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A etimologia e os conceitos da ética

No documento Ética na Comunicação em Saúde (páginas 37-40)

2.Conduta ética em comunicação social na saúde

2.1 A etimologia e os conceitos da ética

Antes de analisar o comportamento ético profissional do assessor de imprensa ou do repórter dos meios de comunicação social é necessário indagar o que é ética, o que é moral e de que modo estarão implicadas no exercício de uma profissão? Etimologicamente as expressões têm origens distintas e o significado é parcialmente idêntico. Segundo Almansa (2010), a palavra ética tem origem em dois vocábulos gregos, são eles ethos (costume) e

êthos (caráter, maneira de ser), embora o étimo mais utilizado da palavra seja êthos. Já a

palavra moral vem do latim mos/mores e significa conjunto de regras adquiridas por hábito, costume, se trata da tradução do grego êthos para o latim mores. Historicamente, a ética surgiu, ou os valores que ela estuda surgiram, com os heróis de Homero (928 a.C - 898 a.C) que teve sua obra reconhecida por Platão (428 a.C - 348 a.C) - um dos primeiros pensadores da moralidade e da ética - como as primeiras descrições de valores do viver em comunidade, do bem, do mal, da responsabilidade, etc, como explica Lledó:

No podría empezarse una historia de las formas de relacionase los hombres, en función de palabras como el bien, el mal, la justicia, sin una referencia a esos poemas en los que no sólo se descubre una cierta pretensión pedagógica, sino que, además, constituyen el primer documento literario de eso que se suele denominar la cultura occidental. Este carácter originario del mensaje homérico va unido a una primera teoría sobre el comportamiento colectivo de los hombres, en la que aparecen indicios de aquellos contenidos que, con mayor o menor propiedad, determinarán el espacio de la “moralidad”. (Lledó,1988, p.15)

De acordo com José Manuel Santos em Introdução à Ética, 2012, o termo ética (ou teoria ética) não diz apenas “como viver”, como defende Sócrates, o que fazer numa dada situação, como defende Kant, por quais princípios se orientar, mas pretende antes de mais dizer “porque” se deve viver de tal maneira ou optar por tais princípios. De maneira simplificada, Santos (2012, p.26) diz que o objetivo da teoria ética não é construir um “sistema de regras” prontas a “aplicar” diretamente na prática, mas antes justificar uma maneira de viver ou um modo geral de agir. Já a moral se refere a um conjunto de regras e crenças às quais somos apresentados como membros de um grupo e que “servem para nos ajudar a entender o que é bom e o que é mau” (Plaisance, 2011, p.25). Quando um profissional reflete sobre o “porquê” de tal atitude, ele reflete de forma ética e dessa forma busca justificar sua ação. Santos nos apresenta essa característica de “justificativa” da ética da seguinte maneira:

Quando tomamos uma decisão, sentimo-nos melhor quando a conseguimos justificar, tanto aos nossos olhos como aos olhos dos outros, em particular dos que nos são mais próximos e cujas opiniões são para nós importantes. (...) Referimo-nos às experiências de injustiça ou de humilhação de pessoas que todos já presenciamos, que ouvimos narrar ou que nós próprios vivemos como vítimas. Nestas ocasiões somos afectados por um sentimento de indignação ou de revolta e pensamos que os autores de tais actos não os “deveriam” ter cometido. Também nestes casos tentamos justificar aquilo que pensamos e dizemos. (Santos, 2012, p.31)

A moral nos apresenta de forma clara “o que é certo” e “o que é errado”, o bem e o mal, já a ética lida com problemas e questões que tenham respostas não claramente definidas. Plaisance nos alerta que nem todos os dilemas da vida pessoal ou profissional são claros quanto a escolha a ser tomada. Algumas questões podem não apresentar uma resposta correta imediata e até “pode não haver nenhuma opção que pareça totalmente satisfatória” (Plaisance, 2011, p.24). E são nessas questões “cinzentas” – nem brancas, nem pretas – que encontramos as reflexões éticas, pois quando um comportamento apresenta uma violação clara de um conjunto normativo, esse comportamento remete a uma transgressão moral. Plaisance resume a ética como “sendo uma forma de investigação que se preocupa com o processo de encontrar justificações racionais para as nossas ações quando os valores que defendemos entram em conflito” (Plaisance, 2011, p. 25) e ainda complementa:

A ética trata da nossa luta para justificar o fato de realizarmos ou não uma ação quando diversos valores do nosso sistema de crenças entram em conflito. A ética se refere aos nossos esforços para articular as nossas razões para, em determinados dilemas, atribuirmos um peso maior para algumas afirmações morais em relação a outras. (Plaisance, 2011, p. 25)

Embora a ética não seja considerada uma teoria totalmente normativa, ela pode ser considerada indiretamente normativa. Cortina (2005, p.2) resume essa característica da ética dizendo que ela é normativa no sentido indireto porque não incide diretamente na vida cotidiana, quer apenas esclarecer reflexivamente o campo da moral, que por sua vez, é um saber que oferece orientações em casos concretos. Atualmente os debates sobre ética têm sido fomentados por estudiosos contemporâneos sobre o “viés inerente em favor da liberdade individual e contrário às afirmações que destacam as verdades universais e o bem comum” (Plaisance, 2011, p.26). Esse viés possui um relativismo quando se fala de conduta ética, em que aparentemente nada pode ser avaliado como ético ou antiético devido a pluralidade de compreensões de valores, crenças e reflexões. Ao mesmo tempo, existe a defesa da universalidade de certos princípios, independentemente do conjunto de valores de cada indivíduo. Santos (2012) explica a existência dessas duas correntes. Enquanto a Teoria Relativista considera que as concepções de valores, princípios, bens, etc, são relativas, isto é, só são válidas e/ou aceitas no contexto de uma dada cultura para os membros de um grupo restrito ou mesmo, no limite, na perspectiva de um indivíduo; a Teoria Universalista considera que há princípios éticos, valores ou concepções do bem que são universais, que obrigariam toda e qualquer pessoa. No entanto, de um modo geral a teoria ética é universalista porque se aplica a todo e qualquer agente da ação, mais do que para uma comunidade ou uma classe social. Nessa concepção o que pode ser “relativo” é a moralidade, frente à “universalidade” da ética, pois os costumes de uma comunidade variam perante outras, mas seus membros como agentes pensantes e individuais podem acatar as normativas morais do ambiente em que vivem, mas refletir e tentar justificar de forma ética esses valores. Para exemplificar a questão normativa da moral e a reflexiva da ética, Santos (2012) expõe que enquanto uma regra é particular e relativa, os princípios pretendem ser universais e absolutos, ou seja, válidos em todas as situações. De acordo com Christians (2014), esses princípios universais, que depois norteariam a ética na comunicação, são a verdade, a dignidade humana e a não violência.

Entretanto, nem todos os estudiosos concordam com tais definições sobre ética e moral, em alguns casos os dois vocábulos são considerados sinônimos. Entre os pesquisadores da ética e da moral a distinção menos contestada é a de que a ética é uma disciplina filosófica cujo objeto de estudo é a moral. Vazquez (1998) também adota a definição de que a ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens. Para exemplificar as diferenças entre ética e moral Santos diz:

Todas as sociedades e grupos humanos têm uma moral. Mesmo numa quadrilha de malfeitores há uma “moral”, ou seja, um código de comportamento constituído por regras mais ou menos explícitas referentes às relações entre os membros. Mas se todas as sociedades têm uma moral, nem todas têm uma ética, da mesma maneira que nem todas têm ciência, no sentido moderno deste termo. A ética é uma reflexão

explícita, teórica, racional e argumentada sobre as normas morais e sobre as formas de vida. (Santos, 2012, p.53)

No documento Ética na Comunicação em Saúde (páginas 37-40)