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2.5. Metodologia

2.5.5 Determinação de características

A Tabela 4 apresenta os critérios utilizados para identificar as características de cada comunidade e os fundamentos para suas análises.

Nela apresenta-se a hierarquização dos diversos problemas sócio-ambientais das comunidades nas duas UCs. Os critérios foram originalmente estabelecidos para permitir qualificar cada situação com o propósito de cooperar com as estratégias da instituição gestora e orientar, assim, os esforços a serem empregados nos diversos programas de manejo e integração dessas comunidades. Posteriormente se viu que seriam úteis para comparar as condições em que vivem todos esses grupos humanos e sua capacidade de responder às respectivas realidades.

É importante explicar que os problemas foram divididos em ambientais, sociais e de infra-estrutura , mas qualquer outra ordem poderia também ser plausível.

Tabela 4 – Critérios para a identificação das características comunitárias Características Critérios Grau de dependência dos recursos naturais sob proteção legal da UC

Trata-se de indicar a dimensão do uso de recursos naturais que a UC protege, direta e indiretamente. A dimensão pode ser:

Total: quando a comunidade vive dentro da UC e extrai, no mínimo, parte dos

recursos do mesmo.

Muito alta: quando suas atividades econômicas dependem da existência da UC,

mesmo que não extraia diretamente recursos do mesmo.

Média: quando recebe benefícios ou extrai recursos da UC, direta ou

indiretamente, mas não depende exclusivamente dos mesmos.

Baixa: aquela comunidade que eventualmente utiliza e requer recursos da área

protegida.

Nenhuma: quando não usa ou não é influenciada pelos recursos da UC. Formas e

sistemas de utilização dos recursos naturais

Direta: é a forma de apropriar-se dos recursos (pesca, caça, fibras, madeira, etc.)

ou receber benefícios em forma de serviço (moradia, lazer, trabalho, etc.)

Indireta: quando os benefícios são produtos não diretos dos recursos da unidade

(turismo; alojamento e restauração; transporte, ICMS, etc.)

Grau de confiabilidade nas medidas que

protegem a unidade de conservação

Refere-se ao estado de receptividade (ou rejeição) de cada grupo comunitário em relação ao que podem ser as medidas de proteção e manejo da UC.

Alto: confiam que a proteção da unidade é necessária.

Médio: não acreditam que as medidas tomadas sejam suficientes.

Baixo: outros fatores externos à Administração fazem das medidas de proteção

algo inútil, ou paradoxal (ex. poluição química, monoculturas, incêndios, pesca predatória, etc.).

Disponibilidade para auxiliar na conservação dos

recursos

Alta: manifestam preocupação pela UC e desejam colaborar em algum programa

que fortaleça a gestão.

Média: quando estimulados podem incorporar-se às ações de resgate da

integridade da unidade.

Baixa: requerem um programa especial de motivação para integrá-los e torná-los

aliados. Visão das potencialidades econômicas disponíveis ou possíveis

Definida: quando a UC significa uma clara oportunidade para o desenvolvimento

local.

Em desenvolvimento: quando ainda se espera algumas evidências de que a

unidade pode mudar as perspectivas econômicas locais.

Pobre: quando manifesta descrédito sobre essas potencialidades.

Capacidade de mudança e necessidades que

a afetam

Alta: mesmo sofrendo necessidades importantes, apresenta uma significativa

capacidade de fazer as mudanças que se requerem e são representadas por lideranças esclarecidas.

Média: embora desejando as mudanças que os possam beneficiar, não se

encontram organizados, motivados ou preparados para tomar a iniciativa ou se integrar totalmente aos programas da UC.

Baixa: fatores diversos (culturais, estruturais e organizacionais) impedem que

sozinhos possam incorporar-se aos programas que têm intenção de promover mudanças que os beneficiarão.

Compreensão do conceito de UCs

e Corredores Ecológicos

Adequada: exibem completo entendimento de ambos os conceitos.

Parcial: manifestam algum grau de entendimento do que seja algum dos dois

conceitos.

Inadequada: relacionado com nenhuma compreensão de nenhum dos conceitos. OBS. Só aplicável ao Parque Estadual de Itaúnas.

Os problemas ambientais incluem aqueles que afetam as comunidades e o entorno, ambos, causando impactos diretos sobre a vida dos seus moradores. Já os problemas sociais se referem unicamente aos problemas humanos presentes na população como um todo. Finalmente, os problemas de infra-estrutura sócio-econômica referem-se àqueles que comprometem a qualidade de vida das comunidades, especialmente os relacionados à situação fundiária da REBIO e do PEI.

Acredita-se que incluí-los por separado é conveniente porque sua solução, dependendo da forma de abordagem de futuras estratégias, pode ajudar a amenizar os inconvenientes gerados pela demora na regularização fundiária, ou outras medidas. Se não solucionados, pelo contrário, tais problemas trarão implicações éticas aos esquemas políticos de preservação de ambientes naturais, uma vez que poderão atingir estágios muito mais complexos e socialmente intoleráveis.

Talvez esses problemas sejam o maior desafio das propostas de desenvolvimento sustentável para todas aquelas regiões onde o homem possa viver com qualidade, sem destruir as fontes dos seus recursos naturais, independente da sua categoria. (DELGADO-MENDEZ; MAGRO, 2007).

Com relação à hierarquização, ou classificação da intensidade dos problemas, a Tabela 5 permite qualificar suas dimensões e será a base para posterior quantificação. Depois, define-se cada um dos valores dentro de uma escala diretamente proporcional, de três diferentes hierarquias, sendo o problema: pequeno, médio, ou grave.

A hierarquia de valor 1, ou “Pequena”, corresponde àqueles problemas que, mesmo sendo importantes, parecem não comprometer a comunidade como um todo, mas afetam os indivíduos em particular. Esse é o caso do lixo, que afeta as comunidades em diversas intensidades, sendo um problema grave para alguns e discreto para outros.

Tabela 5 – Critérios para a hierarquização dos problemas ambientais, sociais e de infra-estrutura sócio- econômica das comunidades influenciadas pela UC (Continua)

Problemas Grave Médio Pequeno

Quando perceptível na maior parte da comunidade.

Perceptível por uma parcela da comunidade.

Perceptível, mas não compromete os comunitários. Quando afeta uma grande

parcela da população. Seu efeito sobre a comunidade é parcial. Sua solução é simples e atualmente não atinge dimensões irreversíveis. Seus efeitos podem ser

perniciosos a curto e médio prazo.

Seus efeitos não são desprezíveis, mas são controláveis. Os efeitos aparecem esporadicamente ou não comprometem em médio prazo. Ambiental

Quando coloca em risco a

saúde ambiental da UC. Se continuar comprometerá a saúde ambiental da Unidade.

Embora afete a UC, não a coloca em risco, ou pode ser absorvido.

Quando afeta uma grande

parcela da população. Quando afeta apenas uma parcela da população. Ele é sentido, mas suas dimensões ainda são controláveis.

Quando compromete profundamente o futuro e a qualidade de vida de todos, ou a maioria dos setores da comunidade.

A vida de uma parcela das pessoas é afetada e seu futuro dependerá de esforços externos.

A mudança da realidade exige esforços pessoais e não compromete o futuro.

Social

É indispensável sua solução para alcançar o

desenvolvimento.

É um problema ligado a outros que requer solução para progredir como comunidade.

Sofrido pontualmente e não coloca em risco o

desenvolvimento da comunidade. Impede o desenvolvimento

geral da comunidade. Impede parcialmente o desenvolvimento social e econômico.

Com pouco investimento pode ser resolvido individual ou em conjunto com outros elementos.

Afeta a todos em geral. Afeta uma parcela da

comunidade. Afeta a poucos, mas existe.

Infra- estrutura

sócio- econômica

Compromete qualquer esforço externo por parte da organização gestora.

Não compromete, mas não é conveniente nem

coerente.

Pode ser resolvido facilmente e não impede outros esforços.

Fonte: Adaptado de Delgado-Mendez (2006a, 2006b)

A categoria de hierarquia “Média”, qualificada com o valor “2”, é reservada para aqueles problemas que, mesmo relevantes, não evitam que sejam dadas soluções amplas, em médio prazo e com auxílio de uma parte da população que não sofre tanto

com tais problemas. Um exemplo é a desorganização comunitária, a qual é sofrida pela maioria, com a mesma intensidade, mas que teria solução se fossem feitos alguns ajustes organizacionais e de comunicação.

Já um problema é considerado “Grave”, ou de hierarquia 3, quando o mesmo desencadeia uma série de outros problemas ou é considerado um obstáculo para os propósitos do órgão gestor, como, por exemplo, a constituição de um Conselho Gestor e Consultivo, a elaboração de um Plano de Manejo, ou como o simples princípio do planejamento participativo para o desenvolvimento da região. Um exemplo de problema grave (3) é o estrangulamento de terras, ou, em outros termos, perda do espaço territorial para a expansão das populações, assunto que traz transtornos diferentes para o gestor e afeta tanto a UC como as comunidades residentes, ou de entorno.