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Diagnóstico do envolvimento parental em escolas portuguesas

No documento PAULA.COLARES.Relacao.Pais.Professores (páginas 154-158)

O contributo dos professores e o papel da escolas de formação

Capítulo 3 Conceptualização da investigação empírica

1. Fundamentação do estudo, delimitação do problema, definição das variáveis e dos objectivos

1.2. Diagnóstico do envolvimento parental em escolas portuguesas

O estudo longitudinal (2003-2007) de Pereira procurou, em primeiro lugar, analisar a realidade do envolvimento parental em escolas portuguesas, tal como ele é percepcionado por professores e por pais. O envolvimento parental foi avaliado por dois questionários, uma versão para professores e uma versão para pais. Os questionários avaliaram três importantes dimensões do envolvimento parental: comunicação escola-família, envolvimento dos pais em actividades na escola e envolvimento dos pais em actividades de aprendizagem em casa.

A avaliação de diferentes dimensões de envolvimento parental parte do pressuposto que o envolvimento dos pais na escola pode ser feito de múltiplas formas e que diferentes práticas de envolvimento parental têm repercussões distintas no sucesso académico e ajustamento emocional dos alunos.

O perfil de envolvimento parental na escola em função dos diferentes tipos de envolvimento apresenta-se muito semelhante quer para os diferentes informadores, pais e professores, quer para os diferentes momentos de avaliação, 4º e 5º ano (Figuras 1 e 2). O envolvimento parental na escola, por um lado, é percebido como moderado a elevado nas práticas relacionadas com a comunicação escola família (por ex., iniciativa com que pedem ao professor informações sobre o progresso do filho, comunicação ao professor de problemas escolares do filho, assiduidade à reunião de pais) e nas práticas relacionadas com o envolvimento nas actividades de aprendizagem em casa (por ex., verificar se o filho fez os trabalhos de casa, realizar com o filho actividades que o ajudam nas aprendizagens, ensinar o filho a planear e organizar o tempo). Por outro lado, o envolvimento dos pais em actividades na escola (por ex., organização de eventos, realização de voluntariado na escola, etc.) é percebido como moderado a baixo.

Figura 1: Envolvimento parental na escola percebido pelos professores no 4º e no 5º ano de escolaridade.

Estes resultados sugerem que a presença dos pais na escola ainda não é uma prática frequente, sendo mantidos padrões tradicionais de relacionamento escola-família, mais centrados no desempenho académico das crianças. O afastamento dos pais do espaço escolar pode dever-se a diferentes factores: a cultura das escolas não promotora da participação dos pais, a escassa existência de programas que promovam o envolvimento dos pais em actividades no espaço escolar ou a existência de actividades com horário que tem pouco em conta a necessidade dos pais, a diminuta disponibilidade dos pais para a participação em actividades que perspectivam como pouco relevantes para o sucesso do seu educando, entre outros.

Os resultados do presente estudo sugerem a existência de diferenças de percepção entre pais e

professores relativamente ao envolvimento parental na escola. Os pais percebem significativamente níveis mais elevados de envolvimento parental que os professores. Reynolds (1992) encontrou os mesmos resultados, referindo que tais resultados devem-se ao facto de pais e professores apresentarem concepções distintas do envolvimento parental na escola e ao facto dos contextos em que operam serem também distintos. Esta diferença de percepções entre pais e professores é mais acentuada em famílias monoparentais. Este dado pode traduzir um maior afastamento destas famílias da escola e concretamente do professor.

Num estudo já referido e realizado no contexto Norte-Americano, Epstein (1990, 1993) observou que eram os professores que menos recorriam ao envolvimento parental na escola que percebiam uma maior diferença entre o envolvimento parental de famílias nucleares intactas e de famílias monoparentais.

Por um lado, o menor conhecimento das famílias por parte destes professores, faria com que a sua percepção fosse mais orientada pelo estereótipo relativamente aos pais separados/divorciados, que são vistos como não possuindo os recursos necessários para cumprir as responsabilidades da família.

Por outro lado, os professores fazem, igualmente, uma avaliação menos diferenciada das diferentes formas de envolvimento parental do que os pais, estando a avaliação que fazem do envolvimento dos pais em actividades de aprendizagem em casa associada à avaliação que fazem da comunicação entre a escola e as famílias. Isto pode dever-se ao pouco conhecimento dos professores sobre o envolvimento dos pais em actividades de aprendizagem em casa.

Assim, a percepção do professor poderá ser inferida a partir do que o professor tem oportunidade de observar relativamente ao interesse dos pais no progresso escolar e nas dificuldades dos filhos, entre outros episódios de comunicação escola-professor.

Desta forma, estes resultados sugerem que os pais fornecem uma avaliação mais rica e discriminativa do seu envolvimento parental na escola. As respostas dos pais aos questionários apoiam a ideia de que os pais se podem envolver de forma diferente no que diz respeito (1) ao envolvimento mais pró-activo em actividades na escola e voluntariado, (2) ao envolvimento da família em actividades de aprendizagem em casa, (3) à iniciativa para comunicar com o professor, e (4) à assiduidade e participação em actividades no espaço escolar.

No que diz respeito à presença no projecto educativo da escola de actividades de envolvimento parental, 65% das escolas públicas e todas as escolas do ensino particular referiram a sua existência. Grande parte estas actividades de envolvimento parental contempladas no projecto educativo consistem na participação dos pais em acontecimentos na escola (Festas de Natal, Dia do Pai e da Mãe, ...), sendo que actividades que envolvem uma participação mais proactiva dos pais e uma presença mais sistemática dos pais nas escolas (participação em projectos, participação em actividades de voluntariado na escola) aparecem com pouca frequência nos projectos educativos. Outras actividades que não aparecem contempladas no projecto educativo são as relacionadas com a educação parental e com a promoção do envolvimento parental nas actividades de aprendizagem em casa.

É ainda de referir que das escolas do 1º ciclo que integraram a amostra deste estudo no primeiro momento de avaliação, uma maior percentagem das escolas públicas (55%) tem associação de pais, ao passo que nas escolas do ensino particular apenas uma tem associação de pais.

Das 59 escolas que integraram o estudo no segundo momento de avaliação, a maioria das escolas públicas têm associação de pais (81%), ao passo que nas escolas do ensino particular uma maior percentagem de escolas não tem Associação de Pais (58%). No que diz respeito à presença de actividades de envolvimento parental na escola, estas estão presentes numa percentagem considerável de escolas públicas (58%) e na grande maioria das escolas do ensino particular (84%). Mais uma vez verifica-se o padrão constatado para as escolas do primeiro ciclo, uma vez que as actividades que com mais frequência são contempladas no projecto educativo referem-se à presença dos pais nas escolas para acontecimentos festivos.

Para Pereira (2007, p.315) os pais são fundamentais na avaliação dos professores, pois percepcionam através do comportamento e da avaliação que os seus educandos fazem da escola e dos professores, e o professor constitui também uma importante fonte de informação dos problemas e funcionamento adaptativo das crianças pelos seguintes motivos: a escola é uma área central do desenvolvimento, na qual podem emergir certos problemas que não se manifestam noutro ambiente; as aptidões escolares e académicas são importantes requisitos para um desenvolvimento bem sucedido na nossa sociedade; as crianças passam uma parte considerável do seu tempo na escola e os professores são, frequentemente, adultos importantes na vida das crianças.

1.3. Evolução do envolvimento parental do 1º para o 2º ciclo e outros

No documento PAULA.COLARES.Relacao.Pais.Professores (páginas 154-158)