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INFLUÊNCIAS DAS DISCUSSÕES CONTEMPORÂNEAS NO MEU

No documento ROBSON GERALDO DOS REIS (páginas 51-59)

CAPÍTULO 2: PRÁTICA PEDAGÓGICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ANOS

2.2 INFLUÊNCIAS DAS DISCUSSÕES CONTEMPORÂNEAS NO MEU

PENSAMENTO PEDAGÓGICO

Discursar sobre o cotidiano escolar, exige superar o pensamento reducionista que a escola é somente transmissão de conhecimento. Os conhecimentos reelaborados no contexto escolar remetem a uma característica mais interessante da escola: a produção cultural. Diante disso, discorrer sobre a práticas dos professores de Educação Física é tencionar com a lógica que as práticas pedagógicas inseridas pelos professores fazem parte da produção cultural da escola (RODRIGUES E BRACHT, 2010). Dessa forma, saímos do caráter de apontamento sobre as práticas

pedagógicas e passamos a entender que a escola não é somente o locus para ensinar, mas deve favorecer um ambiente em que os alunos e os professores aprendam. Partilhando dessa concepção e entendendo o aluno como agente cultural central do processo educativo me interessei por estudos que investigaram a perspectiva discente sobre as aulas de Educação Física como Filgueiras et al (2007). Eu como professor deveria sempre me preocupar com o que os alunos pensam sobre minhas aulas para avaliar meu posicionamento frente a eles, bem como suas aprendizagens.

A pesquisa de Neto e Brandl (2009), por exemplo, observou como seis professores de Educação Física anos iniciais do Ensino Fundamental ministram as aulas e o posicionamento dos professores diante dos alunos. Houve predominância de atitudes diretivas dos professores sobre os alunos, neste formato de ensino as crianças são tratadas como figura passiva, sendo o professor o centro do ensino e aprendizagem. Contudo, como a pesquisa possui caráter de pesquisa-ação, os pesquisadores Neto e Brandl (2009) ministraram palestras de formação com os professores da Rede e os seis professores pesquisados receberam orientações individuais. Em diálogo com os docentes, explanaram sobre a importância da Pedagogia Participativa, contudo não sabiam como formatar e agir. Com as formações houve aumento de aulas não diretivas, incluindo os alunos no processo de ensino. Esse trabalho me levou a refletir se eu realmente conseguia que minhas aulas não fossem centradas na minha figura e de fato revelassem a centralidade que eu gostaria de dar para os alunos. Neto e Brandl (2009) relatam que não é fácil mudar uma concepção arraigada culturalmente.

De maneira geral percebe-se a necessidade do contínuo acompanhamento e orientação para que se possa assegurar uma Educação (Física) de qualidade que respeite o ser humano desde cedo. Não pensemos que com poucas orientações poderemos mudar uma atitude (diretiva) que foi incorporada durante dezenas de anos. Percebemos que temos que insistir

com esta forma de ensinar até que ela se torne uma situação comum,

um hábito, um costume, caso contrário, a atitude tradicional voltará fortemente, desrespeitando assim o ser humano. A atitude do professor também vai influenciar a atitude da criança. Crianças educadas com atitudes diretivas, autoritárias e acríticas podem se tornar pessoas com estas mesmas características, por conseguinte, atitudes que perpetuarão por muitas gerações (NETO e BRANDL, 2009).

Em 2018 tinha acabado a Pós-Graduação Lato Sensu, e ingressei na pós- graduação Stricto Sensu (mestrado em Educação Física), lembro-me que nesse ano, tinha como objetivo colocar os alunos como protagonistas do processo, para contemplar esses objetivos, utilizei das mídias, muitas filmagens das aulas e reflexões sobre como melhorar, ademais quando tinha aulas teóricas utilizava meu notebook e um cabo HDMI na televisão para fazer pesquisas rápidas, mostrar fotos e vídeos representado na figura 10.

Figura 10: Projeto com os alunos do 3°, 4° e 5° ano, sobre jogos e brincadeiras, na sala multiuso.

Fonte: Registro pessoal do autor.

Em 2018, modifiquei minhas práticas pedagógicas ao fazer registros com os alunos ao término de cada tema, desde o início dessa empreitada avisei que não daria prova ou nota nesta avaliação, pelo contrário, eles dariam a nota para o conteúdo. A primeira vez que produzimos o que chamo de relato de experiência, os alunos ficaram atrelados a notas, número de linhas, no entanto ao longo do amadurecimento dos discentes e meu nos relatos, foi cada vez mais natural a forma de relatar; eles possuem autonomia para criar novas formas de escrever o relato (forma de balão, linhas, horizontal, vertical), o mais importante era eles relatarem as sensações, sentimentos e desafios durantes as aulas, momentos que o professor muitas vezes

não consegue identificar. Logo abaixo na figura 11 o relato de uma aluna do 4 ano ao tematizar dança.

Figura 11: Relatos de experiência sobre a temática dança de Maria Luiza e Sabrina, 4° ano de 2018.

Neto e Brandl (2009) observam os professores adotando práticas mais voltadas ao tradicional, por desconhecimento de outras práticas ou falta embasamento teórico (NETO e BRANDL, 2009), será que eu me enquadraria dentro daqueles que apresentam essa dificuldade? Mesmo buscando práticas mais participativas eu realmente considero e coloco os estudantes como protagonistas? O que significa isso afinal? Continuo me questionando sobre. A partir da compreensão do aluno como agente central, de relação com o saber, uma aula interessante é aquela que conecta e favorece a troca com o mundo, e cria relações consigo mesmo e com outro, essa tríade educacional cria-se o processo de interiorização gerando aprendizagem (BETTI et al, 2015).

O desconhecimento teórico dos professores de Educação Física dos anos iniciais do Ensino Fundamental na pesquisa de Neto e Brandl (2009), surge também na pesquisa de Xavier, (2014) a qual observou, nas falas dos professores, fragilidade teórica ao responder o que representa ensinar Educação Física? O autor faz recordes da fala dos professores para evidenciar, “ensinar Educação física é conhecer o aluno como ele é”, “o aluno é uma pessoinha”, “ensinar é uma dádiva”, “ensinar Educação física é ensinar a viver em sociedade”.

As pesquisas de Neto e Brandl (2009) e Xavier, (2014), representam minha trajetória na EF, apesar da graduação me favorecer base para formação de docente, somente na prática e com formação continuada sinto-me mais preparado para as incertezas da profissão.

Os professores de Educação Física que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental e que se encontram em um estágio mais avançado da carreira (entre cinco e oito anos), na construção de sua carreira profissional, se pautam em princípios e abordagens como a Crítica-Superadora, a Crítica Emancipatória e a Desenvolvimentista, o que mostra que o ecletismo faz parte das práticas desses professores (XAVIER p.354, 2014).

O ecletismo que Xavier (2014) menciona, Bracht (1999) relativiza discutindo a dificuldade de implementação das práticas pedagógicas progressistas, pois para incorporar tais práticas no âmbito escolar o professor (a) deve possuir embasamento teórico e até mesmo epistemológico. Um desses desafios é legitimação do campo

pedagógico (BRACHT, 1999) ou por meio dos relatos de experiências e práticas docentes, promover segundo BETTI (1996) um campo dinâmico de pesquisa (teoria) e reflexão (prática). E é justamente pelo diálogo com esses autores que estive constantemente me questionando sobre como eu consegui aterrissar em minha prática as concepções renovadoras da Educação Física. Meu pensamento pedagógico também é eclético? Também misturo abordagens? Eu realmente consigo inovar na direção que acredito? Eu conseguir aterrissar em minhas práticas?

Segundo Bracht (2011), as chamadas práticas inovadoras possuem a incumbência de promover conhecimentos relevantes socialmente e sendo dever da escola fazer as novas gerações se apropriarem dessas manifestações. Esses conhecimentos são tratados pela cultura corporal, permeado nos aspectos práticos de manifestações corporais como também nos aspectos cognitivos e conceituais.

As práticas inovadoras buscam superar o monopólio do esporte segundo Silva (2013); Bracht (2011); Maldonado et al (2018), buscando propiciar aos educandos diferentes manifestações da cultura como jogos populares, ginástica, esportes radicais etc. Outro marcador das práticas inovadoras são os métodos democráticos, solicitando dos seus educandos participações mais efetivas na dinâmica de aula (BRACHT, 2011).

A prática, que denominamos inovadora, aqui o/a professor/a busca: a) inovar os conteúdos da Educação Física, ampliando-os para além dos tradicionais esportes, tematizando outras manifestações da cultura corporal de movimento, além de considerar como conteúdos de aula os aspectos ligados ao conhecimento sobre a cultura corporal de movimento, como conhecimentos fisiológicos, antropológicos, sociológicos, etc. tratando-os contextualizadamente, portanto, articulando teoria e prática; b) modificar o trato deste conteúdo, não mais se resumindo a apresentar os gestos considerados corretos, e sim, envolvendo o aluno como sujeito do conhecimento, construindo um ambiente de cogestão das aulas; c) utilizar diferentes formas de avaliação que envolvam o aluno nas decisões do que avaliar, como avaliar e, mesmo, no próprio ato de avaliação (autoavaliação); d) articular a EF de forma mais clara e orgânica ao projeto pedagógico da escola. Essas características podem se apresentar isoladamente ou então de forma combinada (SILVA e BRACHT, p. 82-83, 2012).

Com isso, não estou advogando em estabelecer a soberania teórica ou a primazia prática, mas uma relação entre reflexão e ação como apresenta (FREIRE, 2018). O conceito de inovação, procura promover práticas que modifiquem o conceito dos educandos sobre os conteúdos e não apenas reproduzir as práticas tradicionais

(basquete, futebol, handebol e vôlei). Volta-se para novos conteúdos da cultura corporal e mudanças na forma de ensino e aprendizagem (SILVA e BRACHT, 2012). No decorrer da prática docente, começo a tomar mais valor as teorias que vou estudando e tento implantar na minha prática pedagógica, lembro-me de me encantar apesar da dificuldade de entendimento pela práxis3 de Paulo Freire (2018). A figura 12

logo abaixo representa uma pesquisa feita nas aulas de Educação Física produzidos pelas crianças, com auxílio da escola, família e entre eles.

Figura 12: Lição de casa, pesquisa sobre brincadeiras culturais; brincadeiras cantas; de outros países antigos, etc. Geovana e Renata 3° ano, 2018.

Fonte: Registro pessoal do autor.

Alguma dessas mudanças realizadas pelos professores no cotidiano escolar são evidenciadas na pesquisa de Maldonado et al (2018), que teve por objetivo discutir práticas de inovação pedagógica nas aulas de EF no cotidiano escolar, para tal optou- se pela investigação sobre o estado da arte de pesquisas sobre o tema. Foram encontrados sento e sessenta e um (161), artigos que investigaram ou descreveram

3 “Significa precisamente que não há revolução com verbalismo, nem tampouco com ativismo, mas com

práxis, portanto, com reflexão e ação incidindo sobre as estruturas a serem transformadas” (FREIRE, p.168, 2018).

inovações pedagógicas no cotidiano escolar da EF. Chamando atenção um número considerado de artigos nos periódicos classificados no estrato B5.

As pesquisas sobre práticas pedagógicas inovadoras nas aulas de EF começaram a ocorrer na década de 1990. Nesse momento histórico, foram publicados 2,5% dos estudos analisados. Na primeira década do século XXI encontramos 34,8% dos estudos relacionados com essa temática. Por conseguinte, verificamos que a maior parte dos estudos (62,7%) foi publicada no período entre 2010 e 2015, evidenciando o crescimento na publicação de trabalhos que descrevem ou investigam uma prática pedagógica que pode ser considerada inovadora, na perspectiva apresentada por Faria, Machado e Bracht (2012), (MALDONADO et al, p.449, 2018).

Além desses autores existem grupos de pesquisa como o Grupo de Pesquisa em Educação Física Escolar (GPEF) estabelecendo um diálogo entre as teorias Pós- Críticas da Educação Física Escolar e as chamadas Práticas Pedagógicas Inovadoras com estudos de (Nogueira, Farias e Maldonado, 2017; Maldonado et al, 2018; Faria et al, 2009; Junior e Tassoni, 2013) entre outros. Os esportes tradicionais e outras manifestações da cultura corporal são contempladas nessa perspectiva de prática, contudo, a forma como são construídas e praticadas se modifica.

Observa-se diversos relatos que saem da pedagogia tradicional e práticas apenas esportivas. Como no GPEF, após mapeamento do contexto escolar, práticas diversificadas são tematizadas. Exemplo de conteúdos tematizados a luz das práticas inovadoras são as aulas de Le Parkour (ALVES e CORSINO, 2013); Muay Thai (ESCUDEIRO e DE OLIVEIRA, 2014) e práticas tidas como tradicional, caso da Ginástica, são ressignificadas, permeando em outros contextos como Step, Jump e Ginástica estética, de forma crítica e reflexiva (MALDONADO e BOCCHINI, 2015). Outras produções que evidenciam manifestações corporais plurais e reflexivas são os livros organizados por Daniel Teixeira Maldonado, Uirá de Siqueira Farias e Valdilene Aline Nogueira, nos livros (MALDONADO, NOGUEIRA e FARIAS, 2018; NOGUEIRA, FARIAS e MALDONADO, 2017). Neste compilado de livros os capítulos são construídos por professores que estão na prática pedagógica e pesquisadores da área, na qual são refletidos diferentes temas sobre a EF na escola e são exibidas práticas e pesquisas do cotidiano escolar, como Hip-Hop, construção de brinquedos pedagógicos e reflexões sobre Paulo Freire, são algumas de muitas contribuições que

a coleção nos oferta. E que tem me instigado a buscar novas práticas pedagógicas em minhas aulas.

Nos movimentos renovadores da Educação Física o compromisso com a discussão da cultura corporal e a proposta de práticas pedagógicas inovadoras, também incorpora o professor como construtor do saber. E lendo Tardif (2002) é assim que eu me vejo. Meu saber docente não é fragmentado do contexto escolar, o que preciso é exercitar minha capacidade de transposição de conhecimento. Nesse caminho de constante questionamento dos meus saberes e práticas, influenciado pelo movimento renovador da Educação Física e interessado em pesquisar meus processos de transposição de conhecimento encontro contribuições de John Dewey e a partir de algumas poucas leituras no ano de 2018 reconheço em Dewey alguns conceitos de sua filosofia como pragmatismo, democracia e experiência que podem ser base para promover em minhas práticas pedagógicas ações que sejam mais significativas para os meus alunos. Destarte decido focar nesse ponto minha pesquisa em autoestudo.

Nesse processo de reflexão sobre minha prática entra a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, BRASIL, 2017), documento que passa a orientação a construção dos currículos.

2.3 BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR, APONTAMENTOS NOS ANOS

No documento ROBSON GERALDO DOS REIS (páginas 51-59)