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CAPÍTULO 2 – MUSEU: DO GABINETE DE CURIOSIDADES AO ESPAÇO

2.1 MUSEUS NO BRASIL

2.1.1 OS MUSEUS EM SÃO PAULO

O primeiro museu a entrar em funcionamento na cidade de São Paulo, o Museu Paulista, ficou conhecido popularmente como Museu do Ipiranga. Sobre essa instituição, o IBRAM nos diz:

Aberta ao público no ano de 1895 na cidade de São Paulo, a unidade originalmente dedicava-se à História Natural, ramo do conhecimento amplamente difundido na época, e seu foco era essencialmente a pesquisa, além de possuir coleções de Etnografia, Paleontologia e Arqueologia (INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS, 2011b, p. 445).

O Museu Paulista, Figura 5, ainda continua em funcionamento, estando localizado no Parque da Independência, Bairro do Ipiranga, e desde o ano de 1963 foi integrado, como órgão, à Universidade de São Paulo (USP). A partir do século XX vários museus foram criados em São Paulo. Dentre esses, destacam-se: a Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 1905; o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), em 1947; e o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), em 1948. Mais recentemente, no século XXI, destacam- se: o Museu da Língua Portuguesa, em 2006; o Museu do Futebol, em 2008; e o Catavento Espaço Cultural da Ciência, em 2009. Esses museus se destacam por tratarem de assuntos diversos, como o patrimônio imaterial (Museu da Língua Portuguesa), a história, as personalidades e momentos marcantes do esporte mais popular do país (Museu do Futebol) e a ciência (Catavento Espaço Cultural da Ciência). Além disso, se destacam também por utilizar-se largamente da interatividade, assunto que será tratado mais adiante.

Figura 5 – Museu Paulista

Com relação ao MASP e ao MAM, Santos (2004) ressalta que a criação desses espaços fez parte de investimentos privados que foram feitos na abertura de museus de arte no período pós II Guerra Mundial

[...] a presença de empresários estrangeiros e dos poderosos grupos da imprensa que se formavam, como Estado de São Paulo e Diários Associados, foi responsável pelo investimento privado em museus de arte não só no eixo São Paulo – Rio de Janeiro, mas também em Campinas, Pernambuco e Paraíba (p. 57).

A criação desses espaços está diretamente ligada à “[...] tentativa de diminuir o atraso educacional e cultural da população” (SILVA, 2008, p. 142), através do desenvolvimento cultural do povo brasileiro pela arte. Essa idéia, continua a autora, ia de encontro com as “[...] condições de vida precárias dos segmentos populares” (p. 143).

Nessa mesma época, também foi criado o ICOM, em 1946, fazendo com que os museus ganhassem uma organização voltada para os seus interesses e servisse de ligação entre os diversos museus do mundo. Esse órgão serviu como mola propulsora para a criação e disseminação dessas instituições no Brasil, equiparando-os aos encontrados em todo o mundo Essa situação pode ser verificada na descrição feita pela conservadora do Museu Nacional de Belas Artes, Lygia Martins Costa, ao receber a convocação para se integrar ao ICOM:

Aminha relação com o Icom foi a mais imediata possível. Eu e a Regina Real éramos as mais ligadas ao Museu. Ela era a secretária do Museu, embora fosse técnica. Então chegou uma correspondência e ela disse: ‘Lygia, chegou aquilo que a gente sonhava’. Pois sempre conversávamos sobre a necessidade de termos acesso aos museus lá de fora; dizíamos que não podíamos continuar a não saber o que eles estavam estudando, o que eles tinham... essa falta de contato... presos aqui no nosso mundinho... Quando ela me mostrou aquela correspondência, eu disse: ‘Regina, era isso que nós estávamos buscando. Vamos ter a oportunidade de viajar, de ver os museus, mas que bom! Vamos levar isso a Oswaldo Teixeira já mastigado.’ E fomos... Naturalmente Oswaldo era um artista... (COSTA apud CRUZ, 2008, p. 6).

Atualmente, no estado de São Paulo, as instituições museais recebem o apoio do Sistema Estadual de Museus (SISEM-SP), que está sob a responsabilidade da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico da Secretaria da Cultura. Inicialmente esse órgão foi criado como o Sistema de Museus do Estado de São Paulo, pelo Decreto nº 24.634 de 13 de janeiro de 1986, e, no ano de 2011, através do Decreto n º 57.035, sua denominação foi alterada para SISEM-SP.

De acordo com o Decreto n º 57.035, em seu Artigo 2º, inciso I, o SISEM-SP é responsável por “Apoiar tecnicamente os museus do Estado de São Paulo” (p. 1), sejam eles públicos ou privados. Esse apoio do SISEM-SP pode se realizar através de diversas atividades, como: capacitação dos profissionais de museus através de palestras, oficinas e cursos; disponibilização de exposições itinerantes, possibilitando que essas possam ser levadas para outras localidades; assistências técnicas museológicas, realizando diagnósticos e apresentando propostas para auxiliar na gestão dessas instituições, entre outras atividades. Com isso, busca-se fortalecer os museus desse estado brasileiro que mais possui unidades museais. Essa experiência de São Paulo deve ser incentivada e apoiada nos diversos estados da federação.

Indo ao encontro das deliberações internacionais propostas pelo ICOM, o Brasil, em 2009, sanciona a Lei nº 11.904/09, que institui o estatuto de museus. De acordo com essa lei, em seu artigo 1º, são considerados museus:

As instituições sem fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e turismo, conjuntos e coleções de valor histórico, artístico, científico, técnico ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento (BRASIL, 2009, p. 1).

Os museus da atualidade, tanto aqueles que pertencem ao setor privado quanto os do setor público, possuem como uma de suas principais características o livre acesso a todo tipo

de público. Essa conquista, vale destacar, foi alcançada ao longo do tempo. Todas essas mudanças fizeram com que esse espaço, aos poucos, assumisse a função de educar, o que anteriormente não fazia parte dos seus objetivos.