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DEWEY E A DEMOCRACIA

No documento ROBSON GERALDO DOS REIS (páginas 73-76)

CAPÍTULO 3: A FILOSOFIA EDUCACIONAL DE JOHN DEWEY

3.4 DEWEY E A DEMOCRACIA

Em 1938, Dewey estava profundamente preocupado com os rumos que a sociedade passava, preocupava-se com democracia em um país que, aos olhos de Dewey, estava à beira de perder seu compasso moral e espiritual.

A democracia para Dewey transcende as formas de governo, é um processo dinâmico do sujeito na sociedade que inclui política, cultura, economia. Para que uma sociedade seja democrática deve promover métodos científicos da mente, estimular formas reflexivas de pensamento e de produção de conhecimento científico (TEITELBAUM e APPLE, 2001).

Diante das transformações conturbadas vividas na sociedade americana no fim do século XIX e início do século XX, Dewey demonstrou grande interesse pela democracia, a qual é um dos alicerces da proposta educacional deweyana, sendo, portanto, elemento reflexivo da experiência educativa.

Dewey sistematizou seu conceito de democracia em 1916 ao escrever a obra Democracia e Educação, suas ideais para obra foram tecidas na concepção de que a sociedade está sempre em processo de mudança . Cada sociedade produz sua própria cultura, seu próprio espírito, seu próprio método de educação (BIASOTTO, 2016). Democracia e educação é um livro pedagógico onde a psicologia, filosofia e ciências sociais são discutidas, sendo de extrema importância por ser algo multifacetado e essencial a existência humana (Dewey, 1959).

A escrita de Dewey ao falar sobre democracia, representa o momento conturbado de duas guerras que somente poderia ser contornado através da escola. Para Dewey a escola poderia vim a ser uma “comunidade em miniatura” ou “sociedade embrionária”. No momento histórico de Dewey, as instituições (igreja e lar), teciam as regras e conduta das crianças, muitas vezes somente esses lugares careciam de reflexões rigorosas (científica). Desse modo, a educação que reproduzia o “sistema fabril”, com alunos passivos e professores apoiados pelo método repetitivo devia ser modificado. A escola deveria vim a ser um lugar guiado pela perspectiva de que escola é vida, não uma preparação para vida. Desta forma, a melhor preparação para a

democracia era promover um ambiente para os estudantes e professores (a) s se engajarem na vida democrática (OLIVEIRA, 2018).

Embora Dewey esteja defendendo uma democracia contra a tirania da segunda guerra mundial e tendo uma educação americana e influências inglesas não posso deixar de refletir sobre o conceito de “comunidade em miniatura” ou “sociedade embrionária” nas aulas de Educação Física. Diante disto, absorvo de Dewey para as minhas práticas, aulas que refletem a sociedade contemporânea e debater questões latentes em nossa sociedade como diferença de classes, orientação sexual e até mesmo o momento político que estamos vivendo. Novamente ao ler Dewey me questiono se em minhas práticas estou somente cumprindo o que os PPP ou a BNCC pede, ou se realmente ofereço um ambiente que reflete a sociedade que vivemos?

Dewey (1936) afirma que o primeiro elemento que orienta a democracia é o reconhecimento de interesses recíprocos da sociedade, fatores de regulação e progressão social. O segundo elemento significa não somente ter cooperação mais livre entre os grupos sociais, mas uma mudança dos hábitos sociais, construindo novas situações através dos intercâmbios. Segundo Pinazza (2007) mesmo a democracia sendo algo coletivo, Dewey valoriza a liberdade e democracia individual no qual o indivíduo pense de forma crítica, que só pode ser efetivado mediante a uma educação que incentive a reflexão crítica e a pesquisa, assim como, suas experiências pessoais.

A democracia é a melhor concepção para processo de experiência, importando- se como fonte de investigação científica, oportunizando um ambiente aberto a novos saberes e experiências. Qualquer tipo de vida que fragilize a democracia restringe os contatos, os intercâmbios e os diálogos, em decorrência desse cenário não democrático, impossibilitam a ampliação e enriquecimento da experiência (OLIVEIRA, 2018). Na escola democrática de Dewey não são opostas as experiências de vida do aluno (a) em relação aos conteúdos curriculares fortemente constituídos, não se separa as atividades práticas das intelectuais, todos esses movimentos devem estar unidos do começo ao fim (PINAZZA, 2007).

Embora Dewey esteja falando em um momento histórico de opressão que restringe os modelos científicos e somente a democracia na forma de pesquisa e conhecimento pode promover uma libertação da sociedade; não posso deixar de

comparar o momento histórico que vivemos no Brasil. A democracia a meu ver nunca ficou tão frágil desde a constituição de 1988, a intolerância sobre as diferenças, o nacionalismo e a religião cristã como soberana são alicerces do novo governo conservador. Diante desse cenário, se eu conseguir em minhas aulas aproximar a ciência/pesquisa, problematizar e inserir assuntos da nossa sociedade no contexto das minhas aulas, já sinto as leituras de Dewey mudando minha prática pedagógica.

A democracia possui, em verdade, uma dimensão estética – no sentido que foi apresentado anteriormente. Um sistema ou um modo democrático de vida é aquele que deve garante a publicidade e a maior participação possível. O debate, a profusão de ideias contraditórias fazem parte desse ideal de vida. Mas há também momentos de concordância, em que há convergência, ou seja, momentos de consumação da experiência democrática; e a própria democracia adquire uma qualidade estética, pois aqueles momentos de consumação reforçam e enriquecem a experiência abrindo espaço para novas experiências que darão continuidade ao mesmo processo, porém agora mais rico, pois incorporou seu próprio passado. A democracia não é um fim último; seu fim é dar continuidade à experiência sempre em busca de melhoramento da situação presente de modo a abrir possibilidades de futuro (OLIVEIRA, p. 122, 2018).

Portanto, Dewey perpassou por diferentes momentos históricos americanos, teve influência de autores da biologia, da psicologia, e da filosofia, além do seu contexto familiar religioso. Ao longo de sua vida, esteve envolvido em diferentes causas educacionais, sociais e políticas. Foi membro da Academia Nacional de Ciências; ajudou a fundar a “American Association of University Professors”, a “New School for Social Research” e a “American Civil Liberties Union”. Foi um dos membros fundadores do primeiro sindicato de professores da cidade de Nova Iorque, entre outros. Ademais, produziu grandes obras na área da filosofia, psicologia e sociologia, A escola e sociedade (1899); A criança e o currículo (1902); Democracia e Educação (1916); Experiência e Educação (1938). Dewey acreditava que o papel do filósofo não era apenas contemplar e entender o fenômeno, mas se envolver na sociedade engajado na crítica e progressão social (TEITELBAUM e APPLE, 2001).

Destarte, percebo a complexidade de usar o termo democracia na filosofia Deweyana em minhas práticas pedagógicas. Apesar da importância dessa discussão em nossa contemporaneidade, a densidade que Dewey nos traz como princípios governamentais de democracia, concomitantemente com as profundas mudanças históricas em que viveu, talvez me posicione com atitudes e reflexões que sejam

equivocadas e se distancie da democracia em Dewey. Todavia, imerso nas leituras e reflexões posso me atrever a dizer que inspirado em Dewey posso ter atitudes democráticas, no qual me esforço a compreender e refletir na escola a sociedade que vivemos, de forma dialógica com meus alunos.

No documento ROBSON GERALDO DOS REIS (páginas 73-76)