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Para maiores detalhes sobre os DORTs, ver o texto em Anexos II: “Distúrbios Osteomuscualres Relacionados ao Trabalho (DORTs)' noções básicas".

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Durante o século XX, entre as décadas de 50 e 60, no Japão, começam a surgir epidemias de doenças relacionadas aos esforços repetitivos em perfuradores de cartão, operadores de caixa registradora e em datilógrafos. Na década de 70, a Austrália é marcada por um acentuado aumento nos benefícios pagos por doenças do trabalho a digitadores, operadores de linhas de montagem e embaladores. Entre os anos de 1984/1985, começam a ser descritos, no Brasil, os primeiros casos deste tipo de adoecimento, com maior incidência entre os digitadores, devido a alta velocidade do trabalho e dos incentivos à produção, com pagamentos adicionais de produtividade (LACAZ & RIBEIRO, 1984).

FACCHINI (1993) chama a atenção para as formulações teóricas da epidemiologia que estão ancoradas no modelo de determinação social da doença. Nessas, a questão da saúde do trabalhador tem permitido evidenciar a potencialidade de categorias intermediárias de análise, como por exemplo, o conceito de carga de trabalho, no estudo do impacto dos componentes do processo de trabalho agindo sobre a saúde do trabalhador. As cargas de trabalho, vistas como fator de exposição próprio do trabalho, são classificadas segundo sua natureza em cargas físicas, químicas, orgânicas, mecânicas, fisiológicas, psíquicas. Cada tipo de carga pode ser analisado a partir das

condições de trabalho da seguinte forma:

a) Carga física compreende os níveis de ruído, vibração, temperatura, iluminação, atividade muscular e postura corporal;

b) Carga cognitiva refere-se à tomada de decisão, uso da memória e percepção;

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c) Carga psíquica configura-se pela realização do trabalho sob pressão (de tempo ou de quantidade), por problemas de ordem afetiva e relacional

(insatisfação, monotonia, desprazer) - que envolvem aspectos psicodinâmicos do trabalho (WISNER, 1987 e 1994; DEJOURS, ABDOUCHELI & JAYET, 1994).

No campo da Medicina do Trabalho, o estudo das agressões pelo trabalho (cargas) é visto a partir das suas condições, identificadas em agentes de risco físicos, químicos e biológicos que estão presentes no ambiente profissional. Quando não são tomadas medidas de controle, esses fatores de risco podem levar, dentre outros transtornos, a comprometimentos orgânicos para o trabalhador, como as doenças ocupacionais próprias a cada agente de exposição. No âmbito da Psicologia do Trabalho, da Psicodinâmica do Trabalho e da Ergonomia, a carga de trabalho é analisada a partir da especificidade das exigências das tarefas e das condições de trabalho.

A carga física é o primeiro problema tratado pela Fisiologia do Trabalho e, para medi-la, utilizam-se métodos laboratoriais de avaliação da carga física geral, pela medida da freqüência cardíaca, a mais usada, ou do consumo de oxigênio e de avaliação da carga física local (na musculatura), através da eletromiografia (WISNER, 1987). O autor adverte que existem certos aspectos como vibrações, choques e más posturas que influenciam pouco ou em nada a freqüência cardíaca ou o consumo de oxigênio que, no entanto, podem ser agentes importantes numa investigação de cargas. Além dos recursos laboratorias, pode-se operar com a percepção dos trabalhadores, ou

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com os recursos da observação que, muitas vezes, apresentam maior aplicabilidade pelo menor custo e praticidade na execução.

Segundo PHEASANT (1994), muitas lesões que as pessoas experimentam, ou as condições em que desenvolvem, provêm de padrões de carga músculo-esquelética - tais como a postura para a realização da tarefa, como a exigência de força e movimentos corporais - vinculado às tarefa do trabalho. A autora afirma que uma lesão ergonômica (injury ergonomic) é resultado de uma desproporção entre a demanda física, e às vezes, mental, da tarefa do trabalho e a capacidade do trabalhador em satisfazer esta demanda. Tal situação ocorre como resultado de um simples episódio de sobrecarga ou pode ocorrer insidiosamente como resultado de um trauma cumulativo. As enfermidades surgem no estágio de esgotamento da capacidade do individuo em responder ao trabalho de forma saudável. As dores lombares podem estar relacionadas ao trabalho que gera sobrecargas. Nesta ótica, avalia-se que os distúrbios músculo-esqueléticos podem ser considerados como uma lesão de natureza ergonômica.

Do ponto de vista do diagnóstico das doenças músculo-esqueléticas podemos dizer que elas se apresentam através de^um quadro doloroso inespecífico, com dificuldade de diagnóstico devido à subjetividade do sintoma da dor. Faz parte de sua etiopatologia: a sobrecarga músculo- esquelética (dinâmica e estática) e a sobrecarga mental. Seus fatores de risco ocupacionais são: ergonômicos, organizacionais e psicossociais e os fatores de risco individuais estão associados aos antecedentes mórbidos,

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traços de personalidade, aspectos afetivos-emocionais e hábitos de conduta no trabalho e em casa (HELFENSTEIN, 1998; LECH, 1998).

De acordo com os indicadores apresentados por MENDES e DIAS (1994: 392), as doenças músculo-esqueléticas estão ao lado das doenças classificadas como “nervosas”, tais como o estresse e afecções do trato digestivos, além de serem mais referidas e freqüentes junto a Previdência Social, reflexo cada vez mais atual dos conflitos entre a força de trabalho e a realidade do processo produtivo.

As dores lombares são o segundo sintoma de maior incidência nos Estados Unidos, superado apenas por problemas respiratórios. Segundo uma estimativa recente, os custos da remuneração de inválidos e da perda de produtividade podem chegar a 100 bilhões de dólares anuais (BOORSOOK,

LE BEL, MC PEEL, 1996). No Brasil, apesar de não termos dados precisos, percebemos entre os profissionais de saúde, particularmente os neurologistas e fisioterapeutas, a avaliação de um quadro endêmico de pessoas que apresentam queixas de lombalgia e lombociática.

Pode se conceituar lombalgia como dor muscular manifestada na região lombar da coluna vertebral e lombociática como a uma dor lombar com irradiação para o nervo ciático, provocando dor e desconforto nos membros inferiores. As intervenções medicamentosas, cirurgias e microintervenções são os procedimentos mais freqüentemente utilizados nesses casos, embora exista um consenso de que é necessário produzir mais conhecimento sobre a etiologia das dores lombares para que intervenções mais efetivas possam ser realizadas. A Comissão de Avaliação de Instituições de Reabilitação dos

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Estados Unidos, a Sociedade Americana de Dor e a Agência para Políticas de Saúde têm sugerido avaliações psicológicas como parte, não somente do diagnóstico, mas também do tratamento de síndromes dolorosas.

As chamadas Lesões por Esforço Repetitivo (LER) foram

reconhecidas como doença do trabalho no Brasil, em 1987. Em julho de 1997, o Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS, publicou no Diário Oficial da União, uma minuta para a atualização da Normas Técnicas sobre estas lesões que, a partir de então, passaram a ser denominadas Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho - DORT.

A sigla DORT engloba os problemas de coluna como as lombalgias ou dorsalgias, popularmente conhecidas como "dor nas costas"; as dores e queixas crônicas relacionadas com a coluna vertebral constituem um complexo desafio para a saúde ocupacional, e são importantes em virtude de sua freqüência e dos efeitos incapacitantes.

Atualmente, observam-se problemas de coluna em determinadas categorias profissionais como motoristas de ônibus, operadores de máquinas pesadas na construção civil, estando associadas especialmente a fatores traumáticos e ergonômicos. Organizações internacionais e grupos de pesquisa destacam os trabalhadores da enfermagem como grupo de risco e de maior incidência dos DORT, ao lado dos operadores de computador e dos caixas de banco (LACAZ & RIBEIRO, 1984).

*A implementação de mudanças ergonômicas nos postos ergonômicos tende a melhorar as condições de trabalho dos trabalhadores. Entretanto, nos estudos sobre os DORT, é comum atribuir uma multicausalidade ao

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aparecimento da doença. Neste sentido, SOUZA aconselha considerar o aspecto psicossomático e subjetivo do portador de LER; entre estes últimos detecta "a existência sempre, de uma história familiar e/ou pessoal de muitos conflitos e frustrações profissionais e pessoais” e a “falta de responsabilização individual da doença” (SOUZA, 1997: 163).

O aparecimento dos DORT pode ser um indicador valioso para os gerentes e dirigentes de empresa detectarem falhas na organização do trabalho, pois além das dores musculares, ela normalmente está associada à quedas de produtividade e de desempenho. Para o trabalhador, ser portador de DORT, além das dores musculares e dificuldade de movimentos, significa uma baixa na sua auto-estima, desânimo e ser objeto de discriminação por parte dos próprios colegas que não compreendem a gravidade da doença. 6

6 Para maiores detalhes sobre os DORT, ver o texto em Anexos II: “Distúrbios