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Dificuldades enfrentadas pelos profissionais da comunicação quanto à conduta ética

No documento Ética na Comunicação em Saúde (páginas 44-47)

2.Conduta ética em comunicação social na saúde

2.2 Ética na Comunicação

2.2.2 Dificuldades enfrentadas pelos profissionais da comunicação quanto à conduta ética

Alguns autores que estudam a ética dos mídias na atualidade possuem posições de que o profissional deve ter a ética intrínseca, ou ser uma pessoa de constante reflexão ética. Entretanto, todas as áreas profissionais - não só da comunicação – possuem pessoas que prezam diferentes valores morais, sendo assim, e com o avanço da tecnologia e da facilidade da divulgação de informações, é quase imprescindível a existência de comissões ou documentos que orientem a autorregulação dos profissionais dos meios de comunicação social. Blazquez (2002) alerta para a questão de que quanto mais fácil for informar e ser informado, maior a responsabilidade do profissional que agirá como mediador. O autor ainda sustenta sua posição de que o profissional deve se auto educar constantemente quanto à ética, pois se assim não fizer, haverá outros que o farão por ele.

La ética informativa está postulada también por razones de realismo práctico. Si los profesionales de la información no salen ellos mismos al paso de sus errores, lo harán las autoridades públicas (...). Si ellos no se dan a sí mismos unos principios éticos respetables, no faltará quien se los imponga por la fuerza, con el riesgo que esto supone para el libre y responsable ejercicio de la libertad de expresión y garantía de la objetividad informativa. (Blazquez, 2002, p.8)

A falta de reflexão ética que pode atingir os profissionais coloca em risco a tão aclamada “credibilidade” que o comunicador social almeja e, dessa forma, os torna substituíveis perante o público, que passa a acreditar mais em fontes de informações secundárias, menos profissionalizadas. Blazquez (2002) alega que uma das consequências dos meios de comunicação contemporâneos nas sociedades avançadas é que quanto mais necessários são para o progresso das instituições e da convivência humana, menos as pessoas instruídas se fiam deles. Essa desconfiança, que sempre existiu, equivale a uma valorização ética negativa generalizada dos serviços informativos. O autor cita dez fatores que podem influenciar na desconfiança do público quanto aos meios de comunicação. São eles:

● Avanço tecnológico: a internet tornou o processo comunicativo e de divulgação de informações mais rápido, assim as empresas do meio passaram a priorizar o “informar primeiro” em detrimento do “informar com qualidade”. Surgem também os cidadãos como propagadores e geradores de informações, apontando para a parcialidade dos meios e tomando para si o papel de “comunicar/informar” com credibilidade, o que na maioria das vezes não acontece.

● Tendência para parcialidade: a parcialidade dos meios de comunicação de fato existe, principalmente quando a informação se tornou uma mercadoria que precisa ser comercializada.

● Invasão da privacidade: invadir a privacidade não só de “famosos” ou personalidades públicas, mas também do próprio público com o pretexto informativo. Expor imagens ou falas de pessoas em contextos nem sempre corretos ou em situações que prejudicam a sua dignidade humana.

● Conflitos de interesse: os monopólios estatais ou privados que colocam em risco a liberdade de expressão.

● Excessos da liberdade de expressão e abuso do segredo profissional: utilizar esses direitos, presentes em códigos de conduta, de forma irracional ou exagerada com um pretexto informativo, mas que pode se revelar apenas com o intuito comercial para venda da informação ou que prejudiquem os demais valores defendidos nos códigos e na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

● Invasão fascinante dos meios audiovisuais: a imagem, para Blazquez (2002), é uma linguagem poderosa que suplanta progressivamente o discurso racional oral e escrito. O sentimento provocado pela imagem pode suplantar a razão.

● Invasão informática nos processos judiciais, policiais e médicos.

● A inconveniência da falta de profissionais da comunicação especializados: às vezes o profissional precisa informar sobre aquilo que não conhece profundamente.

● Conduta pessoal e social revolucionária: a informação cada vez menos como um bem de interesse público, passando a ser de interesse particular e privado.

Juntam-se aos problemas citados por Blazquez, questões práticas impostas aos profissionais da comunicação, mas que na sua essência não são “praticáveis”. A objetividade, valor imposto aos jornalistas, por exemplo, é algo almejado, mas que de fato não pode ser alcançado. Mesmo que teóricos do jornalismo defendam a aplicação de técnicas das ciências naturais para o alcance da objetividade, através das perguntas “o que?”, “quem?”, “quando?”, “onde?”, “como?” e “por quê?”, técnicas de observação e relato sem interferência do jornalista, é impossível o profissional excluir o seu lado humano e seu conjunto de valores quando reporta um acontecimento. Kieran (1998) defende que as notícias são essencialmente valorativas. “Considerando que os jornalistas trazem a campo seus pressupostos e valores fundamentais ao fazer um relato, qualquer evento está aberto a redescrições em termos diferentes” (Kieran, 1998, p.24).5

Com essa crença, Kieran também nos auxilia em outro valor defendido como base para os profissionais da comunicação, que é a “verdade”. Na passagem acima ele destaca as inúmeras formas de interpretação e descrição de um evento. “Qualquer evento está aberto a várias possíveis interpretações que são adequadas perante os diferentes tipos de preocupações e compromissos avaliados” (Kieran, 1998, p.24).6 Percebemos que

“objetividade” e “verdade” podem não ser atingidas da maneira como se espera na teoria. De fato, os códigos de conduta nos auxiliam na busca ou aproximação da verdade da questão. Pesquisar e aprofundar fatos sem uma pré-definição do que sejam, sem que valores não éticos nos impulsionem a uma prática que fuja desse objetivo.

Quanto aos valores defendidos para uma reflexão ética no marketing e na publicidade, os profissionais dessas áreas também enfrentam problemas. Hazaparu (2014) alega que a crítica ao comportamento ético na publicidade é extremamente polarizada, na qual uns defendem a publicidade como uma forma de incentivar uma economia saudável e consumidores conscientes e outros defendem a publicidade como uma prática que encarece os produtos e incentiva os consumidores através de “diferentes slogans e mensagens assentes em fórmulas preconcebidas que levam os consumidores a tomar decisões emocionais (e não racionais) ” (Hazaparu, 2014, p.312). Assim como Hazaparu, citamos a importância de compreender o contexto de cada área para a aplicação de valores como a “verdade” e a “cidadania” aqui avaliados.

A ética não se refere apenas às normas sólidas e indiscutíveis que têm que ser respeitadas pelos profissionais da área, nem aos veredictos morais bem definidos ditados por filósofos ou especialistas em ética, mas também ao estudo de determinações contextuais que conduzem a escolhas éticas de publicitários. (Hazaparu, 2014, p.311)

5 Tradução nossa: “Given that journalists bring to bear their fundamental value assumptions in making a

report, any event is open to innumerable redescriptions in different terms”

6 Tradução nossa: “Any given event is open to many possible interpretations which are appropriate

No documento Ética na Comunicação em Saúde (páginas 44-47)