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Primeira Dimensão: as informações e saberes dos pais sobre a educação infantil

No documento O PR OGRA MA DE P ÓS- (páginas 89-94)

Seção III: A construção das imagens e significados de pais sobre a educação infantil e de sua participação na educação infantil

REGISTROS CATEGORIAS OBTIDAS NA ANÁLISE DOS DADOS INSTRUMENTOS UTILIZADOS

3.2. As informações, saberes, crenças, atitudes e campo da representação social dos pais sobre a educação infantil sistematizadas a partir dos questionários

3.2.1. Primeira Dimensão: as informações e saberes dos pais sobre a educação infantil

A dimensão de informações, segundo a contribuição de Moscovici (1978), se refere aos conhecimentos dos sujeitos acerca do objeto. Em nosso estudo, a educação infantil, sistematizada nos registros dos pais por meio dos questionários, foi agrupada nas categorias: aprendizagem e socialização; estas, por sua vez, foram subdivididas nas subcategorias; preparação para o futuro e a educação infantil mediadora do desenvolvimento da criança.

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Relação com Aprendizagem e Socialização

As informações que os pais possuem sobre a educação infantil residem no processo de aprendizagem e no de socialização, ou seja, os pais ressaltam a aquisição de conhecimentos como importantes para o desenvolvimento de seus filhos, assim como enfatizam que a convivência da criança na escola, possibilitou o desenvolvimento da oralidade, o respeito ao outro, a interação nas brincadeiras. Os pais afirmam que estes aspectos os motivaram para matricularem seus filhos na escola, mobilizados por seu próprio interesse ou das crianças, como argumentam:

Aprender mais, ter oportunidade de aprender, se divertir e ter outros colegas (CARLA, mãe).

Aproveitar o interesse dele pelo estudo (CARMEN, avó).

Para ele se socializar com outras crianças e aprender a desenvolver a coordenação motora (MARÍLIA, mãe).

A educação infantil é a base da vida escolar da criança é onde aprende a gostar de estudar (Cíntia, mãe).

Preparação para o futuro

Existe por parte dos pais a preocupação com o futuro e com o excesso de tempo livre dos filhos. Estes acreditam que o acesso à escola pela educação infantil garante oportunidades favoráveis à vida da criança, pois a apropriação de conhecimentos possibilitará o êxito escolar e a perspectiva de um futuro melhor às crianças. Uma das falas expressa essa intenção:

Para preencher seu tempo e aprender coisas boas para o futuro (JOANA, mãe).

A mãe Letícia manifestou o desejo de que seu filho tivesse freqüentado há mais tempo a escola, demonstrou o interesse por antecipar a freqüência da criança à educação infantil por reconhecer sua importância:

Porque não aceitava com menos de quatro anos.

Cumpre observar que os pais deste estudo não demonstraram a concepção de que a educação seja não somente assistência ou ocupação do tempo da criança, sem finalidades pedagógicas, mas o momento de educação, socialização e aprendizagem. Cabe ressaltar a ênfase no futuro, por uma das mães, que expressou a idéia de criança como um vir-a-ser, à medida que se apropria de conhecimentos para se tornar alguém na vida por meio de um bom emprego que a oportunizará outra condição social.

Para ser alguma coisa na vida, para se formar e arrumar um bom emprego (TEREZA, mãe. Grifos nossos).

A idéia de criança que precisa ser alguma coisa na vida, como registrou a mãe Tereza, demonstra a concepção ainda partilhada no senso comum do “ser” imaturo, que necessita da escola para adquirir valor social simbolizado na conquista de bom emprego. Além disso, a mãe revela a imagem de criança esvaziada de um desejo, sem valor social. A superação deste estado infantil acontecerá, segundo sua compreensão pela aquisição da escolaridade e do alcance de uma profissão. A mãe demonstra a compreensão de que por meio da inserção social seu filho será reconhecido.

A concepção desta mãe sobre seu filho revela a representação acerca da criança. Idéias construídas a partir do pensamento moderno sobre a infância, como apresentamos na primeira seção deste estudo. Observamos, com isto, o caráter dinâmico das representações que acompanham as mudanças sociais e circulam entre os sujeitos, conforme argumenta Moscovici (2003, p. 41):

Representações, obviamente, não são criadas por um indivíduo isoladamente. Uma vez criadas, contudo, elas adquirem uma vida própria, circulam, se encontram, se atraem e se repelem e dão oportunidade ao nascimento de novas representações, enquanto velhas representações morrem.

Depreende-se disto que o interior da escola é um lugar onde as representações sociais dos pais sobre a participação na educação infantil podem ser construídas ou reconstruídas desde que a partilha aconteça entre os pais ou entre estes com os profissionais, pois a representação social se fortalece quando mediada pela troca coletiva e cultural dos grupos, com atitudes, conhecimentos e comportamentos sobre o objeto que mobiliza sua representação, que adquire significado e caráter individual compartilhado coletivamente.

A educação infantil como mediadora do desenvolvimento da criança

Os pais têm a informação de que a educação infantil é mediadora do processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança, demonstrando conhecê-la de maneira geral e destacam atividades que favorecem, em sua concepção, o desenvolvimento da criança. A avó cita atividades que para ela são próprias desta etapa da educação:

É importante para o desenvolvimento da criança, brinca, faz educação física (CARMEN, avó).

O pai Marcos, formado em Ciências Sociais, conceituou a Educação Infantil de maneira mais específica, possivelmente em virtude de sua formação:

É importante ressaltar que somente duas mães afirmaram desconhecimento sobre a educação infantil:

Não sei muito, procuro entender com ela (Luciana, mãe)

Não sou sabedora do assunto (Cíntia, mãe).

O desconhecimento dos pais, que se dizem participativos na educação de seus filhos, possivelmente esteja relacionado com a ausência de discussão sobre o tema em reuniões organizadas pela escola, que lhes permitam o esclarecimento sobre a educação infantil, pois a mãe Cíntia tem formação em nível superior completo e a mãe Luciana tem a formação em nível médio.

Em síntese, as informações que os pais possuem sobre a educação infantil têm implicações na vivência destes com os filhos e na observação diária de seu desenvolvimento. Os pais destacam conhecimentos de leitura, da escrita, o processo de socialização dos filhos, que observam ser positivo, pois concebem tais saberes relacionados à perspectiva futura da vida dos filhos.

Os saberes partilhados pelos pais sobre a educação infantil

Farr (1995), ao retomar o histórico das representações sociais, afirma que há relevância em estudá-la se estiver disseminada no universo cultural. Portanto, para investigar como objeto de estudo as representações sociais de pais sobre a educação infantil, foi necessário “dialogar” com elementos da teoria de onde emergem os processos nos quais as representações sociais são produzidas por estes sujeitos.

Jodelet (2001) argumenta que os saberes dos grupos sociais possuem legitimidade para a compreensão dos mecanismos do pensamento. A representação social é designada por ela como um saber do senso comum. Os saberes partilhados pelos pais deste estudo foram organizados nas seguintes categorias: a) saberes construídos com a interação de profissionais de educação, b) saberes construídos com a família, c) saberes construídos nos meios de comunicação.

Saberes construídos com a interação de profissionais de educação

Os saberes que os pais possuem sobre a educação infantil são partilhados com os profissionais da área de educação, sejam eles amigos, pessoas da família, professores em disciplinas ministradas em curso de nível superior, ou profissionais da escola em que o filho(a) estuda. Palestras, leituras e meios de comunicação difundem tais conhecimentos, conforme indicaram os registros dos pais, quando revelam com quem partilham tais saberes:

mãe).

Nos meus estudos (ROSANA, mãe).

Em disciplinas complementares no curso de Ciências Sociais (MARCOS, pai).

Na dinâmica das comunicações e interação de conhecimentos sobre a educação infantil, a instituição educacional é considerada pelos sujeitos como elemento condutor das informações sobre a importância da educação das crianças seja por meio dos pais que estudam, de palestras, reuniões ou conversas com os professores de seus filhos.

Saberes construídos com a família

Ao registrarem o que sabem sobre a educação infantil, os pais fizeram referências à valorização da educação escolar por suas famílias, quando seus pais, fossem profissionais da área de educação ou não, lhes demonstravam a importância da formação escolar das crianças desde a idade em que se encontram seus filhos atualmente. A convivência e a referência familiar geram saberes acerca da educação infantil que fortalecem a construção das representações sociais e o vínculo dos pais com a escola. Nos registros dos questionários os pais afirmam com quem compartilharam tais saberes:

Minha mãe foi professora (CÍNTIA, mãe).

Com a minha mãe que dizia que para ser uma pessoa de bem tinha que estudar (LETÍCIA, mãe).

Os saberes que os pais têm sobre a escola exercem influências no interesse destes pela educação dos filhos, é pertinente a contribuição de autores que investigam a participação das famílias de classes populares na escolarização de seus filhos. Viana (2000), apresenta o estudo com jovens que alcançaram êxito no processo de escolarização, mediados pelo incentivo de suas famílias. A análise dos dados revela a dedicação dos pais no trabalho para prover o sustento dos filhos ou por meio de controle de “convivência na rua”, o que afirma haver uma “[...] especificidade das formas de relação das camadas populares com a escola” (VIANA, 2000, p.54).

Saberes construídos nos meios de comunicação

Com o reconhecimento dos direitos da criança na sociedade brasileira, os meios de comunicação divulgam com maior abrangência assuntos acerca do processo de educação escolar e temas sobre a infância. A mãe Carla afirma que as leituras contribuíram para os saberes que possui sobre a educação da criança, assim como a avó Carmem, que registra:

Em síntese, constatamos nos questionários que os saberes partilhados sobre a educação infantil entre os grupos de pais são mediados pelos profissionais da educação, estejam eles na função de professores, de amigos ou de pais. A família também foi citada pelos pais como lugar de onde se partilham a valorização pela educação dos filhos. Desta forma, ressaltamos a importância do diálogo entre os profissionais e os pais para a construção dos saberes sobre a educação infantil, o que influencia na relação positiva destes com a escola.

3.2.2. Segunda dimensão atitudes: crenças e valores dos pais sobre a educação infantil

No documento O PR OGRA MA DE P ÓS- (páginas 89-94)