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O MANIFESTO DOS PIONEIROS DE 1932 E A INFLUÊNCIAS DE JOHN DEWEY

No documento ROBSON GERALDO DOS REIS (páginas 86-90)

CAPÍTULO 3: A FILOSOFIA EDUCACIONAL DE JOHN DEWEY

3.8 O MANIFESTO DOS PIONEIROS DE 1932 E A INFLUÊNCIAS DE JOHN DEWEY

O momento histórico que o Brasil passava entre 1930 e 1937 foi de intensa efervescência político-social. Devido à crise da primeira república e queda na economia cafeeira. Neste ambiente de mudanças, na esperança de um “novo Brasil” surge o Manifesto (GHIRALDELLI JR., 2003; SILVA, 2010). O documento entra como uma crítica ao modelo da primeira República, que privilegia a educação somente para as classes abastardas, deixando de lado a educação pública para os menos afortunados. O manifesto enfatiza o direito de todos a educação de qualidade (GHIRALDELLI JR., 2003; BEDIN, 2011).

Segundo Bedin (2011) o marco do início do manifesto foi em 1931 na IV conferência Nacional de Educação. Um dos signatários do Manifesto de 1932 e 1959 Nobrega da Cunha, relata que o intuito do primeiro documento era chamar a atenção

das autoridades sobre os problemas da educação no Brasil. Estavam reunidos na conferência os mais renomados e importantes educadores do país. Pode-se afirmar que o encontro ia além de discussões sobre ideias pedagógicas, tinha como compromisso os rumos da educação brasileira. No tocante à ideologia dos Pioneiros da Escola Nova, fica na incumbência de Fernando de Azevedo, a elaboração do documento. Para De almeida (2013) O Manifesto é a representação do panorama vivido em um período educacional brasileiro. Além da visão panorâmica da história e educação, o documento é um marco histórico educacional, por marcar os debates de diferentes grupos e pensadores sobre a sociedade na época.

A IV conferência prosseguiu com a organização de informações estatísticas, pelas quais seria possível mapear com mais segurança, a situações educacional do Brasil. A pesquisa analisaria os dados por região; as estatísticas eram no âmbito profissional, do ensino geral, e do ensino primário. Em 14 de dezembro de 1931, Fernando Azevedo inicia a escrita do documento e em 25 de fevereiro de 1932, o Manifesto é publicado. Contudo o documento não era mais de um autor, tendo influências de outros 268 signatários da educação e jornalismo. Dentre eles está Anísio Teixeira que traduziu algumas obras de John Dewey do inglês para o português, sendo algumas delas Democracia e Educação (1936), Experiência e Educação (1959) e Vida e Educação (1959). Outras correntes filosóficas permearam sobre o documento como as influências francesas sobre a luta de classes trago por Fernando Azevedo (ALENCAR, 2016; BEDIN, 2011).

O Manifesto de 1932, marca o pensamento educacional da época. Pois o documento traz em si uma nova interpretação social, empregada nas bases cientificas e uma nova proposta educacional, com base na renovação social. Neste sentido, a importância do documento vai além dos escritos deixados pelos Pioneiros, representa um marco na história da educação brasileira (JUNIOR, 2017). O documento trazia no seu discurso os problemas da sociedade brasileira, justificando logo na introdução a necessidade de renovação na educação. O Manifesto complementa com a desorganização do país nos aspectos educacionais (filosófico e social). E afirma que

8 Os signatários foram Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Afrânio Peixoto,

Paschoal Lemme, Roquete Pinto, Cecília Meirelles, Hermes Lima, Nóbrega da Cunha, Edgar Sussekind de Mendonça, Armanda Alvaro Alberto, Venâncio Filho, C. Delgado de Carvalho, Frota Pessoa, Raul Briquet, Sampaio Dória, Noemy Silveira, Atílio Vivacqua, Júlio de Mesquita Filho, Mario Casasanta, A Almeida Júnior, J.P.Fontenelle, Roldão Lopes de Barros, Paulo Maranhão, Garcia de Rezende, Raul Gomes (ALENCAR, p. 60, 2016).

não alcançaríamos uma cultura própria se não fosse encontrado uma unidade e continuidade de pensamentos na reforma educacional. O movimento renovador apresenta “sob a luz de novos ideais” (ALENCAR, 2016).

O Manifesto prioriza a educação, como função essencialmente pública. O estado deve proporcionar o direito de educação integral, para todos em idade escolar de sete a quinze anos, sem distinguir raça, credo e classes econômicas. E deve seguir os quatros princípios de escola unificada, sendo eles: a laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e coeducação. É função do estado promover um ambiente laico, gratuito, obrigatório e capaz de garantir a criança e adolescente o fim da exploração humana, que a tormenta a sociedade. E a coeducação, colocaria igualdade de gênero, sem distinções entre sexo masculino e feminino (ALENCAR, 2016; BEDIN 2011). Contudo De Almeida (2013) tece alguns questionamentos sobre o Manifesto, logo no subtítulo do documento está inscrito A reconstrução educacional no Brasil – ao povo e ao governo. O povo estava participando da construção feita pelos Pioneiros? Havia uma organização nacional para discutir sobre educação? O documento possui um tom elitista (de cima para baixo), onde a palavra povo, está mais ligado como ato político, do que, representação das massas. Outra questão são os signatários, que não possuíam uma concepção homogenia sobre educação. E por conta das diferentes correntes filosóficas estrangeiras dos signatários, muitas traduções vieram modificadas para o Brasil.

O Manifesto detalha assim a função educacional: unidade, autonomia e descentralização. De forma resumida, a unidade da função educacional diz respeito à base da unificação do ensino a uma só função, a fim de desenvolver ao máximo a capacidade vital do ser humano sob a visão biológica de formação e organização de um regime escolar, seleção dos alunos em aptidões naturais, incorporação dos estudos do magistério às universidades, equiparação de mestres e professores em termos de remuneração e trabalho, correlação e continuidade do ensino em todos os seus graus, programa de política educacional fundada nos princípios unificadores capazes de modificar profundamente a estrutura intima e organizacional do ensino e do sistema educacional ALENCAR, p. 64, 2016).

O documento tem como base os aspectos psicobiológicos, definindo os conceitos da “educação nova”. Trata-se de um conceito funcional, científico e

experimental de educação, libertando o caráter empirista9 de ensino, atribuindo características de pesquisa, adentrando no universo científico. Neste cenário, a escola proporciona a criança um ambiente seguro e natural, promovendo o intercâmbio de ideias e experiências (ALENCAR, 2016).

Embora o Movimento dos Pioneiros de 1932, tenha sido um marco na educação brasileira, esse ideal foi cerceado pela ditatura Vargas. Com a queda de Vargas em 1945, retoma a forma democrática no país e a nova constituição de 1946, promovendo avanços no campo Educação. A constituição de 1946 revoga e altera mudanças aplicadas na constituição de 1937 e na carta constitucional do “estado novo”. Foi justamente nesse clima de mudanças que o Ministro Clemente Mariani, organizou uma assembleia de educadores, para a produção de um projeto de reforma educacional. Nesse projeto, resultou nas Diretrizes e Bases, no qual teve aprovação em 1961. Mais tarde na década de 1959 surge um novo Manifesto, com outros ideais (SOUZA e MARTINELI, 2009; BEDIN, 2011).

Um dos empecilhos para a implantação da Escola Nova no Brasil, era rejeição do sistema dualista dos jesuítas, o formato católico que veio a ser substituído pelo positivismo, empregava a separação entre classes, favorecendo as classes mais bem- sucedidas (SOUZA e MARTINELI, 2009). Marco que fez Anísio Teixeira ser perseguido pela igreja em 1958, sendo acusado de comunista por seus conceitos oriundos do pragmatismo de Dewey. O filósofo era associado ao marxismo, sua defesa por “escola única”, universal e gratuita, gerou a ira da igreja no Brasil (BEDIN, 2011). Outro fato do desinvestimento da Escola Nova no Brasil, foram os altos custos para o Estado implantar uma pedagogia voltada aos conceitos de John Dewey. Para que a educação deweyana se desenvolva são necessários laboratórios para as ciências naturais e exatas, espaço e estrutura física adequada, formação docente. Este ideal de escola no Brasil foi deixado em segundo plano, até ser desconsiderado por completo (SOUZA e MARTINELI, 2009).

Portanto o manifesto de 1932:

Surge como um documento que propõe organização e estruturação de um sistema de educação no Brasil, frente à inorganização do aparelho escolar até então fragmentado e desarticulado pela determinação de fins de educação (aspecto filosófico e social) e aplicação de métodos científicos aos problemas educacionais. Apresenta um plano de reconstrução educacional

9 Todavia Dewey toma a experiência em um sentido mais radical do que a empirista/racionalista. Seu

capaz de atender as necessidades modernas e das necessidades do País, enunciando, em seu discurso, inúmeras que justificando a reestruturação da educação Brasileira, comparando-a com o total atraso e desarticulação mediante os interesses do indivíduo e da sociedade na concepção tradicional do ensino, evocando o Velho X Novo, se instaurando como inovador e pioneiro no que tange à adoção de novas ideias compartilhadas e orquestradas por um grupo que se nomeia como “nova geração de educadores” por isso pioneiros (ALENCAR, p. 69, 2016).

No documento ROBSON GERALDO DOS REIS (páginas 86-90)