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2.4 A indústria portuguesa no contexto internacional

2.7 A Dinâmica de rede do Sector do Calçado

2.7.1 Os principais actores

? APICCAPS – Associação dos industriais do sector, responsável pela mobilização e sensibilização dos empresários e das estruturas de apoio as grandes problemáticas de competitividade que afectam o sector. Além desta responsabilidade chama a si a articulação de políticas com as entidades estatais e pela negociação com outras estruturas associativas (nacionais e internacionais).

? CTC- Centro Tecnológico da Indústria do Calçado constitui o eixo de

Fig.ª2.6: Dinâmica de rede do sector

Particularmente vocacionado para as questões relacionadas com a inovação tecnológica, a formação de quadros no âmbito da nova tecnologia, dá apoio técnico regular às empresas que o solicitem e co-responsabiliza-se na implementação de programas sectoriais de mobilização tecnológica.

? O Centro de Formação para a Indústria do Calçado (CeNTRO) é responsável pela definição e administração dos cursos de formação profissional em todas as áreas tradicionais (operadores, modeladores, técnicos de manutenção e administrativos). Apostam estrategicamente na formação em design e na formação de operadores fabris polivalentes.

? As próprias empresas produtoras de calçado, susceptíveis de estabelecer acções de cooperação e de mercado entre si e com outras entidades.

? Os sindicatos, responsáveis pela representação dos trabalhadores na negociação dos contratos colectivos de trabalho e interventores na problemática geral das condições de remunerações e trabalho.

? O Estado, regulador dos mercados e incentivador da competitividade, através do estabelecimento de programas de apoio estruturais.

? As empresas de curtumes, sector a montante na fileira do calçado, encarregado do fornecimento da pele.

? A associação da industria de curtumes (APIC), homóloga da APICCAPS, para este sector.

? O centro tecnológico da industria de curtumes, homóloga do Centro Tecnológico do Calçado, para este sector.

? Os laboratórios nacionais ou estrangeiros, responsáveis por pesquisa aplicada à indústria ou pela realização de testes de qualidade. Estão, por vezes, acreditados para conceder certificação de qualidade.

? As universidade e outros estabelecimentos de ensino, produtores de conhecimento científico-base, pesquisa aplicada e formadoras de técnicos altamente qualificados.

? Fornecedores de componentes para calçado.

? Fornecedores de equipamento para calçado, em especial nacionais, susceptíveis de prestar um apoio técnico mais regular às empresas produtoras e de participar em acções de cooperação tecnológica.

2.7.2 As relações de cooperação no “Cluster”

A análise da indústria de calçado não estaria todavia completa se a mesma fosse compreendida na sua acepção focal isto é delimitada às empresas produtoras de calçado, descorando-se todo o conjunto de outros actores relevantes para a actividade em causa.

É, assim de extrema importância e de toda a relevância que a mesma seja analisada numa perspectiva de “Cluster”, encarando o mesmo como a concentração geografica de empresas e instituições inter-relacionadas do sector. “O cluster”, no caso do calçado, inclui não apenas as empresas produtoras, mas também toda a rede que lida com este produto e as instituições públicas e privadas que de uma ou de outra forma se relacionam com estas.

Não é de todo a intenção neste momento explorar o conceito de “Cluster”, já que o mesmo será analisado em tempo oportuno, no entanto será contudo importante centrar a atenção nas inter-relações existentes no seio do “Cluster” e a intensidade de cooperação que encontramos no relacioname nto dos diversos actores.

É a intensidade de cooperação que atravessa a rede de relações do sector (neste caso do calçado), que define a profundidade do “Cluster”.

Nesta perspectiva, o “Cluster” do calçado é todavia pouco profundo, apesar do papel mobilizador e fundamental de unificação que associação do sector, APICCAPS que em articulação com o centro tecnológico (CTC) tem vindo a desenvolver. É uma realidade que este eixo tem sido responsável pelo grosso das políticas mobilizadoras do sector e assumido um papel importante no desenvolvimento da tecnologia de processos da empresa. A APICCAPS articula também eficazmente a intervenção do estado com os objectivos que define para o sector e tem um papel fundamental na negociação de contratos colectivos com os sindicatos e representa, para além dos produtores de calçado, os de componentes e os de equipamentos para esta indústria.

No entanto, a debilidade é notada quando se analisa a inter-relação entre esta associação e a APIC, que nunca respondeu à coordenação entre os sectores.

A associação mantém ainda relações igualmente débeis e de certa forma ausentes de cooperação com os estabelecimentos de ensino e de formação sectorial, não existindo uma concertação estratégica com o centro de formação, havendo também um distanciamento com os estabelecimentos de ensino superior, que se procura atenuar com projectos como o que foi implementado entre CTC e a Universidade de Aveiro, que permitiu o desenvolvimento de cursos de formação integrados nas novas necessidades do sector.

Com uma fraca relação com a associação do sector, provocada principalmente por diferentes prioridades de oferta formativa que define em relação a Centro Tecnológico Calçado, o Centro de Formação (CeNTRO) tem essencialmente ligações com as empresas que recorrem a esta estrutura sempre que necessitam de ministrar formação aos seus trabalhadores.

Os sindicatos têm vindo a procurar uma nova lógica de negociação e defesa dos trabalhadores, reconfigurando a ligação com o Estado no sentido de procurar uma assimilação de conhecimentos técnicos que lhe permitam actualizar os critérios de negociação. Com esta atitude tem-se assistido uma maior relação de cooperação entre os sindicatos e a APICCAPS em detrimento das relações de confronto que se assistia.

Ao nível de I&D as semelhanças com a problemática da formação são marcantes, já que relações de cooperação são igualmente fracas assistindo-se também a um distanciamento das instituições I&D. Os laboratórios e os centros de pesquisa

o que leva muitas vezes as empresas a recorrerem a laboratórios estrangeiros (principalmente inglesas) para colmatar este distanciamento.

No entanto, não se pode deixar de evidenciar o papel determinante que o Centro Tecnológico do Calçado desenvolve nesta área o que permite às empresas atenuarem claramente a dependência que podia existir perante os laboratórios estrangeiros. Há também empresas de maior dimensão que possuem os seus próprios laboratórios.

Apesar desta debilidade de relações não se pode de todo afirmar que o “Cluster” não apresenta um dinamismo ao nível de I&D, facilmente comprovado pelos níveis de investimento da indústria de calçado nesta área.

O CTC assume papel preponderante ao nível I&D não só no desenvolvimento de materiais e engenharia de produto, como também noutras vertentes como o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas, equipamentos para esta indústria, assumindo também o papel dinamizador de relações de cooperação com a indústria de equipamentos que possibilitou o surgimento de novos equipamentos com elevado nível tecnológico, muitos deles desenvolvidos ao nível do projecto FACAP. Este projecto apresenta-se como um sucesso no campo da cooperação entre diferentes actores , empresas de calçado, centro tecnológico do calçado, instituições de ensino superior, e empresas de equipamento para calçado.

Os fornecedores de equipamento reforçaram a sua posição nos últimos anos através de uma acção forte junto da APICCAPS e dos empresários. A sua intenção de participação em acções de cooperação tecnológica foi razão suficiente para se assistir a relações mais próximas com as empresas. As acções de cooperação promovidas pela APICCAPS e pelo CTC, como foi exemplo o FACAP, posic ionaram-se como vínculos propícios ao encontro destes dois tipos de actores.

As acções de cooperação a este nível encontram-se principalmente focalizadas em empresas de maior dimensão normalmente produzindo para grandes marcas e ligadas à actividade associativa, que modernizaram as suas linhas de produção. As empresas de pequena dimensão estão geralmente pouco envolvidas em acções de cooperação, havendo menos desenvolvimento de soluções tecnológicas para estas empresas.

Neste momento luta-se também por uma maior ligação ao sector de fabrico de componentes para calçado, que apela urgentemente por modernização.

A cooperação inter-empresarial existente circunscreve-se ao nível comercial, podendo-se encontrar no terreno diferentes projectos. Como já foi salientado neste estudo um desses projecto envolve um conjunto de empresas fortemente ligadas ao eixo associativo e que tem como objectivo abertura de uma porta para os mercado do leste, através da montagem de uma cadeia de lojas-armazém. Outro projecto em pleno desenvolvimento e que envolve empresas do segmento casual, em gamas elevadas, traduz- se na montagem de uma estrutura de distribuição central. Identifica-se também a criação de franchising comercial de um conjunto de designers portugueses/fabricantes de alta- moda portugueses.

Não se pode de todo deixar de destacar o projecto cooperação encetado por seis empresas fabricantes de calçado (Jóia, Nova Aurora, L. Costa, Netos, Aerosoles, Kyaia) que em parceria com o Estado (no âmbito do projecto Dínamo desenvolvido com o governo) e sobre a coordenação da Apiccaps permitiu a aquisição por estes do grupo de distribuição e de lojas de Sapatos Labelle.

Para dar cumprimento a este projecto foi criada uma holding “Front Shoes” onde as empresas inseridas no projecto detêm 50,1% do capital.

O objectivo do projecto em causa passa instituicionalmente pela tentativa de reposicionar o sector do calçado, que retém pouco valor do que cria, e estimular os empresários do calçado a actuar na distribuição.

É de salientar que, em Portugal, não se vislumbra ou evidência abordagens muito inovadoras que proporcionem um maior envolvimento dos consumidores nas actividades das empresas fabricantes de calçado. Há uma grande diversidade de arranjos com os intermediários comerciais, particularmente, nas actividades de exportação. Contudo é consensual que a integração com consumidor final reveste de elevada importância, numa altura em que a resposta as necessidades do cliente se tornou fundamental. Esta integração potenciará a fidelização do mesmo através de uma resposta adequada das empresas ás necessidade destes e às suas especificidade.