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Factores de competitividade na era da globalidade

2.4 A indústria portuguesa no contexto internacional

ENTRADAS POTENCIAIS

3.1.5 Factores de competitividade na era da globalidade

Após se ter feito uma incursão na complexidade que se reveste o conceito de competitividade e se ter analisado a sua evolução teórica e a sua realidade multidimensional, não se podia de todo deixar de abordar este conceito perante a realidade que define hoje a economia mundial ou seja a globalização.

Assim, procurar-se-á entender de que forma é que o fenómeno de globalização afecta a definição dos padrões de competitividade e impõe que novos factores se apresentem como propulsores dessa mesma competitividade. Mas antes dessa abordagem será de todo importante entender o fenómeno de globalização.

Afinal, o que é a globalização?

Para dar resposta a pergunta formulada recuar-se-á aos anos cinquenta para que se possa entender efectivamente que mudou e implicou o surgimento desta nova realidade. Nessa época o conceito da economia internacional respeitava um conjunto das economias domésticas, separadas entre si por barreiras pautais e não pautais, meios de transportes caros e pouco regulares, fluxos de informação descontínuos e não standardizados o que implicava que as empresas apresentassem predominantemente centradas no mercado interno. A diferença de custos relativos dos produtos era o principal fundamento da troca internacional.

A abolição continua e progressivas das barreiras alfandegárias, bem como a evolução registada ao nível das tecnologias da informação permitiu que nos dias de hoje se assista uma nova realidade onde a economia internacional dá lugar á economia mundial, caracterizada por profunda interdependência das economias nacionais estruturadas por fluxos de comercio internacional. O desarmamento pautal e não pautal generalizou-se e em conjunto com os movimentos regionais de integração se impuseram como instrumentos na estruturação da economia mundial. Esta potenciada pelo decréscimo dos custos unitários de transportes e de comunicação internacional e pela homogeneização das preferencias dos consumidores.

A globalização é então a fase actual da economia mundial, caracterizada por interdependentes sistemas produtivos de base regional e/ou nacional aberto sobre o exterior, que acomodam uma diversidade de subsistemas produtivos sectoriais de base empresarial, cuja coerência técnica é captada pelo conceito de decomposição internacional do processo produtivo e cujo a complexidade económica se manifesta por fluxos cruzados de I&D, de comércio intra- industrial e muito dele de tipo intra-firma.

Este fenómeno influenciou claramente e profundamente o conceito de competitividade como se terá possibilidade de constatar pela abordagem que será desenvolvido.

A abolição progressiva das barreiras alfandegárias por si só e a interferência cada vez mais diminutas dos governos nacionais impõem um aumento de competitividade.

Fruto desta nova realidade as empresas sujeitas a maiores padrões de competitividade deixaram de concentrar a atenção unicamente no mercado interno e evoluíram progressivamente para formas organizacionais mais globais e transformaram-se progressivamente em sistemas cada vez mais abertos.

A globalização permitiu as empresas acederem às matérias-primas, capital e conhecimento científico no mercado internacional bem como, transferir certas actividades

para outras regiões do mundo para assim beneficiarem de baixo custo de mão-de-obra e de capital.

Em consequência desta oportunidade as indústrias passaram a utilizar uma perspectiva global (global procurement) na escolha de fontes de matérias-primas, de localização, da produção e da venda dos seus produtos. Este facto tem como consequência a ruptura da ligação entre as empresas e os factores de um país. Os recursos, matérias- primas, componentes, maquinas e serviços estão agora disponíveis para as empresas na maioria dos países em termos crescentes e comparáveis

Os factores de produção perdem assim relevância deixando de se posicionar como vantagem competitiva, fruto da possibilidade já apresentada, mas também perante a tendência que se vêm registando desde a 2.ª guerra mundial na indústria que se baseia cada vez mais em conhecimento intensivo.

De uma época (anos 50/60) em que a ênfase da competitividade se centrava nos custos de produção, passou-se por uma fase em que a saturação dos mercados conduziu a uma inflexão para factores intangíveis como o marketing e as questões relacionadas com este e posteriormente para outros factores como a qualidade e a fiabilidade dos produtos. Nos dias de hoje assiste-se a mais uma mudança com a qual a vantagem competitiva é marcada pela ideia-chave de respostas rápida às solicitações do mercado (time market). O antigo paradigma que sustentava que a concorrência se baseava nos custos de factores, sendo vencedora a empresa de mais baixo custos, não se enquadra de todo nos dias de hoje.

Qualidade e custos baixos considerados como inovadores nos anos 80 para obtenção de vantagens competitivas, são vistos hoje como requisitos mínimos de sobrevivência em quase todos os sectores, deixando como já se referiu anteriormente de se posicionarem como vantagens competitivas, já que a vantagem que os mesmos produziam deixou de ser perceptível aos olhos do consumidor.

Todo este cenário tem provocado alterações profundas nas organizações no sentido de estas se tornarem competitivas.

. Globalização dos mercados . Novos produtos . Redução do tempo de vida . Proliferação tecnológica Novos Factores Externos Internos Alterações Profundas Novos Formas De Organização . Inovação . Aumento de produtividade . Potenciação das capacidade Humanas . Novos processos de negócio . Redes empresas . Organização virtual . Empresa virtual . ...

Fig.ª 3.3 – A emergência de novas formas organizacionais Fonte: Azevedo, Américo Lopes, 1999

O resultado destas alterações profundas tem conduzido ao surgimento de novos modelos organizacionais caracterizados por uma maior concentração das empresas nas suas competências essenciais e actividades principais e pelo estabelecimento e exploração de novas formas organizacionais, em particular através da criação de redes de empresas, formação de organizações virtuais, e consequentemente de empresas virtuais. A cooperação através destes modelos de negócio em redes de empresas, com estruturas dinâmicas e de duração variável, perfila-se assim, como um elemento fundamental para garantir e sustentar a competitividade.

Competir à escala mundial num ambiente globalizante e apoiado por tecnologias da informação e comunicação avançadas significa ter de satisfazer consumidores cada vez mais exigentes e mercados mais fragmentados. São estes mercados que exigem a resposta rápida e que impõem que a massificação e a personalização dos produtos (mass customozation), a redução dos prazos de entrega e dos ciclos de vida dos produtos, a entrega pontual, a qualidade e o preço sejam factores de sucesso das empresas.

A competitividade passa hoje claramente por um novo padrão de competição internacional baseado na captação tecnológica, inovação e flexibilidade.

Em síntese, pode-se afirmar que o cenário de economia mundial vivido hoje impõe que as empresas se movimentem num enquadramento extremamente competitivo. As mesmas para se manterem competitivas tendem a evoluir progressivamente para formas organizacionais globais, tornando-se world Class Companies, ou seja, companhias de classe mundial, capazes de fornecer e comprar matérias-primas, componentes, equipamentos ou serviços em qualque parte do mundo.

A flexibilidade organizacional, a adaptabilidade, agilidade, a inovação e a criatividade são condições fundamentais para as empresas se movimentarem com sucesso no seio de um mercado constituído por consumidores cada vez mais exigentes e menos “fieis”, que apelam cada vez mais à resposta rápida, a customização dos produtos impondo a redução drástica do ciclo de vida destes.

A resposta a este ambiente cada vez menos previsível onde a necessidade de adaptabilidade e mudança são constante, surge através de novas formas organizacionais baseadas claramente na cooperação.

Globalização

da economia Novas formas

de organização Cadeia Valor Redes Outsourcing Produção dispersa

Fig.ª 3.4 – A globalização da economia e a consequente desintegração vertical Fonte: Azevedo, Américo Lopes, 1999

É no seio desta cooperação, francamente no exterior da empresa onde se procura hoje desenvolver novas vantagens competitivas.

As empresas apresentam-se actualmente como organizações cada vez mais

flexíveis, globais, abertas, concentradas nas suas competências principais. Numa dicotomia clara entre o fazer ou adquirir as empresas desenvolvem numa procura de criação de valor, redes de cooperação, com garantia de vantagens mútuas para todos os intervenientes procurando assim, enfrentar o mercado da forma mais eficiente possível.

Perante todo este enquadramento já diferentes especialistas advogam que num futuro muito próximo deixar-se-á de falar em competição entre empresas, mas sim entre cadeias produtivas.