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DIFERENTES PERSPETIVAS DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL

No documento EMPREENDEDORISMO SOCIAL: (páginas 31-34)

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1. EMPREENDEDORISMO SOCIAL

1.3 DIFERENTES PERSPETIVAS DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Devido à falta de um paradigma unificador, surgem várias abordagens e diferentes Escolas de Pensamento em todo o mundo (Bacq & Janssen, 2011), onde fica evidente que o conceito de empreendedorismo social está pouco definido (Mair & Martí, 2006) e não é facilmente classificável, sendo chamado de “híbrido” (Santos, 2012, p.338), combinando elementos de empreendedorismo comercial e organizações do setor social (Dees, 1998b). Alguns autores consideram benéfico a abordagem inclusiva para o desenvolvimento do campo académico do empreendedorismo social (Nichols, 2006), pois enquanto existir muita sobreposição entre os domínios convencional, institucional e cultural do empreendedorismo social, também existirão várias oportunidades distintas para os pesquisadores nesta área, na medida em que, os estudiosos e praticantes do empreendedorismo social, tanto podem obter ideias através das aprendizagens do empreendedorismo

convencional, como das relacionadas ao fracasso empresarial, ou através da perceção dos estudiosos do empreendedorismo institucional e cultural relativamente aos processos de mobilização de recursos. Sendo assim, os avanços adicionais nesta área, ampliarão a compreensão deste fenómeno, o que facilitará o desenvolvimento de estratégias de gestão para auxiliar os empreendedores sociais (Dacin, Dacin & Matear, 2010). Mas outros autores defendem que se o conhecimento do empreendedorismo social for desenvolvido através da elaboração de teorias mais nítidas sobre os conceitos-chave, o campo será melhor servido e poderá competir por atenção e validação (Santos, 2012; Christie & Honing, 2006).

Na Teoria Positiva sobre o Empreendedorismo Social afirma-se que a dicotomia entre valor económico e social provoca dilemas adicionais para o desenvolvimento da teoria. Esse dilema surge porque a criação de valor económico é intrinsecamente social, sendo que as ações que geram valor económico também melhoram a qualidade de vida da sociedade. Note-se também que o valor económico é mais restrito que o valor social, visto que se aplica apenas a benefícios que podem ser medidos monetariamente, enquanto o valor social inclui benefícios intangíveis que desafiam a sua medição. Cria-se então um “dilema metodológico, porque a sua implicação lógica é a necessidade de desenvolver uma teoria baseada em elementos que, por definição, não são facilmente mensuráveis” (Santos, 2012, p.340). O empreendedorismo social preocupa-se com a sustentabilidade para as pessoas e para o planeta, traduzido em boas condições de vida para todos, (Muscat & Whitty, 2009), com a combinação de novos recursos que criam valor social (Smith & Woodworth, 2012), permitindo conciliar os avanços tecnológicos e outros progressos, através de soluções sustentáveis para problemas que não têm sido atendidos (Santos, 2012). Deste modo, o empreendedorismo social é “uma inevitabilidade comportamental das sociedades contemporâneas” (Almeida & Santos, 2016, p.461), operando como motor de um constante processo de renovação e de inovação social. No entanto, querer melhorar o mundo, através do empreendedorismo social será uma utopia da sociedade contemporânea? Lazzarato (2006) afigura o capitalismo como “captura da proliferação de mundos possíveis (…) a empresa que produz um serviço

ou uma mercadoria cria um mundo” (p.99). Então é importante compreender a noção de mundos possíveis,

tendo em consideração o momento em que vivemos (o presente) e o futuro, nos quais o empreendedor social assume o papel de agente de mudança social. Segundo Andersen (2005), surge dessa forma a criação de uma comunidade imaginada “assente na transformação, pelo caráter de contornos revolucionários, incorporados à retórica que conjuga o capitalismo com uma visão utópica, por mais paradoxal que possa parecer essa combinação” (citado por Casaqui, 2015, p. 50). De acordo com Morus (2001)

Um dos requisitos para o sucesso do empreendedorismo social é a integração de valores relacionados com uma cultura antiga baseada na caridade com uma visão moderna de uma cultura empreendedora para a solução de problemas (Dees, 2012). Em particular, o empreendedorismo social combina perspetivas inovadoras de negócios com fins sociais (Peredo & Mclean, 2006; Mair & Martí, 2006; Chell, 2007). A abordagem inovadora é considerada um critério importante para o sucesso dos empreendedores sociais (Kramer, 2005), os quais têm sido reconhecidos por contribuírem para a riqueza social, económica, cultural e ambiental (Shaw & Carter, 2007). Todas essas abordagens destacam a ligação entre o empreendedorismo social e o desenvolvimento

Na Utopia, as leis são pouco numerosas; a administração distribui indistintamente os seus benefícios por todas as classes de cidadãos. O mérito é ali recompensado; e, ao mesmo tempo, a riqueza nacional é tão igualmente repartida que cada um goza abundantemente de todas as comodidades da vida (p.66).

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económico e social, bem como a inovação, a orientação empreendedora e a mudança social (Kramer, 2005; Perrini, Vurro & Costanzo, 2010). Nesse sentido, será necessária uma inovação potencialmente radical (Austin et al., 2006; Witkamp, Raven & Royakkers, 2011) em termos programáticos e fiscais (Harding, 2004; Roberts & Woods, 2005) para resolver questões sociais mais amplas. Existe também um grande interesse institucional e político no papel do desenvolvimento local e regional das empresas sociais (Chell, Karatas-Ozkan & Nicolopoulou, 2007; Haugh, 2007) que defende que o empreendedorismo social pode ser "um gerador de desenvolvimento económico socialmente orientado", dependendo do apoio do estado (Kostetska & Berezyak, 2014).

A definição de empreendedorismo social, de acordo com o Nordic Council of Ministers (2015), está ligada a 3 questões, nomeadamente inovação social, empreendedorismo social e empresa social.

1) Inovação Social

Considera-se que a inovação surge na maioria das definições (Dees et al., 2002; Austin et al., 2006; Nichols, 2006; Light, 2006) e o seu estado da arte em termos teóricos assume a inovação social como a integração de processo e resultado (Moulaert et al., 2013), ou seja, a mudança das relações sociais que trazem inovação e também o produto da própria inovação (Moulaert et al., 2005). Neste ponto, a maioria dos exemplos de empreendedorismo social têm como parceiros os agentes da sociedade civil, através de organizações voluntárias ou grupos de cidadãos que pretendem fazer a diferença (Hulgård & Ferranini, 2010). De acordo com Schumpeter (1934), não é a própria invenção que pode ser caracterizada como empreendedorismo, mas sim a sua implementação prática, visto que enquanto não forem realizadas na prática, as invenções são economicamente irrelevantes;

2) Empreendedorismo Social

Relaciona-se o empreendedorismo social à inovação social, embora os 2 fenómenos não sejam os mesmos. Os debates sobre empreendedorismo social e empresa social são criticados por ofuscar a inovação social com terminologia restrita de economia de mercado (Moulaert et al., 2013), sendo que se identificou uma lacuna entre as clássicas teorias sociais da mudança e as novas análises da inovação social, nas quais a economia de mercado representa uma estrutura importante para a compreensão do fenómeno e os empreendedores sociais e as empresas sociais são a principal ferramenta para gerar inovação, o que ignora o papel decisivo dos movimentos sociais ao longo da história na criação de mudança;

3) Empresa Social

Relaciona-se o empreendedorismo social com a empresa social, embora não sejam os mesmos conceitos. Considera-se que o empreendedorismo social seja um conceito amplo sobre a criação de medidas inovadoras para ajudar pessoas necessitadas, enquanto a empresa social consiste em fazê-lo através de meios comerciais (Yunus, 2007). De acordo com Dees, Emerson & Economy (2001), o empreendedorismo assenta na criação de novas e melhores formas de criação de valor social, e não na criação de um negócio. O foco está na mudança social e na criação de valor social, estando ligado à inovação social clássica. Partindo de diferentes objetivos

principais, todas as organizações devem atender às necessidades económicas, sociais, ecológicas e psicológicas

dos seus stakeholders2 através da criação de valor, a qual consiste na característica diferenciadora do

empreendedorismo social (Mort, Weerawardena & Carnegie, 2003). Enquanto o empreendedorismo social observa as partes interessadas como o “resultado” e a empresa social como o “meio” do empreendedorismo, o empreendedorismo económico tem uma perspetiva oposta e trata as partes interessadas como o meio para adquirir capital financeiro (Ridley-Duff & Bull, 2013).

Segundo a abordagem de Santos (2012), os empreendedores sociais criam valor, mas não são motivados pela apropriação desse valor. Há uma distinção entre criação de valor e apropriação de valor nas diferentes motivações comportamentais das organizações de negócios, o que permite o desenvolvimento de uma teoria do empreendedorismo social assente nos paradigmas estabelecidos na organização económica e que não utiliza a repetição do conceito “social”, sendo que a criação de valor é uma condição necessária para a apropriação sustentável de valor. Neste caso, a criação de valor surge quando a utilidade dos membros da sociedade aumenta após contabilização dos recursos usados nessa atividade, e a apropriação de valor acontece quando o agente é capaz de reter uma parte do valor criado pela atividade (Mizik & Jacobson, 2003). Existem várias abordagens relativamente ao conceito de empreendedorismo social, bem como aos conceitos relacionados com empreendedor social e empresa social. Os Anexos A, B e C apresentam algumas dessas abordagens. No entanto, ainda existem algumas questões que têm de ser esclarecidas, de forma a clarificar o conceito de empreendedorismo social, questões do foro ligado à avaliação, à legislação, tipos de política social, combinação de aptidões e habilidades apropriadas (Peredo & Mclean, 2006).

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