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Diagrama 1: Representação da Dialética em espaço tripolar

1 CAPITALISMO E TRABALHO DENTRO DA NOVA ECONOMIA DE INFORMAÇÃO E

1.3 Dispositivo jurídico: época pró-patente

Discorreremos neste subitem sobre a época pró-patente que complementará o encadeamento de nossa construção discursiva em que abordamos as novas relações laborais baseadas em uma sociedade do conhecimento e da informação. Com isso, não há como tratar de inovação e criatividade sem se falar em patentes, uma vez que é esta que gera valor dentro da economia intelectual ou cognitiva da nova sociedade do conhecimento e da informação.

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O trabalho imaterial se encontra em um cruzamento (é a interface) desta nova relação produção/consumo. É o trabalho imaterial que ativa e organiza a relação produção/consumo. A ativação é a cooperação produtiva, é a relação social com o consumidor materializada dentro e através do processo de comunicação. É o trabalho imaterial que inova continuamente as formas de condições de comunicação e, por conseguinte, do trabalho e do consumo. Dá forma e materializa as necessidades, o imaginário e os gostos do consumidor. E estes produtos devem, por sua vez, ser potentes produtores de necessidades do imaginário, de gostos (tradução nossa).

Estamos vivenciando uma época em que a inovação e criatividade estão vinculadas ao novo paradigma econômico de geração de valor. Criatividade e inovação representam a sociedade pós-industrial. Com isso, observamos uma reconfiguração de dispositivos de controle econômico regularizado por uma economia pró-patente (GODINHO, 2004), sendo a “propriedade pressuposto básico do modo de produção capitalista” (MENEZES, 2007, p.1). É importante ressaltar que a proteção a esses bens representa para a indústria uma vantagem competitiva. Quando a empresa obtém esse benefício e desenvolve uma tecnologia ou uma inovação de produto ou de processo, isso funciona como um bem negociável no mercado, por esse motivo, se considera a época atual, dentro do campo discursivo jurídico, como época pró-patente. Uma vez depositada uma tecnologia em forma de patente, registro ou marca, esses itens transformam-se em valor e, consequentemente, regulam o capitalismo baseado nas novas tecnologias, em que, dentro do campo discursivo econômico, considera-se de capitalismo intelectual ou cognitivo.

No Brasil, como exemplo de economia pró-patente, podemos mencionar o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional (PACTI) e a Lei de Incentivo à Inovação Aberta (BRASIL, 2004) - da qual falaremos com maior aprofundamento no subitem 1.4 - como exemplos do campo jurídico-político que intervêm no campo econômico. Juridicamente, segundo Godinho (2004), o que se observa nesse campo é o desenvolvimento de uma época pró-patente em que a economia se baseia em um capitalismo intelectual, pois este se ajusta ao sistema jurídico da Propriedade Intelectual. Esta pode ser definida a partir de dois espaços discursivos: Propriedade Industrial e Direito Autoral23.

Segundo Menezes (2007, p.1), o novo paradigma do capitalismo tem ancoragem no monopólio de patentes e em “uma desmedida exploração dos bens intangíveis”, sendo a propriedade “um pressuposto básico, do modo de produção capitalista” que “mercantiliza” o intelecto humano por intermédio de uma valoração de bens intangíveis. Para Lévy (2003, p. 65) estamos, atualmente, diante de uma inversão conceitual do valor, o que coaduna com a perspectiva de Menezes (2007) e, igualmente, com a nossa, pois em época pró-patente, o que se tem é o valor de uso dentro do capitalismo intelectual ou cognitivo e, não mais o valor de troca. Assim, para o autor (2003, p. 63), “todo ato registrável cria efetivamente ou virtualmente informação, ou seja, em uma economia da informação, riqueza”. Ainda, segundo Menezes (2007, p.2), o que se observa hoje no que se refere à propriedade é:

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Nossa pesquisa não tenciona o aprofundamento teórico de tais espaços discursivos e, sim sua delimitação a fim de continuarmos nosso percurso e embasarmos nossa pesquisa.

O conhecimento encarcerado pelas políticas de patenteamentos de mercadorias intangíveis mercantilizadas subjuga a ciência e a tecnologia através da lógica do imediatismo produtivo capitalista. Com essa dinâmica imposta pelo capitalismo de exploração dos bens intangíveis o conhecimento não mais é usufruto do interesse coletivo e tampouco socializável, mas uma voraz máquina destinada à multiplicação da acumulação. [...] Somente nas últimas décadas do século XX é que se passa a fazer presente uma maior atenção à propriedade intelectual, como ativo econômico, independente de seu potencial desenvolvimentista.

Godinho (2004) afirma que a época pró-patente se inicia nos anos 80 com o governo de reação de Ronald Reagan contra a emergência do Japão e de alguns países da Europa, como por exemplo, a Alemanha, que “nos finais da década de 70 aproximou-se do desenvolvimento econômico americano”. Essa aproximação do Japão e da Alemanha deveu-se aos , segundo o autor, fluxos de transferência de tecnologia com origem nos EUA.

Dessa maneira, com a necessidade de proteger a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico americanos, com intuito de defender a vantagem americana em novas tecnologias surgiu o que hoje se considera uma época pró-patente. Com isso, desenvolveram-se, igualmente, diversas ações políticas de direitos de propriedade intelectual, comprovando-se desse jeito, o caráter essencialmente econômico da instituição da propriedade intelectual e, que no Brasil, em nossa concepção, começamos a sentir os efeitos por intermédio de planos políticos e jurídicos, como o PACTI e a Lei de Incentivo à Inovação, temas que abordaremos mais adiante.

A noção de globalização abarca a era pró-patente global, já que várias medidas legais têm sido adotadas no campo jurídico internacional, com isso afirma Menezes (2007, p.2) ao citar Chesnais (1994):

Não é possível desassociar a questão dos direitos de propriedade intelectual (DPI) da crescente mundialização do capital. É um fenômeno que atinge todos os blocos econômicos e de todos os países inseridos nas práticas do comércio internacional.

Um dos marcos do tratado de comércio internacional foi a criação do TRIPS24 (GODINHO, 2004) que é constituído pela Organização Mundial do Comércio- OMC. Para Godinho (2004):

A integração da propriedade intelectual no âmbito do sistema de regulamentação do comércio internacional constitui um passo sem precedentes e ilustra a importância que vem sendo atribuída à temática dos direitos de propriedade intelectual no contexto de globalização econômica que vivemos.

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Acordo sobre os direitos de propriedade intelectual relacionados com o comercio internacional. (GODINHO, 2004).

Mediante isso, as novas economias (SHWARTZ, 2007) têm na pesquisa científica e no desenvolvimento tecnológico, os propulsores da economia mundial. O conhecimento torna-se fundamental para o crescimento econômico das nações que aderem ao protecionismo patentário. Então, para Menezes (2007, p.4, grifo nosso), as patentes criam dimensões econômicas variáveis por intermédio do seu poder de monopólio, assim:

A patente confere a seu titular o monopólio de produtos num determinado território e, por um dado período de tempo. A não utilização da patente é aqui entendida como a ausência de produção no país. [...] Uma patente utilizada ou não, fornece uma vantagem tangível ao país concedente da patente: as taxas pagas pelo requerente.

Em nossa pesquisa será de essencial importância essa passagem por nós grifada: “A não utilização da patente é aqui entendida como ausência de produção no país”, para adentrarmos a seção que tratará das novas relações entre universidades e empresas e, também, para compreendermos como essas novas práticas discursivas estão sendo constituídas e construídas mediante o uso da regulamentação e da formação de comunidades discursivas específicas.

1.4 Dispositivo relacional: época pró-patente e as novas relações universidades /