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A dimensão cognitiva assume um papel fundamental na compreensão da construção das redes de apoio nas organizações. É representada pelo compartilhamento de significados nas redes. As estratégias de aprendizagem utilizadas pelas pessoas podem ser consideradas como facetas da dimensão cognitiva que também participa na geração da mudança de comportamento (REGIS; DIAS; BASTOS, 2006).

Através da dimensão cognitiva é possível compreender porque muitos projetos fracassam. Isto normalmente acontece em função de uma atenção exclusiva à rede e hierarquia formais, ignorando a rede informal de relacionamentos existente, perdendo a chance de resolver problemas e tarefas complicadas de forma rápida através da interação e relacionamento informal existente entre os empregados (KRACKHARDT; HANSON 1993).

A seguir, FIGURA 5 mostra as três dimensões do capital social com os papéis e características principais identificadas em cada dimensão em uma rede de seis atores. Na parte superior esquerda da figura está a dimensão relacional, apresentando os conteúdos transacionados: amizade, informação, confiança e aconselhamento. Na parte superior direita está a dimensão cognitiva, apresentando os significados compartilhados pelos atores da rede. Na base da figura está a dimensão estrutural. Esta dimensão será tratada mais adiante, após um maior detalhamento da dimensão cognitiva e dos mapas cognitivos.

Em se tratando da dimensão cognitiva, podem ser encontrados estudos sobre os mapas cognitivos, os quais podem fornecer informações relevantes sobre os atores da network. A seguir serão apresentados conceitos dos mapas cognitivos.

Mapas cognitivos

Mapas cognitivos são ferramentas para representar dados verbais (informações orais ou escritas que expressam afirmações, predições, explanações, argumentos, regras) através das quais se pode ter acesso a representações internas e a elementos cognitivos (imagens, conceitos, crenças causais, teorias, heurísticas, regras, scripts etc.) (LAUKKANEN, 1992). Neste sentido, Bastos (2002) esclarece que os mapas cognitivos podem dar acesso a pressupostos do respondente, mesmo quando estes não são visíveis para o próprio participante.

Há, no campo do comportamento microorganizacional, uma forte tradição de uso de conceitos cognitivos para compreender, entre outros, fenômenos como o processamento de informações, a definição de problemas, a estruturação cognitiva afetando as percepções do trabalho, a motivação, a tomada de decisão, a liderança e a avaliação de desempenho (BASTOS, 2004).

Nicolini (1999) apresenta o mapa cognitivo como uma das estratégias possíveis para representar cognições sociais: ”mapas poderiam ser considerados apenas instrumentos de descrição e representação que ajudam na discussão e

análise de alguns modos de pensamento e explicações dos eventos” (p.836). Desta forma, o trabalho de mapear estruturas cognitivas envolveria, “explorar as maneiras pelas quais essas entidades representacionais são unidas, transformadas ou contrastadas” (p. 836).

A dimensão social dos processos cognitivos humanos resultou em uma área específica de pesquisa na Psicologia Social, com interesses nos processos usados pelas pessoas para gerarem o conhecimento e a compreensão dos aspectos da vida cotidiana. Neste sentido, a “cognição social”, resgata, cientificamente, tópicos como, os processos de atribuição, formação de impressões, estereótipos, atitudes, protótipos, schemas e scripts (BASTOS, 2001).

As mudanças que configuram essa forma nova de entender e analisar as organizações expõe importantes desafios para os pesquisadores. Entre estes, a clara exigência de desenvolver estratégias metodológicas mais sensíveis e adequadas à natureza dos fenômenos organizacionais como ‘construções sociais’ ou como estruturas e processos de conhecimento que articulam cognição e ação dos membros organizacionais. Mais recentemente o mapeamento cognitivo tem sido utilizado nos estudos organizacionais para capturar ou extrair da mente dos funcionários os significados compartilhados, os pensamentos comuns sobre o papel da network para o desenvolvimento da carreira profissional.

Bastos (2002) traz uma rica explanação dos aspectos metodológicos que tornam as técnicas de mapeamento cognitivo uma ferramenta importante para a

investigação de processos organizacionais na dimensão simbólica, dimensão comunicativa e dimensão hermenêutica. Ele salienta a pluralidade de formas de sua apresentação e tratamento gráfico. Para ele:

[...] mapa cognitivo é um rótulo bastante amplo que engloba procedimentos muito diversificados de descrever e representar graficamente cognições ou informações e conhecimentos que as pessoas acessam para dar sentido a eventos, lidar com problemas e fundamentar suas decisões e ações (BASTOS, 2002, p. 68).

Apoiando-se em uma análise dos estudos cognitivos na psicologia, Walsh (1995) apresenta um esquema que sintetiza a pesquisa sobre as estruturas de conhecimento, termo genérico para assinalar que os indivíduos constroem representações de seu ambiente e elas guiam todo o processo de busca, seleção, armazenamento e geração de novos conhecimentos e comportamentos. Em diferentes níveis de análise (indivíduo, grupo, organização e sociedade), os estudos cognitivos têm se voltado para: o desenvolvimento e mudanças nas estruturas de conhecimento; a representação ou a “estrutura do conhecimento” em si. Assim, busca descobrir, em face de estruturas específicas utilizadas por gerentes, seus atributos, conteúdos específicos e como esses se estruturam. Da mesma forma, os estudos cognitivos tratam do uso e conseqüências dessas

estruturas, ou seja, qual seu impacto sobre resultados organizacionais, em seus diferentes níveis.

Ao considerar os impactos que as teorias cognitivas podem ter sobre a prática organizacional, Bastos (2001) ressalta que um dos grandes desafios dos cognitivistas para os responsáveis pela gestão das pessoas nas organizações é a compreensão da diversidade humana. Os discursos gerenciais e as políticas de RH, apesar de reconhecerem sua existência, muitas vezes não sabem lidar com a diversidade das pessoas, pelo contrário, desenvolvem mecanismos em prol da uniformidade, como que vivendo à sombra do estilo burocrático de organização.

Muitas áreas da psicologia organizacional foram transformadas pela ”revolução cognitiva”. Uma orientação cognitiva é comum na área do comportamento organizacional como ilustrado pelas pesquisas de avaliação de desempenho, tomada de decisão, percepções de liderança e fatores humanos que buscam explicar o comportamento no trabalho. Estas pesquisas buscam desvendar as operações cognitivas que tratam com a atenção, com a codificação, recuperação e transformação da informação (RÉGIS, 2005).

Os mapas cognitivos podem der identificados e separados em alguns tipos, sendo que neste trabalho foram tratados 03 tipos de mapas cognitivos. A seguir serão apresentadas as características relevantes de cada um destes tipos de mapa cognitivo.

Tipos de mapas cognitivos

Três tipos de mapas cognitivos se destacam para estudo das networks. Estes mapas já têm sido explorados por autores nacionais da área das organizações (BASTOS, 2000/2002; MACHADO-DA-SILVA et al. 2000). A seguir serão descritas suas características principais.

Mapas de identidade: apóia-se numa análise de conteúdo para identificar conceitos e temas centrais nos discursos enunciados pelos indivíduos, apontam as principais características do terreno cognitivo e as atividades envolvidas na sua construção são básicas para todos os demais tipos de mapas (BASTOS, 2002).

Mapas de categorização: buscam descrever os schemas utilizados por gestores ao agruparem eventos e situações com base em suas semelhanças e diferenças, tendo acesso ao sistema de categorias de pensamento utilizado e a dimensão de hierarquia que existe entre esses conceitos (BASTOS, 2002).

Mapas causais: são os mais difundidos nos estudos gerenciais e fornecem uma compreensão dos vínculos que indivíduos estabelecem entre ações e resultados ao longo do tempo (BASTOS, 2002).

Como visto, a dimensão cognitiva destaca os aspectos da rede de relações que dizem respeito aos significados compartilhados, que permitem a existência de uma rede de relações de reconhecimento mútuo, institucionalizada em campos sociais. Na prática, o compartilhamento de significados ocorre como

resultado da interação dos indivíduos em uma estrutura social com características próprias.

A fundamentação acima permite concluir que o capital social, através da dimensão cognitiva, pode ter influência na carreira profissional. O mapa cognitivo formado pelos pensamentos e idéias dos gerentes pode estar relacionado ao apoio que eles recebem em suas carreiras profissionais. Diante disto, é lançada a segunda proposição:

Proposição 2: O mapa cognitivo com os significados compartilhados pelos gerentes da Gilbarco do Brasil pode mostrar o desenvolvimento da carreira como sendo um papel da network.

A seguir, é abordada a dimensão estrutural do capital social, a qual apresentada na FIGURA 5.

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