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Diferenças entre leigos e profissionais na perceção da maloclusão

ORTODÔNTICO NA ATRATIVIDADE DA FACE

P: perfil; D desvio-padrão; T1: antes do tratamento ortodôntico; T2: depois do tratamento

4. INFLUÊNCIA DO SORRISO NA ATRATIVIDADE DA FACE

4.1.2 Diferenças entre leigos e profissionais na perceção da maloclusão

A auto-perceção da aparência dentária é influenciada não só por princípios estéticos presentes na sociedade, mas também por fatores psicológicos e normas pessoais (Espeland e Stenvik 1991). Como é expectável, quando a vista frontal da dentição em jovens adultos é esteticamente pior, estes apresentam uma maior preocupação em ocasiões sociais e menor auto-confiança no que concerne à aparência dentária (Klages, Bruckner e col. 2004). No entanto, a preocupação varia com a quantidade de auto-consciência individual e social, própria de cada um (Klages, Bruckner e col. 2004). Indivíduos com um nível elevado de auto- consciência individual, monitorizam constantemente os seus pensamentos e sentimentos, tendo a tendência para exagerar nas suas emoções. Estão mais frequentemente auto-conscientes, conhecem melhor a sua própria personalidade e sofrem mais auto-criticismo e auto-insatisfação. Indivíduos com uma auto- consciência social elevada, centram-se no impacto social dos seus comportamentos e na sua aparência, podendo ser mais suscetíveis a sentir vergonha e a diminuir drasticamente a sua autoestima, quando apresentam desvios mínimos do normal. Procuram constantemente a aprovação dos outros, são sensíveis a possíveis críticas ou rejeição e suscetíveis de sofrer de ansiedade social. Os conceitos de auto- consciência individual e social não se opõem, são antes complementares. Sujeitos mais conscientes de si próprios demonstram maior preocupação social com a sua aparência. Este conceito pode explicar que existam indivíduos com maloclusões dentárias que se encontram perfeitamente satisfeitos com a sua aparência, enquanto outros expressam preocupação na presença de pequenas irregularidades. Os

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indivíduos com uma auto-consciência social elevada e com maloclusão são os mais comprometidos na auto-confiança relativa aos dentes. Interessa assim saber se a auto-perceção e a consciência social podem provocar divergências de opinião, para a mesma imagem frontal da dentição, entre leigos e profissionais na área da medicina dentária (Klages, Bruckner e col. 2004).

Quando profissionais determinam a necessidade de tratamento ortodôntico, a forma como se apresenta a maloclusão influencia a decisão tomada. Um trabalho de Sherlock e colaboradores demonstrou que, quando três ortodontistas e três estudantes do ensino pós-graduado avaliaram a necessidade de tratamento ortodôntico através de fotografias extra-orais (perfil, frente em repouso, frente a sorrir e perfil a três quartos) e através de modelos de estudo, esta foi maior quando se observaram os modelos (Sherlock, Cobourne e col. 2008). Para os leigos, a sensibilidade em determinar a necessidade de tratamento ortodôntico relaciona-se mais com a presença de uma atitude positiva em relação à região dentofacial, do que com a gravidade da maloclusão (Phillips e Beal 2009). Mesmo num grupo de pacientes tratados com ortodontia combinada com cirurgia ortognática para corrigir problemas mandibulares, a perceção da atratividade do perfil através de silhuetas manipuladas para diferentes graus de retrognatismo e prognatismo foi semelhante, antes e depois da cirurgia ortognática (Naini, Donaldson e col. 2013).

A análise da literatura revela-nos alguns estudos feitos em crianças e em adultos, cujo objetivo foi comparar a avaliação da estética dentária feita por leigos e por médicos dentistas. Espeland e colaboradores, investigaram a auto-perceção da oclusão em 93 crianças norueguesas, com idades compreendidas entre os 9,8 e os 11,6 anos, selecionadas ao acaso (Espeland, Ivarsson e col. 1992). Após responderem a um inquérito com seis questões sobre o alinhamento dos seus dentes – relacionadas com diastemas, apinhamento, irregularidades na posição dos incisivos e a sobremordida horizontal aumentada – verificou-se que a concordância entre leigos e ortodontistas dependia da severidade da maloclusão. Para características que se enquadram em maloclusões pronunciadas, a concordância foi de 72%, baixando para 56% quando estão presentes características de uma maloclusão ligeira a moderada. A presença de apinhamento na arcada superior foi o problema mais facilmente reconhecido (77%), enquanto que a irregularidade dos incisivos foi o problema que registou o menor reconhecimento (61%). No que concerne à posição normal dos dentes, houve uma concordância de 78% entre leigos e profissionais da área da

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A satisfação com o alinhamento dentário foi avaliada num grupo aleatório de adolescentes finlandeses, entre os 15 e 16 anos, através de um questionário (Pietila e Pietila 1996). Foi encontrada uma elevada concordância, de 81%, entre a satisfação dos adolescentes e a avaliação profissional, feita através do componente estético do índice de necessidade de tratamento ortodôntico (CE-INTO). Contudo, 47% dos indivíduos de um subgrupo que necessitava de tratamento ortodôntico, encontravam- se ainda assim satisfeitos com a aparência dos seus dentes. Num estudo semelhante ao anteriormente citado, mais recente, participaram 84 crianças polacas com cerca de 12 anos de idade (Grzywacz 2003). A estética dentária foi avaliada através do CE- INTO pelas crianças e por um ortodontista, tendo a concordância absoluta entre os dois grupos sido de 42%. Tendo em consideração que o CE-INTO apresenta dez fotografias com níveis diferentes de maloclusões, pode considerar-se que esta concordância é relativamente elevada (Klages e Zentner 2007). No entanto, aproximadamente 27% das crianças estudadas consideraram a sua dentição um nível pior e 16% um nível melhor que aquele considerado pelo ortodontista.

Em relação aos adultos, Espeland e Stenvik da Universidade de Oslo, investigaram uma amostra constituída por indivíduos entre os 17 e os 20 anos, através de questionários sobre a auto-perceção da oclusão e sobre o grau de satisfação e atitudes relativas à aparência dentária (Espeland e Stenvik 1991). Tal como estes autores também fizeram para um grupo de crianças, num estudo já referido (Espeland, Ivarsson e col. 1992), além dos questionários foram realizados modelos de estudo, nos quais foram aferidas por ortodontistas uma série de variáveis oclusais, tendo-se dividido os sujeitos em três grupos – grupo com maloclusão, grupo com desvio mínimo e grupo perto da oclusão ideal.Mais uma vez, a presença de diastemas entre os incisivos superiores foi o problema mais facilmente reconhecido por leigos, com uma concordância entre 79% e 100%, que variou consoante a gravidade da maloclusão. No geral, para todos os fatores oclusais combinados, a concordância foi de 55% para pequenos desvios da oclusão ideal, 68% para maloclusões moderadas a severas e 91% para a oclusão perto do ideal, o que demonstra uma concordância elevada entre o que é considerado ideal pelos

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profissionais e a auto-perceção e satisfação dos indivíduos com fatores oclusais excelentes.

Na Suécia, foi realizado um estudo também com entrevistas, questionando se a pessoa estava consciente de ter ou não uma maloclusão ou um mau posicionamento dentário (Salonen, Mohlin e col. 1992).Seiscentos e sessenta e noveindivíduos com mais de 20 anos de idade, foram entrevistados e observados por um médico dentista treinado por dois ortodontistas experientes. Daqueles que apresentavam necessidade de tratamento ortodôntico, apenas 25% estavam conscientes do seu problema dentário, sendo essa sensibilidade maior no sexo feminino e na faixa etária entre os 20 e os 39 anos de idade. A maior taxa de concordância (37%) foi obtida em mulheres com menos de 40 anos. Um outro estudo em adultos, na Finlândia, encontrou uma concordância maior, na ordem dos 45%, em 60 jovens adultos entre os 18 e os 19 anos de idade (Kerosuo, Kerosuo e col. 2000). Nesta investigação, a avaliação foi feita com base no componente estético do índice de necessidade de tratamento ortodôntico. Trinta e oito por cento dos indivíduos sobre-avaliaram as duas dentições relativamente à opinião de um ortodontista, ou seja, consideraram a sua oclusão pior, enquanto que para 17% dos indivíduos, se registou uma sub- avaliação.

Em suma, de uma forma geral, existe uma taxa de concordância relativamente alta entre profissionais e leigos no que diz respeito à estética dentária, concordância que é superior à obtida quando se avaliam outros componentes da atratividade física global (Klages e Zentner 2007). A consciência da aparência dentária é semelhante entre crianças e adultos, havendo, de uma forma geral, uma auto-perceção adequada em 50% dos casos. Dois terços dos leigos reconhecem a presença de uma maloclusão severa mas, ainda assim, um terço dos indivíduos sobre-avalia o seu problema.

4.1.3 Sensibilidade individual à aparência dentária e satisfação