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AS DIRETRIZES CURRICULARES DA ABEPSS NO PROCESSO FORMATIVO E A LÓGICA CURRICULAR PARA O CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

Para iniciarmos o tópico ensejado, é imprescindível definir como se dá a processualização do tornar-se assistente social, seus aspectos formativos que contornam o curso de Serviço Social e conhecer os espaços sócio-ocupacionais que requisitam suas inserções.

Para ser um profissional dessa área é necessário graduar-se em uma faculdade de Serviço Social, em curso de graduação de no mínimo 4 (quatro) anos, reconhecido e credenciado pelo Ministério da Educação - MEC, assim como possuir cadastro no CRESS da região em que se irá trabalhar. A partir do momento da formação em diante, o profissional poderá vender sua força de trabalho qualificada em instituições públicas e privadas: prefeituras, ministérios, autarquias, governos estaduais, hospitais, escolas, universidades, centros de convivência e instituições não-governamentais. Também poderá ser encontrados assistentes sociais em movimentos sociais: na luta em defesa dos direitos das mulheres, das populações LGBTQIA+, indígenas, negros e negras, crianças e adolescentes, pelo direito a moradia, entre outros. Por ser generalista, a formação propicia um grande leque de oportunidades referentes aos espaços sócio-ocupacionais para esses profissionais.

A questão social (e suas diversas expressões), âmbito que fornece os objetos de intervenção da profissão, se caracteriza por ser complexa e dinâmica, recebendo do próprio movimento da realidade determinações históricas, estruturais e conjunturais que vão conferir multideterminações à atuação e ações profissionais. Tomando como base essa premissa que os e as egressos do curso de Serviço Social necessitam ter construído, tanto na formação, quanto após a formação profissional (formação continuada) conhecimentos e saberes que estejam comprometidos com os fundamentos teórico-metodológicos; com os saberes interventivos e habilidades profissionais. Compreendemos que a dimensão intelectual, permeada pelo caráter investigativo da profissão, a construção de uma instrumentalidade constituída por uma direção ético-política e ideológica são centrais para a constituição da dimensão técnico-operativa e o exercício profissional em si.

Apesar de a dimensão técnico-operativa da profissão se constituir como imagem social, auto-imagem e legitimar a cultura e o ethos profissional, a profissão, em seu interior, é determinada por diversas dimensões que, como caracteriza Guerra (2012, p.39),

Constituem-se como “síntese de múltiplas determinações”, ou seja, caracterizam-se como unidade de elementos diversos, que conforma a riqueza e amplitude que caracteriza historicamente o modo de ser da profissão, que se realiza no cotidiano” (GUERRA, 2012, p.39).

É a partir do caráter interventivo no cotidiano, isto é, da dimensão técnico-operativa atuando na resolutividade das demandas emergentes, que a profissão ganha conhecimento e reconhecimento social. Todavia, a dimensão interventiva apenas ganha sentido em relação transversal com as demais dimensões (teórico-metodológica, ético-política e formativa), consoante Guerra (2012) “Buscando estabelecer uma unidade entre as múltiplas e diversas dimensões da profissão” (GUERRA, 2012, p.39).

Se é no cotidiano que a ação interventiva dos e das assistentes sociais ganham reconhecimento e legitimação, a construção do saber profissional não pode se limitar apenas a isto. Guerra (2012, p.4-5), demonstra que deve-se considerar o cotidiano “Como uma mediação elementar entre o particular e o universal”, mas deve haver o entendimento de que as mediações apresentadas a esse nível se constituem por serem heterogêneas, espontâneas, imediatas e conter uma superficialidade extensiva em si.

Se configuram no cotidiano profissional, dessa forma, cenários que requisitam respostas rápidas dos profissionais às demandas emergentes. Então, o saber e os conhecimentos acionados nem sempre se fazem refletidos e mediatizados, consubstanciando como resultado, respostas profissionais caracterizadas apenas como resolução pragmática de problemas que, como classifica Paulo Netto (apud GUERRA, 2000, p.13), “modifica algumas variáveis do contexto social dos usuários, buscando alterá-lo, ainda que momentaneamente” (GUERRA, 2000, p.13). É nesse ínterim que se deve buscar e consolidar a dimensão investigativa, aliada a uma determinada direção ético-política, em um sentido de superação da fragilidade do conhecimento fragmentário, assim como de abordagens formalistas advindo de análises imediatas, ligeiras e irrefletidas do cotidiano, em favor do conhecimento profundo e que considera a realidade como complexa e multifacetada.

Se, como foi exposto, a dimensão técnico-operativa consolida-se como expressão e imagem social da profissão, a formação profissional deve ir no direcionamento contrário dessa perspectiva, proporcionando um processo formativo que apresente e materialize na dimensão intelectiva dos estudantes, o significado social da profissão, como surge, como se desenvolve e como é determinada pela realidade social e pela sociabilidade burguesa contemporaneamente adjacente a ela.

Além disso, os egressos do curso de Serviço Social devem apropriar-se, por meio de sua dimensão intelectual (a nível da consciência), dos objetos e objetivos da profissão, da realidade

social de forma que contemple análises que percorrem as determinações do singular, do particular e do universal, assim como ter uma compreensão crítica das relações sociais de trabalho e produção que a comporta: quais são seus objetos de intervenção, suas competências e atribuições profissionais, quais e como são as instituições e espaços-ocupacionais que os requisitam e, por fim, ter clarificados os direcionamentos do o que fazer, como fazer, para que fazer, e por que fazer? Sobre isso, a dimensão ético-política oferece embasamentos concretos e valorativos, direcionando à prática interventiva a refletir sobre os meios, fins e resultados.

É a partir de tais premissas que pode-se construir diretrizes curriculares para os cursos de Serviço Social, assim como da própria construção dos processos formativos desses profissionais. Ou seja, a formação deve propiciar não apenas insumos que habilitem o profissional a agir interventivamente no cotidiano: as escolas e cursos de Serviço Social necessitam engendrar projetos de ensino que articulem o saber e o fazer, proporcionar um exercício profissional que contemple teórico-metodologicamente, ético-politicamente e técnico-instrumentalmente um "fazer” crítico e respaldado pela relação teoria e prática, afirmando a imprescindibilidade da dimensão investigativa para esses processos. Ainda de acordo com Guerra (2012, p.13),

É através desta dimensão que se pode fazer a crítica ontológica do cotidiano. A dimensão investigativa permite também a produção de conhecimentos voltados para os interesses dos setores populares que são os usuários das instituições as quais nos vinculamos (GUERRA, 2012, p.13).

Foi nesse sentido que desenvolveu-se a lógica atual das Diretrizes Curriculares da ABEPSS. Para iniciarmos a discussão em torno das Diretrizes Curriculares e como elas influenciam e rebatem a formação profissional, é necessário, primeiro, caracterizarmos o que é a ABEPSS, quais são as suas atribuições e finalidades e definir a sua importância para o Serviço Social brasileiro.

A Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), uma importante entidade acadêmico-científica com sede em Brasília/DF, de natureza acadêmica e científica, de cobertura nacional, sem fins lucrativos e de direito privado, tem como responsabilidade a coordenação e articulação de projetos referentes à graduação e aos programas de pós-graduação em Serviço Social. A referida associação, defende como “princípios fundamentais o ensino superior na universidade públicas, gratuita, laica, presencial e socialmente referenciada14” (ABEPSS, 2021).

14 ABEPSS. Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Histórico. 2021. Disponóvel em:

As atividades da associação têm gênese nos idos dos anos de 194615. Neste período, existiam no Brasil somente 3 (três) escolas de Serviço Social, quais sejam: o Instituto Social/RJ; Escola de Serviço Social/SP e Instituto social/SP (IAMAMOTO; CARVALHO, 2014, p.330). São 75 anos de articulação, preocupação e compromisso com a formação profissional dos assistentes sociais na sociedade brasileira, cujos objetivos sempre estiveram voltados para unificar as unidades de ensino superior da área, trabalhando pela promoção e construção de um rigor teórico-metodológico nos fóruns de debates e estabelecendo uma relação histórica com a sociedade em diversas conjunturas.

A ABESS/ABEPSS inicia seus trabalhos após dez anos da abertura do primeiro curso de Serviço Social no Brasil: na Escola de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e, historicamente falando, ganha um marco na Convenção de 1979, logo após o Congresso da Virada16. Nesta conjuntura a Associação de Escolas de Serviço Social torna-se responsável pela coordenação e articulação do projeto de formação profissional. Em decorrência, esta entidade transformou-se em Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social. Na perspectiva de atender às novas demandas surgidas com a criação dos Programas de Pós-Graduação na década de 70, do século XX, foi criado em 1980, o Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço Social (CEDEPSS). Como mais um marco histórico da ABESS, no ano de 1998, do século XX, ocorre a mudança do seu nome para Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS). Mudança justificada, pela defesa dos princípios da indissociabilidade entre o ensino, pesquisa e extensão, bem como, propõe a articulação entre a graduação e a pós-graduação. Associadas a essas razões pontuadas, tornou-

15 Chile-1945, primeiro Congresso Pan-Americano de Serviço Social. Presença de uma representação do Serviço

Social brasileiro. Aspectos ressaltados neste encontro: Posicionamento político e ideológico em relação ao Serviço Social na indústria; Intercâmbio interamericano; A formação para o Serviço Social (normas para o funcionamento das escolas/padrão mínimo de exigências- condições para ingresso nas escolas, currículo básico, planos de trabalho, regulamentação do ensino e a luta pelo reconhecimento profissional, influindo no surgimento da Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social-ABESS e Associação Brasileira de Assistente Social –ABAS- , Consultar a propósito, Capítulo IV – Em busca da atualização , no Livro Relações Sociais e Serviço Social (IAMAMOTO; CARVALHO, 1982, p.329-330).

16“O III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (III CBAS) realizado em 1979 em São Paulo – que busca

resgatar e registrar na história a memória desse momento. Convidamos você a refletir sobre o significado desse processo, que teve um impacto incomensurável para as mudanças que se seguiram. De um ponto de vista teórico, nesses 30 anos, a interlocução do Serviço Social com o pensamento de Marx favoreceu tanto o enfrentamento ao conservadorismo, quanto às formas variadas de simplificação na análise da sociedade capitalista e suas inflexões nas demandas e desafios postos à profissão. São 30 anos de construção de um projeto profissional fundado no pensamento crítico, na perspectiva de sintonizar a categoria profissional com a apreensão da realidade em sua complexidade e densidade histórica.(...) O que hoje denominamos Projeto Ético-Político-Profissional é, portanto, síntese de muitas gerações de profissionais, de lutas e contribuições de sujeitos individuais e coletivos que vivenciaram muitas “viradas”, com conquistas que são patrimônio coletivo da categoria e da sociedade” (CFESS, 2009, p.7).

se imperativo defender a natureza científica dessa entidade, ao mesmo tempo garantir a organização da pesquisa no âmbito da Associação, representada contemporaneamente pelos Grupos Temáticos de Pesquisa e da Revista Temporalis17.

Durante seus 75 anos de história, a ABESS/ABEPSS vem desenvolvendo ações e estratégias na perspectiva de fortalecimento da formação profissional em Serviço Social e, contemporaneamente, encontra-se associada às demais representações da coletivas da categoria formando o conjunto ABEPSS/CFESS/CRESS/ENESSO)18. Este coletivo, portanto, tem efetivado “um Plano de Lutas em Defesa do Trabalho e da Formação” contrário a “Precarização do Ensino Superior”, com propostas de conteúdo e atividades voltadas para o “Fortalecimento do Serviço Social brasileiro e de sua atual direção ético política” (ABEPSS, 2021).

Algumas dessas estratégias ganham destaque: os Grupos Temáticos de Pesquisa, enquanto espaços dinâmicos, estimulantes e efetivos de elaboração, produção e circulação do conhecimento; Encontro de Pesquisadores em Serviço Social - ENPESS, fóruns de debates e discussão sobre o ensino e pesquisa em Serviço Social; Oficinas Regional e Nacional de Graduação e Pós-graduação, espaços de discussão e construção das temáticas sobre a formação que são levadas aos fóruns das Convenções Nacionais; Fórum de coordenadores de pós- graduação; o Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social e a TV ABEPSS. Política Nacional de Estágio; o Projeto ABEPSS Itinerante; Fóruns de Supervisão de Estágio; a edição da Revista Temporalis e a organização o Encontro dos editores dos periódicos da área de Serviço Social; e as Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social, documento importante para a nossa discussão neste trabalho. Um dos momentos importantes da ABESS/ABEPSS, foi a construção do currículo mínimo de 198219 o qual trouxe para a formação profissional uma nova direção social hegemônica no âmbito acadêmico-profissional, consolidado na década de 90, através da elaboração das Diretrizes Curriculares para o Curso de Serviço Social, aprovada pela categoria em 1996 e aprimorada pela Comissão de Especialistas em documento de 1999 e, com a aprovação da Política Nacional de Estágio (PNE) em 2012. 17 “A TEMPORALIS, revista criada em 2000 e editada pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em

Serviço Social, se destina a publicação de trabalhos científicos sobre temas atuais e relevantes no âmbito do Serviço Social, áreas afins e suas relações interdisciplinares” (TEMPORALIS, 2021).

18 A entidade compõe junto com o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), os Conselhos Regionais de

Serviço Social (CRESS) e a Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO) um coletivo que efetiva o Plano de Lutas em Defesa do Trabalho e da Formação e Contra a Precarização do Ensino Superior, cujo conteúdo inclui uma série de atividades voltadas para o fortalecimento do serviço social brasileiro e de sua atual direção ético política. Na articulação no âmbito da américa Latina, ABEPSS é filiada a ALAEITS” (ABEPSS, 2021).

19 Currículo Mínimo para o Curso de Serviço Social aprovado em 1982, pelo Conselho Federal de Educação, sob

O chamado Projeto Ético-Político-Profissional contemporâneo é a “Síntese de muitas gerações de profissionais, de lutas e contribuições de sujeitos individuais e coletivos que vivenciaram muitas viradas, com conquistas que são patrimônio coletivo da categoria e da sociedade” (CFESS, 2009, p.8). O compromisso dessas gerações na contemporaneidade, em relação ao processo formativo, vem sendo orientado pelos fundamentos teórico-metodológicos e ético-político do Serviço Social brasileiro, presentes nos princípios do atual Código de Ética do Serviço Social (1993), nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS (1996) e na Política Nacional de Estágio (2009).

São finalidades da ABEPSS, de acordo com o Art. 2º de seu estatuto:

I- propor e coordenar a política de formação profissional na área de Serviço Social que associe organicamente ensino, pesquisa e extensão e articule a graduação com a pós- graduação; II- fortalecer a concepção de formação profissional como um processo que compreenda a relação entre graduação, pós-graduação, educação permanente, exercício profissional e organização política dos assistentes sociais; III- contribuir para definição e redefinição da formação de assistente social na perspectiva do projeto ético-político profissional do Serviço Social na direção das lutas e conquistas emancipatórias; IV - propor e coordenar processos contínuos e sistemáticos de avaliação da formação profissional nos níveis de Graduação e Pós-Graduação; V - estimular intercâmbios e colaborações nacionais e internacionais entre as Unidade de Formação Acadêmica, grupos de pesquisa, pesquisadores, entidades representativas da categoria dos assistentes sociais; VI- promover articulações entre associações acadêmicas e científicas congêneres; VII- apoiar iniciativas de criação de Programas de Pós- Graduação na área de Serviço Social no país; VIII- acompanhar o processo de autorização, reconhecimento e renovação dos cursos dos cursos de Graduação e Pós- Graduação; IX - fomentar e estimular a formação e consolidação de grupos de pesquisa nas universidades e/ou outras instituições voltadas para a pesquisa; X - estimular a publicação da produção acadêmica na área de Serviço Social e assegurar a publicação semestral da Revista Temporalis como revista nacional da ABEPSS; XI - divulgar cadastro de pesquisadores em Serviço Social; XII- promover eventos acadêmico- científicos na área do Serviço Social; XIII- manter atualizadas as subáreas de conhecimento e especialidades em Serviço Social nos órgãos de fomento à pesquisa adequando-as aos eixos temáticos de orientação acadêmico-científica definidos no âmbito da ABEPSS; XIV - representar e defender os interesses da área de Serviço Social, nas agências de fomento no que se refere ao ensino, pesquisa e extensão; XV- fortalecer a concepção de ensino de graduação presencial, denso, crítico, laico e numa perspectiva de totalidade (ABEPSS, 2017).

Dessa forma, podemos visualizar que a ABEPSS desenvolve um importante trabalho no que concerne à articulação e desenvolvimento de ações que garantem formação superior e formação continuada de qualidade, fomentando ações tanto a nível de cursos de graduação quanto de cursos de pós-graduação. Perpassada a alçada histórica da associação, agora pode-se analisar as Diretrizes Curriculares.

As Diretrizes foram forjadas de acordo com os avanços acumulados pela categoria durante toda a sua história, principalmente, aqueles saberes e experiências construídas a partir de 1980, que se expressam nos princípios norteadores do Código de Ética atual e nas dimensões histórico-teórico-metodológicas da categoria. Dessa maneira, os cursos superiores para

formação de assistentes sociais, dentro dos limites nacionais, necessitam corroborar e ter como base as diretrizes estabelecidas nesse documento para a construção e efetivação de seus currículos mínimos plenos.

Em termos históricos, as Diretrizes Curriculares foram aprovadas em Assembleia Geral Extraordinária em 08 de novembro de 1996, quando a entidade ainda era conhecida como ABESS. Como se pode imaginar, o documento foi concebido e aprovado posteriormente depois de muitas discussões, debates e reflexões até a Oficina Nacional em 1996. Duzentas oficinas foram realizadas em níveis local, regional e até a nacional, com a participação das entidades representativas da categoria, sob a direção da ABEPSS. Um dos marcos desse processo foi a Reunião de Consultores, realizada nos dias 14 a 16 de junho de 1996, na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Tal evento foi convocado pela antiga ABESS e debateu sobre as variadas temáticas importantes em torno da construção de uma base para efetivação de currículos plenos de cursos de Serviço Social. De acordo com Cardoso et al. (1997, p.16),

A salutar troca de experiências sobre os distintos caminhos seguidos pelas unidades de ensino em seu processo de construção curricular aponta para um resultado bastante significativo: o pluralismo (teórico-metodológico e político) pretendido e construído pela categoria, ao longo dos anos 80, é hoje um parâmetro entre os Assistentes Sociais e uma prática que vem conduzindo o processo de revisão curricular. O debate, teoricamente rico e respeitoso, pautado no reconhecimento e no trato analítico das diferenças de pontos de vista presentes entre os interlocutores, é, entretanto, soldado

pelo privilégio de um horizonte teórico-metodológico e ético-político na formulação do currículo mínimo (CARDOSO et al., 1997, p.16).

As discussões travadas acerca do significado social da profissão, o estabelecimento de preceitos teórico-metodológicos de perspectiva crítica e o entendimento de que são necessárias leituras de totalidade em torno da realidade social, são os marcos importantes e fatores distintivos do momento histórico em que o projeto ético-político encontrava-se e do nível intelectual a que estavam os profissionais e a categoria de Serviço Social.

Estes princípios definem as diretrizes curriculares da formação profissional, que implicam capacitação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa para a:

1. Apreensão crítica do processo histórico como totalidade; 2. Investigação sobre a formação histórica e os processos sociais contemporâneos que conformam a sociedade brasileira, no sentido de apreender as particularidades da constituição e desenvolvimento do capitalismo e do Serviço Social no país; 3. Apreensão do significado social da profissão desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade; 4. Apreensão das demandas - consolidadas e emergentes - postas ao Serviço Social via mercado de trabalho, visando formular respostas profissionais que potenciem o enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre público e privado; 5. Exercício profissional cumprindo as competências e atribuições previstas na Legislação Profissional em vigor (ABEPSS, 1996).

A partir desses princípios, que norteiam a elaboração do projeto pedagógico, as diretrizes para a formação profissional de assistentes sociais sugerem uma capacitação teórico- metodológica, ético-política e técnico-operativa para que os profissionais possam:

1) Apreender o processo histórico-social numa perspectiva de totalidade, reproduzindo o movimento do real em suas manifestações universais, particulares e singulares; 2) Desenvolver investigações sobre a formação histórica e dos processos sociais contemporâneos da sociedade brasileira, sobre o fazer profissional e as situações concretas com as quais trabalha o Serviço Social; 3) Apreender o significado social da profissão e as demandas consolidadas e emergentes postas ao Serviço Social via mercado de trabalho, desvelando as possibilidades de ação frente às manifestações da questão social; 4) Formular respostas concretas para o fortalecimento da democracia, da cidadania ativa, da eqüidade e justiça social e do interesse público; 5) Assumir o exercício profissional as competências e atribuições previstas na legislação profissional em vigor (ABEPSS, 1996, p.7-8).

Em outras palavras, os princípios e as diretrizes propõem um projeto profissional crítico,