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Evolução do envolvimento parental do 1º para o 2º ciclo e outros dados da transição para o 2º ciclo do ensino básico

No documento PAULA.COLARES.Relacao.Pais.Professores (páginas 158-163)

O contributo dos professores e o papel da escolas de formação

Capítulo 3 Conceptualização da investigação empírica

1. Fundamentação do estudo, delimitação do problema, definição das variáveis e dos objectivos

1.3. Evolução do envolvimento parental do 1º para o 2º ciclo e outros dados da transição para o 2º ciclo do ensino básico

Um outro objectivo do estudo foi a análise das diferenças entre o envolvimento parental entre escolas do 1º ciclo e escolas do 2º ciclo. Os dados longitudinais indicam que o envolvimento parental percebido pelos professores diminui na transição do 4º para o 5º ano de escolaridade, verificando-se diferenças significativas no que concerne ao envolvimento parental em actividades na escola e voluntariado (Figura 3).

Os factores que estão associados à diminuição do envolvimento parental na escola do 4º para o 5º ano de escolaridade são: a diminuição do rendimento escolar, a permanência no ensino público e a pertença ao sexo masculino.

É também importante referir, que os professores do 2º ciclo (directores de turma) tiveram mais dificuldade em responder ao questionário do que os professores do 1º ciclo. Uma percentagem considerável de directores de turma não conseguiu responder a estes questionários (37%) porque alegavam desconhecer a família. Em alguns casos, os professores, já no final do 2º período do ano lectivo, não tinham reunido uma única vez com as famílias. Estes dados confirmam a ideia de um maior afastamento das famílias da escola quando as crianças abandonam as escolas do 1º ciclo.

Figura 3: Diferença entre o envolvimento parental percebido pelos professores no 4º e no 5º ano de escolaridade

Pelo contrário, o envolvimento parental na escola, tal como é percebido pelos pais, mantém-se estável e até com uma tendência para aumentar no 5º ano de escolaridade, principalmente no domínio das actividades de aprendizagem em casa, embora estas diferenças não se revelem estatisticamente significativas (Figura 4).

Figura 4: Diferença entre o envolvimento parental percebido pelos pais no 4º e no 5º ano de escolaridade

Estes últimos resultados não estão de acordo com a literatura, que aponta uma

diminuição do envolvimento parental na escola à medida que a criança avança para níveis de escolaridade superiores. No entanto, e como o instrumento utilizado no presente estudo avalia não só o envolvimento efectivo, mas também a disponibilidade dos pais para se envolverem, estes resultados podem manifestar que os pais continuam predispostos para se envolverem nas

escolas, mas que a partir do 5º ano de escolaridade, a escola favorece menos este tipo de envolvimento.

Também relacionado com a dimensão longitudinal do presente estudo, procurámos conhecer as implicações da transição do 1º para o 2º ciclo no ajustamento académico e emocional das crianças. A transição de escolas é descrito pela literatura como um acontecimento de vida que pode implicar perturbações no funcionamento adaptativo das crianças, por se tratar de uma “transição ecológica” (Rudolph, Lambert, Clark e Kurlakowski, 2001) que envolve múltiplos ajustamentos.

Na figura 5, constatamos que existe uma ligeira diminuição, embora não estatisticamente significativa, dos problemas emocionais/comportamentais quer relatados pelos professores, quer relatados pelos pais. Estes dados parecem evidenciar que a mudança de escolas para o 5º ano não interfere negativamente no ajustamento emocional das crianças.

Figura 5: Problemas emocionais/comportamentais percebidos pelos pais e pelos professores no 4º e 5º ano de escolaridade

Na figura 6, observamos igualmente que no que diz respeito à mudança da competência académica e do auto-conceito académico não se verificam diferenças acentuadas entre a avaliação realizada no 4º ano de escolaridade e a avaliação realizada no 5º ano de escolaridade, após a transição de escolas.

Figura 6: Competência académica percebida pelos professores e auto-conceito académico percebido pela criança no 4º e 5º ano de escolaridade

Estes últimos resultados e concretamente a não existência de diferenças significativas em termos da competência académica não eram esperados. A diminuição do desempenho académico do 4º para o 5º ano de escolaridade é um dado conhecido. Em 2002/03 cerca de 15 % dos alunos que frequentaram o 5º ano de escolaridade reprovaram ou desistiram, contra 8,4% de alunos que ficaram retidos no 4º ano de escolaridade (Gabinete de Informação e Avaliação do Sistema Educativo, ME).

Para explorar melhor os resultados encontrados pelo presente estudo foram realizadas análises adicionais. Assim, foram realizadas análises independentes para os alunos que no 4º ano de escolaridade se encontravam no ensino público e para os alunos que no 4º ano de escolaridade frequentavam Jardins Escola João de Deus. Os resultados que consideram apenas os alunos que no 4º ano de escolaridade frequentavam escolas públicas revelam que não existem diferenças significativas relativamente aos problemas emocionais/comportamentais percebidos por pais e professores.

No entanto, verifica-se uma diminuição estatisticamente significativa quer em relação ao desempenho académico quer em relação ao auto-conceito académico. Na globalidade, estes resultados revelam que a maioria das crianças lida de forma eficaz com a transição para o 5º ano de escolaridade. No entanto, podem existir implicações negativas no domínio académico, quer em termos de desempenho, quer em termos do auto-conceito académico, se considerarmos os resultados relativos às crianças que no 4º ano de escolaridade

frequentavam o ensino público. Assim, esta transição deve merecer especial atenção por parte das escolas, principalmente junto de alguns grupos de crianças.

Um dos factores que é determinante de uma adaptação bem sucedida à nova escola é o stress escolar percebido pela criança.

Quando questionadas acerca da transição, as crianças revelam preocupações essencialmente relacionadas com os domínios académico, procedimental e social (Akos e Galassi, 2004). Estes três domínios foram avaliados no presente estudo através da versão portuguesa do Questionário de Avaliação do Stress Escolar (Pereira, 2004).

Figura 7: Média do stress escolar em três domínios: académico, regras/professor e social

Após a transição de escolas do 4º para o 5º ano de escolaridade as crianças percebem níveis de stress significativamente mais elevados no domínio académico.

Estes níveis mais elevados de stress académico devem-se à frequência com que estas acontecimentos ocorrem, bem como à perturbação que estes induzem. As crianças relatam ter percepcionado dificuldades em lidar com as exigências e tarefas escolares, quer sob o ponto de vista da dificuldade de concretização, como sob o ponto de vista de ter que lidar com várias solicitações em simultâneo.

Estas novas exigências exigem uma maior capacidade de organização e de auto- regulação, que por vezes os alunos ainda não adquiriram (Pereira & Mendonça, 2005).

1.4. Estudo e caracterização do projecto de investigação

No documento PAULA.COLARES.Relacao.Pais.Professores (páginas 158-163)