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Espaço, território e lugar

A existência humana é inseparável da do planeta Terra. Sem esta, a humanidade nem mesmo seria possível. O homem só pode ser definido, então, numa existência relacional: entre o seu desígnio criador e as circunstâncias oferecidas pelo seu entorno. O mundo se apresenta ao homem como conjunto de facilidades e dificuldades, a partir do qual o homem cria as condições de sua existência. Transformando o planeta, o homem cria a si mesmo. A existência do homem é um combate incessante contra as dificuldades que lhe são impostas11. E é no resultado desse combate que o mundo humano é constituído, ao mesmo tempo em que o próprio homem se humaniza. É a esse mundo humano (o homem habitando este híbrido de condições oferecidas pelo planeta e de incessantes transformações promovidas pelo seu intelecto) a que chamamos de espaço geográfico, objeto de estudo da Geografia.

“O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá.” (SANTOS, 2008 [1996], p. 61). Os objetos são tanto os recursos naturais aos quais o homem atribui um uso, quanto as infraestruturas por ele construídas na sua jornada de transformação e adaptação do planeta para atender a suas necessidades e interesses. Desde o início de suas primeiras atividades na Terra, o homem cria técnicas para utilizar o entorno a seu favor: no início, essas técnicas eram extensões do seu próprio corpo (arcos, flechas, lanças, enxadas, foices etc.), mas com o passar do tempo, as técnicas tornaram-se verdadeiras próteses do planeta (pontes, rodovias, viadutos, moinhos, armazéns etc.). No atual período, com o desenvolvimento da ciência e das técnicas informacionais, podemos dizer que o homem organizou um verdadeiro meio técnico- científico-informacional (do qual, as grandes cidades são o maior exemplo), por meio da

11 Porque se não encontrasse facilidade alguma, estar no mundo lhe seria impossível, isto é, que o homem não

existiria e não faria questão. Como encontra facilidades em que apoiar-se, resulta que lhe é possível existir. Mas como acha também dificuldades, essa possibilidade é constantemente embaraçada, negada, posta em perigo. Daí a existência do homem, seu estar no mundo, não ser um passivo estar, pois tem, à força e constantemente, que lutar contra as dificuldades que se opõem a que seu ser se aloje nele. Note-se bem: à pedra lhe é dada feita sua existência, não tem que lutar para ser o que é: pedra na paisagem. Mas para o homem existir é ter que combater incessantemente com as dificuldades que o contorno lhe oferece; portanto, é ter que fazer-se em cada momento sua própria existência. Diríamos, pois, que ao homem lhe é dada a abstrata possibilidade de existir, mas não lhe é dada a realidade. Esta tem que conquistá-la ele, minuto após minuto: o homem não apenas economicamente, mas metafisicamente, tem que ganhar a vida por si mesmo (ORTEGA Y GASSET, 1963 [1939], pp. 37-38).

28 implantação desses diversos objetos técnicos (densos em ciência e informação) que passaram a rodeá-lo, permitindo e condicionando suas ações12.

Os objetos, ao mesmo tempo em que são materializações das ações passadas ou presentes, permitem a realização das atuais e condicionam as futuras. Sistemas de objetos e sistemas de ações são, desse modo, indissociáveis. E é assim que podemos afirmar que os objetos são a expressão material do processo social: neles a sociedade se realiza. Além disso, ao serem simultaneamente ações tanto passadas, quanto presentes e futuras, os objetos permitem a empiricização do tempo: o tempo se faz sensível na materialidade dos objetos. Por exemplo, ao construir um prédio, o homem permite que seja realizado certo número de ações. No entanto, ao ser instalado, este prédio ganha certa autonomia, pois passa a condicionar as ações futuras, limitando-as em quantidade e qualidade. É o caso dos prédios antigos tombados como patrimônio histórico, comuns nos centros de cidades mais velhas. Em determinado momento do passado, aqueles objetos foram construídos para abrigar certas funções que hoje já não mais existem. Entretanto, eles não desapareceram com as ações que os criaram e hoje condicionam as ações presentes e futuras: uma vez que não podem ser simplesmente destruídos nem tampouco são capazes de dar movimento às funções atuais, eles limitam as escolhas possíveis. Passado, presente e futuro (tempo) unem-se de maneira indivisível neste objeto (espaço). É desse modo, então, que o espaço representa esse conjunto inseparável de sistemas de objetos e sistemas de ações. O espaço é a própria sociedade em seu movimento de existência, constantemente sendo renovado, mas sempre uno.

Entretanto, a unidade do espaço geográfico se dá na totalidade-mundo, o que significa que se trata de um conceito que remete ao espaço total do planeta. Temos, então, um conceito antes abstrato que operacional. Por essa razão, o método deve buscar a compreensão do todo a partir do estudo e da compreensão de suas partes. Não por acaso, os estudos geográficos abordam frequentemente os subespaços nacionais, ou seja, os territórios. Todavia não se trata aqui do antigo conceito de território – compreendido unicamente a partir de sua materialidade, suporte ou palco das ações sociais – mas sim do território usado. “O território são formas, mas o território usado são objetos e ações, sinônimo de espaço humano, espaço habitado.”

12 Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo técnicos e informacionais, já que, graças à

extrema intencionalidade de sua produção e de sua localização, eles já surgem como informação; e, na verdade, a energia principal de seu funcionamento é também a informação. Já hoje, quando nos referimos às manifestações geográficas decorrentes dos novos progressos, não é mais de meio técnico que se trata. Estamos diante da produção de algo novo, a que estamos chamando de meio técnico-científico-informacional (SANTOS, 2008 [1996], p. 238, grifo do autor).

29 (SANTOS, 2005 [1993], p. 138). O território usado é sinônimo do espaço geográfico, pois se trata de uma relação entre uma totalidade que é parte de uma totalidade maior.

Embora uno, o território não é homogêneo. Existem diferenciações territoriais, resultado dos diferentes objetos e ações presentes em cada lugar. Ao longo de sua história, a humanidade tornou-se mais complexa em diversos aspectos. O isolamento geográfico das diversas regiões do planeta até alguns séculos atrás foi capaz de fazer surgirem as mais diversas culturas, cada uma organizando seu território de acordo com seus desígnios particulares. Além das diferenças culturais, outros fatores são também responsáveis por diferenciações territoriais. Ao se considerar um país como o Brasil, no qual podemos afirmar que predomina uma mesma cultura, existem características que são peculiares a certas porções do território. O mesmo acontece quando é considerado um estado federativo ou mesmo um município. No atual período, o principal fator responsável por essas diferenciações tem sido as relações capitalistas. Se o homem organiza seu território, criando objetos que possibilitarão suas ações, em uma sociedade capitalista não se pode dizer que todos os homens sejam igualmente dotados desse mesmo poder transformador.

Num esforço de compreensão do problema, pode-se de uma maneira simplificada dizer que os elementos que agem na transformação do território estão divididos em: homens, firmas e instituições (SANTOS, 2008 [1985]). Há diferenças entre as ações desses agentes, pois há distintos interesses e possibilidades, fazendo com que homens, firmas e instituições usem o território de maneiras bastante diversas. Mesmo em cada um desses grupos existem diferenças: há homens ricos e pobres, firmas grandes e pequenas e instituições nacionais e internacionais, por exemplo. Em resumo, significa que os homens são dotados de possibilidades diferentes a depender de diferentes circunstâncias sociais.

Essa diferença de possibilidades é sempre expressa pelo território: pelo diferente uso que dele faz cada um dos agentes. Ao se observar atentamente a porção do território correspondente a um município qualquer, por exemplo, ver-se-á que os diferentes objetos instalados nos diversos lugares revelam quem são os agentes que deles fazem uso. A porção do território que abriga as atividades industriais é bem diferente daquela onde existe o comércio (firmas diferentes = objetos e ações diferentes). Os bairros onde residem os homens com maior poder de transformação do território são diferentes daqueles onde vivem os demais: os primeiros apresentam maior diversidade de objetos que os segundos. Assim, o território é diferentemente transformado e usado pelos diferentes agentes.

Os diferentes usos do território são artífices da constituição dos diferentes lugares. O lugar é a terceira totalidade: um subespaço do território. O lugar pode ser definido como um

30 subespaço correspondente a um acontecer solidário e contíguo13. Esse acontecer tem uma duração e uma extensão, o que faz com que o lugar tenha duração e extensão correspondentes. Nas palavras de Santos (2005 [1994], p. 158):

Um subespaço é uma área contínua do acontecer homólogo ou complementar, do acontecer paralelo ou hierárquico. Em todos esses casos, trata-se de um acontecer solidário, que define um subespaço, região ou lugar. A noção aqui, de solidariedade, é aquela encontrada em Durkheim e não tem conotação ética ou emocional. Trata-se de chamar a atenção para a realização compulsória de tarefas comuns, mesmo que o projeto não seja comum.

Uma abordagem que leva em conta o acontecer como a variável que define a existência e a diferenciação de subespaços faz com que a escala de delimitação espacial dos lugares seja uma noção menos geométrica que temporal. É nesse sentido que podemos afirmar que “em cada momento, há sempre um mosaico de subespaços, cobrindo inteiramente a superfície da terra e cujo desenho é fornecido pelo curso da história... (SANTOS, 2005 [1994], p. 159)”. Nessa perspectiva, o antigo conceito estático de região, enquanto unidade espacial definida e delimitada de uma vez por todas, perde o sentido:

A distinção entre lugar e região passa a ser menos relevante do que antes, quando se trabalhava com uma concepção hierárquica e geométrica do espaço geográfico. Por isso, a região pode ser considerada como um lugar, desde que a regra da unidade e da contiguidade do acontecer histórico se verifique. E os lugares – veja-se o exemplo das cidades grandes – também podem ser regiões. Tanto a região, quanto o lugar, são subespaços subordinados às mesmas leis gerais de evolução, onde o tempo empiricizado entra como condição de possibilidade e a entidade geográfica entra como condição de oportunidade. A cada temporalização prática corresponde uma espacialização prática, que desrespeita as solidariedades e os limites anteriores e cria novos (Ibidem, grifo do autor).

A cada momento, os lugares são redefinidos pelo processo histórico. O mosaico está constantemente se refazendo: encontraremos tantos lugares quantos forem os aconteceres solidários se dando num dado momento da história. É assim que, dependentes dos aconteceres, os lugares têm duração e extensão variáveis. Um lugar existe numa dada porção do espaço num dado período de tempo. As diferenças entre os lugares são, então, dependentes

13 Na realidade, esse acontecer solidário se apresenta sob três formas no território atual: um acontecer homólogo,

um acontecer homólogo, um acontecer complementar e um acontecer hierárquico. O acontecer homólogo é aquele das áreas de produção agrícola ou urbana, que se modernizam mediante uma informação especializada e levam os comportamentos a uma racionalidade presidida por essa mesma informação, que cria uma similitude de atividades, gerando contiguidades funcionais que dão os contornos da área assim definida. O acontecer complementar é aquele das relações entre cidade e campo e das relações entre cidades, consequência igualmente de necessidades modernas da produção e do intercâmbio geograficamente próximo. Finalmente, o acontecer hierárquico é um dos resultados da tendência à racionalização das atividades e faz-se sob um comando, uma organização, que tendem a ser concentrados e obrigam-nos a pensar na produção desse comando, dessa direção, que também contribuem à produção de um sentido, impresso à vida dos homens e à vida do espaço (SANTOS, 2005 [1993], p. 140).

31 das diversas variáveis espaciais e temporais. Como a Geografia tem por objetivo a compreensão do presente, buscaremos compreender as diferenças entre os diversos lugares a partir dos diferentes aconteceres resultantes dos diferentes usos impostos pelos homens no atual período histórico.

Como vimos, os diferentes usos podem revelar uma diversidade de atividades econômicas. Todavia, também é verdade que a diferença pode expressar as desigualdades sociais. Nesse sentido, há em nossa sociedade um uso desigual do território: aos mais pobres cabem, geralmente, as porções do território menos dotadas de objetos e ações que são condição para o desenvolvimento pleno dos indivíduos. Pode-se afirmar que ser pobre não é apenas uma condição econômica: é também uma condição territorial; é habitar aqueles lugares onde não há as infraestruturas que a sociedade deveria oferecer a todos os seus membros. É certo que caberia à ação do Estado a responsabilidade quanto à organização territorial e distribuição igualitária de bens e serviços a todos os indivíduos, independentemente de onde eles habitem. No entanto, em uma sociedade capitalista o Estado é a instituição que expressa a luta de classes, o que faz com que, geralmente, suas ações favoreçam os mais poderosos, em detrimento dos pobres. É dessa maneira que tem se constituído as desigualdades territoriais, ainda mais agudizadas em países subdesenvolvidos como é o caso do Brasil.

E como compreender as desigualdades no uso do território a partir do estudo geográfico de uma instituição? Ao mesmo tempo em que as ações produzem e se dão por meio dos objetos, estes, por sua vez, interferem nas escolhas e nas realizações das ações, contraditoriamente, na maioria das vezes, como em nosso país. Pode-se dizer que os objetos intermediam as relações entre as diversas ações. Os diferentes agentes comunicam-se por meio de ações que se tornam possíveis por meio dos objetos. Dito isto, uma instituição é um agente cuja comunicação com os demais se realiza por meio da organização de um sistema de objetos e ações que lhe sirva de meio. No entanto, as decisões dessa instituição já estão inseridas num conjunto de objetos e ações que lhe comunicam e indicam as possibilidades a serem realizadas. Por essa razão, compreender o uso do território por qualquer agente que seja exige compreender a totalidade de que ele faz parte. É dessa forma que o uso do território, a realização da existência por meio de objetos e ações, é, ao mesmo tempo, resultado e expressão da totalidade. A compreensão do uso do território pela Defensoria Pública pode nos revelar o sentido de sua existência, assim como do contexto no qual ela se insere.

Nenhum estudo dá conta de descrever a totalidade em si, pois é impossível parar o mundo para compreendê-lo e explicá-lo. O movimento é incessante e só podemos tentar

32 compreender o seu sentido, a partir do diálogo que estabelecemos com alguns de seus aspectos, aqueles que conseguimos apreender. Assim, a abordagem geográfica da totalidade exige que busquemos os aspectos que nos são apreensíveis por meio das categorias de análise que são caras à nossa disciplina. Por conseguinte, recorremos às categorias forma, função,

estrutura e processo. Nas palavras de Santos (2008 [1985], p. 69):

Forma é o aspecto visível de uma coisa. Refere-se, ademais, ao arranjo ordenado de

objetos, a um padrão. Tomada isoladamente, temos uma mera descrição de fenômenos ou de um de seus aspectos num dado instante do tempo. Função [...] sugere uma tarefa ou atividade esperada de uma forma, pessoa, instituição ou coisa.

Estrutura implica a inter-relação de todas as partes de um todo; o modo de

organização ou construção. Processo pode ser definido como uma ação contínua desenvolvendo-se em direção a um resultado qualquer, implicando conceitos de tempo (continuidade) e mudança. (Grifo do autor).

O território são as formas (casas, edifícios, ruas, avenidas, pontes, viadutos, estradas, barragens etc.), mas estas formas abrigam funções determinadas, que atendem aos desígnios de dados agentes. Forma e função são indissociáveis e se condicionam reciprocamente. Contudo, elas não existem isoladamente, mas em estruturas: conjuntos de formas e funções cuja existência só encontra seu sentido nas inter-relações. Uma cidade é um exemplo de estrutura. São diversas formas abrigando funções, e que apenas em conjunto tem um significado: ser cidade. Por fim, é preciso considerar que essas três categorias sozinhas apenas nos dão conta de apresentar a organização do presente, mas não de compreender o movimento que o anima. É o processo que nos permite examinar o movimento histórico que dá sentido ao presente. Desse modo, será o exame cuidadoso de cada uma dessas categorias – todas operando juntas – que nos fornecerá os fundamentos para a compreensão do uso do território.

Acesso à justiça e uso do território

T. H. Marshall (1967), ao explicar a constituição da cidadania na Inglaterra, relaciona- a à aquisição sucessiva dos direitos civis, políticos e sociais. De certo modo, ainda hoje, o conceito de cidadania está relacionado ao exercício desses direitos, ou seja, o cidadão é aquele que possui o livre exercício de seus direitos (civis, políticos e sociais) assegurado pelo Estado. Entretanto, há a possibilidade de existência da cidadania sem que o território usado apareça como sendo sua essência?

São os objetos que possibilitam a realização das ações. Assim, o exercício dos direitos exige a construção e a distribuição territorial de certos objetos que farão com que a cidadania seja uma realidade para todos os indivíduos. Entretanto, o que acontece é que em alguns lugares a inexistência de hospitais, escolas, saneamento básico etc. é a expressão da ausência

33 da cidadania. Não há como discutir cidadania sem que o território usado esteja em primeiro plano.

O território é a expressão e a condição de realização da sociedade. Uma sociedade desigual será denunciada pelas desigualdades territoriais, estará expressa nas paisagens14. Se a cidadania não se pretende apenas uma declaração legal, mas sim uma realidade comum a todos, o território deve ser considerado em sua totalidade, estando dotado das condições materiais e imateriais para a existência do cidadão. No Brasil, enquanto isso não for realizado, não poderemos falar da existência de cidadania.

Cappelletti e Garth (1988, p. 12) ao tratar da evolução do conceito de acesso à justiça afirmam que “o acesso à justiça pode ser encarado como o requisito fundamental – o mais básico dos direitos humanos – de um sistema jurídico moderno e igualitário que pretenda garantir, e não apenas proclamar o direito de todos”. O acesso à justiça poderia ser, então, compreendido como a possibilidade de reclamar e ser atendido quanto à realização da cidadania. A contradição é o Estado ser um dos responsáveis diretos tanto pela negação da cidadania quanto pela administração do sistema jurídico. Como reclamar ao Estado que o Estado garanta a cidadania?

Apesar de privilegiar alguns, em detrimento de muitos, o Estado representa o embate de forças contraditórias. Ainda que ele acabe por beneficiar na maioria das vezes os agentes hegemônicos, por outro lado é também pressionado pelos mais pobres a agir em benefício destes. Nesse sentido, mesmo de maneira muitas vezes precárias e com resultados questionáveis, o Estado constrói objetos e coloca em prática ações com o objetivo de atender as necessidades dos mais fracos. É nesse contexto que parecem surgir instituições como a Defensoria Pública, por exemplo, responsável por garantir a assistência jurídica gratuita às pessoas sem condições de pagar pelos serviços de um advogado. Apesar dos muitos problemas, pode-se dizer que legalmente essa instituição é responsável por viabilizar o início da luta pelo acesso à justiça, o acesso ao sistema jurídico, ou seja, à possibilidade de reivindicar do Estado a realização da cidadania, que é antes de tudo o direito ao uso do território. Cabe-nos questionar se o acesso à Defensoria Pública pode promover um uso igualitário do território e o acesso à cidadania.

14 Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento,

exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são essas formas mais a vida que as anima (SANTOS, 2008 [1996], p. 103).

34 Lugar e valor do indivíduo

Entre as abordagens possíveis para a compreensão do uso do território pela Defensoria Pública está o estudo das localizações de suas unidades de atendimento. Poderíamos indagar se essas localizações estão em consonância com as demandas de seu público-alvo. Ora, se a