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Desmaterialização da Documentação

SECÇÃO I: AS NOVAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO

2. As Novas Tecnologias de informação e o Direito, algumas questões:

2.7. Desmaterialização da Documentação

Com o desenvolvimento das tecnologias da informação os documentos em suporte papel perderam um pouco da sua importância, passando a ser, em certos casos, substituídos pelos documentos electrónicos, completamente desmaterializados, onde tudo se passa num mundo virtual.

Com o uso crescente da documentação em formato digital é necessário, desde logo, dar especial atenção a uma série de requisitos, que os mesmos precisam de cumprir para que sejam encarados como documentos credíveis e dignos de confiança.

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Não existe uma definição clara e absoluta de Paraíso fiscal ele pode ser entendido como “ uma circunscrição territorial na qual se proporciona aos não residentes a isenção ou redução de impostos em relação ao país de residência”. Cfr. «Paraísos Fiscais – Planeamento Fiscal Internacional e Combate à evasão fiscal» in www.direito.up.pt/cije_web/Site/documentos/trabalhos/Sousa_Joao.pdf consultado a 11/07/2007. De acordo com outra definição por Paraíso Fiscal entende-se um país ou território que proporciona a pessoas individuais ou colectivas vantagens fiscais susceptíveis de evitar a tributação no seu país de origem ou de beneficiar de um regime fiscal claramente mais favorável.

Considera-se paraíso fiscal, de acordo com o Relatório da OCDE, o país ou território que cumpra os seguintes requisitos: não aplique impostos ou tenha taxas de imposto mais baixas que determinados países; tenha legislação que proteja o sigilo bancário e comercial; e tenha renunciado ao exercício de qualquer poder de controlo sobre movimentos de capitais e transferência de divisas. Cfr. DOGGART, Carolina (2003), «Paraísos Fiscais», 3ª Edição, Outubro 2003, Vida Económica, p.12.

De acordo com TEIXEIRA (2008, p.59) para que se esteja perante um Paraíso fiscal é necessário ocorrerem algum ou alguns dos seguintes factores: isenção total de imposto ou aplicação apenas de taxas nominais, ausência de troca de informações e sigilo bancário, falta de transparência e ausência de prática efectiva ou real de actividades.

Como tal é necessário assegurar, desde logo, a integridade dos documentos electrónicos, garantindo que o seu conteúdo permanece inalterado, ou seja, que o documento depois de se encontrar na sua versão final não sofre qualquer tipo de alteração, o que pode ser uma tarefa bastante difícil de realizar, devendo como tal esses documentos ser guardados em locais seguros, como por exemplo CD-ROM.

Intimamente relacionado com a integridade encontra-se a necessidade de confidencialidade inerente aos documentos electrónicos, garantindo que os mesmos não são acedidos por indivíduos estranhos à relação.

Uma das técnicas utilizadas para acautelar a confidencialidade é a criptografia, que cria condições de tornar os dados ininteligíveis para quem não possua as chaves de acesso. No entanto, é necessário garantir que os operadores que asseguram as comunicações em geral, e a troca de documentos electrónicos, em particular, não têm um acesso efectivo aos conteúdos, não os duplicam e nem fazem um uso menos correcto dessa informação. Portanto, os operadores devem ser entidades credíveis, discretas, que garantam a segurança e a confidencialidade das transacções, sempre que seja caso disso.

Os documentos electrónicos devem, ainda, ser autênticos. Assim, a fim de analisar a veracidade dos mesmos é importante confirmar se o seu autor é efectivamente quem diz ser e se é ele o responsável pela sua emissão, tal pode-se aferir através da aposição da respectiva assinatura.

Por conseguinte, os documentos electrónicos devem proporcionar confiança e serem fiáveis, para isso é importante serem, por um lado, genuínos, garantindo que o documento não sofreu qualquer tipo de alterações e, por outro, seguros, dificultando ao máximo a possibilidade de serem alterados.107

O documento electrónico diz, então, respeito às mensagens e comunicações trocadas entre os intervenientes de um contrato com recurso a meio electrónicos. No entanto, estes

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Cfr. CORREIA, Miguel Pupo, (2003) - «Assinatura Electrónica e Certificação Digital» p.13 in http://apdi.pt/APDI/DOUTRINA/Doutrina.htm consultado a 17 de Agosto de 2006. Vide SOUSA, Miguel Teixeira de, (2001) - «O valor probatório dos documentos electrónicos » in Direito da Sociedade de Informação, vol. III, Coimbra Editora, p.178; INICIATIVA Nacional para a Sociedade da Informação, «Livro Verde para a Sociedade da Informação em Portugal» in http://www.posc.mctes.pt/documentos/pdf/LivroVerde.pdf, p.107.

documentos suscitam, desde logo, uma outra questão pertinente, a de saber até que ponto podem constituir uma declaração da vontade negocial das partes, vinculativas para quem as envia.108

Aqui importa distinguir duas situações, a primeira resulta do envio de mensagens, por exemplo, email, SMS, que derivam directamente de um acto de vontade humana, sendo neste caso, aceitável considerá-las como verdadeiras declarações negociais e como tal, que configuram um documento com valor jurídico. A segunda situação prende-se com o envio de mensagens automáticas, onde não existe uma intervenção humana directa e neste caso, também estas devem ser entendidas como verdadeiras declarações negociais, considerando-se como expressão de um acto de vontade humana, apesar do equipamento informático não possuir uma vontade própria, as suas acções derivam de actos de programação produzidos por seres humanos.109

De acordo com o art.º2 al.a) DL 290/D-99 actualizado entende-se por documento electrónico o documento elaborado mediante processamento electrónico de dados.

No entanto, os documentos electrónicos não são homogéneos e podem ser divididos em duas categorias: documentos electrónicos em sentido estrito e em sentido amplo. No primeiro caso, enquadram-se os que para além de estarem em formato digital apenas podem ser lidos pelo computador e não pelo homem, no segundo caso, encontram-se os documentos, que para além de se encontrarem no formato digital, também são impressos com recurso a impressoras ou a outros mecanismos tornando-se, também, perceptíveis para o homem. 110

108

Cfr. MARQUES, Mário Castro, (2002), «O Comércio Electrónico: algumas questões jurídicas» in “O comércio Electrónico: estudos jurídico-económicos”, Almedina, p.43. Vide SOUSA, Miguel Teixeira de, (2001) - «Assinatura electrónica e certificação» in Direito da Sociedade de Informação, vol. III, Coimbra Editora. MONTEIRO, Jorge Sinde (2002) - « Assinatura electrónica e certificação» in Direito da Sociedade de Informação, vol. III, Coimbra Editora;

109

Cfr. MARQUES, Mário Castro, (2002), «O Comércio Electrónico: algumas questões jurídicas» in “O comércio Electrónico: estudos jurídico-económicos”, Almedina, p.44; CORREIA, Miguel Pupo, (2006b) - «Assinatura Electrónica e Certificação Digital», in Direito da Sociedade de Informação, vol.VI, Associação Portuguesa de Direito Intelectual, FDL, Coimbra Editora, p. 285.

110

Cfr. SOUSA, Miguel Teixeira de, (2001) - «Assinatura electrónica e certificação» in Direito da Sociedade de Informação, vol. III, Coimbra Editora, p.172; CORREIA, Miguel Pupo, (2006b) - «Assinatura Electrónica e Certificação Digital», in Direito da Sociedade de Informação, vol.VI, Associação Portuguesa de Direito Intelectual, FDL, Coimbra Editora, p. 286.

Considera-se que os documentos electrónicos satisfazem o requisito legal de forma escrita quando são susceptíveis de representação como declaração escrita. Por conseguinte, quando lhes é aposta uma assinatura electrónica qualificada certificada por uma entidade certificadora credenciada, o documento electrónico adquire força probatória de documento particular assinado.111

No caso de não ser susceptível de representação escrita, pode na mesma, ter força probatória, quando lhe seja aposta uma assinatura electrónica qualificada certificada. O exposto atrás não impede a utilização de outros meios de comprovação da autoria e integridade do documento electrónico, podendo ser praticada outra modalidade de assinatura, desde que devidamente acordada entre as partes.112

O documento electrónico considera-se transmitido quando for enviado para o endereço electrónico113 definido por acordo entre as partes e aí for recebido. Assim, por um lado, caso seja enviado com recurso a mecanismos que assegurem a efectiva recepção do documento, estamos perante um processo equivalente à transmissão por via postal registada, por outro, se a recepção efectiva for comprovada pelo envio de uma mensagem de confirmação de recepção ao remetente pelo destinatário, equivale a uma entrega por via postal registada com aviso de recepção.114

Os documentos electrónicos colocam também, em sede fiscal, alguns desafios. Num mundo virtual onde as transacções são completamente intangíveis e como tal, é difícil controlar a sua ocorrência, o que é ainda mais acentuado com a desmaterialização dos documentos. Podem facilmente ser realizadas operações com recurso ao comércio on-line que não sejam detectadas, pelo sistema fiscal e como tal, que não sejam sujeitas a tributação.

Outro problema que daqui resulta prende-se com o problema da identificação dos intervenientes e da necessidade de existir segurança, de modo a garantir que os 111 Cfr.Art.3º, n.º3 do DL 290-D/99 actualizado. 112 Cfr. Art.3º, n.º 4 DL 290-D/99 actualizado. 113

Endereço electrónico consiste na identificação de um equipamento informático adequado para receber e arquivar documentos electrónicos, de acordo com o que consta no art.2º aliena v), do DL 290-D/99 actualizado.

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intervenientes na transacção são identificáveis e como tal, objecto de tributação, e que os documentos não sofrem qualquer tipo de alteração.