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A DIMENSÃO INVESTIGATIVA NO DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM MATÉRIA DE SERVIÇO SOCIAL

3 A SECUNDARIZAÇÃO DO DEBATE DA PROFISSÃO NAS SISTEMATIZAÇÕES TEÓRICAS DOS GRADUANDAS E GRADUANDOS DE SERVIÇO SOCIAL DA UFRN

3.1 A DIMENSÃO INVESTIGATIVA NO DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM MATÉRIA DE SERVIÇO SOCIAL

Para se construir uma análise ontológica dos processos de produção de conhecimento é imprescindível refletirmos sobre as dinâmicas de conhecimento da realidade em sua totalidade e como estas constituem nexos causais e apresentam consonância com as atividades de trabalho e com a processualidade social das relações sociais tecidas dentro da sociabilidade. Consoante Tsetung (1937),

O conhecimento do homem depende essencialmente da sua actividade de produção material, durante a qual vai compreendendo progressivamente os fenómenos da Natureza, as suas propriedades, as suas leis, assim como as relações entre ele próprio, homem, e a Natureza; ao mesmo tempo, pela sua actividade de produção, ele aprende a conhecer em graus diversos, e também duma maneira progressiva, certas relações que existem entre os próprios homens (TSETUNG, 1937, s/p).

Tenhamos presente que a compreensão progressiva “Dos fenómenos da Natureza, suas propriedades, suas leis, bem como as relações entre o homem e a Natureza” abordada por Tsetung (1937) se explica pelo fato do ser humano ser dotado de algo que o distingue dos outros animais: a consciência. É através da dimensão intelectiva que podemos projetar os meios e os fins para objetivarmos nossas ações e constituir e construir o Mundo dos Homens. Pode-se perceber que as diferenças anatômicas e de nível intelectivo que envolvem as práticas realizadas pelos seres humanos e por outros animais está justamente na capacidade teleológica: é essa dimensão que nos permite desenvolver níveis de linguagem e de trabalho mais sofisticados

É com os preceitos de Marx (1985) que podemos refletir um pouco mais sobre as divergências encontradas nas formas de realizar as práticas entre seres humanos e outros animais. No clássico trecho da abelha, o destacado autor nos demonstra a maior diferença e maior contraste existente na prática social dos humanos e outros seres animais: a capacidade de projetar, de exercer capacidades teleológicas que conseguem processar a projeção dos meios e dos fins para obter seus objetivos, enquanto que outros agem a nível de instintos naturais. Assim,

Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colmeias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo na cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste já existiu na imaginação do trabalhador e, portanto, idealmente (MARX, 1985, p.149-150).

Nos termos de Lukács (apud LESSA, 2016), “a relação dialética entre teleologia[...] e causalidade[...] é a essência do trabalho” (LESSA, 2016, p.35). Assim, é a partir da capacidade teleológica fundada pelas atividades de trabalho que se pode conjecturar o salto ontológico entre as esferas ontológicas anteriores e assim, constituir a sociabilidade humana. Dessa maneira, a dimensão intelectiva está atrelada a própria objetivação do ser social, isto é, do trabalho e, dela jamais se separa.

É sabido, de acordo com os preceitos da literatura crítica marxista, que o ser social funda-se a partir do trabalho. De acordo com Engels (1886, p.1), o trabalho apesar de não ser a única e última prática social realizada pelo ser humano genérico, “[...]é a condição básica e fundamental de toda a vida humana”. Para Lukács (2013),

A consideração das diferenças bastante importantes mostra a afinidade essencialmente ontológica, pois exatamente nessas diferenças se revela que o trabalho pode servir de modelo para compreender os outros pores sócio-teleológicos, já que, quanto ao ser, ele é a sua forma originária (LUKÁCS, 2013, s/p).

Dessa forma, o salto ontológico que acontece entre o ser natural para o ser social realiza-se pela necessidade existencial de produzir trabalho, atividade inerente ao conhecimento. Nos termos de Lara (2008), as ações humanas “[...]não ficam estagnadas na mera reprodução biológica, muito pelo contrário […]” (p.221), as necessidades que compõem o ser orgânico se espraiam para as atividades sociais e práticas da existência humana e a todo momento se transformam e se complexificam, causando mudanças na natureza e no próprio ser humano em sua genericidade22, uma vez que o conhecimento é cumulativo e passado de geração em geração.

É a partir da capacidade teleológica que o ser humano pode usar a natureza a seu favor. As atividades entre homem e natureza, além de modificar esta última, modifica também o Homem. Ou seja, ele modifica-se e transforma-se, como ser humano genérico. Por motivo de sua genericidade, as transformações ocorridas são repassadas de um ser humano para outro, sendo, portanto, iniciada de geração para geração.

Ainda sobre os processos de conhecimento e, baseando-se na literatura marxista, existem dois graus nos atos de conhecer: o primeiro, que diz respeito à percepção humana dos fenômenos. Aqui, o conhecimento remete a dimensão perceptiva às sensações e às

22 O ser humano em sua totalidade. Nos termos de Heller (2016, s/p), “Enquanto indivíduo, portanto, é o homem

um ser genérico, já que é produto e expressão de suas relações sociais, herdeiro e preservador do desenvolvimento humano; mas o representante do humano-genérico não é jamais um homem sozinho, mas sempre a integração (tribo, demos, estamento, classe, nação, humanidade) – bem como, frequentemente, várias integrações – cuja parte consciente é o homem e na qual se forma sua “consciência de nós” (HELLER, 2016, s/p).

representações imagéticas que chegam à consciência. Já o segundo grau, esse potencialmente superior, é referente ao “salto” processual que acontece quando os fenômenos são conceituados pela consciência humana. Consoante Tsetung (1937, s/p)

A verdadeira tarefa do conhecimento consiste em elevar-se da sensação ao pensamento, em elevar-se até à elucidação progressiva das contradições internas nos fenómenos que existem objectivamente, até à elucidação das suas leis, da ligação interna dos diferentes processos, isto é, consiste em atingir o conhecimento lógico. (TSETUNG, 1937, s/p)

Tsetung (1937, s/p) ainda chama a atenção que “a fonte de todo o conhecimento são as sensações recebidas do mundo exterior objectivo, pelos órgãos dos sentidos do homem”. Todavia, esse conhecimento referente aos sentidos necessita ser superado, transpassado. É por meio da “abstração científica”, do aprofundamento da dimensão teleológica e do movimento ideal do real que se torna possível conhecer a essência dos objetos.

Há uma relação intrínseca e dialética entre o conhecer e o desenvolver trabalho e o se tornar ser social, elas se autoimplicam. Conforme Bourguignon (2007),

Na trajetória histórica da profissão, a atitude investigativa se faz presente, sendo constitutiva e constituinte. Constitutiva porque a prática profissional está fundamentada na relação dinâmica teoria/ prática, fazendo parte da natureza da profissão buscar compreender criticamente os fenômenos sociais para fundamentar sua intervenção. Constituinte porque, inegavelmente, os avanços observados na esfera da produção de conhecimento, da prática profissional no âmbito das políticas públicas e da formação, mobilizam a reconstrução crítica da própria natureza profissional. Neste processo, a profissão sofre determinações estruturais que, contraditoriamente, tanto a desafiam, como, por vezes, lhe criam barreiras, impedindo que, na sua singularidade, muitos profissionais ainda não percebam a vinculação orgânica entre intervenção/investigação (BOURGUIGNON, 2007, p.50-51).

Consoante Carvalho (2017), isso “Revela que o referido ato de trabalho e a produção de conhecimento a ele associado são simultaneamente fatos de trabalho, isto é, práxis. (CARVALHO, 2017, p.21). Tecendo uma relação entre o conhecimento e a profissão de Serviço Social, podemos pensar de qual forma a prática profissional se relaciona e determina com uma atitude investigativa no conhecer do trabalho realizado por profissionais de Serviço Social. De acordo com Setubal (2007, p.65),

Quando as reflexões são transportadas para o interior do Serviço Social não se deve apenas explicitar dificuldade em assimilar e colocar em prática as exigências da dialética histórica, em vivenciar, como um todo, no seu cotidiano profissional a concretização da práxis social, mas iniciar a reflexão pela dimensão política presente no contexto das relações sociais e pela forma de inserção dessa profissão no mercado de trabalho (SETUBAL, 2007, p.66).

Considerando o Serviço Social uma especialização do trabalho coletivo inserido na divisão social e técnica do trabalho na sociabilidade capitalista, tenhamos presente que o

significado do trabalho profissional, enquanto partícipe do processo de produção e reprodução das relações sociais, só torna-se entendido e explicado a partir da relação entre as necessidades antagônicas das classes sociais, atuando no âmbito político-ideológico23 através da prestação dos serviços previstos pelas políticas sociais, via programas e projetos.

Situamos aqui, a “Importância da produção de conhecimento” para o Serviço Social, que numa perspectiva de totalidade social, deve ter presente os diferentes sujeitos sociais envolvidos, os interesses contraditórios que demandam essa intervenção profissional, os espaços ocupacionais, as competências e atribuições profissionais (GUERRA, 2009). Intervenção que incide de forma direta nas condições objetivas e subjetivas de vida dos sujeitos envolvidos, assumindo um compromisso na defesa dos direitos humanos, na liberdade e na democracia conforme os princípios do código de ética da profissão.

Nesta perspectiva, é demarcado o reconhecimento da natureza investigativa das competências e atribuições profissionais associadas e de grande importância a natureza interventiva da profissão. É dessa maneira que cabe aqui entender o trabalho profissional relacionando-o com os modos de ser intrínseco ao capitalismo que envolve a profissão. Ou seja, como surgem, como se desenvolvem e como se determinam e constituem sua dupla dimensão constituída da formação e do exercício profissional, compreendidas a partir da práxis social. Tendo sempre em conta as transformações societárias ocorridas no seio da produção e reprodução material e imaterial da sociedade que, conforme Marx (2008, p.47), “Condiciona o processo de vida social, política e intelectual” (p.47), também condicionando e determinando a profissão de Serviço Social, principalmente quando, a partir da maturidade teórico- metodológica, a categoria começa a vislumbrar um teor mais crítico para embasar seus valores, atuação profissional, além de, conforme Costa e Madeira (2013, p.102),

Pesquisas e produções sobre a atuação profissional, seu estatuto de assalariamento, as configurações do mercado de trabalho, os condicionantes que incidem na autonomia profissional e a materialização ou não do projeto ético-político são questões que contribuem para o entendimento da profissão nos espaços sócio-ocupacionais, que, mesmo diante de suas especificidades, comungam dos mesmos ditames do sistema sociometabólico do capital (COSTA; MADEIRA, 2013, p.102).

Foi a partir de 1960 que um conjunto de assistentes sociais visualizou um grande impacto das potenciais mudanças teórico-metodológicas desenvolvidas na área de Serviço

23 Sobre a práxis social relacionada ao âmbito político-ideológico, defende Setubal (2007), “A práxis aqui referida

e desejada para o Serviço Social é a práxis social por ter caráter político que se identifica aos interesses da sociedade. Esse tipo de práxis, segundo Vázquez (1968, p. 201), utiliza-se de estratégias e táticas. Em relação à primeira, a atividade desenvolvida a partir da práxis social desenvolve-se de forma processual e em consonância com as necessidades de determinado momento da história geral” (SETUBAL, 2007, p.71).

Social e que, conforme Paulo Netto (2015): “Obviamente, não nos parece um simples e “natural” desenvolvimento das tendências e possibilidades existentes anterior do Serviço Social no pré-1964” (PAULO NETTO, 2015, p.172). Todavia evidencia um novo conjunto de características marcantes para o que estaria por vir em termos de pensamento sobre a profissão e indicam uma renovação no seio da profissão24. Em “Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-1964”, o autor enfatiza a relevância que a profissão ganha a partir desse momento:

Se a elaboração emergente neste tipo novo de relacionamento contém problemas e ambiguidades, uma coisa é certa: ela contribui para oferecer, no plano intelectual, um contrapeso à subalternidade profissional que historicamente envolveu o Serviço Social. Começou a mudar, de fato, a posição do Serviço Social em face das ciências sociais: a condição de vazadouro das suas produções tende a ser deslocada por uma postura de crítica dos seus fundamentos, o que implica o seu conhecimento específico (PAULO NETTO, 2015, p.174)

Ao mesmo tempo em que se fez necessário compreender a relação dialética entre a dimensão investigativa da profissão e a dimensão interventiva, quando pensamos nas variadas expressões da questão social, enquanto objeto de intervenção e como esta, em todas as suas particularidades influenciam os sentidos da pesquisa para o desenvolvimento de ações e estratégias necessárias ao cumprimento tanto da formação quanto da prática e da produção de conhecimento na área de Serviço Social. Vale ressaltar aqui que, um dos princípios das Diretrizes Curriculares da ABEPSS (1999, p.6) é o “Estabelecimento das dimensões investigativa e interventiva como princípios formativos e condição central da formação profissional, e da relação teoria e realidade”. Dessa forma, convém estabelecermos análises sobre sua constituição e sobre suas determinações na profissão.

Para se pensar sobre a investigação, pesquisa e produção de conhecimento trazemos à tona os debates que Iamamoto (2014, p.452) nos direciona a refletir e percorrer. De acordo com a autora,

A investigação, quando compromissada em libertar a verdade de seu confinamento ideológico, é certamente um espaço de resistência e de luta. Trata-se de uma atividade fundamental para subsidiar a construção de alternativas críticas ao enfrentamento da

questão social que fujam à mistificação neoliberal; para subsidiar a formulação de

políticas sociais alternativas aos dogmas oficiais, a atuação dos movimentos das classes

24 De acordo com Paulo Netto (2015), “Entendemos por renovação o conjunto de características novas que, no

marco das constrições da autocracia burguesa, o Serviço Social articulou, à base do rearranjo de suas tradições e da assunção do contributo de tendências do pensamento social contemporâneo, procurando investir-se como instituição de natureza profissional dotada de legitimidade prática, através de respostas a demandas sociais e da sua sistematização, e de validação teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais” (p.172).

sociais subalternas, assim como a consolidação de propostas profissionais que fortaleçam a ruptura com o conservadorismo e afirmem o compromisso com o trabalho, os direitos e a democracia (IAMAMOTO, 2014, p.452).

Refletindo sobre a relevância da dimensão investigativa para as ações da profissão em geral, cabe reacender o entendimento de como esta se constitui especificamente tanto no trabalho profissional ou exercício profissional, quanto na produção de pesquisa e conhecimento em nível de pós-graduação. Mas, para ambas, é necessário levar em conta que o conhecimento necessita do aprofundamento e da reflexões mediatizadas pelas principais categorias importantes para a leitura de realidade.

Podemos pensar, em primeiro lugar como se apresenta em sua forma direta no o cotidiano profissional: as dinâmicas de acesso e conhecimento dos espaços sócio-ocupacionais a qual o profissional vende sua força de trabalho em troca de salário; as relações cotidianas com outros assistentes sociais e demais profissionais de outras áreas; o atendimento com os usuários e comunidade da região em que estão instalados os equipamentos e serviços; a realização de estudos sociais, na confecção de laudos, pareceres e outros dispositivos institucionais e técnicos importantes para o trabalho; os processos de correlação de forças e luta de classes imbuídas nos diferentes projetos societários e profissionais presentes na sociedade e instituições públicas, privadas e do terceiro setor, entre outros elementos. Essas atividades não podem ser realizadas de forma mecânica e de forma manualesca, isto é, de forma a seguir passos ou uma receita. Aos assistentes sociais, é necessário pensar o cotidiano profissional; aprofundar-se sobre as demandas emergentes; refletir as ações que necessitam serem tomadas; pensar sobre a correlação de forças; disputar os espaços e deixar muito claro aos outros profissionais qual são os valores incutidos no Código de Ética profissional, assim como quais são as suas atribuições e competências.

A realidade além de ser diversa, é dinâmica, se modifica e se transforma. Dessa maneira, não há como estabelecer “manuais” e “receitas” para como agir em dadas situações. É assim que defendemos o aprofundamento reflexivo e teórico-metodológico no cotidiano profissional. Guerra (2009) aponta a dimensão investigativa da profissão como imprescindível para estes processos de conhecimento e criação de estratégias, delineando que a investigação implica e se relaciona, também, a dimensão interventiva. Essa última apresenta-se como outro item da maior importância para a realização do projeto profissional do Serviço Social e dos objetivos da profissão. O potencial de pesquisa que abarca a relação teoria e prática na profissão se relaciona com uma atitude de investigação própria, que requer uma postura que contemple o conhecimento e a pesquisa mediata, mediatizada e refletida. Ainda nos termos da autora,

Assim é que, no cumprimento das atribuições e competências socioprofissionais, há que se realizar permanentemente a pesquisa das condições e relações sob as quais o exercício profissional se realiza, dos objetos de intervenção, das condições e relações de vida, trabalho e resistência dos sujeitos sociais que recebem os serviços. Faz-se necessário não apenas coordenar e executar políticas sociais, projetos e programas, mas também avaliá-los, coordenar pesquisas, realizar vistorias, perícias e laudos, emitir parecer técnico, formar assistentes sociais. Aqui se reconhece e se enfatiza a natureza investigativa das competências profissionais. Mais do que uma postura, o caráter investigativo é constitutivo de grande parte das competências/atribuições profissionais” (GUERRA, 2009, p.3).

Nesse ínterim, pensar sobre uma prática separada e desassociada da teoria, retira o potencial crítico-dialético no Serviço Social. Diante das formulações empreendidas por Guerra (2014),

Ao ser “enquadrado” como profissão de caráter eminentemente técnico, ao exercer funções executivas, o assistente social pensa poder eximir-se da reflexão teórica in totun e fixar seu foco de preocupações no seu cotidiano profissional, para o que os modelos analíticos e interventivos, testados, e cristalizados pelas suas experiências e de outrem, são suficientes (GUERRA, 2014, p.231).

Ainda sobre a relação teoria e prática Nabuco Kameyama (1997) defende que

A teoria e prática constituem, portanto, aspectos inseparáveis do processo de conhecimento e devem ser considerados na sua unidade, levando em conta que a teoria não só nutre da prática social e histórica como também representa uma força transformadora. (KAMEYAMA, 1997, p.101)

Assim sendo, ocorre uma zona teórica e prática de perigo quando há essa tentativa de desassociação da teoria e da prática, porquanto, análises e abordagens realizadas se mostram fragmentárias e generalizantes, ao mesmo tempo que retiram o potencial reflexivo, crítico, mediato e mediatizado das ações e práticas profissionais no cotidiano da profissão, que tem por características essenciais a dinamicidade e complexidade. O processo investigativo e de conhecimento dos diversos núcleos de fundamentação da formação profissional fazem-se necessários, requerendo dos e das estudantes, profissionais e pesquisadores de Serviço Social uma postura crítica em relação a produção de conhecimento, pois, verifica-se, também, que os processos teórico-metodológicos durante toda a história da profissão apresenta uma tendência à fortificação ideológica de que teoria e prática são elementos disjuntivos.

De outra maneira, a dimensão investigativa também pode ser apreciada nas produções acadêmico-científicas, isto é, em nível de pós-graduação stricto sensu e com as agências e órgãos de fomento à pesquisa (CNPq, CAPES, FINEP são exemplos) onde estes têm a oportunidade de produzir o conhecimento científico e enriquecer ainda mais o campo da pesquisa na área de Serviço Social. Como destaca Cantalice (2013, p. 156), o Serviço Social se adensa “No campo da pesquisa e requalificando o lugar da profissão junto a outras áreas do saber, como as ciências sociais.”

A inserção e a subsequente expansão da profissão na pós-graduação acontece nos idos dos anos 1970, “Impulsionada por professores motivados pelo ideal de desenvolver a vida acadêmica e a produção científica, com pesquisa qualificada” (SILVA; CARVALHO, 2007, p.197). É nos marcos das grandes discussões sobre formação profissional e da concepção de novas diretrizes curriculares encabeçadas pela categoria, pelos conselhos regionais (CRESS) e federal (CFESS), assim como, da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), que a profissão inicia um processo de

Rompimento com a postura positivista de separação entre o pensar e o agir, que durante décadas manteve os assistentes sociais como meros sujeitos da intervenção profissional e consumidores de teorias elaboradas por outras disciplinas profissionais (SILVA; CARVALHO, 2007, p.197).

Guerra (2011, p.131) defende que esse processo esteve relacionado aos movimentos da Modernização Conservadora constituídos na história política, social e educacional brasileira e que se apresentava como horizonte a latente “Necessidade de desenvolver as forças produtivas e de construir um perfil de profissional que lhe fosse funcional. Dessa forma, o debate profissional sobre “O Serviço Social como ramo do saber, a existência de objeto e método próprios, o endogenismo, a suposta neutralidade e assepsia dos conhecimentos/ procedimentos técnicos” (GUERRA, 2011, p.132) se expandia e ganhava materialidade nos debates tecidos nos círculos universitários e acadêmicos, assim como, nos diversos conjuntos representativos da categoria profissional.

Atualmente, a maturidade científica que embala a produção de conhecimento na área é latente e respeitada. Como já foi frisado anteriormente, apesar do Serviço Social não constituir