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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL CECÍLIA NASCIMENTO JOHNSON

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

CECÍLIA NASCIMENTO JOHNSON

A SECUNDARIZAÇÃO DO NÚCLEO DE FUNDAMENTOS DO TRABALHO PROFISSIONAL NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO: uma análise em nível de

graduação de Serviço Social na UFRN

NATAL- RN 2021

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CECÍLIA NASCIMENTO JOHNSON

A SECUNDARIZAÇÃO DO NÚCLEO DE FUNDAMENTOS DO TRABALHO PROFISSIONAL NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO: uma análise em nível de

graduação de Serviço Social na UFRN

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como um dos pré-requisitos para obtenção parcial do grau de bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profº Dra. Maria Célia Correia Nicolau.

NATAL - RN 2021

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Johnson, Cecília Nascimento.

A Secundarização do núcleo de fundamentos do trabalho

profissional na produção de conhecimento: uma análise em nível de graduação de Serviço Social na UFRN / Cecilia Nascimento Johnson. - 2021.

86f.: il.

Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Serviço Social, Natal, RN, 2021.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Célia Correia Nicolau.

1. Serviço Social - Monografia. 2. Secundarização - Núcleo de Fundamentos do Trabalho Profissional - Monografia. 3. Produção de Conhecimento - Monografia. I. Nicolau, Maria Célia Correia. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 364:378

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CECÍLIA NASCIMENTO JOHNSON

A SECUNDARIZAÇÃO DO NÚCLEO DE FUNDAMENTOS DO TRABALHO PROFISSIONAL NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO: uma análise em nível de

graduação de Serviço Social na UFRN

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como um dos pré-requisitos para obtenção parcial do grau de bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profº Dra. Maria Célia Correia Nicolau

Aprovada em: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________ Profa. Dra. Maria Célia Correia Nicolau - UFRN

(Orientadora)

____________________________________ Profa. Dra. Eliana Andrade da Silva - UFRN

(Membro interno)

_______________________________________ Profa. Dra. Miriam de Oliveira Inácio - UFRN

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À minha mãe Genilda, meu amor maior.

À minha avó Ceição e ao meu avô Geraldo (In Memoriam).

À minha irmã Stephani.

À família Pereira do Nascimento, que foi quem me ensinou a estar no mundo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha mãe, Genilda, por tanto carinho e cuidado e pelos diversos “cafézinhos” oferecidos nos horários de escrita. Também, pela paciência de lidar com meus dias de estresse. Você é o meu maior amor.

A minha família materna, pelo acolhimento emocional que sempre me deram. Um grande beijo, em especial, a Cristina, Geilsa e Gildeci, tias queridas, que sempre me depositaram força e a capacidade de sonhar por uma vida melhor.

A Conceição e Geraldo (In Memoriam), meus avós por parte de mãe que, sem dúvidas, se orgulhariam de ver a primeira graduada da família. Vocês sempre farão parte subjetiva de mim. Amo vocês, onde estiverem, amo vocês!

A minha irmã querida, Stephani, por ser uma inspiração e pelos “puxões de orelha”. Ter uma irmã mais velha é bom demais!

A Clarice e Julliane, amigas-parceiras às quais nutro um afeto que é gigante. Sem o apoio de vocês seria muito mais difícil. Obrigada pelas diversas trocas!

A Hanna, Lucas Matheus e João Victor. Obrigada pelos sorrisos, conversas e abraços, durante os intervalos das aulas e fora do ambiente acadêmico. Mesmo quando afastados, penso muito em vocês.

A Ana Paula, Annelise, Bruno, Layse, Jaziel e Marina. Amigos e amigas que dividem a vida comigo e me dão toda força para continuar.

A professora Dra. Maria Célia Correia Nicolau, pela minha inserção na Iniciação Científica, importante espaço de desenvolvimento do saber e da pesquisa; pelas horas de orientação comprometida - tanto na pesquisa, quanto em nível de monografia - e por ser um exemplo de docente!

A minha banca examinadora, as professoras queridas Dra. Eliana Andrade da Silva e Dra. Miriam de Oliveira Inácio!

A totalidade de professoras e professores do Departamento de Serviço Social da UFRN. Cada um, em suas peculiaridades e particularidades, são incríveis. Vocês me inspiram a seguir na docência!

A todos e todas que compõem o GEPTED/QTEMOSS, vocês me trouxeram - e continuam trazendo - reflexões, vivências acadêmicas e extra-acadêmicas maravilhosas!

A Mairana Gomes e Sâmya Martins, minhas supervisoras de estágio, no CREAS - OESTE e no Centro de Cidadania LGBT de Natal, respectivamente, assim como a Taíse Negreiros e Tássia Monte, supervisoras acadêmicas de estágio. Vocês contribuíram muito para

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6 minha formação humana e profissional. Um beijo e abraço em vocês, em pouco tempos seremos colegas de profissão!

Ao conjunto da classe trabalhadora: que esta seja minha perspectiva e o norte da minha atuação como profissional. A nós, meu compromisso e vontade!

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Porque era hora de olhar; mirei e vi. (Guimarães Rosa)

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RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso versa sobre a secundarização do Núcleo de Fundamentos do Trabalho Profissional na produção de conhecimento na graduação, em sua particularidade do curso de Serviço Social da UFRN, lócus da pesquisa documental. Objetiva investigar e analisar os determinantes histórico-sociais das escolhas e motivações dos objetos de pesquisa das graduandas e graduandos de Serviço Social da UFRN sistematizados teoricamente nos Trabalhos de Conclusão de Curso. Assim, busca identificar e analisar o porquê dessas motivações não abordarem as discussões sobre o exercício profissional e a formação profissional, ou seja, as temáticas que contemplam o Núcleo de Fundamentos do Trabalho Profissional. Partimos do pressuposto que as complexas relações sociais e transformações societárias que vêm ocorrendo no contexto da sociabilidade capitalista brasileira rebatem nas velhas e novas dinâmicas histórico-sociais, influenciando e complexificando o mundo do trabalho, os processos de trabalho, as políticas sociais, incluindo a política de educação e, por seu turno a formação profissional em nível superior do assistente social. De natureza documental e bibliográfica, o presente trabalho segue uma perspectiva crítica de análise do seu objeto, tendo como base os fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Social, articulados aos demais fundamentos que se debruçam a conhecer a sociedade, para mediação da análise dos determinantes que incidem na escolha dos objetos de pesquisas dos e das discentes do curso de Serviço Social da UFRN. Numa perspectiva crítica, optamos pela construção ontológica do conhecimento, ao tempo que fez-se necessário trazer à tona, a importância da dimensão investigativa e sua relação com a dimensão interventiva, tanto para a construção de sistematizações teóricas e da pesquisa como um todo, quanto para atuação cotidiana profissional. As informações sistematizadas e analisadas possibilitaram a identificação da existência de uma secundarização do debate da formação e exercício profissional em grande parte das escolhas dos graduandos e graduandas de Serviço Social da UFRN, havendo uma priorização de temas relacionados aos outros dois núcleos - - Núcleos de Fundamentos Teórico-Metodológicos da Vida Social e Núcleo de Fundamentos da Formação Sócio-Histórica da Sociedade Brasileira - sem estabelecer relação dos seus objetos de pesquisa com o debate da profissão em suas dimensões da formação e do exercício profissional, que têm como referência os fundamentos teóricos e críticos produzidos pelos nossos intelectuais e pesquisadores para compreensão do Serviço Social na sociedade. Esse fenômeno coloca para a categoria a imprescindibilidade da atitude investigativa em torno do próprio Serviço Social: é necessário pesquisar, debater e discutir mais sobre o exercício e a formação profissional. Defende-se que os núcleos de fundamentação evidenciam a lógica transversal entre os três níveis, isto é, singular-particular-universal, e requer dos graduandos e graduandas, em seu processo formativo, o entendimento da existência de uma relação intrínseca entre todos, eliminando potenciais fragmentações do processo de conhecimento e as dissociações entre eles. Palavras-chave: Serviço Social. Núcleo de Fundamentos do Trabalho Profissional. Produção de Conhecimento.

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ABSTRACT

This course conclusion work deals with the secondaryization of the Core of Fundamentals of Professional Work in the production of knowledge at graduation, in its particularity of the UFRN Social Work course, the locus of documentary research. It aims to investigate and analyze the historical-social determinants of the choices and motivations of the research objects of undergraduate and graduate students of Social Work at UFRN theoretically systematized in the Course Conclusion Papers. Thus, it seeks to identify and analyze why these motivations do not address the discussions about professional practice and professional training, that is, the themes that comprise the Core of Fundamentals of Professional Work. We start from the assumption that the complex social relations and societal transformations that have been occurring in the context of Brazilian capitalist sociability bounce off the old and new historical-social dynamics, influencing and complexifying the world of work, work processes, historical-social policies, including politics education and, in turn, professional training at the higher level of the social worker. Of a documentary and bibliographic nature, the present work follows a critical perspective of analysis of its object, based on the historical, theoretical and methodological foundations of Social Work, linked to the other foundations that focus on knowing society, to mediate the analysis of determinants that affect the choice of research objects by and students of the UFRN Social Service course. In a critical perspective, we opted for the ontological construction of knowledge, while it became necessary to bring out the importance of the investigative dimension and its relationship with the intervention dimension, both for the construction of theoretical systematizations and of research as a whole, as well as for daily professional performance. The systematized and analyzed information made it possible to identify the existence of a secondary aspect of the debate on training and professional practice in a large part of the choices of undergraduate and graduate students of Social Work at UFRN, with a prioritization of themes related to the other two nuclei - - Fundamentals Nucleus Theoretical-Methodological of Social Life and the Socio-Historical Formation Fundamentals Group of the Brazilian Society - without establishing a relationship between its research objects and the debate of the profession in its dimensions of training and professional practice, which have as reference the theoretical and critics produced by our intellectuals and researchers to understand Social Work in society. This phenomenon places in the category the indispensability of the investigative attitude around Social Work itself: it is necessary to research, debate and discuss more about the exercise and professional training. It is argued that the founding nuclei show the transversal logic between the three levels, that is, singular-particular-universal, and requires undergraduate students, in their formative process, the understanding of the existence of an intrinsic relationship between all, eliminating potential fragmentations of the knowledge process and the dissociations between them.

Keywords: Social Service. Core of Fundamentals of Professional Work. Knowledge Production.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Relação de trabalhos de conclusão de curso apresentados ao DESSO em 2018.1 ... 57 Quadro 2 - Relação de Relação de Trabalhos de Conclusão de Curso apresentados ao DESSO em 2018.2 ... 61 Quadro 3 - Relação de Relação de Trabalhos de Conclusão de Curso apresentados ao DESSO em 2019.1 ... 64 Quadro 4 - Relação de trabalhos de conclusão de curso apresentados ao DESSO em 2019.2 ... 69 Quadro 5 - Relação de monografias escolhidas para análise dos determinantes (2018 e 2019) ... 74

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABESS - Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social

ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CFESS - Conselho Federal de Serviço Social

CEDEPSS - Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CRESS - Conselhos Regionais de Serviço Social

DESSO - Departamento de Serviço Social FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos IC - Iniciação Científica

LGBTQIA+ - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis, Queer, Intersexo, Assexual e outras possibilidades

MEC - Ministério da Educação

TCC - Trabalho de Conclusão de Curso PUC - Pontifícia Universidade Católica

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13 2 SERVIÇO SOCIAL, FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM TEMPOS DE CRISE DO CAPITAL E A IMPORTÂNCIA DA PROFISSÃO NO CENTRO DO DEBATE ... 18 2.1. O SIGNIFICADO SOCIAL DA PROFISSÃO E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE ... 18 2.2 AS DIRETRIZES CURRICULARES DA ABEPSS NO PROCESSO FORMATIVO E A LÓGICA CURRICULAR PARA O CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ... 29 2.3 A IMPRESCINDIBILIDADE DA DISCUSSÃO DO NÚCLEO DE FUNDAMENTOS DO TRABALHO PROFISSIONAL PARA FORMAÇÃO DE UM PERFIL PROFISSIONAL CRÍTICO ... 39 3 A SECUNDARIZAÇÃO DO DEBATE DA PROFISSÃO NAS SISTEMATIZAÇÕES TEÓRICAS DOS GRADUANDAS E GRADUANDOS DE SERVIÇO SOCIAL DA UFRN ... 44 3.1 A DIMENSÃO INVESTIGATIVA NO DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM MATÉRIA DE SERVIÇO SOCIAL ... 44 3.2 A SECUNDARIZAÇÃO DO DEBATE DA PROFISSÃO E OS SEUS DETERMINANTES ... 53 3.3 A NECESSÁRIA CONCRETIZAÇÃO DE UMA ATITUDE INVESTIGATIVA SOBRE A PROFISSÃO NAS SISTEMATIZAÇÕES TEÓRICAS ... 77 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 81 REFERÊNCIAS ... 82

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1 INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos, o Serviço Social brasileiro, apesar de não se constituir ciência1, vem apresentando uma maturidade intelectual bastante significativa no que diz respeito à pesquisa, a produção e a sistematização de conhecimentos. Podemos perceber que as estudantes e pesquisadoras e pesquisadores da área se debruçam cada vez mais nas variadas temáticas que são de grande interesse e significância para a profissão.

Na realidade local, tanto em nível de graduação, quanto em nível de pós-graduação, estudantes e profissionais do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pesquisam e analisam temas relacionados às temáticas que abrangem desde Processos de Trabalho, Formação e Trabalho Profissional, Ética Profissional, Instrumentalidade, Fundamentos do Serviço Social e Exercício Profissional, até Políticas Sociais, Estado e Sociedade; Cultura, Cultura Profissional e Identidades; Família, Relações de Gênero, Raça, Etnia e Diversidade Humana; Sociabilidade, Questão Social e Movimentos Sociais, entre outros.

A visualização desse quadro rico e diversificado de conteúdos demonstra a capacidade intelectual da categoria profissional, ao mesmo tempo que não o esgota. Pelo contrário, oferece uma comprovação do potencial da área em produzir conhecimento. Tenha-se presente que o Serviço Social, considerada como área do conhecimento, segundo Mota (2013, p.1),

Ao longo desses últimos 30 anos vem ultrapassando os imperativos da imediaticidade da intervenção, uma vez que vem contribuindo numa produção teórica crítica, assumindo um “papel intelectual na formação de uma cultura teórica e política que se contrapõe à hegemonia dominante, protagonizada pela esquerda marxista no Brasil (MOTA, 2013, p.1).

Nesta perspectiva, encontramos no Serviço Social brasileiro dois níveis de produção teórica crítica: os fundamentos teóricos críticos no Serviço Social para compreensão da sociedade contemporânea, e os fundamentos teóricos e críticos para compreensão do Serviço Social na sociedade contemporânea. Esses fundamentos estão constituídos dialeticamente, a partir dos núcleos dos fundamentos da formação profissional do assistente social em suas diretrizes curriculares, os quais incluem: os fundamentos da vida social, fundamentos da realidade brasileira e fundamentos do trabalho profissional.

1 De caráter interventivo profissional, o Serviço Social não nasce da divisão social do saber. Como projeto da

classe dominante, “ele surge como uma especialização na divisão social do trabalho, voltado para intervenção na realidade” (IAMAMOTO; CARVALHO,1982, p.89).

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A problemática e discussão deste trabalho se situam no questionamento do porquê, no âmbito da formação profissional, os fundamentos teóricos e críticos para compreensão do Serviço Social na sociedade contemporânea não possuem centralidade nas sistematizações teóricas produzidas pelos graduandos e pelas graduandas de Serviço Social da UFRN. Isto é, procura-se aqui analisar os determinantes que influenciam e interferem nessa não-centralidade no âmbito das análises dos graduandos sobre o exercício e/ou a formação profissional, pensadas no contexto da realidade social, mais especificamente nos Trabalhos de Conclusão de Curso dos estudantes.

O principal motivo que determinou a escolha do tema em discussão foi a participação, durante 03 (três) anos, em um projeto de Iniciação Científica (IC), que teve como objeto central de análise, “Os fundamentos na formação profissional do Serviço Social na produção do conhecimento dos graduandos”. Tal envolvimento com os planos de trabalho2 e com as consequentes reflexões desenvolvidas via processo de pesquisa proporcionaram a aproximação com assuntos, temas, discussões e diálogos de extrema importância no debate sobre a produção de conhecimento em nível de graduação e pós-graduação.

Dessa forma, o objetivo desse trabalho é investigar os determinantes que levam os discentes do curso de Serviço Social da UFRN, em suas sistematizações teóricas (da prática), a não-centralidade do Núcleo de Fundamentação do Trabalho, analisando a importância da produção do conhecimento sobre a formação e o exercício profissional dos graduandos e graduandas na construção do seu perfil profissional.

Para situar a problemática, apresenta-se aqui alguns dados que se fazem importantes para a reflexão a que se quer chegar: analisando os Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) do ano de 2018, podemos observar que 52 (cinquenta e dois) documentos no formato de monografias, foram apresentados ao Departamento de Serviço Social da UFRN para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Quando se processa um recorte semestral, podemos identificar que foram apresentados 32 (trinta e duas) em 2018.1, sendo que 17 (53,13%) estabeleceram mediações com os Núcleos de Fundamentos Teórico-Metodológicos da Vida Social e Núcleo de Fundamentos da Formação Sócio-Histórica da Sociedade Brasileira,

2 Os planos de trabalho intitulados: OS FUNDAMENTOS NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO SERVIÇO

SOCIAL: redesenhar o caminho da sistematização teórica dos graduandos da UFRN (2018 a 2019); A sistematização teórica na produção do conhecimento dos graduandos de Serviço Social da UFRN: redesenhar as tendências conservadoras para discutir e superar (2019 a 2020; e OS FUNDAMENTOS NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO SERVIÇO SOCIAL: redesenhar o caminho da sistematização teórica dos graduandos da UFRN (2020 a 2021)

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enquanto que apenas 15 (quinze), ou seja, 46,87% dos TCCs propuseram-se a estabelecer mediações com o Núcleo de Fundamentos do Trabalho - formação ou exercício profissional.

Já no segundo período letivo de 2018, ou seja, 2018.2, 20 monografias foram apresentadas. Especificando mais o recorte, 13 (treze), isto é 65% contemplaram os Núcleos de Fundamentos Teórico-Metodológicos da Vida Social e Núcleo de Fundamentos da Formação Sócio-Histórica da Sociedade Brasileira, enquanto que apenas 7 (35%) trabalhos tiveram temáticas voltadas ao debate da profissão.

No ano seguinte, constatamos que, em 2019.1 foram apresentadas 38 (trinta e oito)

monografias: 23 (vinte e três) destas, ou seja, 60,53%, discutiram temáticas referentes aos

Núcleos de Fundamentos Teórico-Metodológicos da Vida Social e Núcleo de Fundamentos da

Formação Sócio-Histórica da Sociedade Brasileira. Somente 15 (quinze), 39,47%, tratavam

sobre as temáticas relacionadas à formação profissional, exercício profissional e/ou produção do conhecimento no Serviço Social3. No segundo período letivo deste ano, 2019.2, foram entregues e apresentadas 25 monografias. Destas, 19 (dezenove), 76%, debruçaram-se em temáticas relacionadas aos Núcleos de Fundamentos Teórico-Metodológicos da Vida Social e Núcleo de Fundamentos da Formação Sócio-Histórica da Sociedade Brasileira. Enquanto que apenas 6 (seis), isto é, 24%, trouxeram temáticas relacionadas ao Núcleo de Fundamentos do Trabalho Profissional.

As temáticas analisadas pelo alunado abordaram inclusão e educação superior; encarceramento de mulheres no Rio Grande do Norte; ativismo e mulheres negras; violência contra a mulher e feminicídio; juventude e políticas públicas; LGBTQIA+ e preconceito no mercado de trabalho; população em situação de rua; cultura popular; assistência estudantil; trabalho infantil; políticas para pessoas idosas; controle social na saúde; adoção tardia; política habitacional; refugiados e xenofobia; reforma agrária; maternidade; doação de sangue; gênero e mulheres; família e socioeducação; movimentos sociais; economia solidária; juventude e serviço de proteção social; maternidade, parto humanizado e violência obstétrica; adolescência e sexualidade; moradia e habitação; idosos; homoafetividade; participação popular e controle social; deficiência física e anticapacitismo; ajuste fiscal e seus impactos, entre outros.

Refletindo e analisando esses dados, podemos perceber que o debate sobre a profissão constitui-se de forma secundarizada nas produções e sistematizações teóricas na graduação. É imprescindível destacar que a totalidade dessas temáticas tem uma significativa importância no conhecimento das diversas expressões da questão social tratadas no processo formativo nas

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atividades do ensino, da pesquisa, da extensão e nos campos para inserção em Estágio Curricular em Serviço Social.

Porém, é notório que grande parte das escolhas das graduandas e graduandos não se localizam nas questões relacionadas à profissão, referentes às suas dimensões do exercício e da formação profissional e, sim, na produção teórica crítica para compreensão da sociedade contemporânea. Neste sentido, priorizam temas diversos, sem estabelecer relação dos seus objetos de pesquisa com o debate da profissão ou ação interventiva profissional, que têm como referência os fundamentos teórico-críticos produzidos pelos nossos intelectuais e pesquisadores para compreensão do Serviço Social na sociedade.

De acordo com Minayo (2001, p.16), “entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade”. De natureza documental e bibliográfica, o presente trabalho segue uma perspectiva crítica de análise do seu objeto, tendo como base os fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Social para mediação da análise dos determinantes que incidem na escolha dos objetos de pesquisas dos e das discentes do curso de Serviço Social da UFRN. Dessa forma, uma revisão na literatura do Serviço Social e a análise dos Núcleos de Fundamentação componente nas Diretrizes Gerais da ABEPSS se fizeram bastante imprescindíveis, tendo em vista a perspectiva de compreender o porquê da secundarização do debate da profissão nos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), sistematizados ao fim da formação superior, em nível de graduação.

A respeito do caminho que optamos por seguir nesta pesquisa, enveredamos, no segundo capítulo, nas discussões acerca do significado social da profissão e no debate da formação e exercício profissional em Serviço Social na contemporaneidade. São abordadas as complexas relações sociais e transformações históricas que vem ocorrendo a este nível no atual modo de produção capitalista, isto é, os rebatimentos das velhas e novas dinâmicas histórico-sociais que influenciam e complexificam os processos de trabalho, as políticas de educação e a formação superior profissional.

Nesse contexto, a relação de transversalidade que existe entre as diversas dimensões da profissão - teórico metodológica, técnico-operativa e ético-política - são abordadas em relação com as Diretrizes Curriculares da ABEPSS e a sua lógica curricular para o curso de Serviço Social. Já no último ponto do capítulo, analisamos a imprescindibilidade da discussão do Núcleo de Fundamentos do Trabalho Profissional para uma formação de um perfil profissional crítico.

Acerca do terceiro capítulo, caminhamos no direcionamento de dar atenção especial a discussão ontológica da dimensão investigativa da profissão: nesse momento poderemos refletir

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sobre a teoria do conhecimento no materialismo histórico-dialético e sua importância para o Serviço Social, procurando analisar como tais processos se constituem socialmente e historicamente e como se relacionam entre si na prática profissional na lógica atual do projeto profissional e pedagógico do Serviço Social. Além disso, analisamos a imprescindibilidade de uma atitude investigativa para a pesquisa e produção de conhecimento na área do Serviço Social; como essa dimensão faz-se necessária para o saber e a atuação profissionais e como essa natureza investigativa se desenvolve como uma dimensão que desenvolve relação importante com a dimensão interventiva do Serviço Social.

É neste capítulo, também, que discutimos propriamente os rumos da pesquisa, sistematização teórica (da prática) e produção de conhecimento, com foco na realidade da graduação de Serviço Social da UFRN. Assim, pode ser visualizado um quadro geral que nos apresenta algumas indicações sobre a secundarização das discussões sobre formação e exercício profissional como objetos centrais de pesquisa nas sistematizações das graduandas e graduandos. A pesquisa foi realizada por meio de um levantamento dos Trabalhos de Conclusão de Curso (monografias) apresentados ao Departamento de Serviço Social (DESSO) da UFRN, nos anos de 2018 e 2019 (primeiros e segundos semestres letivos).

É por meio desse levantamento que fomos capazes de abordar alguns dos determinantes que levam a escolha das temáticas para objetos de pesquisa nesse processo de sistematização teórico-metodológica. Isso conjecturou a oportunidade de discutir de forma crítica a problemática explicitada, percorrendo uma investigação que contempla aspectos sociais e culturais desta secundarização do debate da produção nessa esfera de conhecimento. Por último, discorremos sobre a necessidade de se consolidar uma atitude investigativa sobre a profissão nas sistematizações teóricas da prática produzidas pelos graduandos e graduandas de Serviço Social para uma formação crítica e de qualidade.

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2 SERVIÇO SOCIAL, FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM TEMPOS DE CRISE DO CAPITAL E A IMPORTÂNCIA DA PROFISSÃO NO CENTRO DO DEBATE

2.1. O SIGNIFICADO SOCIAL DA PROFISSÃO E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NA CONTEMPORANEIDADE

Nos termos de Iamamoto e Carvalho (2014, p. 79-80), compreender o significado social da profissão de Serviço Social no Brasil remete a “Apreendê-lo sob dois ângulos indissociáveis entre si, como expressão do mesmo fenômeno: como uma realidade vivida e representada na e pela consciência dos profissionais expressa pelo discurso teórico-ideológico sobre o exercício profissional e a atuação como uma atividade socialmente determinada pelas circunstâncias sociais objetivas conferindo uma direção social a essa ação profissional”.

Dessas dimensões indissociáveis encontra-se as diferentes dimensões na profissão expressas na perspectiva teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa que se materializam em determinados momentos históricos, na relação entre os interesses contraditórios das classes sociais constituídas na sociedade burguesa a partir da década de 30 do séculoq’ XX, no Brasil.

Historicamente falando, a profissão do Serviço Social ganha reconhecimento a partir do desenvolvimento do capitalismo industrial e da expansão urbana das cidades a partir da década de 30 do século XX, na sociedade brasileira. Tal expansão industrial cria as condições necessárias para o crescimento do proletariado e da burguesia industrial, assim como da expansão das desigualdades e do acirramento entre estas, consequenciando a expansão da chamada questão social, que é o que irá justificar ações por parte do Estado. Ainda sob as orientações de Iamamoto e Carvalho (2014),

A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado (IAMAMOTO; CARVALHO, 2014, p.83-84).

É nesse momento histórico, também, que se refinam os traços de exploração direcionados à classe trabalhadora: quando na gênese da profissão, ou seja, o aparecimento das primeiras ações de grupos isolados que se organizam contra as “mazelas” evidentes na sociedade, ao tempo que o mundo vivenciava uma grande crise - a Grande Depressão. Crise, que de acordo com Behring (2009, p.7), “Foi a maior crise econômica mundial do capitalismo até aquele momento.”

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É dessa forma que se conjuram, no cenário nacional e internacional, novas expressões da questão social, oferecendo à parte subalternizada4 da sociedade uma reatualização das desigualdades sociais, materiais, espirituais e novos processos de alienação inerentes ao modo de ser capitalista, requisitando respostas dos variados setores sociais. Tem-se nessa conjuntura dos anos 30 do século XX respostas do Estado e da Igreja para as diversas expressões da questão social, mesmo com projetos corporativos diferentes, e, posteriormente dos grupos empresariais na década de 40 do século XX.

Portanto, o Serviço Social tem sua gênese a partir do contexto de relações sociais das classes fundamentais5 do sistema capitalista engendradas pelos processos e dinâmicas de uma sociabilidade tipicamente capitalista que requisita a profissão para intervir nos conflitos oriundos dos antagonismos de interesses das classes sociais fundamentais da ordem burguesa constituída, em respostas às necessidades sociais da população, transformadas em demandas e requisições para a ação e intervenção profissional.

Vale aqui relembrar que a prática profissional de assistentes sociais, como denota Maria Carmelita Yazbek (2009, p.4), se faz “Polarizada pelos interesses de classes sociais em relação, não podendo ser pensada fora dessa trama.” Ao mesmo tempo que comporta em si dimensões objetivas e subjetivas, que influenciam o modo de consciência e de autorrepresentação dos seus agentes profissionais. Como observa, Yazbek (2009),

Podemos afirmar que o Serviço Social participa tanto do processo de reprodução dos interesses de preservação do capital, quanto das respostas às necessidades de sobrevivência dos que vivem do trabalho. Não se trata de uma dicotomia, mas do fato de que ele não pode eliminar essa polarização de seu trabalho, uma vez que as classes sociais e seus interesses só existem em relação. Relação que, como já afirmamos, é essencialmente contraditória e na qual o mesmo movimento que permite a reprodução e a continuidade da sociedade de classes cria as possibilidades de sua transformação (YAZBEK, 2009, p.5).

Nos termos de Iamamoto e Carvalho (2014), a partir da década de oitenta passou-se a compreender que o Serviço Social surge na e a partir da divisão social e técnica do trabalho6,

4 Nos termos de Simionatto (2009), “A categoria “subalterno” e o conceito de “subalternidade” têm sido utilizados,

contemporaneamente, na análise de fenômenos sociopolíticos e culturais, normalmente para descrever as condições de vida de grupos e camadas de classe em situações de exploração ou destituídos dos meios suficientes para uma vida digna. No pensamento gramsciano, contudo, tratar das classes subalternas exige, em síntese, mais do que isso. Trata-se de recuperar os processos de dominação presentes na sociedade[...] (SIMIONATTO, 2009, p.42)

5 Dentro de uma leitura analítica que contempla a teoria social crítica, as classes fundamentais do sistema

capitalista são os burgueses e proletários.

6 Consoante Guerra (2014), “É certo que a divisão do trabalho pauta-se numa forma de cooperação, porém, no

modo de produção capitalista os antagonismos de interesses não se dissolvem nas abstrações universais. Ao contrário, explicitam-se na relação de troca, onde as singularidades transformam-se em meios para o alcance das finalidades individuais” (GUERRA, 2014, p.220).

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como uma especialização do trabalho coletivo na divisão social do trabalho na sociedade industrial capitalista. A especialização e a consequente institucionalização do trabalho coletivo de assistentes sociais é um exemplo de estratégias a este nível. Segundo Guerra (2014, p.210), “O processo de institucionalização da profissão é uma decorrência necessária dos interesses e demandas das classes sociais que se antagonizam no processo produtivo capitalista.”

A profissão se apresenta como elemento e dispositivo que participa da produção e reprodução7 das relações sociais de classes. Nesse sentido, é necessário compreender a relação contraditória que a profissão comporta em si e como se situa no contexto da totalidade social. Conforme Iamamoto (2002),

Considerando a historicidade da profissão – seu caráter transitório e socialmente condicionado – esta se configura e se recria no âmbito das relações entre o Estado e a sociedade, fruto de determinantes macrossociais que estabelecem limites e possibilidades ao exercício profissional, inscrito na divisão social e técnica do trabalho e nas relações de propriedades que a sustenta (IAMAMOTO, 2002, p. 18-19).

Nessa perspectiva, é necessário pensar a profissão como uma ação interventiva que se desenvolve em uma dinâmica histórica particular, dentro de um contexto de necessidades sociais e com particularidades específicas de ação. Particularidades estas que com o próprio movimento da história e da sociedade tensionam a transformarem-se, modificando assim os objetivos, atribuições e direcionamentos políticos e profissionais. A atuação profissional, portanto, é polarizada pela inter-relação entre as classes fundamentais existentes no sistema capitalista.

Compreendendo isto, pode-se considerar que “O processo de institucionalização da profissão vem na esteira do processo de racionalização do Estado burguês, com o intuito de facilitar a atuação dos monopólios e[...], de manter suas bases de sustentação.” (GUERRA, 2014, p.209). Destarte Iamamoto (2015, p.338) afirma que

As diferenciadas condições e relações sociais que envolvem trabalho redimensionam socialmente o significado das projeções profissionais, cuja viabilização é determinada por condicionantes que ultrapassam os indivíduos singulares, ao materializarem interesses dos sujeitos sociais contratantes. É, nesse campo de tensões, que se realiza o trabalho profissional carregando, em si, as contradições sociais atinentes a qualquer trabalho na sociedade capitalista, mas que, simultaneamente, se expressam de maneira particular nessa especialização do trabalho social, porquanto dependente de sua específica funcionalidade social e das respostas profissionais, que materializam o legado profissional coletivamente acumulado (IAMAMOTO, 2015, p.338).

7 Na teoria social crítica, entende-se produção como “atividade social” que transforma a natureza, ao mesmo tempo

que transforma o ser humano (IAMAMOTO; CARVALHO, 2014, p.36). Portanto, pode-se compreender a reprodução das relações sociais não apenas como o modo de materialmente produzir e reproduzir objetos, mas, também, o modo de produzir e reproduzir a vida e a existência em sua totalidade, em dada sociabilidade.

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Nessa perspectiva, o Serviço Social faz parte dos dispositivos sociais - mais especificamente, na forma de profissão - que se constituem como elemento potencializador do desenvolvimento da produção e reprodução social no sistema capitalista. Compreende-se a reprodução das relações sociais não apenas como o modo materialmente de produzir e reproduzir objetos, mas, também, como um modo de produzir e reproduzir a vida e a existência em sua totalidade, em uma dada sociabilidade.

O Serviço Social como profissão ao longo de sua trajetória histórica e intelectual, segundo Guerra (2000), construiu e reconstruiu suas propriedades e capacidades sócio-históricas. Assim,

No confronto entre as condições objetivas e as posições teleológicas de seus agentes profissionais e dos agentes sociais que demandam o exercício profissional, entre as respostas profissionais e as demandas colocadas à profissão, as quais atribuem-lhe determinados significados e reconhecimento social, que precisam ser compreendidos (GUERRA, 2000, p.6).

A sua instrumentalidade está vinculada às formas de inserção à ordem burguesa, enquanto parte da divisão social e técnica do trabalho. O assistente social como trabalhador especializado, dentro dos limites da divisão social e técnica do trabalho, no âmbito do mercado, vende sua força de trabalho como mercadoria. E, como parte desta força existe um conjunto de procedimentos profissionais demandados no âmbito da ordem burguesa, portanto, instrumentais a ela. Todavia, segundo Iamamoto (2006, p.6), os assistentes sociais

Têm buscado um compromisso efetivo com os interesses públicos, atuando na defesa dos direitos sociais dos cidadãos e cidadãs e na sua viabilização junto aos segmentos majoritários da população, o que coloca a centralidade da questão social para o trabalho e a formação profissional no contexto latino-americano (IAMAMOTO, 2006, p.6).

Tenha-se presente, que o exercício profissional do assistente social compartilha de um mesmo movimento, do qual tanto admite a continuidade da sociedade de classes com forças sociais e políticas contraditórias, como institui as possibilidades de sua transformação em um “terreno sócio-histórico aberto à construção de projetos profissionais também diversos, indissociáveis dos projetos mais amplos para a sociedade” (IAMAMOTO, 2004, p.6). A existência dessas forças sociais e políticas reais e concretas no cotidiano da vida social possibilita à categoria profissional constituir estratégias político-profissionais voltadas para reforçar os interesses das classes subalternizadas, público alvo das ações profissionais. Para Iamamoto (2004, p.6), “Sendo a profissão atravessada por relações de poder, ela dispõe de um caráter essencialmente político, o que não decorre apenas das intenções pessoais do assistente social, mas dos condicionantes histórico-sociais dos contextos em que se insere e atua”.

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Nesta perspectiva, “A categoria profissional desenvolve uma ação de cunho sócio-educativo”, na mediação da prestação de serviços sociais, possibilitando o acesso aos direitos, bem como aos meios de praticá-lo, colaborando, portanto para que “As necessidades e interesses dos sujeitos de direitos” se tornem evidentes “Na cena pública e possam ser reconhecidos” (IAMAMOTO, 2004, p.6)8.

É necessário ter em mente que o projeto de acumulação intrínseco ao estágio de monopólios do sistema capitalista vivencia, organicamente, crises sistêmicas9, requerendo do próprio sistema capitalista e, consequentemente dos Estados10 nacionais, novas reconfigurações ao que diz respeito às características que o mantém em funcionamento, influenciando as dinâmicas de cada região e país, assim como redimensionando e reconfigurando os variados setores da sociedade civil, das condições de vida dos trabalhadores e das profissões. Nos termos de Behring (2009, p.4)

Os Estados nacionais restringem‐se a: cobrir o custo de algumas infra‐estruturas (sobre as quais não há interesse de investimento privado), aplicar incentivos fiscais, garantir escoamentos suficientes e institucionalizar processos de liberalização e desregulamentação, em nome da competitividade. (BEHRING, 2009, p.4).

Assim, dependendo da fase do ciclo econômico que esteja vigente no curso da história e em cada particularidade nacional, ao Estado compete se configurar, em termos de regulação social, bases produtivas e termos ideológicos, às demandas do capital: ora intervindo com maior força no mercado e nas condições de vida das populações, ora afrouxando seus aparatos em relação ao mercado, quando se apresenta menos interventor na economia. Esses movimentos não acontecem fragmentariamente e ao acaso: existem determinações as mais diversas - sociais, históricas, políticas, econômicas e conjunturais que explicam cada período dentro do modo de produção capitalista. De acordo com Behring (2009, p.2)

O Estado acompanha os períodos longos do desenvolvimento do capitalismo de expansão e estagnação e se modifica histórica e estruturalmente, cumprindo seu papel na reprodução social do trabalho e do capital, e expressando a hegemonia

8 Ainda sobre isso, “Importantes investimentos acadêmico-profissionais foram realizados no sentido de se

construir uma nova forma de pensar e fazer o Serviço Social, orientadas por uma perspectiva teórico-metodológica apoiada na teoria social crítica e em princípios éticos de um humanismo radicalmente histórico, norteadores do projeto” (IAMAMOTO, 2004, p.6).

9 Não se pode perder de vista que as crises são inerentes a essa forma de produção e reprodução econômico-social.

De acordo com Netto e Braz (2006), os períodos de prosperidade e de recessão dos ciclos econômicos presentes no modo de produção capitalista evidenciam o caráter “ineliminável” das crises (p.156-157), requisitando adequações e até redimensionamentos do Estado, instituição tal qual, como qualifica a obra marxiana, é o “comitê executivo” dos interesses burgueses.

10 De acordo com Marx e Engels (2009), o Estado Moderno é o “comitê administrativo” dos interesses e negócios

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do capital, nas formações sociais particulares, ainda que com traços gerais comuns (BEHRING, 2009, p.2).

De acordo com Mota (2012, p.4), “Como afirmou Marx (1998), as crises são inerentes ao desenvolvimento do capitalismo, dado que a produção capitalista cria barreiras à sua própria expansão”. Em sua ocorrência, o capital reinventa, recria e reorienta as estratégias de produção e reprodução social do capital. Mesmo que não naturais, demonstram um caráter ineliminável e funcional (PAULO NETTO; BRAZ, 2006), pois apresenta-se como um dos elementos contraditórios do modo de produção capitalista.

Se “Expressam entre o desequilíbrio entre produção e consumo” (MOTA, 2009, p.2), quando rompem o ciclo produção, circulação e consumo. Esse desequilíbrio pode ser demonstrado através das

Reduções de operações comerciais; acúmulo de mercadorias estocadas; redução ou paralisação da produção; falências; queda nos preços e salários; crescimento do desemprego; empobrecimento da classe trabalhadora. Suas causas podem ser provocadas pela anarquia da produção, concorrência intercapitalista, queda tendencial da taxa de lucros; subconsumo de massa; incidentes ideopolíticos ou geopolíticos (MOTA, 2009, p.2-3).

Dessa forma, tais preceitos reverberam no universo do trabalho e, tendo como pano de fundo um sistema econômico-produtivo que tem como traço principal a exploração dos trabalhadores, em momentos de crise do capitalismo - como é o caso da crise contemporânea - acirram-se mais ainda as conjunturas que os mantém em condições exploratórias de trabalho e existência. São exemplos: o aumento e generalização da pobreza da classe trabalhadora; expansão da miséria da população; o rebaixamento de salários, o aumento do subemprego e expansão do desemprego, o afrouxamento das leis trabalhistas, minimização dos contratos protetivos de trabalho, o crescimento da subcontratação, o redirecionamento do fundo público para ações das classes patronais, o aumento da expropriação de mão de obra e crescimento de desigualdades econômico-sociais entre as classes.

Essas movimentações econômico-sociais refletem no Serviço Social de muitas formas. Tanto no cotidiano das políticas públicas e sociais que, de acordo com Behring (2009, p.9), “Deixam de ser direitos sociais para se tornarem direito do consumidor”. como nos espaços sócio-ocupacionais, em que são experienciadas a precarização das condições de trabalho e emprego dos próprios profissionais assistentes sociais - falta de material de trabalho, como é o caso da ausência de repasses, por parte dos órgãos municipais, governamentais ou federais, de material para objetivação do mínimo trabalho cotidiano (lápis, canetas, papel sulfite para impressão de documentos, pastas, grampeadores); materiais e meios tecnológicos

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(computadores, impressoras, telefones); ausência de funcionários para a limpeza das instituições, como também, a ausência de material de higiene para uso de servidores e usuários dos equipamentos.

Ao mesmo tempo que isso é refletido no cotidiano de vida dos usuários, dos equipamentos e serviços - da Assistência Social (CRAS, CREAS, Centros de Convivência, Centros Dia, Centros Pop, por exemplo); da Saúde (hospitais de referências, Unidades Básicas de Saúde, Unidades de Pronto Atendimento, CAPS) que os trabalhadores das políticas atendem, como os já citados aumento da pobreza11 e miséria e expansão do desemprego, que ocasionam a falta de autonomia nas populações empobrecidas, restando apenas os serviços oferecidos pelo Estado. Dessa forma, como esclarece Behring (2009, p.7), podem ser constatados variados “Impactos deletérios nas condições cotidianas de trabalho, na medida em que aumenta a demanda por benefícios e serviços exponencialmente com o aumento da desigualdade e da pauperização absoluta e relativa.”

E, apesar de as desigualdades se mostrarem cada vez mais intensas ao que concerne aos seus rebatimentos nas classes subalternizadas, em momentos de crise e de reestruturação produtiva do capital, o Estado age no sentido apenas de oferecer uma mínima conservação da força de trabalho, ao mesmo tempo que obtém seu controle. Isso acontece por meio de políticas sociais de assistência social, por exemplo, que tendem a constituir-se cada vez mais de preceitos privado-mercantilistas, assistencialistas, moralizadores e focalizadores. Há, fortemente, o suporte às estratégias individuais e de solidariedade dentro dos limites da sociedade civil ao trato da questão social (a responsabilização por ações assistenciais é colocada nas mãos de organizações não-governamentais do Terceiro Setor, ao tempo que as instituições de benemerência e caridade também são requisitadas). Portanto há uma “desuniversalização” e subsequente “assistencialização” das políticas sociais (BEHRING, 2009), em tempos de conjuntura de crises.

Diante deste cenário de crise e reestruturação do capitalismo, a questão social, base historicamente fundante da atuação interventiva dos assistentes sociais, mantém algumas contradições (como é o caso da enorme diferença econômica entre classe detentora dos meios de produção e a classe trabalhadora), todavia, adquire novas formas e conteúdos: as novas expressões da questão social percorrem desde contradições no universo do trabalho (aumento do exército industrial de reserva, aumento da população relativa e expansão do desemprego; o

11 “A concentração da renda no Brasil continua sendo uma das mais altas do mundo, conforme o Relatório de

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rebaixamento dos salários (mostrando como uma consequência disto, o crescimento das demandas por serviços sociais), rebatem no crescimento das violações e violências identitárias que cresceram nos últimos tempos (violência de gênero e por orientação sexual; violências étnico-raciais; violências contra crianças e adolescentes, violências contra idosos entre outras), assim como, também, do aumento das doenças físicas e mentais ligadas as subcondições de trabalho.

As problemáticas das reflexões apontadas acima, desencadeiam rebatimentos à educação superior e a formação profissional de assistentes sociais. Essa reflexão necessita ser realizada para o cumprimento dos objetivos deste trabalho.

Sobre isto, é importante refletirmos como vem se dando a dinâmica da última crise contemporânea - a crise de 1970 que, na realidade brasileira, começa a mostrar suas forças a partir da década de 1990 - assim como, da sua subsequente reestruturação produtiva promovida pelos principais órgãos representativos do poder hegemônico do capital que, como bem coloca Mota (2009, p.10) demonstra “A marca da acumulação por espoliação tem sido a abertura de mercados em todo o mundo, através das pressões exercidas pelo Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio que, ao estimularem a aplicação de excedentes ociosos de capital” atribui consequências para os Estados nacionais e para as políticas sociais. Dessa forma, cumpre entender como estas se relacionam com a Política de Educação Superior brasileira e nas Universidades públicas brasileiras, tendo como contexto sócio-histórico este período recessivo e reestruturador do sistema econômico. De acordo com Mota (2009, p.7-8),

A plena incorporação das economias periféricas ao processo de reprodução ampliada do capital ocorreu nos anos 70 do século XX, quando os países então chamados subdesenvolvidos transformaram-se em campo de absorção de investimentos produtivos. A seus Estados nacionais coube a continuidade - embora com novas características - do papel de indutores do desenvolvimento econômico, propiciando uma base produtiva integrada às necessidades dos oligopólios internacionais, graças ao apelo ao crédito externo para o financiamento daquela base e da sua expansão (MOTA, 2009, p.7-8).

A mundialização do capital e sua subsequente financeirização são uma das principais estratégias estruturantes das agendas neoliberais para a educação dos países intitulados “dependentes” e “periféricos” da economia-mundo (MOTA, 2009), como é o caso dos países latino-americanos (Brasil, Argentina, Chile, e Uruguai, por exemplo). Mota (2009), ainda nos esclarece que é a crise da dívida externa que obriga “tais países, sistematicamente, a exportar capitais para o pagamento dos empréstimos recebidos” (MOTA, 2009, p.8).

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Essas estratégias têm tanto uma base produtiva e material, que promove aos Estados nacionais ditos “subdesenvolvidos” perspectivas obrigatórias de refuncionalização dos aparatos estatais, como é o caso de novos ajustes fiscais, financeirização da produção e reformas administrativas consoantes com os preceitos do neoliberalismo, assim como, exibe uma base ideopolítica que garanta a hegemonia dos países centrais em relação aos países dependentes. De acordo com Koike (2009, p.3),

Enquadramento que no Brasil ocorre na década de 1990, mediado pela supressão de direitos sociais historicamente consolidados; abertura dos mercados nacionais ao capital especulativo; geração de superávit primário para garantia de pagamento dos juros da dívida; privatização do patrimônio público e de atividades de reconhecida atribuição do Estado, como as políticas sociais públicas. Medidas que deterioram esses países, sobretudo as condições de vida das classes subalternizadas (KOIKE, 2009, p.3).

De acordo com as agendas dos órgãos internacionais, a promoção de mudanças no âmbito educativo em uma realidade nacional pode promover tanto transformações na taxa de lucros (quando transformada em serviço mercadológico12), quanto nas perspectivas culturais e ideopolíticas de um lugar. Assim, é nesta perspectiva que a lógica de educação como direito social e universal vão dando lugar a estratégias privatizantes e transformam-se em mercadoria e serviços na realidade brasileira. A partir da década de 90 do século XX, a perspectiva mercantil e empresarial invade com força descomunal o campo educacional brasileiro e, nos termos de Iamamoto (2015, p.433), “O propósito foi o de compatibilizar o ensino superior com os ditames da financeirização da economia”. É a partir desse contexto que se visualiza um processo massivo de privatização da educação superior no Brasil, em consonância com as dinâmicas político-econômicas mundiais. Consoante Soares (2018),

A flexibilização atingiu a autonomia universitária, os contratos e regimes de trabalho, as parcerias público-privada, a definição de “qualidade” segundo critérios de produtividade. A universidade brasileira é também expressão das condições sociais e políticas da sociedade em determinados contextos. Por essa razão, ela passou por três movimentos correspondentes às transformações do capital: a universidade funcional, a universidade de resultados, e a universidade operacional” (SOARES, 2018, p.10).

As necessidades do mercado de trabalho na sociabilidade capitalista contemporânea redefinem a todo instante as configurações de formação profissional em cursos de graduação e pós-graduações. Os cursos introjetam não apenas em seus quadros curriculares, mas também

12 Sobre isso, Lima (apud PAULA, 2015), denota uma das mudanças ocorridas a esse respeito: “Essas medidas

estão inseridas no contexto brasileiro, a concernir no governo Cardoso, em total acordo com as proposições de cunho neoliberal; destacamos assim o projeto de contrarreforma do Estado brasileiro, o qual ganhou energia e se tornou concreto a partir do Plano Diretor do Estado, no qual possibilita constatar a essência privada que conduz a atividade estatal que tange à “oferta dos serviços públicos de ensino superior, compreendidos, desde então, como ‘não exclusivos’ do Estado.”

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na cultura e no cotidiano do processo de ensino e aprendizagem muitos traços e perspectivas intrínsecas ao modo de ser capitalista: princípios meritocráticos e de competitividade; a valorização de formação aligeirada e acrítica e a substituição de lógicas emancipatórias de educação por outra que a torna um serviço ou um produto mercadológico. Dessa maneira, as agendas de caráter neoliberal carregam a valorização de um caráter de ensino instrumental, ou seja, um conhecimento que seja “útil” e “utilitário” para o trabalho nesta sociabilidade e garantam mão de obra para a expansão da lucratividade do capital. Dessa forma, os investimentos devem orientar-se para a ampliação, por parte do Estado, de tais preceitos educacionais. Para reverter essa lógica na educação superior brasileira, Chauí (2003, p.11) nos apresenta que:

Se quisermos tomar a universidade pública por uma nova perspectiva, precisamos começar exigindo, antes de tudo, que o Estado não tome a educação pelo prisma do gasto público e sim como investimento social e político, o que só é possível se a educação for considerada um direito e não um privilégio, nem um serviço (CHAUÍ, 2003, p.11).

Também, as agendas neoliberais carregam a valorização de um caráter de ensino instrumental, ou seja, um conhecimento que seja “útil” e “utilitário” para o trabalho nesta sociabilidade e garantam mão de obra para a expansão da lucratividade do capital, ao mesmo tempo em que se promove o sucateamento das universidades públicas: além da diminuição de repasses orçamentários, os discursos anti-científicos e anti-universitários tornam-se base de justificação ideológica do capital, para a continuação do sucateamento dos institutos e universidades públicas.

Nesse contexto, muitos são os desafios colocados à formação em Serviço Social atualmente e, estes têm, proeminentemente, como base de sustentação essas dinâmicas intrínsecas a mundialização do capital. É justamente por causa das perspectivas privatizantes e da lógica mercadológica do ensino superior que se dá o crescimento da quantidade de cursos, faculdades e centros universitários privados. O projeto ético-político profissional e a maioria do conjunto da categoria do Serviço Social defendem a Universidade pública, gratuita e de qualidade. E para a plena concretização de uma política educacional qualificada, universal e democrática, a lógica empresarial não pode ter espaço. Obstáculos e desafios são colocados para a sociedade e conclamam a luta por um ensino público e voltado para o poder popular.

É importante abordarmos alguns desses rebatimentos no processo de formação em Serviço Social: há uma massiva abertura de vagas para o curso de Serviço Social nas faculdades privadas que, além de fragmentar a formação superior, de acordo com Iamamoto (2015),

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“Poderá desdobrar-se na criação de um exército assistencial de reserva” (IAMAMOTO, 2015, p.440).

Também, a questão da modalidade de ensino à distância que também se faz uma problemática atual: esse modelo além de “aligeirar” e retirar a qualidade da formação, retira a experiência das vivências no ambiente universitário, com o contato direto entre colegas, professores e comunidade e reduz a formação superior ao recebimento imediato de informações via aparatos tecnológicos, em detrimento de uma construção do conhecimento que deveria ter por centro a troca e a humanização das relações sociais.

Além disso, o Serviço Social brasileiro vem sofrendo uma tentativa de “retradicionalização”13 de seus preceitos teórico-metodológicos e ideo-políticos. Grupos não identificados com o projeto profissional atual, advogam por um projeto que mistura conservadorismo e estratégias neoliberais individualistas para orientação das ações profissionais. Da mesma forma, metodologias embebidas de preceitos pós-modernos invadem a alçada teórico-metodológica da categoria e oferecem métodos e análises generalizantes e fragmentárias, desfalcadas do teor universal-singular-particular de seus conteúdos analíticos. De acordo com Simionatto (2009, p.16),

Tais repercussões podem ser sinalizadas a partir de pelo menos duas direções: a primeira no plano do conhecimento, mediante o constante questionamento da teoria marxista e da “razão dialética” e o fortalecimento da razão instrumental e do pensamento conservador, rearticulados pelas tendências pós‐modernas; a segunda no âmbito do exercício profissional, cujas manifestações evidenciam‐se seja na alteração das condições de trabalho dos Assistentes Sociais, seja nas “novas” demandas encaminhadas à profissão e nas respostas mobilizadas para respondê‐las (SIMIONATTO, 2009, p.16).

Dessa maneira, cabe defendermos a importância de estudos que contemplem o movimento ideal do real, presente no materialismo histórico e dialético e considerar as multideterminações da realidade social e dos objetos pesquisados para objetivar uma formação crítica. Quando se processa uma formação fora da perspectiva crítica, histórica e que não proporciona a compreensão da relação existente entre todas as dimensões da profissão (teórico-metodológicas, técnico-operativa e ético-política) e todos os núcleos das Diretrizes Gerais Curriculares da ABEPSS (Núcleo de Fundamentos da Vida Social, Núcleo de Fundamentos da Formação Sócio-Histórica da Sociedade Brasileira e Núcleo de Fundamentos do Trabalho

13 Essa “retradicionalização” está relacionada à volta aos preceitos que eram massivamente constitutivos na gênese

e no período de legitimação da profissão. Ou seja, concepções conservadoras de prática profissional, de moral e de valores, assim como dos aspectos teórico-metodológicos produzidos no seio da profissão.

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Profissional), corremos o risco de comprometer o processo de ensino-aprendizagem inerente à formação profissional. Essas questões serão melhor abordadas nos capítulos seguintes.

2.2 AS DIRETRIZES CURRICULARES DA ABEPSS NO PROCESSO FORMATIVO E A LÓGICA CURRICULAR PARA O CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

Para iniciarmos o tópico ensejado, é imprescindível definir como se dá a processualização do tornar-se assistente social, seus aspectos formativos que contornam o curso de Serviço Social e conhecer os espaços sócio-ocupacionais que requisitam suas inserções.

Para ser um profissional dessa área é necessário graduar-se em uma faculdade de Serviço Social, em curso de graduação de no mínimo 4 (quatro) anos, reconhecido e credenciado pelo Ministério da Educação - MEC, assim como possuir cadastro no CRESS da região em que se irá trabalhar. A partir do momento da formação em diante, o profissional poderá vender sua força de trabalho qualificada em instituições públicas e privadas: prefeituras, ministérios, autarquias, governos estaduais, hospitais, escolas, universidades, centros de convivência e instituições não-governamentais. Também poderá ser encontrados assistentes sociais em movimentos sociais: na luta em defesa dos direitos das mulheres, das populações LGBTQIA+, indígenas, negros e negras, crianças e adolescentes, pelo direito a moradia, entre outros. Por ser generalista, a formação propicia um grande leque de oportunidades referentes aos espaços sócio-ocupacionais para esses profissionais.

A questão social (e suas diversas expressões), âmbito que fornece os objetos de intervenção da profissão, se caracteriza por ser complexa e dinâmica, recebendo do próprio movimento da realidade determinações históricas, estruturais e conjunturais que vão conferir multideterminações à atuação e ações profissionais. Tomando como base essa premissa que os e as egressos do curso de Serviço Social necessitam ter construído, tanto na formação, quanto após a formação profissional (formação continuada) conhecimentos e saberes que estejam comprometidos com os fundamentos teórico-metodológicos; com os saberes interventivos e habilidades profissionais. Compreendemos que a dimensão intelectual, permeada pelo caráter investigativo da profissão, a construção de uma instrumentalidade constituída por uma direção ético-política e ideológica são centrais para a constituição da dimensão técnico-operativa e o exercício profissional em si.

Apesar de a dimensão técnico-operativa da profissão se constituir como imagem social, auto-imagem e legitimar a cultura e o ethos profissional, a profissão, em seu interior, é determinada por diversas dimensões que, como caracteriza Guerra (2012, p.39),

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Constituem-se como “síntese de múltiplas determinações”, ou seja, caracterizam-se como unidade de elementos diversos, que conforma a riqueza e amplitude que caracteriza historicamente o modo de ser da profissão, que se realiza no cotidiano” (GUERRA, 2012, p.39).

É a partir do caráter interventivo no cotidiano, isto é, da dimensão técnico-operativa atuando na resolutividade das demandas emergentes, que a profissão ganha conhecimento e reconhecimento social. Todavia, a dimensão interventiva apenas ganha sentido em relação transversal com as demais dimensões (teórico-metodológica, ético-política e formativa), consoante Guerra (2012) “Buscando estabelecer uma unidade entre as múltiplas e diversas dimensões da profissão” (GUERRA, 2012, p.39).

Se é no cotidiano que a ação interventiva dos e das assistentes sociais ganham reconhecimento e legitimação, a construção do saber profissional não pode se limitar apenas a isto. Guerra (2012, p.4-5), demonstra que deve-se considerar o cotidiano “Como uma mediação elementar entre o particular e o universal”, mas deve haver o entendimento de que as mediações apresentadas a esse nível se constituem por serem heterogêneas, espontâneas, imediatas e conter uma superficialidade extensiva em si.

Se configuram no cotidiano profissional, dessa forma, cenários que requisitam respostas rápidas dos profissionais às demandas emergentes. Então, o saber e os conhecimentos acionados nem sempre se fazem refletidos e mediatizados, consubstanciando como resultado, respostas profissionais caracterizadas apenas como resolução pragmática de problemas que, como classifica Paulo Netto (apud GUERRA, 2000, p.13), “modifica algumas variáveis do contexto social dos usuários, buscando alterá-lo, ainda que momentaneamente” (GUERRA, 2000, p.13). É nesse ínterim que se deve buscar e consolidar a dimensão investigativa, aliada a uma determinada direção ético-política, em um sentido de superação da fragilidade do conhecimento fragmentário, assim como de abordagens formalistas advindo de análises imediatas, ligeiras e irrefletidas do cotidiano, em favor do conhecimento profundo e que considera a realidade como complexa e multifacetada.

Se, como foi exposto, a dimensão técnico-operativa consolida-se como expressão e imagem social da profissão, a formação profissional deve ir no direcionamento contrário dessa perspectiva, proporcionando um processo formativo que apresente e materialize na dimensão intelectiva dos estudantes, o significado social da profissão, como surge, como se desenvolve e como é determinada pela realidade social e pela sociabilidade burguesa contemporaneamente adjacente a ela.

Além disso, os egressos do curso de Serviço Social devem apropriar-se, por meio de sua dimensão intelectual (a nível da consciência), dos objetos e objetivos da profissão, da realidade

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