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O posicionamento dos pais e dos professores em relação à criança

No documento Tese MARIANA DUTSCHKE (páginas 49-53)

Capítulo 1. Revisão da literatura

1.3. O posicionamento dos pais e dos professores em relação à criança

Zagury (2007) diz que durante cerca de dois séculos, família e escola viveram uma verdadeira lua-de-mel. O que a escola pensava era o que os pais pensavam. O que a escola determinava ou afirmava, fosse em termos de tarefas, atribuições e até mesmo de sanções, era endossado e confirmado pela família.

Dessa forma, crianças e jovens sentiam, nas figuras de autoridade que as rodeavam e orientavam, coesão e homogeneidade. Com isso o poder educacional dessas instituições se alicerçava e alimentava mutuamente.

Especialmente por isso, as novas gerações adquiriram os seus valores (intelectuais e morais) sem grandes problemas. De repente, o que se observa? Já não existe essa harmonia, esse clima de confiança. Os pais parecem estar, todo o tempo, com um pé atrás, supervisionando o que a escola faz, desconfiados dos professores, directores e de toda a equipa pedagógica. É como se tivesse repentinamente perdido o encanto, essa relação de confiança tão benéfica para os filhos/alunos. Ruivo (1977) refere que, a escola também se sente assustada, e insegura.

O objectivo principal é justamente trazer informações que levem a reconsiderar esse tipo de postura, e tentar reviver esse relacionamento perfeito que revigorava até recentemente, tentar promover o reencontro, a parceria, a confiança mútua, já que o essencial é compreender que ambas zelem pelo mesmo objectivo: a formação integral das novas gerações, seja do ponto de vista cultural e do saber, seja do ponto de vista da formação pessoal, da ética e da cidadania.

Contudo, na mesma linha de análise Zagury (2007) questiona ainda; porquê que essa confiança se perdeu? Por vários motivos. Um deles positivo, pelo facto de que

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os pais hoje têm mais conhecimentos de pedagogia. A própria média (imprensa, falada e electrónica) responsabilizou-se de transmitir tais conhecimentos, que os pais de algum tempo atrás não tinham. Tudo isso os faz mais contestadores, mais atentos e mais capazes de perceber falhas, contradições e enganos que, ocasionalmente, são cometidos por professores ou outros profissionais ligados à educação. Mas esse seria o lado positivo, se não houvesse, agregados a esse saber, muitos conceitos mal divulgados, mal explícitos e mal compreendidos. Por isso, muitas, vezes, as reclamações são infundadas, embora, em outras tantas, estejam os pais cobertos de razões.

Reclamar é um direito, como já foi dito. Resta saber, quando e de que forma fazê-lo. Para não comprometer a confiança que os alunos depositam nos professores. Talvez seja muito mais prejudicial para uma criança a desconfiança nos seus orientadores/professores do que o facto desse sentimento ter ou não fundamento. Zagury (2007) chama a atenção para a forma como se deve actuar nesta relação; sempre com cautela e apoiados em factos. Nunca embalados por insegurança pura e simples.

Quando os pais fazem a escolha da escola para os seus filhos, é necessário em primeiro lugar saber “o que se quer da escola?”. Assim fica mais claro o que se deve levar em consideração e em que medida cada um dos pontos a considerar deve ter prioridade.

 Linha pedagógica que é adoptada.

 Composição e formação do pessoal docente.

 Atitude em relação à disciplina e regras de funcionamento da escola.  Qualidade e tipo de instalações.

 Localização.

 Horário de funcionamento.

Estes podem ser uns dos principais pontos para os pais pensarem quando escolhem a escola para os seus filhos.

Segundo Stanley e Wyness (1997) citados por Stoer e Silva (2005) existem investigações recentes que responderam à falta de diferenciação entre os pais

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reafirmando a importância dos factores sociais e culturais em termos de capacidades que os pais apresentam de aproveitar as oportunidades de se envolvem na educação dos seus filhos.

Como se constata, os pais estão a exigir alguma responsabilização e a manter-se informados sobre aquilo que se passa na escola onde os seus filhos andam. Querem saber como é que os seus filhos estão a progredir e como os podem ajudar. existe envolvimento dos pais tanto da classe média como da classe operária: estes últimos procuram assegurar que os seus filhos não passarão por experiências educacionais semelhantes às suas.

Existe, literatura sobre a relação escola-família,onde se observa uma tendência para contrabalançar as exigências dos pais com os interesses profissionais dos professores.

Barros, Pereira e Goês (2007), consideram que família influencia a aprendizagem e o sucesso escolar da criança e de adolescentes através de diferentes mecanismo. De uma forma mais directa, a família promove a aprendizagem através do estímulo à expressão oral e escrita, incentivando a leitura e promovendo a exploração e a discussão de ideias. Mas também de uma forma mais indirecta, através da valorização implícita e explicita das aprendizagens académicas e da vida escolar em geral, ou da associação entre o sucesso académico e a realização e satisfação profissionais.

No que diz respeito às aprendizagens escolares, a família pode promover o sucesso escolar procurando estar a par das aprendizagens do que é realizado na escola. Os pais podem ainda dar um apoio mais directo à aprendizagem escolar, acompanhando as tarefas escolares. A família deve incentivar a aquisição de hábitos de trabalho e métodos de estudo mais eficazes. De uma forma mais indirecta, a família tem uma influência importante sobre determinadas variáveis afectivo – motivacionais associadas à aprendizagem, como o auto-conceito académico e a auto-estima, o locus de controlo e a auto-regulação.

Um outro mecanismo importante referido por Lima (2002), explica a influência da família na aprendizagem prende-se com as expectativas e aspirações acerca da aprendizagem e as atitudes positivas/negativas acerca da escola. O interesse que os pais demonstram pela escola, as expectativas que têm relativamente ao percurso

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escolar do filho, a importância atribuída à realização escolar, as atitudes em relação à escola, são transmitidas de alguma forma aos filhos e influenciam a sua própria atitude relativamente à aprendizagem e à escola. Esta adequação do comportamento da criança ao meio escolar, por seu lado, vai promover uma boa relação com os professores, sendo que essa relação também promove a aprendizagem.

Silva (1994), considera que o acompanhamento da vida escolar do filho e os esforços no sentido de que este participe de forma positiva na vida escolar e no seu próprio processo de aprendizagem é, pois, uma tarefa atribuída na nossa sociedade aos pais e encarregados de educação. A maioria dos pais deseja que os filhos tenham sucesso nas aprendizagens escolares e na adaptação à escola. Contudo, muitos pais sentem-se pouco capazes de apoiar a aprendizagem dos filhos e não reconhecem o seu papel no sucesso académico dos filhos. Isto acontece mais frequentemente com pais de nível socioeconómico baixo, que se encontram mais afastados da vida escolar dos filhos por diferentes motivos. Um primeiro motivo tem a ver com o facto de estas famílias estarem mais preocupadas com questões de sobrevivência e, portanto, menos disponíveis para apoiar o estudo dos filhos. Uma outra razão tem a ver com o facto de estes pais, normalmente com baixa escolaridade, se sentirem pouco confiantes e pouco competentes para se envolverem na escola e nas actividades de aprendizagem em casa. É importante promover o sentido de eficácia destes pais, tornando saliente o seu papel na aprendizagem. A família influencia a aprendizagem de diferentes formas, e todos os pais, independentemente do seu nível de escolaridade, podem promover a aprendizagem proporcionando um contexto estimulante e diversificado. Para tal devem:

 Estimular a capacidade crítica e de reflexão, através de estratégias de comunicação.

 Estimular o interesse pela leitura logo desde muito cedo; através da leitura de histórias à criança procurando sempre livros adequados ao interesse e idade dos filhos, construir histórias com os filhos, visitando livrarias e bibliotecas.  Limitar e supervisionar o tempo de televisão/internet. A TV os computadores a

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muitas vezes de forma inapropriada ou mesmo perigosa para a saúde física e psicológica da criança.

 Estimular a exploração do meio. Os pais podem promover a exploração do meio físico e social, demonstrando e partilhando o interesse por aquilo que os rodeia e incentivado e acompanhando o filho a conhecer locais com interesse cientifico, histórico e cultural.

1.4. Articulação entre as práticas educativas familiares e a

No documento Tese MARIANA DUTSCHKE (páginas 49-53)