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As dimensões das representações sociais dos pais sobre sua participação na educação infantil

No documento O PR OGRA MA DE P ÓS- (páginas 123-128)

Seção III: A construção das imagens e significados de pais sobre a educação infantil e de sua participação na educação infantil

REGISTROS CATEGORIAS OBTIDAS NA ANÁLISE DOS DADOS INSTRUMENTOS UTILIZADOS

3.4. As dimensões das representações sociais dos pais sobre sua participação na educação infantil

SegundoMoscovici (1978), a dimensão informações refere-se aos conhecimentos que um grupo partilha sobre determinado objeto. A educação infantil, segundo a compreensão dos pais, proporciona, a seus filhos, aprendizagem, socialização e, conseqüentemente, o desenvolvimento da criança.

A argumentação dos pais acerca da concepção de aprendizagem, demonstra indícios da teoria behaviorista que ainda influencia a educação. Esta teoria afirma que o homem nasce com a estrutura mental e desenvolve sua inteligência a partir das experiências. A aquisição de conhecimentos por meio dos estímulos do ambiente, “[...] dá ênfase à dimensão quantitativa dos saberes, daí o fracionamento dos conteúdos e o fracionamento dos conteúdos e das tarefas de aprendizagem” (FOULIN, 2000, p. 16).

Na compreensão dos pais, os saberes anteriores ao ingresso da criança na escola – como o brincar, movimentar-se, andar, falar, cantar, dançar e outras atividades relacionadas à aprendizagem, mediada pela interação da criança com o seu meio social e a família – possuem menor relevância do que aqueles adquiridos pela escola, na educação infantil, na faixa-etária de quatro anos e meio a cinco anos. A afirmação de que o filho antes não sabia nada está relacionada à concepção behaviorista, pois a criança é entendida como um papel em branco, cabendo à escola proporcionar o acesso ao conhecimento.

Conforme Vigotskii (2006, p. 109), a aprendizagem é um processo contínuo, iniciado desde o nascimento: “[...] toda aprendizagem da criança tem uma pré-história [...]”, ou seja, este processo resulta da interação desta com seu meio sociocultural. Tais conhecimentos estarão implicados em sua interação junto a diferentes grupos dos quais ela participará, seja na escola, na igreja, com seus amigos ou na vizinhança. A escola tem reconhecido o saber culturalmente transmitido, porém diferentes espaços a constroem e medeiam o processo de aprendizagem na educação infantil.

A educação infantil é considerada como relevante para o desenvolvimento da criança pelos pais. O brincar também foi ressaltado nos questionários como oportunidade para o desenvolvimento infantil, apesar de a ênfase ser menor do que a atribuída à aprendizagem e à socialização.

A partilha das informações sobre a educação infantil, para os pais, materializa-se no processo de aprendizagem e socialização, ancoradas na compreensão de que a educação poderá preparar bem o presente e conseqüentemente o futuro das crianças. Paro (2001) afirma

que esta concepção está presente em todos os anseios relacionados às classes populares, porém acrescenta que a escola precisa ser concebida como um patrimônio construído pela humanidade e ser usufruída pelos trabalhadores.

Paro critica a crença da população quando esta assume a culpa pela sua condição social, justificando-a pela ausência de formação escolar.

A grande falácia de que as pessoas iletradas ou com poucos anos de escolaridade não conseguem se empregar por causa de sua pouca formação, embora tenha ainda grande aceitação entre as pessoas simples (precisamente por seu baixo nível de informação), bem como na mídia (pela mesma escassez de conhecimento, mas não com a mesma inocência), não resiste a menor análise, porque supõe que a escola possa criar os empregos que o sistema produtivo, por conta da crise do capitalismo, não consegue criar. A não ser como discurso ideológico para que as pessoas continuem acreditando que sua posição social se deve à falta de escolaridade e não

às injustiças intrínsecas à própria sociedade capitalista (2001, p. 23).

Em síntese, os pais acreditam na educação como investimento para uma perspectiva de vida futura que se caracterize como melhor do que o presente, compartilham as informações sobre educação infantil com ênfase na aprendizagem e na socialização.

A dimensão atitudes refere-se à orientação dos sujeitos diante do objeto educação infantil na escola da rede municipal. Relativamente à dimensão atitudes observamos expressões de aprovação e desaprovação referentes à educação infantil. As atitudes de aprovação manifestam-se pela opinião positiva quanto ao que é trabalhado na escola e que determina mudanças significativas no comportamento e desenvolvimento dos filhos na educação escolar.

A atitude de desaprovação manifesta-se quando os pais argumentam sobre a ausência de deveres de casa ou a quantidade insuficiente destes, o ensino considerado fraco e discordância em relação à idade (cinco anos) com que a escola recebe as crianças. Alguns pais consideraram, ainda, inconvenientes as constantes reclamações e a generalização das mesmas para todas as crianças em reuniões promovidas pela escola, ou seja, questionam quando assuntos tais como higiene, aprendizagem e acompanhamento dos pais são enfaticamente tratados em reuniões, dado considerarem que: estão presentes na educação dos filhos, cuidam de sua higiene, são participativos e acompanham o processo de aprendizagem dos filhos.

Paro (2001) argumenta que será preciso traçar outras propostas relacionadas à participação da família na escola, tais como, espaços coletivos de decisão (colegiados ou conselhos) e diálogo qualitativo, que contemple a formação dos professores para a definição de estratégias de assessoria, orientação e treinamento.

hierarquizada de elementos, segundo a contribuição de Moscovici (1978). A representação sobre a educação infantil tem a imagem de acesso ao conhecimento que propiciará ao filho um futuro profissional. Estas imagens interligam-se com as representações sobre a participação dos pais na educação infantil.

Os sujeitos criam historicamente significados e este processo ultrapassa o campo individual atingindo o social, que orienta suas ações e condutas. Asrepresentações sociais dos pais sobre educação infantil e participação demonstraram como tais sujeitos partilham com seus grupos os conhecimentos produzidos ou coletivamente assimilados.

A teoria das representações sociais, segundo Nascimento (2007), constitui importante campo de estudo para as áreas que pretendem compreender a dinâmica psicossocial das relações humanas, responsável pela construção e representação da realidade.

A investigação deste estudo fundamentou-se na teoria das representações sociais, que segundo a contribuição de Jodelet (2001, p. 28), orienta-se pelas questões: quem sabe e de onde sabe? O que e como sabe? Sobre o que sabe e com que efeitos? As questões relacionam- se às condições de produção e de circulação; processos e estados; estatuto epistemológico das representações sociais. As representações sociais são constituídas por informações, imagens, crenças, valores, opiniões, elementos culturais e ideológicos.

A questão quem sabe e de onde sabe considera as condições de produção e circulação das representações sociais. Os sujeitos da pesquisa foram mães, uma avó e um pai e encontravam-se na faixa etária de 24 a 52 anos. Os pais revelaram a importância da educação infantil e a partilha de conhecimentos sobre a educação escolar dos filhos de quatro a cinco anos com profissionais da área da Educação. Estes profissionais, em conformidade com nossa observação, influenciam a difusão de tais conhecimentos ao mediarem entre os sujeitos, sejam eles membros de sua família, ou professores na escola que os filhos ou os pais estudam, grupo de amigos ou de pessoas da comunidade seus saberes a respeito da importância da educação escolar na vida da criança entre quatro a cinco anos.

A segunda questão o que sabe e como sabe, correspondente aos processos e estados das representações sociais dos pais sobre a educação infantil, revelou os significados que estes sujeitos atribuem à esta etapa da escolaridade, com ênfase no desenvolvimento de seus filhos. Os pais ressaltam os conhecimentos aprendidos como o processo inicial de alfabetização, a interação social produzida no convívio com outras crianças e registram mudanças de comportamento, conseqüência, segundo eles, do acesso à escola na educação infantil.

As representações ancoradas nos discursos dos pais revelaram a concepção de educação infantil como momento de preparação para o futuro ou de propiciar o êxito na formação das crianças pelo acesso ao conhecimento dos processos de leitura e escrita.

Inferimos que existem dois processos que se completam sobre a materialização das representações da infância por parte dos pais. Observamos, assim, os pais que (1) compreendem esta etapa da vida como aquela em que devem oferecer educação, cuidado, amor e atenção aos filhos e (2) os que ressaltam este momento de interação social com o adulto, bem como o conhecimento adquirido, quer seja na escola, com o qual as crianças passam a questionar a educação recebida, quer aquele adquirido junto aos meios de comunicação, sobre temas relativos à sexualidade, tecnologia e violência, sendo essas temáticas consideradas como elementos desencadeadores do amadurecimento precoce das crianças.

Os pais afirmam que as crianças questionam as regras dos adultos ou imitam o comportamento destes, o que provoca a existência de sentimentos de receio sobre como educar os filhos. Os pais ancoram suas representações sobre a infância como fase natural de desenvolvimento em que predominam a imaturidade, a ingenuidade, em que a educação possibilitará à criança a aquisição de saberes necessários à convivência social.

Duas mães ressaltaram essas mudanças sociais como produtivas à educação dos filhos, pois consideraram que as pessoas da família, atualmente, estão dispostas ao diálogo. Além disto, acreditam que o conhecimento na formação da criança orienta sua interpretação sobre o mundo e a capacidade de aquisição da consciência sobre a realidade. As representações em que tais idéias estão ancoradas demonstram a compreensão de criança autônoma e sujeito das interações sociais e culturais.

Conhecer os processos de representação social dos pais sobre a criança e a infância possibilita que a escola estabeleça um elo de diálogo com estes e, ainda, que os pais e a escola reflitam conjuntamente acerca das influências das mudanças sociais na formação das crianças, o que exige posturas diferenciadas por parte dos adultos. Pais ou professores precisam promover a interação com a criança pautada no diálogo e na construção das regras de convivência, pois a criança é um sujeito que deseja, que escolhe e pensa. É necessário, portanto, que os adultos reflitam sobre como construir esta intervenção educativa.

A terceira questão o que sabe e com que efeito refere-se ao estatuto epistemológico das representações sociais dos pais sobre a educação infantil e sua participação na educação dos filhos. Esta questão permitiu-nos analisar como os processos da trama das representações sociais dos pais orientam as condutas de participação destes na escola. Estes acreditam que a

participação deve acontecer no acompanhamento dos filhos à escola, a freqüência às reuniões e a orientação quanto ao processo ensino-aprendizagem.

Os pais materializam a participação relacionada ao processo de acompanhamento da aprendizagem dos filhos. Este processo ancora-se na compreensão de que os saberes de profissionais – coordenadores e professores – autorizam as ações de formação escolar. Desta maneira, os pais atribuem sentidos diferentes a esta participação. Uns descrevem condutas de diálogo, enquanto outros assumem a postura de silêncio nas reuniões e o não questionamento, pois há o sentimento de respeito pelos profissionais, ou ainda, de insegurança e, em algumas situações, timidez para expressarem os questionamentos diante de professores ou coordenação pedagógica.

Este estudo, pretendeu, do ponto de vista teórico e acadêmico, contribuir com a educação infantil e, ainda, socializar o diálogo junto aos que também interagem nesta etapa da educação dos filhos. Seus resultados podem, do mesmo modo, colaborar com a qualidade de ensino, tendo em vista que os pais, ao falarem sobre suas expectativas, sonhos, medos, crenças e ao compartilharem sua participação e seus saberes relacionados à educação infantil possibilitaram (re)pensar uma relação construtiva entre pais e escola.

No documento O PR OGRA MA DE P ÓS- (páginas 123-128)