Capítulo 1. Revisão da literatura
1.2. A família e a escola como sistemas
1.2.2. A ética do educador na relação com os encarregados de educação
1.2.2.3. Deveres e direitos do professor /educador
Monteiro (2005), menciona que a educação é um processo complexo, de resultados a prazo. É quase impossível determinar o factor de responsabilidade pessoal de um professor no insucesso dos seus alunos. Por isso, a responsabilidade pedagógica é mais de competência e dedicação do que de resultados. É principalmente a responsabilidade de criar as condições favoráveis ao pleno desenvolvimento da personalidade dos educandos.
Monteiro (2005) faz referência a uma possível e perfectível estrutura normativa de deveres e direitos aplicáveis à generalidade das profissões da educação, embora alguns possam ter maior relevância num determinado nível de exercício:
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Deveres do docente para com os alunos, na ordem do desenvolvimento integral e na relação pedagógica:
Respeitar a singularidade de cada educando e o seu direito à diferença pessoal, social e cultural, sem discriminações.
Praticar a reciprocidade ética na relação com os educandos, respeitando a sua dignidade e direitos e estimulando o seu exercício.
Respeitar a privacidade e o direito ao silêncio de cada educando.
Guardar sigilo sobre informações confidenciais obtidas na sua relação com o educando, numa base de confiança, com excepção das situações previstas na lei ou quando o interesse superior do educando ou outros legítimos interesses de terceiros devam prevalecer.
Procurar conhecer cada educando para tratá-lo segundo as suas necessidades, eventualmente com legítima diferenciação positiva
Cuidar da segurança do educando e criar um ambiente de confiança e bem- estar favorável a aprendizagens activas e efectivas.
Contextualizar as aprendizagens no mundo actual e na vida real do educando, para torná-las mais significativas.
Saber dedicar o tempo necessário para que o educando possa aprender verdadeiramente tudo o que importa aprender.
Respeitar o direito de errar e os erros inerentes aos erros de aprendizagem. Ser imparcial, objectivo e justo no exercício do poder de avaliar as
aprendizagens, tendo consciência da subjectividade, precariedade e ressonância dos juízos de avaliação.
Respeitar o direito do educando de não gostar da escola que não satisfaz o seu direito à educação, por não lhe proporcionar as aprendizagens necessárias ao pleno desenvolvimento da sua personalidade.
Estimular o pensamento crítico, criativo, e alimentar, acima de tudo, o desejo de aprender, sempre.
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Ter disponibilidade para ser procurado, ouvir e falar com o educando fora das aulas.
Não evitar a abordagem de temas mais sensíveis, mas tratá-los com objectividade e abertura a todas as posições, com a única preocupação de contribuir para que o educando desenvolva a sua capacidade de formar a sua opinião.
Utilizar uma linguagem não agressiva nem humilhante, mas comedida e sóbria, profissionalmente cuidada.
Reconhecer e não se apropriar do trabalho feito pelo educando.
Não comercializar a profissão nem abusar da profissão profissional para tirar vantagens junto do educando ou sua família no exercício da profissão ou fora dela.
Não aceitar presentes individuais ou colectivos que possam ter como intenção tácita ou como efeito o favorecimento, ou ser assim publicamente interpretado.
Não consumir nem fornecer ao educando drogas ou outras substâncias proibidas, nem consumir álcool imoderadamente.
Não ter comportamentos que constituam abuso ou assédio sexual, de natureza oral, escrita, visual ou física, ou possam ser assim interpretados. Ser exemplo de virtudes humanas e humanizantes como:
- modéstia e tolerância;
- autocrítica e aceitação da critica;
- integridade e abertura ética à diversidade; - exercício dos direitos e deveres de cidadania;
- atenção e preocupação com o que se passa na sociedade e no mundo. Convicção na possibilidade de um mundo menos injusto e violento.
Deveres do docente para com as famílias dos alunos e outros intervenientes da comunidade educativa:
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Respeitar e valorizaras características do meio onde a escola está inserida, e reforçar a sua ligação através da participação em iniciativas de interesse para os educandos e para a comunidade.
Respeitar a identidade e diferenças culturais, sociais e outras dos pais ou outros responsáveis pelos educandos, bem como as respectivas situações familiares.
Guardar sigilo sobre informações relativas à vida familiar, excepto nos casos em que a lei ou o interesse superior do educando imponha a sua comunicação a uma autoridade.
Manter com os pais ou outros responsáveis pelo educando uma relação de respeito, confiança, cortesia, diálogo e cooperação, informando-os regularmente sobre a vida escolar do educando e solicitando e respeitando a sua maneira de ver.
Ajudar os pais ou outros responsáveis pelo educando a compreender o seu interesse superior mas, em caso de inultrapassável divergência ou conflito, não demitir-se do seu foro de responsabilidade e competência profissional. Reconhecer o direito dos pais acompanharem, através de canais
estabelecidos, o bem-estar e o progresso dos seus filhos.
Respeitar a autoridade legal dos pais, mas dar conselhos do ponto de vista profissional, tendo em conta o interesse superior das crianças.
Realizar todos os esforços possíveis no sentido de envolver activamente os pais na educação dos filhos, auxiliando o processo de aprendizagem e garantindo que as crianças não sejam vítimas de trabalho infantil.
Deveres dos docentes para com a profissão que exerce, uma vez que esta tem como objectivo a formação humana e ética:
Cultivar uma elevada concepção de profissão e torná-la atraente pelo profissionalismo com que é exercida.
Respeitar e cuidar da dignidade da profissão (mesmo fora do seu exercício) e não sacrificar os seus valores e ilegítimos interesses de lucro ou outros.
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Colaborar com a sua organização profissional com sentido de responsabilidade pelos valores e interesses profissionais comuns e ser solidário com movimentos organizados para a sua defesa.
Direitos dos professores e educadores:
Direito a uma formação à altura das exigências, responsabilidades e dificuldades da profissão.
Direito à mais ampla autonomia de juízo, decisão e organização profissionais. Direito de recusar funções para as quais não tenha a competência exigível. Direito de participação na definição da politica de educação e no governo da
escola.
Direito ao exercício dos direitos do ser humano e cidadão, com as reservas inerentes à natureza da função.
Direito e dever de critica da sua instituição e da politica relativa ao seu campo profissional, de modo compatível com o seu estatuto de funcionário.
Direito a uma avaliação objectiva e justa do seu trabalho. Direito de defesa em qualquer situação de alegada infracção.
Direito a condições de dignidade, dedicação, segurança e sucesso no exercício da profissão.