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Diagrama 1: Representação da Dialética em espaço tripolar

2 DISPOSITIVO TEÓRICO: PEDRA ANGULAR DO CAMINHO DE CONSTRUÇÃO DA

2.3 Estudos sobre o trabalho: a perspectiva ergológica

2.3.2 Dialética das tensões em espaço tripolar

A dialética das tensões em espaço tripolar é o conceito desenvolvido por Yves Schwartz para analisar uma gama de situações intermediárias que estão envolvidas na

constituição dos acontecimentos referentes ao homem e ao trabalho, como, por exemplo, à econômica e a jurídica. Ao traçar esquematicamente dimensões, a princípio, distintas nas relações do homem em situação de trabalho, Schwartz (2002,2007) convoca saberes, antes abstratos no concernente ao trabalho, apreendendo-os em diferentes eixos de confrontações. Essa abordagem justifica-se visto que, para a disciplina ergológica, não é produtivo pensar o trabalho e, igualmente, em nossa pesquisa, os conceitos acerca do trabalho fora desse plano dialético.

Para Schwartz (2007), para apreensão da atividade do trabalho, de sua historicidade e, principalmente, de ter o “ponto de vista daquele que trabalha”, é preciso centrar a observação em uma dialética tripolar, uma vez que estabelecemos no trabalho e pelo trabalho relações com o meio no qual estamos inseridos. Uma dialética em espaço tripolar é, segundo Schwartz (2007, p. 257), uma construção de um espaço em que o homem, o mercado e a cidade complementam-se e são indissociáveis para compreendermos “a nossa história no cotidiano”, uma vez que vivemos em uma sociedade mercantil e de direito em que o fator humano é fundamental para a abrangência conceitual dos processos sociais onde o trabalho, por muito tempo, foi tido como forma naturalizada, pensado abstratamente sem o vínculo real entre a atividade do trabalho e daqueles que a exercem. Portanto, o termo atividade se refere, segundo Schwartz (2007, p.297), à: “atividade interior da pessoa no trabalho, a essa efervescência que é invisível, mas largamente responsável pela eficácia do trabalho”. Assim, uma dialética tripolar mobiliza três eixos, a saber: o eixo do polo I (polo das gestões) – que é, segundo o autor, o mais importante, já que é o polo que se refere às gestões que as pessoas fazem de suas atividades em trabalho e, onde acontece o “debate de normas” e, é orientado por valores indimensionávies, isto é, que não temos como mensurar; o eixo do polo II (polo mercantil) – que é o eixo da gestão econômica, orientado por valores mercantis, isto é, por valores quantitativos e o eixo III (polo da politeia) – que é o polo político orientado aos valores sem dimensão. Porém, nos adverte Schwartz (2007, p. 260), que a temporalidade entre esses três campos não são correspondentes entre si, pois “o tempo da atividade não é forçosamente o tempo que aparece no Direito, ou o que entende o mercado”. Esses espaços integrados produzem, segundo o autor, relações dialéticas “extrema e permanentemente tensas” (2007, p.255, grifos nossos):

[...] o polo II que podemos chamar de “polo mercantil”, com todo a sua força atual em nossas sociedades que são mercantis e de direito; - o polo III, que podemos chamar de polo “do direito” ou do político, dos organismos da democracia, que oficialmente se encarrega-se dos valores

que chamamos de “sem dimensão”, em nome dos cidadãos [...]; e, o polo I – o polo das gestões, da atividade humana – que colocaremos em primeiro plano, a fim de que não imaginemos que a história se faz unicamente em face a face entre dois outros polos, o político e o de mercado. O trabalho intelectual, queiramos ou não, tende permanentemente a reforçar este modo de pensar. [...] A ideia de um espaço tripolar, como este, traduz-se por pensar certo número de relações, de tensões. [...] Não há dúvida de que se trata de um esquema de nossas sociedades atuais, que diferem das sociedades paleolíticas, neolíticas, escravagistas e indubitavelmente da sociedade grega do século V a.c. [...] Trata-se de um esquema para o agora, sabendo-se que acontecem evoluções muito rápidas, notadamente junto aos polos II e III, e que isso coloca junto ao polo I - ou seja, junto a nós que vivemos a história na atividade – grandes problemas, que provavelmente irão impactar os dois outros polos.

Assim, o polo I representa o eixo das gestões, do fator humano, no esquema tripolar de Schwartz, é nesse polo que há uma constante e extrema dialética entre as gestões e os dois outros polos, o polo II e o polo III, no que concernem as relações de trabalho na atualidade e, que nos levam sempre a um debate de normas e de valores dimensionáveis ou não.

Contudo, sabemos que ao se referir ao eixo I, ou seja, ao polo das gestões, Yves Schwartz se refere ao processo de atividade do trabalho, porém, o eixo I, das gestões, é o eixo dos saberes, do fator humano e, sendo assim, pode se referir, igualmente, aos reflexos conceituais discursivizados acerca do trabalho no polo II e no polo III que influenciam, mesmo que conceitualmente, o trabalho, o trabalhador e, a constituição discursiva acerca do trabalho no site BoC.

Para uma melhor visualização da dialética em espaço tripolar segue diagrama explicativo adaptado por nós do “Esquema em espaço tripolar” de Schwartz (2007, p. 254):

--- TEMPO ERGOLÓGICO TEMPO DE LONGA DURAÇÃO

TEMPO VOLÁTIL

Diagrama 1: Representação da Dialética em espaço tripolar

LEGENDA:

--- EIXO DO VIVER CONJUNTAMENTE COMO PROBLEMA COMUM:

o Igualdade das pessoas numa sociedade de direito;

o Aplicação de valores sem dinheiro nas gestões de trabalho; o Retratameto de valores a partir da atividade.

EIXO DA ATIVIDADE HUMANA:

o Subsumido a troca mercantil;

o Espaço de confrontação entre as gestões do trabalho e as gestões por indicadores; o Subordinação jurídica e/ou relações hierárquicas.

EIXO DA CONFRNTAÇÃO DOS DIMENSIONAMENTOS:

o Eixo da confrontação dos dimensionamentos e fonte de produção das normas antecedentes: público/mercantil; o O exercício do poder. POLO III POLITEIA POLO I GESTÕES POLO II MERCADO

POLO DAS GESTÕES

•Do trabalho / No trabalho – Os dramas do uso de si nas situações de Trabalho stricto sensu. Temporalidade do acúmulo industrioso.

POLO DO MERCADO

•Orientado aos valores quantitativos, mensuráveis, mercantis. Gestão econômica, financeira, contábil. Temporalidade volátil da circulação monetária.

POLO DA POLITEIA

•Orientado aos valores sem dimensões. A política, a deliberação nos organismos democráticos sobre os bens comuns. Os valores mercantisteoricamente subordinados aos valores sem dimensão. Temporalidade de longa duração para os princípios constitucionais orientado aos valores globais da política.