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IMPACTO ENCONÓMICO-SOCIAL

No documento EMPREENDEDORISMO SOCIAL: (páginas 34-37)

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1. EMPREENDEDORISMO SOCIAL

1.4 IMPACTO ENCONÓMICO-SOCIAL

A medição do impacto social tem sido objeto de vários estudos (Clifford, Markey & Malpani, 2013) e nos últimos 20 anos diferentes metodologias têm vindo a ser desenvolvidas, abrangendo diferentes pontos de vista, diferentes áreas de prestação de serviços, diferentes jurisdições e necessidades de diferentes grupos de interesse. Vários autores defendem que existem tópicos comuns e ao mesmo tempo grandes diferenças. Têm vindo a ser feitas várias tentativas para encontrar uma metodologia suficientemente abrangente, mas ainda continua a ser um campo de investigação muito pouco explorado (Bahena-Álvarez, Cordón-Pozo, & Delgado-Cruz, 2019). Hoje as empresas sociais sentem grande pressão para evidenciar o seu valor social para atrair financiamento, dado que também cada vez há mais empresas a atuar no mesmo setor. Alguns desses fatores passam por ter que mostrar: a necessidade social, as restrições do financiamento público, a legislação, a evolução do pensamento, a alteração do cenário de entrega de valor, a mudança da paisagem do financiador e o crescimento da cultura de medição na formulação de políticas públicas na vida pública (Clifford et al., 2013).

Existem muitos estudos que tentam medir os resultados provenientes do comportamento social proactivo, como elemento definidor do empreendedorismo social (Nichols, 2006; Kania & Kramer, 2011). Alguns trabalhos comparam as atividades de vários setores, sugerindo que os investigadores tendem a ver o impacto social como um constructo generalizável que só pode ser comparado entre organizações que operam em contextos muito semelhantes (Liston-Heyes & Ceton, 2009). Outros autores, entre os quais Salazar, Husted, &

2 Stakeholder é qualquer pessoa ou grupo que pode afetar (ou ser afetada) pela concretização dos objetivos de uma organização. Stakeholders são elementos a ter em consideração no planeamento estratégico das organizações, sendo também designados por grupos de interesse ou partes interessadas (PI) (Friedeman & Miles, 2006).

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Biehl (2012), exploram fatores que supostamente contribuem para o impacto social dentro de uma indústria única e/ou entre uma população de organizações que procuram iniciativas pró-sociais semelhantes, direcionando uma abordagem de atividade de setor único. Outros, ainda, conceituam o impacto social como um resultado que pode ser medido e comparado em vários contextos, adotando uma abordagem de resultados multissetoriais, conectando o impacto social às práticas ou teorias existentes, incluindo partes interessadas e teoria económica da utilidade (Marom, 2006). Há também quem defenda que a abordagem dos resultados se concentra num ou mais tipos de resultados sociais num contexto específico, impulsionados pelo pressuposto de que os resultados em cada setor são únicos e, portanto, difíceis ou impossíveis de comparar com os outros setores (Brickson, 2007).

De acordo com Khandker et al. (2010), um tópico que está a ser cada vez mais investigado é como medir o impacto social, visto que é um passo óbvio para as organizações que visam um objetivo social. Embora a literatura sobre impacto social seja vasta, não há uma forma ideal de o obter. Uma das principais questões é definir claramente relações de causa-efeito e isolar outras causas que podem ter sido a causa do impacto social. O processo de inovação social e principalmente a mensuração do impacto social são temas que devem ganhar mais importância devido ao seu papel central no setor que busca um maior nível de profissionalismo e impacto. Investidores, empreendedores e pesquisadores ainda têm um longo caminho a percorrer para definir processos de inovação social e avançar em metodologias para medir o impacto social (Barki et al., 2015).

1.4.1 ALGUNS EXEMPLOS

Para entender por que as organizações da economia social alcançam um impacto social e económico positivo, é útil considerar a razão pela qual elas surgem. Sendo que o impacto social dessas organizações é, portanto, uma consequência direta da sua missão e da sua estrutura, na medida em que o envolvimento das partes interessadas na gestão da organização garante que a organização permaneça fiel aos interesses dos seus membros e da sua comunidade (Comissão Europeia, 2013). Assim, a contribuição significativa da economia social para o desenvolvimento económico e para o bem-estar foi confirmada pela recente crise económica. Os dados concretos sobre a economia social e as organizações que a compõem são difíceis de encontrar, devido à falta de padronização dos tipos de organizações nos países e à pouca atenção que as entidades de estatística dispensam a esse tipo de organizações.

De acordo com Birchall & Ketilson (2009), há uma ampla evidência histórica da resiliência do modelo de negócios cooperativo em tempos de crise. Desde a Grande Depressão nos Estados Unidos e o colapso dos preços da Suécia nos anos 30, até à reestruturação industrial na Europa Ocidental nas décadas de 1970 e 1980, a criação de cooperativas sempre foi uma das formas mais eficazes de preservar os rendimentos e o emprego. Por sua vez, a economia social na França, que representa 9,9% de todo o emprego assalariado, criou 18% de todos os novos empregos entre 2006 e 2008. Entre 2008 e 2009, o emprego na economia social aumentou 2,9%, com a criação líquida de 70 mil empregos remunerados, em comparação com uma queda de 1,6% no restante do setor privado e de 4,2% no setor público (Fauer, 2012). Na Espanha, o emprego em cooperativas está a recuperar-se mais rapidamente do que noutras empresas, sendo que após a queda em 2008-2009 e a estagnação em 2010, o emprego em cooperativas de trabalhadores cresceu 4,7% em 2011, enquanto noutras empresas continuou a decrescer pelo quarto ano consecutivo (Roelants, et al., 2012). Num estudo realizado em 2009 consta que no empreendedorismo social esteja envolvida 7,5% população ativa na Finlândia, 5,7% no Reino

Unido, 5,4% na Eslovénia, 4,1% na Bélgica, 3,1% na França e 3,3% em Itália. Na Europa, cerca de 1 em 4 empresas criadas são empresas sociais, sendo consideradas muito produtivas e competitivas (Terjesen et al.,2009, citado por Comissão Europeia, 2011b).

De acordo com a Comissão Europeia (2013), estima-se que a economia social na Europa (cooperativas, associações e fundações) engloba mais de 14,5 milhões de empregados remunerados, equivalente a cerca de 6,5% da população ativa da UE. A economia social aumentou mais do que proporcionalmente entre 2002-2003 e 2009-2010, sendo que passou de 6% para 6,5% do total de empregos pagos na Europa e de 11 milhões para 14,5 milhões de empregos.

De acordo com o conceito de referência do Instituto Nacional de Estatística para a Conta Satélite da Economia Social, em Portugal, o universo das entidades da Economia Social é cerca de 72 mil ([INE] & CASES, 2019). Em 2016 o Valor Acrescentado Bruto (VAB) da economia social representou 3% do VAB nacional total, sofrendo um aumento relativamente a 2013. Nesse mesmo ano, a economia social representou 5.3% das remunerações e do emprego total, e 6,1% do emprego remunerado da economia nacional, correspondendo a um aumento que evidencia maior dinamismo que o total da economia. No entanto, a importância do setor da economia social em Portugal não se restringe apenas a estes valores, visto que há um conjunto de externalidades positivas para a sociedade que são difíceis de quantificar.

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