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Dicas gerais para a implementação de atividades

Capítulo 4 – Compreender os Direitos Humanos

1. Introduzindo a Educação para os Direitos Humanos

3.4 Dicas gerais para a implementação de atividades

As atividades raramente correm exatamente da maneira que esperamos. Essa é a recompen- sa e o desafio de trabalhar com as atividades do Compass. Terão de ser sensíveis ao que está a acontecer e pensar de forma rápida. As principais coisas a lembrar são: definir metas claras e estar preparados e preparadas.

Facilitar em equipa

Se possível, é sempre melhor partilhar as funções de facilitador ou de facilitadora, traba-lhan- do em equipa. Os e as docentes vão reconhecer isto como “ensino em equipa”. Há vantagens práticas no facto de serem duas pessoas a partilhar a responsabilidade de ajudar o trabalho em pequenos grupos ou lidar tendo em conta as necessidades individuais. Quando duas pessoas gerem uma sessão, é mais fácil alterar o ritmo e manter o interesse. Duas pessoas a facilitar podem apoiar-se mutuamente, se as coisas não correm como planeado, e também é mais gra- tificante avaliar como a sessão decorreu em conjunto, em vez de fazê-lo sozinho ou sozinha.

A co-facilitação requer que ambas as pessoas envolvidas preparem a atividade em con- junto e que cada uma tenha a certeza de qual é o seu papel. É ainda melhor desenvolver atividades em equipa, envolvendo preferencialmente os e as jovens.

Preparação cuidada

Certifiquem-se de que leram todas as informações sobre a atividade, de preferência duas ve- zes! Percorram-na mentalmente; tentem visualizar como vai correr. Tentem imaginar como o grupo vai reagir e o que os e as participantes irão dizer. Eles e elas irão inevitavelmente fazer perguntas para as quais não têm as respostas, o que não é mau: não se esqueçam, também estão lá para aprender com as e os participantes. No entanto, devem certificar-se de que estão razoavelmente bem informados e bem informadas, estudando a informação dada.

Certifiquem-se que têm todos os materiais que precisam de entregar, e alguns a mais no caso de aparecerem mais pessoas do que o esperado, ou caso fiquem sem folhas de papel ou sem tinta numa caneta.

Gestão do tempo

Preparem com cuidado e não incluam demasiadas tarefas no tempo disponível. Se a ativi- dade está a levar mais tempo do que esperavam, terão de tentar encurtá-la de modo a que ainda tenham tempo suficiente para debate (ver notas sobre o ciclo de aprendizagem, pági- na 34). Muitas vezes, é uma boa ideia envolver os e as participantes na decisão, por exemplo, sobre fazer um intervalo imediatamente, em cinco minutos ou sobre como arranjar uma outra solução para o problema da falta de tempo

Por outro lado, se tiverem muito tempo disponível, não tentem arrastar o debate, façam uma pausa ou uma atividade dinamizadora rápida para se divertirem.

Criar um ambiente seguro

Os e as jovens que trabalham convosco devem estar à vontade para explorar e descobrir, para interagir e partilhar entre eles e entre elas. Sejam autênticos e autênticas, amigáveis, motivadores e motivadoras e de bom humor. Não utilizem jargão ou linguagem que as e os participantes não entendem. As pessoas sentem-se seguras quando sabem o que está a acontecer, por isso a forma como introduzem uma atividade é importante. Não devem simplesmente começar do nada; têm de dar contexto à atividade. Uma boa maneira de fazer isso é usar um quebra-gelo.

Definir regras básicas

É importante que todos e todas no grupo compreendam as regras básicas para atividades vivenciadas e participadas. Por exemplo, toda a gente deve assumir a sua parte da responsa- bilidade para a sessão; todos e todas devem ter a oportunidade de ser ouvidos e ouvidas, de falar e de participar. Ninguém deve sentir-se sob pressão para dizer alguma coisa com a qual não se sente confortável. Estas regras básicas devem ser debatidas e acordadas assim que começarem a trabalhar com uma turma ou um grupo, e poderá ser bom revê-las de vez em quando, especialmente quando se juntam novas pessoas ao grupo.

Dar instruções claras

Certifiquem-se sempre que todos os e todas as participantes compreenderam as instruções e sabem o que têm de fazer. Ajuda começar por explicar, em termos gerais, o que é a atividade e o que envolve, por exemplo, que a atividade é uma dramatização. Informem as pessoas sobre quanto tempo têm para completar uma determinada tarefa e dêem-lhes um aviso cinco minutos antes de o tempo acabar para poderem terminar.

Facilitar o debate

O debate é fundamental para o processo de EDH. Prestem especial atenção de forma a ga -rantir que todas as pessoas no grupo possam participar, se assim o desejarem. Usem palavras, expressões e linguagem comum para o grupo e expliquem as palavras com as quais não estão familiarizados e familiarizadas; há um glossário na página 620. Convidem as e os participantes a partilhar as suas opiniões e certifiquem-se de que há um equilíbrio em relação aos aspetos glo- bais e aos aspetos locais, para que os e as participantes percebam de que maneira as questões levantadas são relevantes nas suas vidas.

Às vezes, o debate “encalha” e é importante identificar a causa que poderá ser, por exemplo, porque o tema já se esgotou ou porque é muito emocional. É importante que de- cidam se desejam desafiar o grupo com uma pergunta, mudar de rumo ao debate ou seguir

em frente. Não sintam que têm de ser vocês, enquanto equipa de facilitação, a dar as respos- tas às questões e aos problemas dos e das participantes; o próprio grupo deve encontrar as suas próprias respostas através da escuta e da partilha mútua. Os e as participantes podem, é claro, pedir a vossa opinião ou conselho, mas o grupo deve tomar suas próprias decisões.

Debriefing e avaliação

Nenhuma atividade do Compass está completa sem o debriefing e a avaliação; esta parte da atividade fornece as chaves para a aprendizagem e ajuda os e as participantes a colocar o que aprenderam num contexto mais amplo. Deem-lhes tempo suficiente para completar a atividade e, se necessário, reservem algum tempo para que saiam do papel que estavam a desempenhar antes de debaterem o que aconteceu e o que aprenderam. Passem algum tempo no final de cada atividade a falar sobre o que as pessoas aprenderam e como isso se relaciona com as suas vidas, com a sua comunidade e com o mundo em geral. Sem reflexão, as pessoas não aprendem muito com suas experiências.

Sugerimos que tentem passar pelo processo de esclarecimento e avaliação em sequência fazendo perguntas relacionadas com:

• o que aconteceu durante a atividade e como se sentiram

• o que os e as participantes aprenderam sobre si mesmos e sobre si mesmas

• o que aprenderam sobre as questões abordadas na atividade e os Direitos Humanos relacionados

• como podem avançar e usar o que aprenderam.

Revisões

A avaliação periódica ou exame do que estão a fazer e a aprender é importante porque ajuda a obter uma imagem geral de como as coisas estão a correr, o que permitirá melhorar a vossa prática. O melhor momento para avaliar depende das circunstâncias: pode ser no final do dia num seminário ou no fim de uma série de duas ou três aulas ou sessões.

Sempre que revirem, devem alocar algum tempo para relaxar, descansar e refletir sobre: • Como correu a atividade do vosso ponto de vista: a preparação, o tempo e assim por

diante

• As aprendizagem dos e das participantes e se atingiram os objetivos de aprendizagem • Quais são os resultados: o que o grupo vai fazer agora como resultado das atividades

que fizeram

• O que, como facilitadoras e facilitadores, aprenderam sobre as questões e sobre como facilitaram.

A revisão periódica com o grupo também é importante e deve ser divertida, por isso evitem transformar os vossos comentários noutro debate, especialmente se já tiverem usado uma quantidade considerável de tempo no debriefing e na avaliação. Vão encontrar várias técni- cas, incluindo aquelas que usam linguagem corporal, desenhos e escultura no Capítulo 2, sob o título “Atividades de revisão” na página 350.

Ritmo

A maioria das atividades pode ser concluída no prazo de 90 minutos pelo que não será muito difícil gerir o ritmo. No entanto, fazer pausas curtas, por exemplo, entre a própria atividade e o debriefing, ou entre o debriefing e a discussão da fase de seguimento, pode ser útil para manter as pessoas envolvidas. Se a energia estiver a diminuir poderão utilizar uma atividade dinamizadora. Lembrem-se também que é importante que as pessoas tenham tempo para descontrair e relaxar depois de fazer uma atividade.

Sem reflexão, as pessoas não aprendem muito com as suas experiências.

Dar feedback

O retorno ou feedback é um comentário sobre algo que alguém disse ou fez. Dar e receber feedback é uma capacidade importante e vão precisar de ajudar os membros do grupo a aprender a fazê-lo. Muitas vezes, o feedback é recebido como uma crítica destrutiva, mesmo que não tenha sido essa a intenção. As palavras-chave no que diz respeito aos comentários são “respeito”, “argumentos” e “concreto”.

Ao dar retorno, é importante respeitar a outra pessoa, concentrar-se no que disseram ou fizeram e dar razões para o vosso ponto de vista. Poderão dizer “Eu discordo com o que acabaste de dizer, porque ....”. Dar feedback negativo é fácil para muitas pessoas, o que pode ser doloroso. O vosso papel como facilitadores e facilitadoras é encontrar formas de garantir que as pessoas dão feedback de forma solidária. Por exemplo:

• garantir que as pessoas começam a dar o retorno com uma declaração positiva, • respeitar a outra pessoa e não fazer quaisquer comentários depreciativos, • falar do comportamento, não da pessoa,

• justificar o que estão a dizer e

• assumir a responsabilidade por aquilo que dizem.

Receber feedback é difícil, especialmente quando há discordância. O vosso papel é o de ajudar os e as jovens a aprender com as suas experiências e ajudá-los e ajudá-las a sen- tirem--se apoiados e apoiadas e não rebaixados e rebaixadas. Incentivar as pessoas a ouvir atentamente o feedback, sem se defenderem logo é particularmente importante, tal como é muito importante que se entenda exatamente o que a pessoa que dá feedback quer dizer, dando à pessoa em questão tempo suficiente para avaliar o que foi dito antes de o aceitar ou de o rejeitar.

Resistência dos e das participantes

Estar envolvido ou envolvida em atividades participativas é muito exigente e ainda que se utilizem várias técnicas, (por exemplo, o debate, o desenho, a dramatização ou a música) é inevitável que nem todas as atividades agradem sempre a todos os e todas as participantes. Se um ou uma participante for capaz de explicar por que não gosta de uma determinada atividade, será possível responder às suas necessidades através do diálogo e da negociação.

Por “resistência”, queremos dizer um comportamento que é propositadamente pertur- bador. Todos os facilitadores e todas as facilitadoras vivem momentos de resistência dos e das participantes num momento ou noutro. A resistência pode assumir diversas formas, por exemplo, um jovem inseguro pode perturbar fazendo barulho com a cadeira, cantarolando ou falando com o seu vizinho mas existem também formas mais subtis de interromper a sessão como fazer perguntas irrelevantes ou tornar tudo uma piada. Outro “jogo” que os e as resistentes jogam é o de “minar quem facilita”, dizendo, por exemplo, “não entendes o que é ser jovem, já passou muito tempo…”, ou “fazemos o que queres que seja exceto mais debates, por que não podemos fazer só as atividades?”. Um terceiro tipo de “jogo” é tentar evitar a aprendizagem, por exemplo, quando as pessoas dizem “sim, mas ....”.

Obviamente, a melhor opção é conseguirem evitar a resistência, por exemplo, tendo noção de cada pessoa do grupo e de todas as emoções que podem ser desencadeadas por uma determinada atividade ou por uma parte específica duma dramatização ou simulação. Certifiquem-se de que toda a gente se sente segura e sabe que não têm de se sentir sob pressão em nenhum momento. É importante dar às e aos participantes tempo para aquece -rem, antes de qualquer atividade, e para relaxar, depois da atividade.

Por fim, lembrem-se de dar tempo suficiente para o debriefing e debate, para que todos e todas sintam que a sua opinião e a sua participação é valorizada.

Cada facilitador e facilitadora ou equipa terá de decidir por si qual é a melhor maneira de lidar com uma situação difícil, tendo em consideração que geralmente a melhor maneira de resolver o problema é trazê-lo à tona e pedir ao grupo, como um todo, que encontre uma solução. Na maioria dos casos, não é útil entrar em debates longos com um único membro do grupo, pois pode causar ressentimentos e frustrações entre o resto do grupo e levá-los e levá-las a perder o interesse.

Gestão de conflitos

O conflito pode ser útil e criativo, se gerido de forma adequada; na verdade, é um ingredien- te inevitável e necessário da EDH! O desacordo e a emoção são inevitáveis ao tratarmos de questões de Direitos Humanos, porque as pessoas veem o mundo de forma diferente e as suas crenças, suposições e preconceitos são postos em causa. O conflito como parte da Edu- cação para os Direitos Humanos dá a oportunidade de desenvolvimento de capacidades e de atitudes como pensamento crítico e cooperação, empatia e sentido de justiça.

Os conflitos são difíceis de prever e podem ser difíceis de resolver, especialmente se surgirem porque os e as participantes se sentem inseguros e inseguras na negociação de questões relacionadas com as emoções e os valores, se não tiverem competências suficientes para o trabalho em grupo ou se tiverem abordagens totalmente diferentes face à questão ou valores diferentes. Tentem manter a calma e não se envolvam em conflitos entre mem- bros do grupo.

As atividades do Compass são destinadas a fornecer experiências de aprendizagem num ambiente seguro. Escolham-nas com cuidado e adaptem-nas conforme necessário; usem-nas para extrair diferentes opiniões dos e das participantes sobre as questões; certifiquem-se que sabem que o desacordo é perfeitamente normal e que a universalidade dos Direitos Humanos não significa que todos e todas os vemos da mesma forma.

Algumas dicas:

• Tirem tempo suficiente para esclarecimentos e para o debate, alargando o tempo para esta atividade, se necessário

• Ajudem a clarificar as posições, opiniões e interesses das e dos participantes.

• Aliviem as tensões no grupo, pedindo a toda a gente, por exemplo, que se sente ou que fale durante três minutos em pequenos subgrupos ou dizendo algo para colocar a situação em perspetiva.

• Incentivem as e os participantes a ouvir ativamente as outras pessoas. • Realcem o que une as pessoas e não o que as separa.

• Procurem o consenso. Levem as pessoas a olhar para os seus interesses comuns ao invés de tentar o compromisso e partir apenas das suas posições.

• Procurem soluções que possam resolver o problema sem “recriar” o conflito. • Ofereçam-se para falar com as pessoas envolvidas em particular noutra altura. Se surgirem conflitos mais graves e mais profundos, pode ser melhor adiarem a solução e procurarem outra oportunidade mais adequada para resolver o problema. Entretanto, pode- rão considerar a forma de abordar o conflito a partir de outro ângulo. Além disso, ao adiarem uma tentativa de resolução do conflito, dão tempo às pessoas envolvidas para refletir sobre a situação e chegar a novas abordagens e soluções.

Os conflitos que surgem no grupo e as formas de os resolver podem ser usados para de- senvolver a compreensão de novas perspetivas sobre as causas e as dificuldades de conflitos no mundo mais amplo. O inverso também é verdade; a discussão sobre conflitos internacio- nais pode dar novas visões dos conflitos que estão mais perto.

O conflito é uma dimensão inevitável e necessária da EDH.