• Nenhum resultado encontrado

SECÇÃO I: A TRIBUTAÇÃO DO COMÉRCIO ELECTRÓNICO ON-LINE:

3. Soluções apresentadas para resolver esses problemas

3.1. Impostos Directos

Perante uma realidade em que os vendedores conduzem o seu negócio através da realidade virtual, onde não existem barreiras e onde a mobilidade é uma característica essencial, as leis fiscais existentes não foram escritas para poderem incidir sobre esta realidade virtual. Logo, como o objectivo base era a não criação de novos impostos houve necessidade de adaptar os impostos directos a esta nova realidade intangível, o que ampliou alguns dos problemas que já existiam e que derivam quer da imputação quer da qualificação.

Assim sendo, ao nível da imputação os conceitos já existentes, como residência, direcção efectiva e estabelecimento estável, tiveram de ser objecto de adaptação a esta nova realidade, o que não é fácil. O mesmo aconteceu relativamente à qualificação dos rendimentos, onde conceitos como rendimentos comerciais, mais valias e royalties também foram objecto de clarificação. De referir, que apesar das adaptações ainda subsistem alguns problemas, mas tal também não é exclusivo do comércio electrónico, também se verificando noutras realidades.

Nesta matéria e uma vez que não existe harmonização europeia é importante considerar o que existe quer na OCDE quer na UE, pois Portugal faz parte dessas organizações.

A OCDE, através do seu Comité dos Assuntos Fiscais, constatou que com o aparecimento de novas tecnologias e melhores formas de condução de negócios transfronteiriços, surgiram novos tipos de fraude e evasão fiscal, agravadas ainda com o processo de globalização e liberalização progressivo das economias, com especial relevo a partir de 1980, o que levou a referida organização a adoptar um modelo de convenção, Modelo de

269

Cfr. COUTO, Rute Isabel Esteves Ferreira, (?), «Regulação do Comércio Electrónico» disponível em

https://bibliotecadigital.ipb.pt/dspace/bitstream/10198/618/1/Regula%C3A7%C3A3o_do_Com%C3%A9rcio _Elect%C3%B3nico_final_RepDig.pdf consultado a 4 de Maio de 2008.

Convenção de Dupla Tributação sobre o Rendimento e o Capital, consignado por actualização periódica senão mesmo permanente.270

O Modelo de Convenção Fiscal da OCDE sobre o Rendimento e Património271 (daqui em diante designada apenas por Convenção Modelo), assume especial importância em sede de impostos directos e serve de base a convenções internacionais bilaterais destinadas a regular situações de dupla tributação. Este modelo assume tal importância que se estendeu para além dos próprios países pertencentes à OCDE e passou a ser utilizado nas negociações entre outros países.272 Nesta Convenção Modelo introduziram-se alguns comentários que visam clarificar alguns conceitos, de modo adaptá-los ao comércio on- line.

270

De salientar que a OCDE não produz normas que vinculem os países que a integram, ela emite sim estudos e recomendações que devem servir de referência aos vários normativos nacionais. Os acordos de dupla tributação constituem o Direito Tributário Internacional, sendo que este, nas matérias que regula, tem o primado sobre as normas fiscais internas, ou seja, perante matérias reguladas internacionalmente as normas internas passam para segundo plano, prevalecendo as normas dos Acordos de Dupla Tributação. Em suma, de acordo com PEREIRA (2005, p.155) os tratados ou convenções fiscais internacionais constituem fonte do Direito Fiscal português uma vez que vigoram na ordem interna. Vide SANCHES, J.L.Saldanha, (2007) «Manual de Direito Fiscal», 3ª edição, Coimbra Editora, p.80 e ss; NABAIS, José Casalta, (2006), «Direito Fiscal», 4ª Edição, Setembro 2006, Almedina, p. 103 e ss.

271

Cfr. Modelo de Convenção Fiscal sobre o Rendimento e o Património, OCDE 2006, versão condensada, Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal n.º 197 este Modelo de Convenção é resultado de uma evolução por parte dos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico que já há muito tinham tomado consciência de que era necessário “clarificar, uniformizar e assegurar que a situação fiscal

dos contribuintes que exercem uma actividade comercial, industrial, financeira ou outra noutros países” de

modo a proporcionar a aplicação das mesmas regras em situações semelhantes. Esta ideia encontra-se expressa no §2, da respectiva Introdução. A Convenção Modelo é um modelo que deve ser seguido pelos diferentes Estados aquando da elaboração das Convenções Bilaterais para evitar a Dupla Tributação. Os referidos acordos de dupla tributação visam assim distribuir proporcionalmente as receitas entre os dois Estados, evitando a ocorrência da dupla tributação, removendo os obstáculos ao comércio, incentivando o investimento estrangeiro e prevenindo discriminações e a evasão fiscal. Cfr. PORTUGAL, António Moura, (2002) - «Estatuto pessoal e nacionalidade das sociedades nos acordos de promoção e protecção de investimentos e nos acordos de dupla tributação celebrados por Portugal», Ciência e Técnica Fiscal n. 407, Julho-Setembro, Lisboa.

272

No entanto, este modelo da OCDE serviu também de base ao Modelo das Convenções das Nações Unidas, também com o objectivo de evitar a dupla tributação entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento (Modelo NU) e que foi publicado em Nova Iorque, em 1980. Este Modelo, com estrutura idêntica ao Modelo da OCDE, afasta-se dela na medida em que visa disciplinar os interesses dos Países menos desenvolvidos, reflectindo assim, as preocupações por parte dos países menos desenvolvidos, que são importadores de capitais, de tecnologia e de serviços. Portugal, relativamente a várias questões concretas, tem seguido de perto o Modelo de Convenção das Nações Unidas. Mas tanto o Modelo da OCDE como das Nações Unidas sobre a questão da residência ao nível dos impostos directos são similares, não apresentando grandes divergências. Vide CÂMARA, Francisco Sousa da, (2001) - «A Dupla Residência das Sociedades à luz das Convenções de Dupla Tributação», Ciência e Técnica Fiscal n.º403, Julho-Setembro, p.65 e ss.

A nível de impostos directos, sobre o rendimento, a UE não emitiu nenhum normativo específico, uma vez que, como nesta matéria não existe harmonização, como já se referiu, é dada liberdade aos Estados-Membros para regularem conforme acharem melhor.

Em suma, no que concerne à tributação directa, é fundamental resolver duas questões basilares, por um lado, a da imputação e por outro, a da quantificação. Ao nível da imputação é fundamental ter atenção ao princípio da residência, sendo para tal necessário definir qual o local de direcção efectiva e ao princípio da fonte, onde é crucial clarificar o conceito de estabelecimento estável. Ao nível da quantificação é basilar identificar que tipo de rendimento deriva da operação, se se trata de rendimentos empresariais, mais valias ou royalties.

Na análise destes conceitos é importante entrar em linha de conta com o que consta da Convenção Modelo, sendo que a nível europeu não existe nenhum normativo que tente clarificar estes conceitos aquando da sua adaptação ao comércio on-line.