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4. Enquadramento operacional

4.2. Área 2 Participação na escola e relações com a comunidade

4.2.7. Desporto escolar

O estudante-estagiário deve recolher e organizar a informação relativa ao Desporto Escolar e acompanhar pelo menos a sua atividade, como também acompanhar a época desportiva num dos desportos apoiados pela escola. (Matos, 2015a).

“…o desporto escolar tem também uma função formativa específica,

insubstituível, que se desenvolve em termos diferentes da atividade curricular e

desempenha uma outra função na vida do aluno.” (Carvalho, 1987, p. 150).

No âmbito no desporto escolar, estive envolvido em duas atividades. Uma delas foi a natação e outra foi o desporto adaptado, que não entra diretamente no desporto escolar. Tentei ainda que abrissem uma secção de badminton e/ou voleibol, porque são as minhas áreas prediletas e penso que poderia ter transmitido muito mais conhecimento e vivências aos interessados. Não sendo possível essa opção, optei por escolher duas áreas diferentes da minha área comum, decidi sair da minha zona confortável e enveredar por duas áreas completamente distintas. Por um lado, trabalhar a sua competência dos alunos num meio estranho ao natural de locomoção, a água. Por outro, foi trabalhar com alunos com necessidades educativas especiais. Foi uma mais valia enquanto profissional, na medida em que cresci como ser humano e mudei a forma como via as pessoas com necessidades educativas especiais. Foi uma experiência enriquecedora na medida em que saí completamente do meu habitat natural,

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para enveredar numa área em que nem sequer temos contato direto na nossa formação académica. Comitantemente a isto, uma vez por semana estive a trabalhar com alunos da unidade de ensino especial. Estes alunos têm limitações muito severas, desde limitações a nível motor e intelectual a limitações cognitivas. São alunos que praticamente não falam e precisam de apoio para andar, sendo que a maioria está em cadeira de rodas. Inicialmente foi um choque muito forte, pois nutria um sentimento muito grande de tristeza a ver estes alunos e fazia-me confusão trabalhar com eles. Mas estes sentimentos mudaram de dia para dia, sendo que começou a ser uma situação mais normal. A minha intervenção recaiu na socialização e integração destes na comunidade educativa e escolar. O objetivo final não foi integrá-los numa prática desportiva, pois estes alunos não possuem nenhuma ou quase nenhuma destreza motora.

4.2.7.1. Natação

Depois de muito esforço a tentar que o coordenador do desporto escolar abrisse uma seção de badminton ou voleibol, senti que estava na hora de mudar de rumo. Assim, depois de analisadas todas as possibilidades de desportos dentro do desporto escolar, decidi seguir pela natação. Por um lado, é um desporto que gosto, apesar de não ter muito à-vontade, mas o que me levou a ir para este desporto, foram os horários dos treinos. Todos os outros desportos eram em horário extraescolar, o que coincidia com a minha vida profissional, assim, este era o único que de desenrolava dentro do horário escolar, não coincidindo com nenhuma aula ou tarefa do estágio profissional.

Confesso que no início me sentia um pouco assustado, isto porque sentia que a qualquer momento poderia estar a ensinar incorretamente o aluno e fosse reprimido por um dos dois professores que estavam responsáveis pela atividade. Mas rapidamente me deixaram muito à-vontade. Logo na primeira fui sempre atrás do professor, tendo sido muito observador, observei a forma como corrigia os alunos, como de deslocava na piscina, como se relacionava com os alunos, etc. Na segunda aula fiz o mesmo, mas com o outro professor. A partir dai, tive completa autonomia para ficar com um grupo de alunos e trabalhar especificamente com eles. Errei, trabalhei, acertei, este foi o meu ciclo. Sempre

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que errava ou achava que estava errado, pesquisei e perguntei qual as melhores formas de ensinar alguma tarefa mais específica. Estudei sempre o que deveria melhorar e perguntava sempre o que achavam da minha prestação. Até que acertava finalmente. Quando errava novamente, repetia o mesmo processo até acertar. Até que cada vez fui errando menos e as práticas pedagógicas melhoraram significativamente.

Os momentos altos, foram os encontros de natação. Aí estava mais pessoalmente com os alunos e fui conhecendo-os cada vez melhor. Na primeira prova, tive de ficar no tanque mais pequeno e dinamizar atividades para os alunos que não sabiam nadar e/ou com necessidades educativas especiais. Correu tão bem, que fui elogiado, e agradeceram incessantemente ao professor responsável pela natação da escola. Senti-me muito bem pelo trabalho que desenvolvi naquele âmbito específico.

No segundo momento do encontro da natação como o nível era mais avançado, não havia alunos que não sabiam nada e então a minha função foi de auxiliar os alunos nas provas e estar atento para quando os chamassem. Não tinha mesmo noção da grandeza do evento. Nesta prova, haviam mais de 600 alunos inscritos, sendo que havia um local especifico, onde o número dos dorsais dos alunos eram chamados, para que se dirigissem para a câmara de chamada. Foi um momento muito enriquecedor para mim, onde conheci mais profundamente os alunos, criando ali uma relação mais próxima, mantendo sempre uma premissa: o respeito mútuo.

No início do ano duvidei da minha entrada para a modalidade da natação, mas, no fim, reflito e vejo que não poderia ter realizado melhor escolha. Tive a sorte e o prazer de trabalhar com docentes entusiastas da modalidade que me ensinaram muito e não só acerca da modalidade. Naquelas conversas infindáveis, adquiri uma perspetiva diferente de uma panóplia de assuntos relacionados com a escola. Foi uma experiência muito enriquecedora, no sentido de ter ganho mais alguma experiência na modalidade, mas também por ter sido parte importante na minha integração na comunidade educativa.

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Considero que a modalidade de natação na escola, reúne todos os recursos para poder alcançar marcas históricas na modalidade. Dispõe das instalações municipais de Águas Santas, dispõe de um número elevado de alunos e dispõe também de professores qualificados para a função específica. Assim, penso que todos os recursos podem ser melhores aproveitados e não esperar apenas pelos atletas federados que vêm competir pela escola. Pois se assim o for estamos a retirar a verdadeira essência do desporto escolar: a atividade desportiva como meio de educação e forma de cultura (Carvalho, 1987).

4.2.7.2. Desporto Adaptado

Não fazendo realmente parte do desporto escolar, decidi coloca-la neste capítulo, pois foi desenvolvido um trabalho desportivo-motor com os alunos de necessidades educativas especiais. Foi realmente um desafio enorme, ter de me superar todos os dias e saber lidar com os diferentes tipos de alunos, que são de certa forma, diferentes. Aqui, o desafio constante funcionou como um antídoto ao estado de acomodação. (Morais & Mendonça, 2006). Não houve em nenhum momento um estado de acomodação, todos os dias eram diferentes, cada modalidade abordada era diferente, cada dificuldade era muito específica aos diferentes marcos motores. Optou-se por não realizar apenas desporto adaptado mas abordaram-se diversos desportos, como o basquetebol, futebol, ginástica, atletismo, etc.

Nesta atividade havia duas professoras responsáveis, mais uma funcionária não docente que ajudava pontualmente. O que senti durante quase todo o ano, foi um verdadeiro comprometimento e participação de todos. Toda a gente ajudava no que fosse necessário. E senti isto que Morais & Mendonça (2006) referem no seu livro “…os resultados só aparecerão se as pessoas envolvidas se sentirem úteis e quase indispensáveis à persecução dos objetivos coletivos”. Senti realmente que os resultados foram aparecendo, porque ninguém se acomodou e toda a gente se sentia útil, principalmente eu. Fui conquistando alguma autonomia, mas também porque a procurei. Ao longo do ano, fui apresentando situações de aprendizagem novas e inovadoras, sempre adaptadas às necessidades educativas dos alunos e às limitações motoras dos mesmos.

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Por ser uma área onde me sentia muito pouco integrado, pesquisei informações sobre como me devia dirigir aos alunos, quais as atitudes que deveria apresentar perante os diferentes comportamentos, como deveria abordar as diferentes modalidades, etc. Também procurei ajuda junto dos professores mais experientes e que trabalhavam diariamente com estes alunos. Sempre foram muito prestáveis e fui crescendo exponencialmente durante todo o ano. Criei fortes laços com os alunos, sendo que estes sempre conseguiram distanciar a relação de estudante e de professor e mantiveram sempre o respeito, apesar de possuírem carências de ordem motora e psicológica.

O balanço final foi muito positivo, pois tive o prazer de trabalhar com alunos com necessidades educativas especiais. Foi uma mais-valia enquanto profissional, na medida em que cresci como ser humano e mudei a forma como via as pessoas com necessidades educativas especiais. Foi uma experiência enriquecedora pois saí completamente do meu habitat natural, para enveredar numa área em que nem sequer temos contato direto na nossa formação académica. Comitantemente a isto, uma vez por semana estive a trabalhar com alunos da unidade de ensino especial. Estes alunos têm limitações muito severas, desde limitações a nível motor e intelectual a limitações cognitivas. São alunos que praticamente não falam e precisam de apoio para andar, sendo que a maioria está em cadeira de rodas. Inicialmente foi um choque muito forte, pois nutria um sentimento muito grande de tristeza a ver estes alunos e fazia-me confusão trabalhar com eles. Mas estes sentimentos mudaram de dia para dia, sendo que começou a ser uma situação mais normal. A minha ação foi mais na socialização e integração destes na comunidade educativa e escolar. O objetivo final não foi integrá-los numa prática desportiva, pois estes alunos não possuem nenhuma ou quase nenhuma destreza motora.