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Os professores e a sua actuação

No documento PAULA.COLARES.Relacao.Pais.Professores (páginas 114-118)

O contributo dos professores e o papel da escolas de formação

9. Os professores e a sua actuação

A CIE constatou que o êxito de uma reforma da profissão docente passa por uma política integral, cujo um dos elementos mais importantes deve ser o da revalorização da actividade entre os jovens estudantes e, particularmente, entre os mais talentosos. A profissão é muito pouco atraente no que diz respeito à sua valorização social, às remunerações e às perspectivas de ascensão; por isso é necessário oferecer medidas que incitem aqueles que estão inclinados a eleger a carreira docente e incentivem o ingresso na docência de pessoas qualificadas provenientes de outros horizontes profissionais.

Perante a evidente necessidade de desenvolver a auto-reflexão e a capacidade de reciclagem permanente dos docentes, será indispensável que a formação inicial consagre mais ao que hoje em dia se usou chamar aprender a aprender.

As necessidades e os problemas reais da escola também deverão articular-se mais eficazmente com a formação inicial. Será útil e desejável a criação de locais de discussão e intercâmbio tanto entre colegas como com pessoas provenientes de outras profissões, em particular professores com experiência e investigadores que trabalhem nas suas respectivas disciplinas.

Estes intercâmbios permitiriam, além do mais, evitar que a formação inicial se torne rapidamente ultrapassada. É certo que esta reforma de fundo das profissões docentes, que passa por uma melhor qualidade da formação inicial dos seus intervenientes, não será feita de um dia para o outro. Mas se os objectivos não são fáceis de alcançar têm, pelo menos, o mérito de voltar a centrar a actividade de professor num verdadeiro projecto de coesão social para devolver o entusiasmo a quem se prepara para adoptá-la.

A literatura nesta área sugere que a relação entre a escola e a família parece crítica para a qualidade das escolas. Alguns autores defendem que essa relação pode ser modificada positivamente para benefício de todos (alunos, pais e professores) através da forma como actuam os educadores/professores.

Vilas Boas (2001), considera que se torna necessário que os professores “permitam” o envolvimento parental porque, caso não o façam, limitam, efectivamente, os efeitos desse envolvimento. O termo utilizado, “permitir”, é operacionalizado através duma série de passos a serem tidos em conta pelos professores ou outros educadores que pretendam facilitar a colaboração com os pais e com os alunos: a) assumir/compreender que a eficácia dos pais relativamente ao seu envolvimento individual no processo de ensino aprendizagem depende de iniciativa e do convite dos professores; b) confirmar a colaboração, lembrando aos pais e os seus direitos e responsabilidades; c) facilitar a colaboração, proporcionando encontros ou reuniões entre pais e professores e facultando aos pais as informações sobre o currículo e sobre a metodologia que eles necessitem de conhecer; d) encorajar a colaboração, desenvolvendo actividades em que os pais e os filhos possam participar em conjunto o que significa a aceitação do papel de mediador, mesmo entre os pais e os filhos; e) reconhecer os resultados da colaboração, favorecendo uma informação atempada e adequada do desempenho dos alunos.

O primeiro dia de aulas é um dia muito importante para toda a Família em especial para a criança que vai pela primeira vez para a escola. Para a Família a entrada da criança na escola implica necessariamente profundas mudanças no seu quotidiano.

Actualmente, com as transformações nas estruturas familiares, a escola adquire novas responsabilidades.

A escola vai “invadindo” o quotidiano familiar, ou seja, cada vez mais a escola preocupa-se com o desenvolvimento da criança não apenas nos domínios cognitivos deixando uma menor margem de intervenção familiar face, por exemplo, às escolhas da criança no domínio da actividade profissional, uma vez que os projectos profissionais que os pais alimentam para os seus filhos são frequentemente contrariados pela escolaridade (Diogo, 1998).

Este autor argumenta, ainda, que a evolução da escola e das famílias, por um lado têm vindo a acentuar as suas divergências, por outro as mudanças culturais recentes fazem realçar a necessidade de melhorar os canais de comunicação entre a Escola e Família através da

necessidade de incrementar uma ideologia de participação (na qual se desenvolve a ideia de

que as famílias têm uma palavra a dizer nas muitas tarefas escolares), na emergência do

“consumerismo” (em que se reflecte, numa atitude de cidadania, uma crescente

responsabilização em relação aos direitos das crianças e das famílias em matéria de educação escolar) e na mobilização dos diferentes grupos sociais em redor das questões culturais

.

Philipe Perrenoud (2001) reflecte sobre o que a escola faz às famílias de forma crítica, desde os efeitos a nível do orçamento familiar, da escolha de local para viver, da gestão do tempo e do espaço, dos trabalhos para casa, das condutas sociais adoptadas, das redes de sociabilidade construídas.

Segundo Silva (2005) a relação escola família constitui uma relação entre culturas. Uma relação entre a cultura socialmente dominante que a escola privilegia, veicula e legitima e a cultura ou culturas locais. Ainda para este autor a escola tem um poder de penetração nas famílias, sendo por eles penetrada. É certo que esta relação é estruturalmente assimétrica (condicionada por factores como a classe social, o género e a etnia. O certo é que parece exercer-se aqui um certo controlo muito regulado por uma outra instância, o estado.

Torna-se pois necessária a sua reconfiguração onde não importa apenas a relação em si, mas também as suas partes constituintes. Este processo de reconfiguração (Silva, 2005) define-se, por um lado, através do impacto que a globalização e as novas tecnologias de informação e comunicação estão a ter nas sociedades, e por outro, por via modernidade e das

implicações do fim das metanarrativas, neste caso, educacionais. Não interessa mais referir relação escola-família mas sim converter esta relação para família-escola.

A escola tem que descentrar assumindo simultaneamente os efeitos de uma pressão que vem de cima, por exemplo do processo da construção europeia, e que se manifeste num conhecimento disponível em rede - e os efeitos de uma pressão que vem de baixo e que se manifesta nas “novas” sociabilidades locais que, através dos movimentos sociais globais, também se constituem em rede. Assim são os indivíduos e os grupos que colocam as suas reclamações face à escola, como diz Carnoy (2001), a escola converte-se em facilitadora de redes globais, regionais e locais, e em comunidade de identidades baseada no desenvolvimento de diferentes formas de conhecimento.

Das diversas leituras realizadas a Família e a Escola devem colaborar harmoniosamente para benefício da criança. A existência de um diálogo aberto e sincero entre estas duas entidades deverá ser desde os primeiros momentos permanente e construtivo.

Assim sendo, podemos dizer que a Família e a Escola são os dois primeiros ambientes sociais, proporcionando à criança estímulos, ambientes e modelos vitais que servirão de referência para as suas condutas, sendo consequentemente instituições fundamentais no crescimento da criança.

A escola deve ser um espaço aberto, um espaço onde existe uma relação de confiança mútua, de diálogo e de troca de informações, uma referência educativa, um lugar de construção do conhecimento e, principalmente um lugar de troca, de felicidade e de afectividade.

Como professora ao longo de tantos anos, várias vezes nos questionámos sobre como seriam as crianças com quem não trabalhávamos, pois as que conhecíamos pertenciam a uma realidade que podemos considerar previlegiada. As outras que não conhecemos existem e não são assim tão poucas, antes pelo contrário. É para essas que interessa contribuir e ajudar com a realização de trabalhos de cariz científico.

A escola tem que estar preparada para todos os tipos de crianças independentemente do seu nível social ou tipo de família a que pertencem.

No documento PAULA.COLARES.Relacao.Pais.Professores (páginas 114-118)