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Os deveres dos detentores do poder familiar estão contemplados no artigo 1.634 do Código Civil90 que assim dispõe:

Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos

menores:

I – dirigir-lhes a criação e educação; II – tê-los em sua companhia e guarda;

III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;

88 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. ps.

513-514.

89 VENOSA , Sílvio de Salvo. Direito Civil. 6.ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2006. ps. 323-324. 90 BRASIL. Código Civil. art. 1.634. 7. ed. Saraiva, p. 276

IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;

V – representá-los, até os dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;

VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;

VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.

No que tange ao inciso primeiro do artigo supracitado, VENOSA91 aponta:

Cabe aos pais, primordialmente, dirigir a criação e educação dos filhos, para proporcionar-lhes a sobrevivência. Compete aos pais tornar seus filhos úteis à sociedade. A atitude dos pais é fundamental para a formação da criança. Faltando com esse dever, o progenitor faltoso submete-se a reprimendas de ordem civil e criminal, respondendo pelos crimes de abandono material, moral e intelectual (arts. 224 a 246 do Código Penal). Entre as responsabilidades de criação, temos que lembrar que cumpre também aos pais fornecer meios para tratamentos médicos que se fizerem necessários.

A criação e educação são funções muito significantes e que definirão o futuro do menor. É de responsabilidade dos pais escolher o colégio que melhor atenda às expectativas de estudo e formação dos filhos, de acordo com a condição econômica. 92

No mesmo sentido, PEREIRA93 ainda relaciona:

Cumpre aos pais dirigir a criação e educação do filho, escolhendo o estabelecimento de ensino que freqüentará, imprimindo a direção espiritual que lhe pareça conveniente, estabelecendo o grau de instrução que receberá, orientando-o a eleger a profissão que deverá seguir. Não define a lei em que consiste essa criação e educação, o que confere maior elasticidade ao preceito,

91 VENOSA , Sílvio de Salvo. Direito Civil. 6.ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2006. p. 326. 92 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2006. p. 606. 93 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 14. ed. Rio de Janeiro: Editora

interpretado em consonância com o status econômico e social da família.

Os pais têm a obrigação de prestar aos filhos criação e educação visto que todo menor tem direito. A eles cabe escolher onde o filho irá estudar, levá-lo à escola todos os dias e criar, de forma descente, dando-lhe a educação, responsabilidade esta que provém primeiramente dos pais.

Quanto ao inciso II do art. 1.634 do CC, a convivência contínua com os pais, é imposta para a criação e educação do menor.94

No mesmo sentido, VENOSA95 acrescenta:

O inciso II menciona que é direito dos pais ter os filhos em sua companhia e guarda. Trata-se de complemento indispensável do dever de criação e educação. Somente em casos excepcionais, a guarda pode ser suprimida.

Ainda cabe ressaltar que não é tão somente um direito dos pais, mas é também um dever relacionado aos menores, para que estes sejam orientados e cuidados.96

É um direito e também dever dos pais ter os filhos em sua guarda e companhia, bem como é um direito dos filhos ter os pais presentes em todos os momentos da vida, para auxiliar–lhes na educação, e especialmente no amparo psicológico.

Tocante ao inciso III do art. 1.634 do CC, VENOSA97 aborda o tema afirmando que:

O inciso III refere-se ao consentimento para os filhos menores se casarem. Há que ser suprido judicialmente esse consentimento quando negado injustificadamente, ou impossível de ser obtido.

94 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2006. p. 606. 95 VENOSA , Sílvio de Salvo. Direito Civil. 6.ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2006. p. 326. 96 SILVA, Ana Maria Milano. Guarda Compartilhada. São Paulo: Editora de Direito Ltda, 2.005. p.

29.

Esse consentimento deve ser específico, nos moldes requeridos pelo Direito matrimonial, isto é, para casar com determinada pessoa. Curial que essa autorização vise favorecer o menor.

Compete aos pais dar ou negar consentimento para o filho menor casar, visto que são os genitores que têm maior interesse no bem estar do filho. Havendo, no entanto, recusa injustificada, o juiz poderá suprir tal consentimento.98

Recorrendo ao ensinamento de SILVA99, esta complementa:

É prerrogativa decorrente do poder familiar em relação ao filho menor. Havendo recusa, sem motivo justo, ou impossibilidade de ser dado o consentimento de ambos os pais, esse poderá ser suprido pelo juiz a teor do artigo 1.519 do novo CC.

A lei não esclarece o que deve ser entendido por motivo justo, ficando, portanto, ao livre convencimento do juiz tratar-se de motivo plausível que possa justificar a não realização do casamento.

Ainda acerca do inciso III do art. 1.634, CC, cabe ressaltar que conforme foi apontado anteriormente, compete a ambos os pais dar ou negar consentimento para o filho menor casar. Se um deles discordar, o menor poderá pleitear o suprimento judicial, e se o juiz conceder, poderá casar.

No que concerne o inciso IV do art. 1.634 do CC, ninguém melhor que os pais, possui capacidade para determinar a pessoa que melhor cuide de seus filhos e administre seus bens, no caso de sua morte.100

O mesmo pensamento é adotado por DINIZ101:

Ninguém melhor do que o genitor para escolher a pessoa a quem confiar a tutela dos filhos menores. Trata-se da tutela

98 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. 14. ed. Rio de Janeiro: Editora

Forense, 2004. p. 428.

99 SILVA, Ana Maria Milano. Guarda Compartilhada. São Paulo: Editora de Direito Ltda, 2.005.

ps. 29-30.

100 SILVA, Ana Maria Milano. Guarda Compartilhada. São Paulo: Editora de Direito Ltda, 2.005.

p. 30.

101 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p.

testamentária cabível, ante o fato de que a um consorte não é lícito privar o outro do poder familiar, apenas quando o outro cônjuge já tiver falecido ou for incapaz de exercer o poder paternal ou maternal, sob pena de nulidade.

A opção de nomear tutor não se tem sido muito utilizada na prática, sendo que o objetivo é o amparo à prole, sobretudo na morte do genitor.102

De forma simplificada, este inciso destaca a responsabilidade que possui os genitores para nomear um tutor, no caso de sua morte, que cuide e ampare seus filhos, bem como administre seus respectivos bens.

Referente ao inciso V do art. 1.643 do CC, PEREIRA103 justifica seu posicionamento da seguinte forma:

O inciso V estabelece o limite de capacidade absoluta e relativa. Os absolutamente capazes são representados pelos pais através de instrumento particular de mandato e os relativamente capazes, isto é, entre 16 e 18 anos, são assistidos pelos pais, através de instrumento público de mandato.

O inciso V traduz que a representação dos filhos ocorre até que estes completem 16 anos. E dos 16 até os 18 anos, o menores são assistidos.104

O mesmo pensamento é adotado por RIZZARDO105:

Aos dezesseis anos, o menor sai da incapacidade absoluta e entra na incapacidade relativa. Daí em diante não é mais incapaz de praticar atos jurídicos, apenas estes atos não são válidos, se não forem praticados com a assistência de alguém que deva suprir as insuficiências do próprio menor.

102 VENOSA , Sílvio de Salvo. Direito Civil. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2006. p.326. 103 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Código Civil Anotado. 1. ed. Porto Alegre: Síntese, 2004. p.

1147.

104 VENOSA , Sílvio de Salvo. Direito Civil. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2006. p. 326. 105 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2006. p. 607.

Verifica-se que este inciso impõe aos pais a representação do filho até os 16 (dezesseis) anos nos atos da vida civil, e após esta idade, ou seja, dos 16 (dezesseis) aos 18 (dezoito) anos, a assistência ao menor.

No que tange o inciso VI do art. 1.634 do CC, DINIZ106 aborda o tema afirmando que:

Reclamá-los de quem ilegalmente os detenha, por meio da ação de busca e apreensão. O magistrado, ao receber o pedido de busca e apreensão, se convencido da ilegalidade da detenção do menor feita pelo réu que, p. ex., o raptou ou o subtraiu em desobediência à decisão judicial, ordenará a expedição de mandado liminar, sem audiência do referido réu.

VENOSA107 justifica seu posicionamento da seguinte forma:

O inciso VI dispõe que os pais podem reclamar os filhos de quem ilegalmente os detenha. Para tal, valer-se- da ação de busca e apreensão do menor. Se se trata, porém, de pais separados, nem sempre a traumática ação de busca e apreensão, com tutela liminar, será necessária, sendo suficiente pedido de modificação de guarda. O caso concreto nos dará a solução, nesse drama nem sempre fácil de ser equacionado.

Na mesma linha de pensamento, SILVA108 argumenta:

A medida judicial aplicável à hipótese é a de busca e apreensão e, para que essa reclamação seja deferida, é indispensável que a detenção do menor por outras pessoas, configure-se como ilegal por privar os pais de manter o filho sob sua guarda e companhia.

Entende-se acerca deste inciso, que é claro ao manifestar que compete aos pais reclamar os filhos de que os detenha ilegalmente. A ação competente é a de busca e apreensão.

106 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p.

453.

107 VENOSA , Sílvio de Salvo. Direito Civil. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2006. p. 327. 108 SILVA, Ana Maria Milano. Guarda Compartilhada. São Paulo: Editora de Direito Ltda, 2.005.

No que diz respeito ao último inciso deste artigo, o inciso VII, VENOSA109 aborda que devem exigir os pais, respeito e obediência dos filhos, bem como, podem exigir os serviços próprios de sua idade, respeitando a legislação específica quanto à idade do menor.

Posicionando-se neste sentido, RIZZARDO110 enfatiza a obediência aos pais:

A obediência, a realização de tarefas próprias à idade, o respeito e consideração correspondem a condutas de grande importância na vida da família. Mormente quanto à obediência aos pais, há uma grave crise em vários setores da sociedade. Não se trata propriamente de obedecer ou não aos progenitores, mas em demonstrar uma conduta normal e dentro de padrões aceitáveis.

Ainda no tocante ao inciso VII do art. 1.643, CC, sabiamente SILVA111 justifica seu posicionamento da seguinte forma:

O respeito e a obediência filial serão conseqüência exata dos valores transmitidos pelos pais. Nesse inciso está implícito o direito dos pais em aplicar, moderadamente, corretivos aos filhos menores se lhes forem desatenciosos e grosseiros. Porém, se houver exageros os pais se sujeitarão à perda do poder familiar, como se afere pela leitura do inciso I do artigo 1638 do Novo CC. A orientação na escolha de trabalho compatível com a idade e condição do filho também faz parte da missão dos pais em criar e educar seus filhos. A não observância a esse item também pode levar à perda do poder familiar dos pais.

Denota-se, no transcorrer deste inciso, que os pais podem exigir de seus filhos a obediência e o respeito, bem como exigir-lhes os serviços de acordo com a idade e condição.

109 VENOSA , Sílvio de Salvo. Direito Civil. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2006. p. 327. 110 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2006. p. 607. 111 SILVA, Ana Maria Milano. Guarda Compartilhada. São Paulo: Editora de Direito Ltda, 2.005.

Todavia, cabe salientar que devem ser respeitados pelos pais os limites impostos nas leis trabalhistas como também atentar para o modo como se exige a obediência, jamais pode ser imposta por maus tratos físicos.