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AVALIAÇÃO COMPORTAMENTAL

2.9 Coordenação Motora

2.9.1 Destreza Motora e Destreza Manual

Em 1983, Grosser evidencia os termos de habilidade e agilidade como sinónimos da destreza motora, considerando a mesma como uma capacidade complexa que possibilita ao indivíduo um rápido ajuste perante as tarefas motoras de difícil execução, uma adaptação face a novas circunstâncias do movimento e, também, uma aprendizagem intensa e eficaz de novas ações motoras. Neste contexto, o alicerce para uma boa destreza advém de uma elevada capacidade de condução ao nível do SNC. Sendo que essa competência proporciona o domínio da coordenação de movimentos complexos, fomentando a aprendizagem e o aperfeiçoamento de um conjunto de técnicas motoras, e, de igual forma, permite ajustar e economizar a força aplicada, com o objetivo de integrar situações novas e específicas (Grosser, 1983).

De acordo com o autor supracitado, a complexidade intrínseca à destreza motora resulta do facto de esta ser formada por um conjunto de capacidades, como a capacidade de condução, equilíbrio, flexibilidade, a capacidade de antecipação, adaptação, noção de movimento, a capacidade de reação, fluidez e a capacidade de aprendizagem motora, entre outras.

Esta pode ser classificada em destreza motora geral e específica. A primeira assenta na capacidade de organizar corretamente os movimentos e de resolver de forma rápida qualquer tarefa motora. Já a destreza motora

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específica correlaciona-se, particularmente, com a preparação técnica, sendo a capacidade de empregar adequadamente, e de acordo com a situação, a técnica que melhor se ajuste à modalidade desportiva em causa (Lisitskaya, 1995, citado por Pereira, 2010).

Segundo Latash e Turvey (1996), a destreza motora pode aumentar gradualmente, como resultado da acumulação de experiências intrínsecas ao movimento e à ação do corpo. Evidentemente, depreende-se que esta capacidade pode ser desenvolvida, exercitada e treinada, sendo as diferenças patentes entre os indivíduos unicamente qualitativas. Lucea (1999) corrobora a ideia supramencionada, declarando que a destreza é a capacidade de um indivíduo ser eficiente numa determinada habilidade motora. A mesma pode ser inata (isto é, natural no indivíduo) ou adquirida (isto é, obtida num contexto de aprendizagem). Assim, a destreza associa-se à qualidade de execução de uma habilidade, ou seja, ao grau de eficácia e eficiência na aquisição de uma habilidade, estando implícita na sua execução. Perante o exposto, o autor destaca a importância de trabalhar as habilidades motoras para ampliar o conhecimento relativo à forma como movemos o nosso corpo perante circunstâncias distintas e variadas. Assim, com o intuito de proporcionar uma boa qualidade de vida ao indivíduo, torna-se fundamental desenvolver esta capacidade, não só a nível desportivo mas também a nível das atividades de vida diária.

Neste âmbito, Schmidt e Wrisberg (2000) definem a destreza como uma capacidade para alcançar determinados resultados com o máximo de êxito e, frequentemente, com o mínimo de tempo e/ou energia despendida, concordando que esta é aperfeiçoada através da prática e engloba um conjunto de experiências de vida na área dos movimentos e das ações.

Para estabelecer uma melhor compreensão da destreza motora é necessário ter em conta os fatores que influenciam a sua aquisição, nomeadamente: (i) os parâmetros de orientação pedagógica, enfatizando uma instrução clara e objetiva e estratégias de demonstração focadas nos aspetos essenciais; (ii) o conhecimento dos resultados, permitindo ao indivíduo aprimorar e modificar atitudes, movimentos e ações, sendo que este

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conhecimento deve ser o mais exato possível para o aperfeiçoamento de movimentos futuros; (iii) a motivação, uma vez que uma ação sem este elemento revela-se ineficaz e, portanto, a aprendizagem da destreza exige satisfação, atenção e esforço; (iv) a periodicidade do treino, que aponta, inicialmente, para um período reduzido e intenso de esforço e atenção, aumentando-se gradualmente esse período, com a aquisição de bases (qualidade do treino); (v) a velocidade e precisão são fatores igualmente importantes (isto é, a estimulação contínua de ambas permite obter melhores resultados), no entanto, nos primeiros estádios de treino, limitar a velocidade dos movimentos é crucial para se atingir um grau de precisão ajustado; (vi) a aprendizagem global e a aprendizagem analítica (na primeira a tarefa é executada integralmente, na segunda é dividida em partes que são estudadas separadamente para, posteriormente, serem ligadas umas às outras), o que depende do indivíduo e da tarefa em questão (Knapp, s/d).

Na literatura, o termo destreza surge inúmeras vezes relacionado com os movimentos hábeis que se executam com as mãos, mais concretamente, a destreza manual (DM) (Pérez, 1994, citado por Pereira, 2010).

A DM, de acordo com Turgeon, MacDermid e Roth (1999) diz respeito à capacidade complexa das mãos, crucial para a realização de diversas tarefas, salientando-se as atividades de vida diária. A presente capacidade pode ser influenciada quer por fatores intrínsecos (como por exemplo genéticos, endócrinos, metabólicos, doenças e alterações a nível patológico), quer por fatores extrínsecos: por exemplo nutrição, lesões traumáticas e atividades físicas (Carmeli, Patish & Coleman, 2003).

Conforme referem Desrosiers, Rochette, Hébert & Bravo (1997), a DM compreende duas categorias: destreza manual fina e destreza manual global. A habilidade de manipular pequenos objetos, com as partes distais dos dedos, envolvendo movimentos rápidos e precisos, designa-se de destreza manual fina. Por sua vez, na destreza manual global, normalmente denominada de DM, os objetos a manusear são, geralmente, de maiores dimensões e a sua manipulação requer movimentos mais globais, em detrimento de movimentos interdigitais.

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As duas categorias supracitadas constituem um elevado contributo não só para a performance dos membros superiores, como também para a independência funcional. Daí se verificar, cada vez com maior frequência, o importante papel que desempenham em termos reabilitativos (Desrosiers, Bravo, Hébert, Dutil & Mércier, 1994).

Em virtude dos aspetos analisados, depreende-se que, à medida que as interações motoras com o meio vão aumentando em quantidade e em complexidade, torna-se cada vez mais exigente um controlo da DM, quer em termos dos movimentos globais, quer ao nível dos interdigitais (Fonseca, 2005).

No âmbito do presente trabalho, quer nas crianças com DT, quer nas crianças com PHDA, o domínio da destreza manual (concretamente a destreza manual fina) revela-se imprescindível para a execução de um conjunto diversificado de atividades, salientando-se as atividades académicas e as atividades de vida diária, cruciais para o processo de independência, qualidade de vida e desenvolvimento destas crianças.

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