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2 Fundamentação Teórica

2.3 Capital Social

2.3.3 Dimensão Relacional

A dimensão relacional, mostrada na parte superior esquerda da figura 2 (Pág. 26), aborda o conteúdo transacionado e a diversidade das ligações entre os atores da rede. Assim, considera os papéis que os atores assumem como: amigos, informantes, confidentes ou mentores. Contudo, o estudo desta dimensão visa atender o terceiro e último objetivo específico deste trabalho: Analisar as redes no que tange à dimensão relacional, focalizando os conteúdos de amizade, de informação, de confiança e de mentoria no processo de sucessão nas empresas familiares estudadas na cidade de Caruaru.

Régis (2005) considera que a análise da dimensão relacional das redes poderá ocorrer através do conteúdo transacionado e da diversidade de papéis. Para isto, usa a definição de Boissevain (1974). Este autor vê o conteúdo transacionado como sendo formado de elementos materiais e não-materiais trocados entre dois atores em uma situação ou relação particular. Marinho-da-Silva (2003) considera que o conteúdo transacionado leva em conta o investimento dos atores na relação, particularmente, os benefícios que os atores esperam auferir de uma relação e reforçam a importância desta relação específica em comparação com outras.

Em geral, estas relações advêm de papéis que correspondem às normas e expectativas que se aplicam ao ocupante de uma determinada posição nas redes (BOISSEVAIN, 1974). Assim, Régis (2005) afirma que cada pessoa assume um ou mais papéis específicos: professor, sócio, amigo, empregado, marido, pai, etc. Através de cada papel, uma pessoa entra em contato com grupos particulares de pessoas que compartilham a mesma atividade ou interesse.

De acordo com Kuipers (1999), uma das precursoras na abordagem das redes de amizade, de informação e de confiança, a interação entre as pessoas de uma rede é específica ao contexto no qual é formada e os laços não podem ser usados para transferência indiscriminada de qualquer tipo de recurso. Em suma, o conteúdo transacionado em cada um destes tipos de rede é específico.

A seguir, são apresentadas explanações sobre as redes de informação, amizade e confiança. Outros estudos foram abordados, porém foram tomados como base os estudos de Kuipers (1999) para definir estas três redes.

Primeiramente, a Rede de informação, de acordo com Kuipers (1999), é considerada como uma rede informal onde o conteúdo transacionado diz respeito ao que está acontecendo na organização como um todo em relação a oportunidades de ascensão, processo decisório em outras divisões e/ou sucesso organizacional e que afeta todos os seus membros.

Além disso, a capacidade de um grupo de obter benefícios se relaciona com sua capacidade de atingir outros grupos e indivíduos, facilitando o acesso à informação. Este fator foi assinalado por Granovetter (1973), se refletindo nos conceitos de "laços fortes e fracos". Desta forma, os laços fortes existentes dentro de um grupo não trariam informações novas, que seriam obtidas por ligações mais fracas com outros grupos ou indivíduos. Os adjetivos, forte e fraco, se relacionam com o tempo e esforço despendido para a manutenção dos laços (BURT, 1995).

Assim, Granovetter (1973) destaca a importância de se obter informações novas (de fora do grupo) para que haja mudança no status quo. Posteriormente, Burt (1995) adiciona novos elementos, como a figura do intermediário de informação (brooker), capaz de superar os furos estruturais existentes nas redes do grupo social. Os resultados desses trabalhos podem ser aplicados a qualquer forma de organização humana e é um dos problemas destacados na ciência da informação: o usuário e os canais de acesso à informação e o e seu impacto no mapa cognitivo dos indivíduos para a tomada de decisão (também denominada, decisão informada). A posição dos indivíduos na estrutura social está relacionada aos conceitos de autoridade e esta é uma das características associadas à qualidade da informação - a reputação da fonte. A difusão de novos conhecimentos e novas tecnologias depende, dentre outros fatores, dessa característica.

A aplicação do conceito de capital social para explicar o comportamento informacional dos gerentes vem se desenvolvendo significativamente. Além dos trabalhos de Burt (1995, 2001), Burt, Hogarth e Michaud (2000), muitos outros trabalhos são citados em Borgatti e Foster (2003).

A definição de Kuipers (1999) para Rede de amizade diz que é uma rede informal baseada na troca de amizade e socialização que fornece apoio e melhoram a auto-estima, além de encorajar certos comportamentos que aumentam a aceitação junto a grupos dentro das organizações.

Além disso, Granovetter (1973), um dos autores que mostrou os recursos disponíveis através dos contatos ou conexões de uma rede de relacionamentos na sua obra “the strength of weak ties”, define os laços com base na freqüência dos contatos, na reciprocidade e na amizade existente nos relacionamentos. Este autor define os laços fracos com base nestas características da relação, sendo um dos primeiros autores a abordar a importância dos laços fracos. Os laços nos quais não há relações de amizade são exemplos de laços fracos. Este tipo de laço, quando empregado por um indivíduo de uma rede muito coesa, passa a ter um papel importante na expansão da fronteira da rede.

A partir dos estudos de Granovetter (1973) sobre a força dos laços fracos, Krackhardt (1992) propôs a teoria da força dos laços fortes: A importância dos Philos nas Organizações, onde Philos é um termo grego semelhante à palavra Amizade. Em resumo, diz-se “A é philos de B” ou num caso simétrico, “A e B são philos”. Define-se um relacionamento philos como aquele que apresenta três condições básicas: Interação, afeição e tempo. Estas estão listadas a seguir:

Interação – Para A e B serem philos, A e B devem interagir um com o outro. A implicação desse componente é que existirá uma grande probabilidade de um ter acesso a informação do outro. Assim as freqüentes interações irão proporcionar oportunidades para troca de informações.

Afeição – Para A ser philos de B, A deve gostar de B, A deve sentir afeição por B. A avaliação deste componente permite sustentar a teoria do balanço de Heider e da “transitive closure” de Granovetter. Heider (1958) também prognosticou sobre a simetria do relacionamento “liking” (gostando) e resume que na maioria dos casos esses relacionamentos são simétricos. Porém, existem casos onde, ocasionalmente, a afeição não é recíproca, resultando em um relacionamento assimétrico.

Tempo – A e B, para serem philos, devem ter um histórico de interações que tenha durado certo período de tempo. Isto é, não existe um philos momentâneo. Uma implicação é que no relacionamento de philos não pode ser estudado em experimentos de laboratório. Embora alguns possam induzir a um estado de afeição de curto termo e ao estudo do “liking”, o estudo do philos não é muito utilizado, onde os relacionamentos têm tempo suficiente para se desenvolver.

Por último, é abordada a Rede de confiança. Kuipers (1999) afirma que a rede de confiança é uma rede de laços informais onde um ator corre riscos ao abrir mão do controle dos resultados por aceitar a dependência em relação a outro ator, sem força ou coação da relação contratual, estrutural ou legal.

Nas relações de confiança, a interação cria oportunidade para a troca de informação confidencial ou não, a afeição cria motivação para tratar o próximo de maneira positiva ou pelo menos sem magoá-lo, caso contrário criaria sentimentos de stress, desarmonia e tensão e o tempo cria experiência necessária para permitir que cada pessoa saiba como a outra utilizará uma informação em comum (KRACKHARDT, 1992).

Dessa forma, Santos (2004) sugere que os laços de confiança são mais centrados na pessoa do que na posição ou no cargo que esta ocupa. Relações de amizade e suporte social, por outro lado, desenvolvem-se rapidamente, exigindo um período de tempo mais curto para ocorrerem, enquanto que o desenvolvimento de laços de confiança (correr riscos) requer mais tempo e são mais duradouros.

Régis (2005) mostra que a confiança tem a capacidade de afetar diretamente as outras formas de conteúdo transacionado nas redes, como o conhecimento tecnológico. Devido a confiança ser baseada em julgamentos sociais (ex.: competência e benevolência) e em julgamentos dos custos (ex.: risco) resultantes da possível infidelidade da outra parte (ex.: vazamento de informação), a confiança poderá afetar a informação transacionada.

Considerando-se o modelo de Kram (1985), conforme a Figura 3 (Pág. 35), a amizade, a informação e a confiança fazem parte das funções da mentoria. A seguir é dado destaque ao tema mentoria, na visão desta autora.

Rede de Mentoria

Os comportamentos dos atores de uma rede diferem de acordo com os conteúdos nela transacionados. Por este motivo, é fundamental a ênfase desta fundamentação teórica nas redes de amizade, informação e confiança. Contudo, Régis (2005) argumenta que quando opera um padrão de relacionamentos de mentoria, tanto em rede quanto entre dois indivíduos, a literatura indica a presença de outras funções da mentoria. Dentre as funções da mentoria estão: a amizade, o

coaching e a aceitação. Este autor também esclarece que a amizade é explícita nas

funções da mentoria, enquanto a troca de informações e a confiança estão implícitas nas funções de coaching e aceitação, respectivamente.

Na visão de Kram (1985), mentores são considerados como “pessoas sábias e experientes que estão comprometidas em providenciar ascensão e suporte à carreira dos seus mentorados”. Já Levinson et al (1978), em se tratando do contexto corporativo, propuseram que um mentor é “normalmente uma pessoa bem mais antiga, uma pessoa de maior experiência e maturidade [...] um professor, conselheiro ou padrinho” e, por sua vez, o mentorado é a pessoa que se beneficia da experiência, maturidade e proteção do mentor.

Para Kram (1985), a mentoria possui dois grupos principais de funções. A função relacionada à carreira facilita o progresso da carreira pelo aumento da visibilidade do mentorado em relação à organização e pelo aumento do conhecimento do mentorado em relação ao “navegar” no mundo corporativo. As funções psicossociais promovem um apoio emocional e psicológico ao mentorado e servem para aumentar a confiança em relação ao seu papel profissional. A autora ainda argumenta que as relações de mentoria que facilitam a função psicossocial estão freqüentemente caracterizadas por trocas de experiências informais, relacionadas ao trabalho ou não. Juntas, estas funções capacitam as pessoas a enfrentarem os desafios de cada estágio de suas carreiras.

A figura 3 (abaixo) mostra situações organizadas por Régis (2005) que exemplificam as funções de carreira e psicossocial, de acordo com Kram (1985).

Figura 3: Exemplos de funções da mentoria. Fonte: Régis, 2005.

A seguir são apresentadas as funções de carreira, segundo Kram (1985): O Patrocínio é uma espécie de poder refletido que o mentorado ganha através do mentor. Em casos de competição pela ascensão funcional, o patrocínio passa a ser essencial. A Exposição-e-visibilidade ocorre quando o mentor dá tarefas que fazem com que o mentorado tenha contato direto com pessoas de mais alto nível e estas vêem o seu potencial e fazem com que o mentorado aprenda sobre os níveis de autoridade e responsabilidade. No Coaching, o mentor, como se fosse um técnico esportivo, sugere estratégias para que os objetivos do trabalho sejam alcançados pelo mentorado, de forma que este consiga reconhecimento e progrida no seu trabalho. O mentor também mostra os jogos de poder existentes e a quem o mentorado pode compartilhar uma nova idéia. Na Proteção, o mentor

Carreira Psicossociais

- Patrocínio: quando o mentor indica/apóia o nome do mentorado para promoção em uma reunião de diretoria ou mesmo em conversas informais entre diretores;

- Exposição-e-visibilidade: quando o mentor dá tarefas que fazem com que o mentorado tenha contato direto com pessoas de mais alto nível e estas vêem o seu potencial, facilitando futuras promoções;

- Coaching: quando o mentor contribui para aumentar o conhecimento específico e a compreensão do mentorado sobre como navegar no mundo corporativo;

- Proteção: quando o mentor serve de anteparo para que as falhas não sejam vistas até que o mentorado atinja níveis de desempenho dignos de exposição e visibilidade e

- Tarefas desafiadoras: quando o mentor provê tarefas desafiadoras, apoiadas por treinamento técnico e feedback, capacitando o mentorado a desenvolver competências específicas.

- Modelagem de Papéis: quando as atitudes, os valores e o comportamento do mentor servem como um modelo digno de ser seguido pelo mentorado;

- Aceitação-e-confirmação: quando há aceitação, respeito e confiança mútuos capazes de

desenvolver a coragem no mentorado para assumir riscos e tomar atitudes mais ousadas no trabalho; - Aconselhamento: quando o mentor provê conselhos que ajudam o mentorado a explorar suas preocupações que interferem no seu senso de autocompetência. Os mentores assumem o papel de ouvintes ativos apoiando a auto-exploração e oferecem as experiências pessoais como possíveis alternativas;

- Amizade: quando a relação provê uma sensação de bem estar resultante da interação social informal. Isto permite um alívio da pressão do trabalho pela troca de experiências cotidianas (ex. almoço de trabalho). O relacionamento informal com alguém que é mais velho e mais experiente facilita o relacionamento com outras pessoas de nível mais elevado de autoridade.

protege o mentorado fazendo com que os seus erros não cheguem ao conhecimento dos níveis mais altos quando este ainda não atingiu a maturidade. A função de

Tarefas Desafiadoras acontece quando o mentor supre o mentorado com tarefas

desafiadoras e dá treinamento técnico e feedback de desempenho.

Régis (2005) esclarece que enquanto o patrocínio, a exposição-e-visibilidade, o coaching e a proteção abrem caminhos para a promoção, as tarefas desafiadoras equipam a pessoa com as habilidades para seguir pelo caminho aberto pelo mentor. Este autor também mostra que, enquanto as funções de carreira dependem da posição e do nível de influência do mentor na organização, as funções

psicossociais dependem mais da qualidade do relacionamento entre mentor e

mentorado. As funções psicossociais, segundo Kram (1985), são apresentadas a seguir:

Na Modelagem de papéis, o mentorado vê no seu mentor o seu “eu” atual e o seu “eu” idealizado, passando a admirá-lo, imitá-lo e respeitá-lo. A Aceitação-e-

confirmação é identificada quando há consideração e respeito mútuo na relação. O

mentorado que experimenta aceitação e confirmação na relação se torna mais desejoso para discordar e iniciar conflitos na relação. Já o Aconselhamento do mentor ajuda o mentorado a explorar suas preocupações que podem interferir em seu senso de autocompetência no trabalho. Os conflitos internos que o mentorado tem são discutidos abertamente e o mentor apresenta as suas experiências. A função Amizade aparece na relação em que há uma sensação de bem estar e alegria resultantes da relação informal, da ligação e da compreensão mútua. O relacionamento informal com um colega mais experiente facilita o relacionamento com outras pessoas de hierarquia mais elevada.

Régis (2005) mostra uma reconsideração da proposição de Kram (1985), que consideram a diversidade de mentores (pessoas buscam apoio não somente em um indivíduo quando precisam de apoio para o desenvolvimento das suas carreiras). Esta reconsideração foi apresentada por Higgins e Kram (2001). É essencial estudar a tipologia criada por Higgins e Kram (2001), a qual está baseada em duas dimensões principais: a diversidade da rede de relações de desenvolvimento e a

intensidade das relações de desenvolvimento. Estas duas dimensões, em conjunto,

“empreendedora” de relações; rede “oportunista” de relações; rede “tradicional” de relações; e rede “receptiva” de relações (Figura 4).

Higgins e Kram (2001) tratam a diversidade das relações de desenvolvimento e a intensidade das relações como dicotômicas, embora reconheçam como contínuas, com o intuito de desenvolver os “tipos ideais” que estruturam as redes de relacionamentos voltados para o desenvolvimento. Os desenvolvedores (mentores) são identificados por D1, D2, D3 e D4 e o mentorado por M. As linhas cheias representam os relacionamentos fortes e as linhas tracejadas os relacionamentos fracos.

Dessa forma, na Figura 4 (Pág. 37) é mostrada a perspectiva de desenvolvimento baseada na rede de relacionamentos, nas quais é considerada

D I V E R S I D A D E D A S R E L A Ç Õ E S D2 D1 D1 • ● D3 D2 • • D4 D2 D1 D1 • ● D3 D2 • • D4 • M Receptiva Tradicional • M Oportunista Empreendedora M M Alta Baixa

INTENSIDADE DAS RELAÇÕES DE DESENVOLVIMENTO

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