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CAPÍTULO 2 – MUSEU: DO GABINETE DE CURIOSIDADES AO ESPAÇO

2.2 MUSEU COMO ESPAÇO DE EDUCAÇÃO

2.2.1 DESESCOLARIZAÇÃO DO MUSEU

Como descrito no capítulo 1, o museu, diferentemente da escola, situa-se no contexto da educação não formal, estando, portanto, fora da que é dita formal, que ocorre dentro dos muros escolares. No entanto, a escolarização dessa instituição tem sido tema de diversas pesquisas (LOPES, 1991; VAN-PRAET e POUCET, 1992; SIMAN, 2003), pois em muitas situações tem-se buscado reproduzir nos espaços museais o que ocorre no contexto escolar.

De acordo com Lopes (1991), essa escolarização é o “[...] processo de incorporação pelos museus das finalidades e métodos do ensino regular” (p. 449). Ela ocorre, principalmente, porque esses espaços têm como seu principal público os grupos escolares, com isso alguns museus buscam se adaptar a esse público e acabam trazendo para essas visitas o formato utilizado na escola. Ademais, a própria escola tem responsabilidade sobre essa escolarização, pois, como ressalta Siman (2003), a “[...] escola também escolariza os museus ao reproduzir, em suas visitas a esses, as mesmas práticas e rituais que utiliza no seu próprio espaço” (p. 186). A fim de evitar essa reprodução da sala de aula no ambiente museal,

é necessário que o professor conheça o espaço para o qual está levando os alunos para visitar e, de preferência, tenha participado de cursos e/ou formações oferecidas pela instituição, podendo planejar a visita e, com isso, transformar esse ambiente em um espaço educativo divertido, interessante e propício a trazer conhecimentos de forma diferente daquela que ocorre na escola.

No quadro a seguir, Allard et. al.(1996, apud Marandino, 2001) busca mostrar a diversidade existente entre os ambientes do museu e da escola.

Quadro 2 – Relação museu / escola

ESCOLA MUSEU

Objeto: instruir e educar Objeto: recolher, conservar, estudar e expor

Cliente cativo e estável Cliente livre e passageiro Cliente estruturado em função da idade ou

da formação

Todos os grupos de idade sem distinção de formação

Possui um programa que lhe é imposto, pode fazer diferentes interpretações, mas é

fiel a ele

Possui exposições próprias ou itinerantes e realiza suas atividades pedagógicas em

função de sua coleção Concebida para atividades em grupos

(classe)

Concebido para atividades geralmente individuais ou de pequenos grupos

Tempo: 1 ano Tempo: 1h ou 2h

Atividade fundada no livro e na palavra Atividade fundada no objeto

Fonte: Allard et all (1996, apud Marandino, 2001), p. 87-88

Apesar de ser um quadro que traz uma síntese das duas instituições, é possível perceber diferenças que fazem com que cada uma deva ser tratada de forma particular, de acordo com as suas características. Enquanto na escola há o período de um ano para trabalhar os conteúdos e metodologias, a visita ao museu é realizada no tempo de uma a duas horas. Esse é um dos exemplos da impossibilidade em se empregar nos dois ambientes a mesma forma de construção do conhecimento. Ademais, no espaço museal, o estudante está mais livre para explorar as coleções, podendo interagir com elas, diferentemente da escola, onde o ensino possui uma estrutura mais rígida.

É importante salientar que a crítica à escolarização do museu não está relacionada ao termo escolarização, pois concordamos com Soares (1999) quando ela ressalta que:

Não há como ter escola sem ter escolarização de conhecimentos, saberes, artes: o surgimento da escola está indissociavelmente ligado à constituição dos “saberes escolares”, que se corporificam e se formalizam em currículos, matérias e disciplinas, programas, metodologias, tudo isso exigido pela invenção, responsável pela criação da escola de um espaço de ensino e de um tempo de aprendizagem (p. 21).

Nossa crítica está relacionada ao fato de o museu trazer para o seu interior as práticas existentes no contexto escolar, visto que as duas instituições são distintas e com características diversas. Nesse âmbito, a instituição museal pode trazer inúmeras contribuições para a educação, ajudando a construir o conhecimento dos seus visitantes, pois

[...] trata-se de os museus serem valorizados como mais um espaço, mesmo institucional – e por isso com seus limites – de veiculação, produção e divulgação de conhecimentos, onde a convivência com o objeto – realidade natural e cultural – aponte para outros referenciais para desvendar o mundo (LOPES, 1991, p. 454).

É preciso que o museu e a escola busquem evitar que a visita dos grupos escolares ao espaço museal se transforme em uma mera extensão das práticas existentes na escola, procurando explorar os potenciais de cada uma dessas instituições. Essa prática permite que o museu possa trabalhar de forma complementar às atividades pedagógicas desenvolvidas no contexto escolar, como ressalta Van-Praet e Poucet (1992), ao afirmar que “[...] a solução pode ser encontrada em termos de complementaridade e de parceria” (p. 2, tradução nossa), não sendo, portanto, uma oposição nem uma substituição das ações que ocorrem na sala de aula. Essa parceria com a escola significa uma abertura do espaço museal para um atendimento especializado ao público escolar, possibilitando que os alunos possam vivenciar

[...] experiências de aprendizagem diferentes daquelas tradicionalmente privilegiadas na sala de aula, o contato direto com o objeto, a apresentação temática, o princípio de interatividade, fazem das exposições espaços pedagogicamente inovadores favorecendo outras relações entre aquele que aprende e o objeto de aquisição cognitiva, afetiva, social ou outra (KÖPTCKE, 2003, p. 112).

Portanto, fica clara a contribuição que os museus podem dar para a construção do conhecimento do público que os visita, seja ele escolar ou não, através de experiências prazerosas e inovadoras que podem ocorrer de forma complementar à que ocorre nas escolas, fazendo com que não se tornem um mero substituto do ambiente escolar, pois devem ser

[...] valorizados como mais um espaço, mesmo que institucional – e por isso com seus limites – de veiculação, produção e divulgação de conhecimentos, onde a convivência com o objeto – realidade natural e cultural – aponte para outros referenciais para desvendar o mundo (LOPES, 1991, p. 454).

Além disso, como visto anteriormente, é necessário haver um acompanhamento, uma mediação em uma visita ao museu, para que o público possa melhor compreender os temas propostos na exposição. Mas o que é mediação? E quais os tipos de mediação encontramos nesse ambiente? No próximo capítulo iremos tratar desse assunto.