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Diâmetro médio e distribuição de tamanho das MPLs com AA

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

5.3. PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS MPLs CONTENDO AA

5.3.3. Diâmetro médio e distribuição de tamanho das MPLs com AA

A Tabela 5.10 apresenta os resultados encontrados de diâmetros médios e índice de polidispersidade (Span) do AA e das MPLs carregadas com AA.

Tabela 5.10. Diâmetro das micropartículas lipídicas e do ativo ácido ascórbico.

Amostra/ PATH:PA D[43] (µm) Span d(0,1) (µm) d(0,5) (µm) d(0,9) (µm) AA 84,63 ± 1,20de 1,71 ± 0,03c 11,25 ± 1,24d 90,08 ± 1,13c 165,25 ± 0,77e 100:0 97,80 ± 0,70d 2,32 ± 0,06b 19,03 ± 2,14c 79,67 ± 1,06c 203,89 ± 0,67d 90:10 90,87 ± 3,25e 2,95 ± 0,43a 12,29 ± 0,8d 57,19 ± 2,61d 190,71 ± 4,56d 80:20 106,94 ± 3,04c 2,65 ± 0,17ab 19,66 ± 0,83c 79,48 ± 1,31c 233,28 ± 8,86c 70:30 140,14 ± 2,34b 2,61 ± 0,13ab 25,28 ± 0,98b 108,91 ± 2,99b 309,00 ± 5,95b 60:40 181,29 ± 5,50a 2,36 ± 0,10b 35,73 ± 3,50a 147,65 ± 7,25a 383,89 ± 7,52a

Letras minúsculas diferentes em cada coluna representam diferença estatisticamente significativa (p≤0,05). PATH: óleo de palma totalmente hidrogenado; PA: óleo de palma; D[43]: Diâmetro médio em volume; d(0,1): Diâmetro da partícula correspondente a 10% da distribuição acumulada; d(0,5): Diâmetro da partícula correspondente a 50% da distribuição acumulada; d(0,9): Diâmetro da partícula correspondente a 90% da distribuição acumulada; Span: medida indireta de polidispersão = [d(0,9)-d(0,1)]/d(0,5)

As MPLs produzidas para este estudo apresentaram elevada variação de tamanho de partícula característico do processo de atomização, como definido por Ré (1998). Os valores de D[43]

determinados nas partículas variaram de 90,87 a 181,29 µm, sendo que as formulações com maiores teores de PA contribuíram para a obtenção de MPLs com os maiores diâmetros. Entretanto, os parâmetros d(0,1), d(0,5) e d(0,9) das MPLs com AA apresentaram valores entre 12,29 a 35,75 µm, 57,19 a 147,65 µm e 190,71 a 383,89 µm, respectivamente, evidenciando um aumento nos valores de diâmetro das micropartículas conforme a adição de PA nas formulações do MP.

A MPL com formulação de 100 % de PATH apresentou um diâmetro D[43] de 97,80 µm,

porém reduzindo o teor de PATH para 60 % na fase lipídica, houve um incremento no tamanho do diâmetro para 181,29 µm. O aumento dos diâmetros também foi observado nos parâmetros d(0,1), d(0,5) e (0,9), portanto, é possível afirmar que a composição de PATH e PA nas formulações afetaram o tamanho e a distribuição de tamanho das MPLs.

Os elevados valores encontrados para o diâmetro das MPLs também pode estar relacionados à presença de aglomerados de partículas, os quais podem ter impedido a determinação dos valores efetivos de tamanho de partículas. Salvim et al. (2015) produziram MPLs carregadas com hidrolisado proteico de soja a partir de emulsões e suspensões. Os autores encontraram valores de

diâmetro D[43] variando de 53,05 a 68,03 µm, relatando que os elevados valores podem ser atribuídos à

presença de aglomerados de partículas.

As MPLs com AA apresentaram um aumento no diâmetro volumétrico D[43] e nos demais

parâmetros d(0,1), d(0,5) e d(0,9), se comparadas as MPLs sem ativo (Tabela 5.7). Embora o AA tenha sido macerado e padronizado em peneira com abertura de 0,125 mm (mesh), o diâmetro D[43] obtido

apresentou um valor de 84,63 µm. Savolainen et al. (2002) encapsularam o fármaco hidrofílico felodipina através da dispersão do ativo em matriz lipídica e relataram que a adição do ativo aumentou a viscosidade da massa fundida e acarretou em uma ampla distribuição de tamanho, provocando a formação de aglomerados. Logo, o aumento nos valores de diâmetro das MPLs com AA deste estudo pode ter sido provocado pela adição de cristais de AA à suspensão, originando um aumento na viscosidade da mistura, como o sugerido por Albertini et al. (2008).

Diversos parâmetros são capazes de influenciar no tamanho das MPLs como: a pressão de atomização, a taxa de alimentação da mistura até o bico do atomizador, o material carreador, o tipo de atomizador e a viscosidade da mistura lipídica (ALBERTINI et al.,2008; ILIĆ et al., 2009). As

características reológicas da solução de alimentação são capazes de influenciar no tamanho final e na distribuição de tamanho das partículas. Uma menor viscosidade é preferida para a solução de alimentação gerar gotículas e tamanhos de partículas menores (OXLEY, 2012).

Albertini et al. (2008) produziram MPLs com cloridrato de propafenona e vitamina E, utilizando como material de parede o álcool cetearílico e a cera de carnaúba, respectivamente. Os autores observaram que o incremento no teor de ativo das MPLs promoveu uma diminuição no número de partículas, na faixa de 75 a 150 µm, e um acréscimo de partículas na faixa de 250 a 355 µm. Como complemento desse estudo, os pesquisadores realizaram análises para determinar a viscosidade das suspensões, evidenciando que as formulações mais viscosas promovem um aumento no tamanho de partícula, enquanto as formulações com menor viscosidade resultaram em partículas de tamanho inferior a 250 µm.

A microencapsulação utilizando o palmitoestearato de glicerol, a trimiristina e a triestearina como material de parede e a albumina de soro bovino (ASB) como ativo por spray chilling foi estudada por Di Sabatino et al. (2012). Os autores observaram que os maiores valores de diâmetro volumétrico e de viscosidade das micropartículas foram para as formulações contendo 20% de ASB, enquanto que as amostras com 10% de ASB apresentaram os menores valores dessas propriedades. Esses resultados estão em concordância com o proposto por Albertini et al. (2008).

Embora, não tenham sido realizadas medidas de viscosidade nas formulações com e sem o AA no presente estudo, foi possível inferir que esse parâmetro influenciou consideravelmente o tamanho das MPLs. Porém, vale ressaltar que a viscosidade da solução de alimentação também

depende da temperatura do material de parede e de outros ingredientes adicionais. O aumento da temperatura na alimentação do equipamento é a maneira mais comum de reduzir a viscosidade e o tamanho das gotículas por spray chilling. Em contrapartida, o aumento da temperatura pode degradar o ingrediente ativo (OXLEY, 2012).

Matos-Jr et al. (2015a) ao encapsular AA por spray chilling encontraram valores de diâmetro volumétrico D[43] de 146,74 a 158,28 µm nas partículas produzidas com diferentes

concentrações de PATH e, diâmetros de 89,24 a 102,21 µm, para aquelas formadas por monoestearato de glicerol. Os autores concluíram que as condições de processo, como a pressão de atomização, modificaram mais os valores de diâmetro do que a própria formulação, enquanto que o aumento ou o decréscimo da pressão pode interferir no comportamento de cristalização da mistura lipídica. Ilićet al. (2009) estudaram o uso de diferentes pressões de atomização na encapsulação do

glimepirida por spray chilling. Os autores observaram que o parâmetro d(0,5) foi reduzido de 280 µm para 60 µm com o aumento da pressão de 1,1 a 1,6 bar. Os autores ressaltaram que o uso de maiores pressões de atomização leva a um aumento da velocidade do ar na saída do bico atomizador, promovendo um aumento na entrada de energia cinética e na taxa de cisalhamento do líquido e resultando em um tamanho menor de micropartícula.

A redução do diâmetro das partículas está relacionada ao processo de cristalização da mistura lipídica, a qual conduz a contração do volume lipídico das MPLs, assim como, o processo inverso conhecido como fusão promove à expansão desse volume (TAN & CHE MAN, 2002). O PA apresenta um alto teor de AG mono e diinsaturados que durante o processo de resfriamento do sistema lipídico podem permanecer líquidos na superfície das MPLs, ou aprisionados na rede formada pelos lipídios sólidos, devido aos seus menores PF.

As moléculas de TAGs no estado líquido promovem uma desorganização da rede cristalina e, em decorrência, ocorre uma expansão do volume e do diâmetro das MPLs. O oposto a esse processo acontece com o PATH, visto que os hard fats apresentam predominantemente TAGs trissaturados, os quais são suscetíveis a formar estruturas cristalinas ordenadas após o resfriamento, acarretando na obtenção de MPLs de menor diâmetro (HU et al., 2005; TAN & CHE MAN, 2002).

As MPLs formuladas com uma maior concentração de PA produziram um maior diâmetro de partícula e permitiram uma melhor acomodação dos cristais de AA em sua estrutura, conforme mostram os valores encontrados de eficiência de encapsulação que estão presentes na Tabela 5.9. As partículas nomeadas como 60:40, 70:30 e 80:20 de PATH:PA apresentaram os resultados mais satisfatórios de EET e EEE, com valores de aproximadamente 94 e 91%, respectivamente.

A Figura 5.10 apresenta os gráficos de distribuição de tamanho do AA e das MPLs preparadas com o AA. Em todas as MPLs foi observada uma distribuição polimodal do tamanho de partículas, com predominância de mais de um pico de distribuição de tamanho.

As MPLs com proporção de PATH:PA de 100:0 e 90:10 apresentaram distribuição bimodal, indicando dois tamanhos predominantes, pico 1 com volume <1% e <6% para o volume do pico 2. Essas MPLs apresentam menor concentração do PA na mistura, apresentando valores de diâmetro equivalente menor que os demais MPLs, mostrando a influência do teor desse componente na composição das partículas.

Para as demais MPLs cuja proporção de PATH:PA foram de 80:20, 70:30 e 60:40, foram verificados comportamento trimodal, mostrando a existência de três tamanhos predominantes. O primeiro pico apresentou o menor volume (<1%) e valores de diâmetro entre 2 a 10 µm. O segundo pico apresentou volume < 4% e valores de diâmetro entre 20 e 60 µm. A influência da composição das misturas lipídicas na distribuição de tamanho pode ser mais claramente observada no terceiro pico, que apresentou maior volume (<6 %) e distribuição de tamanho de 70 a 800 µm.

Figura 5.10. Distribuição de tamanho do ácido ascórbico e de suas micropartículas lipídicas.

Onde: PATH: óleo de palma totalmente hidrogenado; PA: óleo de palma; AA: ácido ascórbico. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0,01 1 100 10000 Vo lu me (% ) Diâmetro da partícula (µm) AA 0 1 2 3 4 5 6 0,01 1 100 10000 Vo lume (% ) Diâmetro da partícula (µm) 100 PATH: 0 PA 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 0,01 1 100 10000 Vo lum e (% ) Diâmetro da partícula (µm) 90 PATH: 10PA 0 1 2 3 4 5 6 0,01 1 100 10000 Vo lume (% ) Diâmetro da partícula (µm) 80 PATH: 20 PA 0 1 2 3 4 5 6 0,01 1 100 10000 Vo lume (% ) Diâmetro da partícula (µm) 70 PATH: 30 PA 0 1 2 3 4 5 6 0,01 1 100 10000 Vo lume (% ) Diâmetro da partícula (µm) 60 PATH: 40 PA

5.3.4. Morfologia

As Figuras 5.11, 5.12 e 5.13 mostram as imagens obtidas por MEV das MPLs com AA, evidenciando que as partículas apresentaram formatos esféricos com superfície continua e áspera.

Pelissari et al. (2016), em seus estudos, utilizaram a técnica de spray chilling para a microencapsulação de licopeno, utilizando como material de parede um shortening que é composto de gorduras vegetais hidrogenadas e interesterificadas de algodão, soja e palma. Foram obtidas partículas de formato esférico, com aglomerações, diâmetros variáveis, superfície áspera com alguns poros, mas sem fissuras, conforme o relatado nesse trabalho.

A microencapsulação de AA em matrizes lipídicas utilizando spray chilling foi estudado por Matos-Jr et al. (2015a). Os materiais de parede utilizados foram o PATH e monoestearato de glicerol (MEG). A avaliação das amostras de MEG por MEV mostrou partículas de superfície lisa e sem rachaduras e a concentração de AA não interferiu na morfologia. Enquanto que as partículas constituídas de PATH apresentaram-se rugosas e ásperas, sendo essas características atenuadas conforme o aumento da concentração de ativo. Os autores atribuíram esse comportamento à composição homogênea de triacilgliceróis do PATH que formam cristais de diversos tamanhos.

As micrografias das MPLs sem o AA, apresentadas anteriormente nas Figuras 5.7, 5.8 e 5.9, não apresentaram pequenos cristais aderidas à superfície, no entanto nas MPLs com o AA foi identificado essa característica peculiar, o que indica a presença de cristais de AA na superfície externa de algumas formulações de MPLs, conforme indica a Tabela 5.9 para os valores de AAs.

Entretanto, as formulações com as maiores concentrações de PA mostraram uma menor quantidade de material ativo na superfície das partículas, portanto, o conteúdo de AA retido no interior das MPLs foi maior, conforme o evidenciado na análise de eficiência de encapsulação. A Tabela 5.9 mostrou que as amostras com proporções de PATH:PA de 80:20, 70:30 e 60:40 exibiram os menores valores para porcentagem de AA superficial. Por outro lado, em virtude ao alto empacotamento cristalino dos AG saturados presentes no PATH, as MPLs constituídas somente por esse hard fat delinearam estruturas cristalinas com elevada rigidez, dificultando a acomodação dos cristais de AA.

De fato, ao adicionar o PA nas misturas lipídicas com o PATH é promovido o efeito ‘labyrinth’ (labirinto) nas MPLs obtidas, isto é, os espaços entre as placas de cristais são preenchidos com o óleo líquido a temperatura ambiente, potencializando a incorporação de ativo nas partículas. Esse fenômeno pode retardar a difusão dos compostos hidrofílicos presentes no interior da micropartícula (MELLEMA et al., 2006).

Todas as micrografias das MPLs com AA mostraram a presença de aglomerados de partículas, nos quais partículas menores permaneceram aderidas na superfície das partículas maiores. Conforme descrito anteriormente, ao adicionar o AA na mistura lipídica a viscosidade do sistema aumentou, conduzindo a formação de gotículas maiores que retardaram ou inibiram a cristalização completa das partículas. Partículas que não se cristalizam por completo são capazes de se juntar e formar aglomerados (SAVOLAINEN, 2003). As imagens desses aglomerados corroboram com a ampla faixa de tamanho de partícula determinada no Item 5.3.3 deste trabalho.

Pedroso et al. (2012) utilizaram gordura interesterificada de PA e palmiste para encapsular

Bifidobacterium lactis ou Lactobacillus acidophilus por spray chilling. As imagens obtidas por MEV

mostram partículas esféricas, com paredes irregulares e rugosas. As células desses micro-organismos não foram visíveis na superfície das micropartículas, mesmo com ampliação de 5000x.

Para a produção de micropartículas por spray chilling, Di Sabatino et al. (2012) estudaram a utilização palmitoestearato de glicerol, trimiristina e triestearina como material de parede e albumina de soro bovino como ativo. As imagens obtidas por MEV das micropartículas demonstram que a tecnologia de spray chilling levou à formação de partículas de morfologia esférica e sem evidência de agregação.

Leonel et al. (2010) estudaram a microencapsulação de glicose por spray chilling utilizando como material de parede os ácidos graxos: esteárico, oleico e gordura vegetal parcialmente hidrogenada. Através da análise de MEV foram identificadas micropartículas esféricas, com superfície rugosa e contínua, não apresentando nenhum tipo de fenda ou furo. A rugosidade observada nas paredes nas micropartículas foi atribuída a presença do ácido graxo esteárico e tal fato já foi reportado por Rodriguez et al. (1999) e por Savolainen et al. (2002).

Figura 5.11. Imagens obtidas por MEV das micropartículas lipídicas com ácido ascórbico das misturas 100:0 e 90:10.

Formulação Ampliação

500 x 5000 x

100:0

Figura 5.12. Imagens obtidas por MEV das micropartículas lipídicas com ácido ascórbico das misturas 80:20 e 70:30. 80:20

Figura 5.13. Imagens obtidas por MEV das micropartículas lipídicas com ácido ascórbico da mistura 60:40. 60:40

5.3.5. Polimorfismo

A identificação do polimorfismo das MPLs foi realizada por difração de raios-X, que consiste na determinação das distâncias entre os grupos alquilas paralelos dos TAGs, conhecidas como short spacings (SS), por intermédio da dispersão de comprimentos de ondas característicos. A forma α (hexagonal) apresenta um SS simples e único de 4,15Ǻ, a forma β’ (ortorrômbica) os SS variam entre 3,8 e 4,2Ǻ e a forma β (triclínica) apresenta um SS de 4,6Ǻ (CURI et al., 2002).

Os TAGs são capazes de se transformar nas formas polimórficas do tipo α e β’ no início

da cristalização. A forma α é um elemento de vida curta e logo se transforma na forma polimórfica com estabilidade intermediaria β’. Entretanto a forma polimórfica mais estável β necessita de maior energia

livre para a nucleação (RIBEIRO et al., 2015). As gorduras são constituídas de uma complexa mistura de TAGs e isso acarreta na existência de diferentes estruturas cristalinas que afeta as transições polimórficas (WALSTRA, 2003; RIBEIRO et al., 2015). Os lipídios com menor diversidade de TAGs tendem a se converter na forma polimórfica β, enquanto as gorduras com composição variada de TAGs tendem a se estabelecer na forma polimórfica do tipo β’. Os fatores que podem afetar a formação das

diferentes estruturas polimórficas incluem o tipo de formulação, a taxa de resfriamento, o calor de cristalização e o nível de agitação (SATO, 2001; RIBEIRO et al., 2015).

A Figura 5.14 mostra o difratograma do AA puro e a Figura 5.15 expõe os picos de difração do PA e do PATH, assim como das diferentes formulações de MPLs incorporadas do ativo. A Tabela 5.11 apresenta os SS e os tipos de cristais encontrados nas matérias primas e nas MPLs com AA.

Figura 5.14. Difratograma do ácido ascórbico.

0 10 20 30 40 50 In te n si d ad e (a .u ) 2Ɵ (Graus)

No ângulo de difração < 15° (Figura 5.14) o AA puro está em sua forma cristalina, como demonstrado pelo pico de difração máxima de 8,44Ǻ, caso contrário, se o ativo estivesse amorfo não seria possível identificar esse pico de difração. Nos difratogramas de todas as MPLs (Figura 5.15) foram identificados um pico similar que variou de 8,36 a 8,47Ǻ, comprovando a presença da estrutura cristalina do AA em todas as formulações de MPLs estudadas.

Figura 5.15. Difração de Raios-X do PATH e PA e das diferentes micropartículas lipídicas incorporadas com

ácido ascórbico.

Onde: PATH: óleo totalmente hidrogenado de palma; PA: óleo de palma.

Para o PATH e o PA foram identificados os “short spacings” a 3,8 e 4,2Ǻ, caracterizando polimorfismo β’ nas matérias primas. Segundo DeMan & DeMan (2002) a formação do polimorfo β está

relacionado à presença de altas concentrações do ácido graxo palmítico, que no presente estudo representa 34,63 e 41,03 % para PATH e PA puros, respectivamente. A formação da estrutura cristalina do PA também foi influenciada pela alta heterogeneidade na composição de TAGs da matéria prima. A presença do polimorfo β’ para o PA e para o PATH está de acordo com o relatado por Barison (2005).

DeMan et al. (1989) relatam a dificuldade de diferenciar entre as distancias 4,1Ǻ, referente a forma α e o pico 4,2Ǻ característico da forma β’. Entretanto se os cristais do tipo β’ estiverem efetivamente presente na amostra avaliada, também haverá a presença do SS 3,8 Ǻ. Como a forma α é metaestável e logo se converte na estrutura cristalina β’, pode-se concluir que o short spacing de 4,1Ǻ presente no PA refere-se a uma quantidade remanescente de cristais α, os quais se converterão a cristais β’ após um período de estabilização da amostra.

5 10 15 20 25 30 35 40 In te n si d ad e (a .u ) 2Ɵ (graus) PA PATH 100:0 90:10 80:20 70:30 60:40 8,44Å 4,2Å 3,8 Å 4,6Å

De acordo com Foubert et al. (2007) TAGs assimétricos constituídos de AG saturados e insaturados são capazes de se estabilizarem como o polimorfo β’, ou seja, a presença de dois AG

saturados ou insaturados ocupando as posições 1,2 ou 2,3 na molécula de TAG. Sato & Ueno (2011) mencionam que o óleo de palma contém misturas de AGs assimétricos, como PPO e POO, que apresentam tendência à formação do polimorfo β’.

O PA utilizado para esse estudo apresentou em sua composição de TAGs 31,68 % de POP e 22,64 % de POO (Tabela 5.2). Gunstone (1997) e Tanaka, Miura e Yoshioka (2007) relataram que esses TAGs aprestaram certa miscibilidade entre si, ocorrendo à formação de grandes cristais de POP cercados por POO. Com a formação desses aglomerados cristalinos outros TAGs saturados começam a se juntar e promover a transição do polimorfo β’ para β, corroborando com o short spacing de 4,63 Ǻ típico de cristais β determinado no PA do presente estudo. Da mesma forma, TAGs assimétricos favorecem a presença de cristais do tipo β’. Timms (1995) relacionou a simetria dos TAGs cujos AGs de estruturas similares são capazes de ocupar as posições 1 e 3 na molécula de TAG, com a presença do polimorfo β.

Tabela 5.11. Short spacings (Å) do ácido ascórbico, do óleo de palma totalmente hidrogenado, do óleo de palma

e de suas partículas carregadas com o ativo.

Amostra/ (PATH:PA) Short spacings (Å) 8,4 4,6 4,3 4,2 4,1 3,8 Polimorfismo AA 8,44(I) - - - - PA - 4,63(M) 4,36(I) 4,20(I) 4,02(F) 3,86(M) β’>>β PATH - - 4,36(M) 4,20(I) - 3,82(M) β’ 100:01 8,47(BF) - 4,36(M) 4,23(I) - 3,80(M) β’ 90:102 8,45(BF) - 4,33(M) 4,22(I) - 3,81(M) β’ 80:203 8,46(BF) - 4,35(M) 4,22(I) - 3,83(M) β’ 70:304 8,45(BF) - 4,35(M) 4,22(I) - 3,85(M) β’ 60:405 8,46(BF) - 4,33(M) 4,21(I) - 3,83(M) β’

1Apresentam também 5,09(BF), 4,48(M) e 3,52(BF). 2Apresentam também 5,08(BF), 4,48(F) e 3,52(BF). 3Apresentam também 5,07(BF), 4,49(I) e 3,52(F). 4Apresentam também 5,08(F), 4,48 (M) e 3,52(F). 5Apresentam também 5,04(F), 4,47(M) e 3,52(F). Indicação da intensidade dos picos: (I) Intenso, (M) Médio, (F) Fraco e (BF) Bem Fraco. Onde AA: ácido ascórbico; PATH: óleo de palma totamente hidrogenado; PA: óleo de palma.

DeMan & DeMan (2002) relataram que a forma polimórfica β estão presentes em sistemas lipídicos em que o número de átomos de carbono dos TAGs é equivalente a 54 (C54), isto é, são

formados por três moléculas de AG com 18 carbonos cada, podendo ser saturadas, insaturadas ou

trans. Sistemas lipídicos compostos por TAGs com números de átomos de carbono entre C50 e C52 são

formados porcristais β’. Geralmente, os TAGs com C50 possuem dois AGs com 16 átomos de carbono

e um com 18 carbonos, do mesmo modo, TAGs com C52 podem exibir em sua molécula um AG com 16

carbonos e dois com 18 carbonos (OLIVEIRA et al., 2015a).

O PA e o PATH apresentam menores concentrações de C54, 7,94 e 17,98 %,

respectivamente, e uma predominância de C50 e C52, 41,81 e 31, 09 % e 37,37 e 41,32 %,

respectivamente (Tabela 5.2). Portanto, esses óleos vegetais são fortemente influenciados a formar cristais β’. Todas as MPLs foram formuladas com PA e/ou PATH apresentaram o hábito cristalino β’, comprovando que após a microencapsulação por spray chilling as partículas preservaram as formas polimórficas originais de seus materiais constituintes. A vantagem em se obter partículas na forma polimórfica β’ é que os cristais são menos ordenados e densos, permitindo uma adequada retenção do AA no interior da partícula, sendo o mais desejável para se ter uma liberação progressiva do ativo para o meio externo. Entretanto, as MPLs formadas com cristais β podem promover uma antecipação na liberação do ativo para o meio (SATO & UENO, 2011).

No presente trabalho foram adicionadas ao PATH as quantidades de 10, 20, 30 e 40 % de PA e pela Tabela 5.11 todas as MPLs apresentaram hábito cristalino β’. Tal fato pode ser explicado por DeMan & DeMan (2002), que evidenciaram que a adição de 20% de óleo líquido ao PA mostra mais cristais do tipo β’ do que β, mas se a adição for de 40% esse comportamento é invertido. Enquanto o PATH é mais estável na forma β’ quando se adicionado até 70% de óleo líquido. Também foi possível confirmar que, mesmo após a microencapsulação, ou seja, a utilização do processo de spray chilling, as MPLs preservaram as formas polimórficas originais de seus materiais constituintes.

Para as matérias primas puras e para as todas as formulações de MPLs com AA foi

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