semana, 34,44%

vão a cidade duas vezes por semana e 22,22% vão a cidade em média três vezes por semana. Da somatória destas três faixas teríamos 81,10%.

Temos, portanto, um contato bastante intenso com a cidade, que se dá em função da venda do açaí e em busca de serviços como os de saúde, bancos e fazer compras. Observamos que as comunidades mais próximas têm um contato mais intenso com a cidade devido a contiguidade espacial que se encontram.

Se num passado não muito distante, anteriormente aos anos 1990, esse contato era mais difícil devido ao baixo desenvolvimento dos meios de transportes, as canoas a remo e movida a vela eram muito lentas e demoravam muitas horas para chegar ao destino. O desenvolvimento dos meios de transportes e um certo melhoramento das condições socioeconômicas, conforme já destacado, permitiu a compra de motores a vapor e a motorização dos barcos tornou-os mais velozes, reduzindo o tempo demandado para se deslocar das comunidades para os espaços urbanos, melhorando o acesso a bens e serviços.

Neste contexto, os produtos importados tiveram um papel crucial, se antes comprar um motor de fabricação nacional era para poucas e raras pessoas, atualmente os objetos importados vendidos a preços acessíveis e com pagamento facilitado permitem a comprar desses objetos, dentre eles o motor a vapor que é de fundamental importância para o transporte nessas comunidades.

CONSIDERAÇÕES DO CAPÍTULO

O objetivo principal deste capítulo foi abordar a questão da caracterização do açaí, seus principais aspectos gerais e analisar a questão da produção pelas comunidades ribeirinhas, realizando a análise empírica, apresentando um quadro atual da situação das mesmas.

Percebemos ao longo do mesmo as contradições apresentadas, de um lado o grande volume da produção e de outro a dificuldade de agregação do

valor, apresentando contradições mesmo entre as famílias produtoras de açaí como foi o caso demonstrado na questão socioeconômica.

E temos um quadro de inserção inicial de objetos tecnológicos fruto de uma certa valorização do produto no mercado externo e na concessão de políticas sociais como o seguro defeso e o bolsa família. Ainda associado a expansão de formas de parcelamento desses produtos nos últimos anos no Brasil.

Residindo desta forma as principais contradições na oferta de serviços como saúde, educação e segurança. A oferta de serviços de saúde é escassa, sendo que a maioria das comunidades não possui assistência alguma. A educação tendo demonstrado um grau baixo de escolaridade dos entrevistados e uma oferta também no geral nas comunidades na maioria de apenas o ensino fundamental. E a segurança também inexistente, sendo que em nenhuma comunidade possui algum tipo de serviço de segurança.

Ainda são necessárias políticas públicas para que possa alcançar essas comunidades aproveitando as potencialidades que as mesmas possuem, bem como estabelecer as relações existentes entre os conceitos de território e desenvolvimento. É o que será tema do próximo capítulo, discutindo as políticas públicas atuais e as potencialidades existentes a partir da produção do açaí juntamente com outros produtos que as mesmas conseguem produzir.

CAPÍTULO V: TERRITÓRIO E DESENVOLVIMENTO: POLÍTICAS