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Terceira dimensão: o campo da representação social sobre a educação infantil A educação infantil como conhecimento e formação para a sociedade

No documento O PR OGRA MA DE P ÓS- (páginas 99-102)

Seção III: A construção das imagens e significados de pais sobre a educação infantil e de sua participação na educação infantil

REGISTROS CATEGORIAS OBTIDAS NA ANÁLISE DOS DADOS INSTRUMENTOS UTILIZADOS

3.2. As informações, saberes, crenças, atitudes e campo da representação social dos pais sobre a educação infantil sistematizadas a partir dos questionários

3.2.3. Terceira dimensão: o campo da representação social sobre a educação infantil A educação infantil como conhecimento e formação para a sociedade

Retomamos o conceito da dimensão campo da representação social que, segundo Moscovici (1978), está relacionada à idéia de imagens construídas pelos sujeitos acerca de determinado objeto. Em nosso estudo, esta dimensão foi sistematizada na idéia central: conhecimento e formação para a sociedade, que emergiu dos discursos dos sujeitos ao se referirem sobre o que é mais importante seus filhos aprenderem na educação infantil. Os mapas mentais foram construídos pelos pais sobre o que a educação infantil possibilita aos filhos e organizados nas seguintes categorias: a) acesso ao conhecimento e b) a educação infantil como preparação ao futuro.

Por ser o primeiro encontro da criança fora do contexto familiar, a projeção que os pais fazem para os filhos tem o sentido de conhecerem o mundo, prepararem-se para a vida, tornarem-se cidadãos, ou apropriarem-se de conhecimentos escolares. Existe por parte dos pais a preocupação em proporcionar uma educação para com seus filhos como investimento ao futuro. A educação infantil é entendida como a primeira experiência da criança além da convivência familiar, conforme argumenta a mãe Cíntia:

A educação infantil eu acho que é aquela hora que a criança ta saindo da família e indo pra sociedade, porque eu acho que até a pré-escola, do jardim-de-infância até a pré-escola é uma fase que é uma passagem que a criança nasceu e viveu numa família, então o mesmo momento em que ela ta indo na escola na Educação Infantil, é o mesmo momento em que ela aprende que o mundo dela não é só aquela família, existe um mundo maior aí fora, e dentro da escola, é na educação infantil que ela vai descobrir isso entendeu? A verdadeira educação que ela faz parte de uma sociedade muito maior, eu acho que essa consciência social é um dos fatores muito mais valiosos que a escola deve oferecer.

A mãe Cíntia, ao discursar sobre o processo de socialização da criança a partir da educação infantil, ressalta a compreensão da realidade que esta adquire mediante o processo educativo e a aquisição de consciência acerca do meio social em que está inserida. A mãe

Cíntia compreende a criança como sujeito produtor das relações sociais, e considera sua autonomia como conseqüência da apropriação de conhecimentos.

As mães, ao se referirem sobre a contribuição da educação infantil, focalizam a aprendizagem referente aos conteúdos relacionados à matemática e linguagem e, sobretudo, enfatizam a escrita do próprio nome como importante aquisição de conhecimento, que pode ser observado na fala de uma das mães:

Eu acho que o principal é o aprendizado, conhecer as letras, enfim, o estudo eu sempre tive isso comigo que a gente tem que estudar então a gente tem que incentivar nossos filhos a estudar, então acho que pode ajudar meu filho são os ensinamentos e também tanto aquele problema de ser um menino muito ativo e de eu colocar ele na escola porque ele teve já amizade com os coleguinhas dele, já começou a conversar, então ele mudou muito, mudou muito o comportamento dele depois devido eu colocar ele na escola, então ajuda a criança a se desenvolver mais sabe? (CARLA, mãe).

Quatro anos é a idade ideal para as crianças iniciarem os estudos, segundo afirmaram os sujeitos no grupo focal. Argumentam que, ao anteciparem o contato dos filhos com a formação escolar, estes têm mais possibilidades de aprovação escolar, interesse pelos estudos e êxito no processo de aprendizagem. O fator idade foi motivo de contestação, entre o grupo. Os questionamentos feitos pelas mães sobre a idade para a matrícula da criança em algumas escolas públicas somente com cinco32 anos foram relevantes, pois demonstram entre outros aspectos, que elas se preocupam com o processo de aprendizagem dos filhos, quando afirmam:

Eu acho que cinco anos na minha opinião é a melhor idade pra criança ir pro colégio, eu acho que com quatro anos, a criança ainda ta muito novinha. Até uns quatro anos a gente tem que passar a segurança, preparar ele pra ir pro colégio, entendeu? [...] (JOANA, mãe).

Eu discordo porque eu tenho um filho de seis anos, ele começou a estudar com quatro anos, então hoje com seis anos ele já sabe ler e ta na primeira série, então o L. já entrou com cinco anos, já tem aquela dificuldade todinha sabe? [...] eu vi que a criança tem que começar com quatro anos, isso não é pra ela passar o dia todo, é a manhã na escola normal e a gente tem o dia todo pra ficar com os nossos filhos, [...] Então a criança, ela começa a se desenvolver mais cedo, porque nós trazemos nossos filhos pra cá pra aprender né? Então a gente quer o quê? O melhor pra eles em relação ao futuro (CARLA, mãe).

Eu concordo com ela também porque quanto mais cedo a criança vai pra escola mais cedo ela aprende porque a minha filha ela começou a estudar com cinco anos. Ela ainda ta com dificuldade de aprender as coisas porque ela começou com cinco anos, o meu outro filho, ele tem dois anos, ele vai fazer três o ano que vem eu já vou colocar ele na escola. Se eles tiverem em casa e na rua eles só vão aprender o que não presta, então quanto mais antes eles tarem na escola melhor. Se eles forem pra

escola, eles vão aprender as coisas mais cedo, lógico que vão pegar o gosto, eles vão ter aquela vontade, quer dizer quanto mais cedo eles forem pra escola, eles vão terminar mais cedo ainda [...] (PATRÍCIA, mãe).

A discordância do grupo revela a necessidade considerada pelos pais de que seus filhos tenham acesso à formação escolar, tendo em vista o futuro. O ritmo individual de aprendizagem, as dificuldades que porventura as crianças encontrem nesse processo, segundo a compreensão dos pais, é conseqüência do tardio ingresso das crianças na escola (com cinco anos). Em razão desta compreensão que consideram que o acesso à educação infantil proporciona melhores rendimentos futuros aos filhos. Outra mãe acredita que a repetência da criança em anos posteriores à educação infantil é conseqüência de uma formação inadequada quando diz:

Eu acredito assim que a gente devia ter condições de dar uma educação melhor pras crianças menores, eu acho que o nível de repetência é muito grande por causa disso porque a criança não vem preparada entra na escola pública, ela tem dificuldade e é difícil pra ela, então se ela começa a ter dificuldade desde pequena, tem criança que ultrapassa essa dificuldade, mas a maioria não consegue ultrapassar, então ela vai acumulando dificuldades. Então chega uma hora que, é por isso que tem gente que não gosta de estudar (CÍNTIA, mãe).

As crianças de zero a seis anos precisam ter acesso à educação infantil como afirmam as mães e estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96. No entanto a educação infantil não pode estar somente condicionada ao preparo para o ensino fundamental, pois restringiria a formação das crianças de quatro a cinco anos como pré-requisito à escolarização. A educação infantil não determina a aprendizagem com êxito em anos posteriores da formação escolar, como crêem os pais. Segundo a contribuição de Vigotskii (2006, p. 110):

O curso da aprendizagem escolar da criança não é conseqüência direta do desenvolvimento pré-escolar em todos os campos: o curso da aprendizagem pré- escolar pode ser desviado, de determinada maneira, e a aprendizagem escolar pode também tomar uma direção contrária [...].

Dessa forma, compreendemos que o acesso à educação infantil tem o caráter de apropriação de conhecimentos de diferentes áreas, como argumentam os pais, mas o direito a educar-se pertence às crianças. Além disso, a escola proporciona a construção de novos significados sobre a realidade, por meio das brincadeiras com seus pares e as interações que estas vivenciam no processo escolar.

As funções das representações sociais se definem a partir da compreensão dos indivíduos sobre a realidade, os valores, as normas, os conhecimentos são produzidos historicamente pelos indivíduos e coletivamente, os quais orientam suas condutas, práticas e

comportamentos na sociedade. Ao argumentar as funções de convenção e prescrição das representações sociais, Moscovici destaca:

Convencionalizam os objetos, pessoas ou acontecimentos que encontram. Elas lhes dão uma forma definitiva, as localizam em uma determinada categoria e gradualmente as colocam como modelo de determinado tipo, distinto e partilhado por um grupo de pessoas [...] representações são prescritivas, isto é, elas se impõem sobre nós com uma força irresistível. Essa força é uma combinação de uma estrutura que está presente antes mesmo que nós comecemos a pensar e de uma tradição que decreta o que deve ser pensado. (2003, p. 34; 36).

No documento O PR OGRA MA DE P ÓS- (páginas 99-102)