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O estado actual da indústria portuguesa do calçado e os desafios futuros.

2.4 A indústria portuguesa no contexto internacional

ENTRADAS POTENCIAIS

5. O estado actual da indústria portuguesa do calçado e os desafios futuros.

5.1 O estado actual da indústria do calçado

A indústria portuguesa do calçado apresenta-se actualmente numa posição de viragem provocada pelas oportunidades que o fenómeno da globalização e da liberalização comercial trouxeram e principalmente pela ameaça real que os países asiáticos e da Europa de Leste podem representar principalmente ao nível do segmento de baixo custo.

A posição preferencial que a indústria portuguesa do calçado gozou historicamente junto dos grandes distribuidores europeus e dos gigantes internacionais fruto da localização geográfica privilegiada e do baixo custo de mão-de-obra tem vindo a desvanecer-se desde os inícios da década de 90 muito pela ameaça das regiões do globo que apresentam clara vantagem competitiva ao nível dos custos salariais como são exemplo, os países da Europa de Leste ou principalmente os países asiáticos .

A vantagem salarial dos países asiáticos é de tal maneira avassaladora que não deixa grande margem à indústria nacional para poder competir com sucesso na produção mais massificada de calçado ou comercializada pelas grandes marcas. Os produtos asiáticos têm conseguido, fruto dessa vantagem competitiva, colocar na Europa sapatos a um preço que corresponde a 1/3 do preço médio praticada pela indústria nacional e europeia . Assim, enquanto um par de sapatos de origem asiática está a ser comercializado para a Europa a um preço médio na casa dos 6,85 €, a indústria europeia exporta cada par de sapatos a um preço médio que ronda os 23,85 €. É, por mais evidente a diferença registada de preço .

Esta diferença, os movimentos de deslocalização da produção que as multinacionais e as grandes empresas nacionais do sector têm vindo a efectuar transferindo unidades produtivas do território nacional para países da Ásia e da Europa de Leste e a própria incerteza que rodeia muitos dos contratos de subcontratação com as grandes multinacionais no cenário de globalização que actualmente se vive são sinais claros que a ameaça é real e transparece no terreno. Apesar destes sinais, a indústria nacional do calçado tem de certa forma resistido à recessão económica mundial que se vive. Ressalta-se ainda que uma elevada percentagem de calçado produzido para as grandes marcas internacionais tem origem nacional.

A capacidade destas organizações deslocarem as suas encomendas para qualquer parte do globo não perspectiva grande futuro às empresas que se mantêm a operar neste segmento, contudo, à que ter em conta que algumas empresas nacionais do sector desenvolveram com essas grandes marcas relações estreitas de parceria fornecendo- lhes um padrão consistente de abastecimento e qualidade que lhes permitiu transformarem-se em partes integrantes da estrutura global da própria marca obtendo assim, uma posição de certa forma privilegiada.

No entanto, não parece de todo que a produção massificada para o segmento de mercado de baixo custo ou para as grandes marcas seja efectivamente a opção estratégica a

fomentar actualmente no seio da indústria do calçado. Muitos especialistas do sector advogam que a estratégia de baixo custo já à muito tempo que não se apresenta como uma opção ideal para a indústria de calçado nacional. Estas posições não põem em causa de todo as relações de parceria assentes em pilares determinantes que vão muito para além do simples custo de factores que algumas empresas nacionais mantêm com as grandes marcas onde se pressupõe a existência de benefícios para ambas as partes.

As empresas nacionais atentas a estes sinais têm vindo a desenvolver planos de acção que vão muito para além da estratégia de baixo custo, apostando em desenvolver competências que lhes permitem actuar em segmentos de mercado mais exigentes e ma is apelativos ao nível do valor acrescentado. No entanto, à que salientar que na diversidade da indústria do calçado nacional é possível ainda encontrar um grande número de empresas que continuam a apostar em estratégias de baixo custo .

Mas afinal como se pode caracterizar actualmente a indústria do calçado nacional ? E que competências esta já domina que podem ser vitais para continuar a competir no mercado de uma forma eficiente?

A indústria nacional mantém a especialização em calçado de couro e a propensão para a exportação, factores que a caracterizam ao longo dos tempos, contudo, à que registar algumas mudanças ao nível dos mercados de destino dos produtos nacionais na medida em que novos mercados como o Leste Europeu, os EUA, os países asiáticos ou a Rússia têm ganho importância (principalmente em 2003), mas ainda não permitiram de todo que a indústria nacional do calçado se libertasse da concentração geográfica que evidenciava ao nível dos mercados de escoamento dos seus produtos .

As exportações de calçado nacional ascendem a cem milhões de pares de sapatos avaliados em mais de 1500 milhões de euros, o que corresponde a 85% da produção nacional de calçado.

Apesar dos valores registados a indústria nacional do calçado retém unicamente 30% do va lor acrescentado gerado ao longo da cadeia de valor, o restante, criado ao nível da marca e design (20%) e ao nível do retalho (50%), não é de todo retido pela indústria nacional.

Esta realidade apresenta efectivamente razões históricas já que por um lado a posição de subcontratada assumida por parte desta indústria, durante um longo período de tempo, não incentivou que fosse equacionado como relevante o desenvolvimento de competências ao nível do design pois, como já se referiu no decorrer deste estudo, os grandes distribuidores Europeus quando colocam ou colocavam as suas encomendas em Portugal impunham os seus próprios modelos. Por outro lado, as diferentes opções estratégicas assumidas que elegiam como essencial a preocupação ao nível da produção do produto e do processo produtivo também contribuíram para esta realidade .

No terreno, é notória a existência de um défice ao nível do design, no entanto é clara a facilidade em reproduzir modelos existentes. O mercado e os consumidores por seu turno não identificam a existência de um design tipicamente português assumindo mesmo que este apresenta uma influência marcante do design Espanhol, Italiano e Nórdico.

A preocupação não reside contudo só no défice de competências a este nível, mas sim no facto de aos olhos do consumidor o produto nacional se apresentar pouco diferenciado. Assim, a marca e a imagem apresentam-se também como factores importantes a considerar nesta análise. A falta de diferenciação do produto nacional aos olhos do consumidor ficou demo nstrada num teste realizado pela APICCAPS à cerca de três anos atrás que colocou à consideração de vários especialistas internacionais seis

modelos provocou que os naciona is vissem o seu valor decrescer 30%. Esta ocorrência demonstra desde logo um diferencial entre a qualidade percebida e a qualidade intrínseca do produto.

O estudo demonstra também que apesar de todos os esforços encetados no sentido de projectar a imagem de Portugal esta apresenta ainda um elevado défice, que segundo a opinião de muitos empresários se posiciona como um obstáculo ao sucesso do calçado português no mercado internacional . Muitos consideram mesmo que se este obstáculo não for rapidamente inve rtido poderá causar uma diminuição desta indústria no país no decorrer dos próximos anos.

A indústria de calçado nacional não apresenta uma marca de referência ou uma insígnia forte em termos internacionais, no entanto e apesar da maioria das empresas portuguesas não comercializarem no circuito final, estas têm apostado no desenvolvimento de marcas próprias procurando responder às incertezas do mercado de subcontratação no cenário de globalização que se vive. Assim, mais de 80% das empresas de calçado possuem marcas próprias.

A importância da “marca” é reconhecida por todos, apesar de também ser partilhado por estes que existem algumas dificuldades na implementação das mesmas, principalmente ao nível dos investimentos avultados necessários para criar e sustentar o desenvolvimento destas e da dificuldade existente em concorrer com as marcas de retalhistas internacionais.

RUBRICAS

2001

2003

1-% Empresas com marcas 82% 89%

2- + 50% do volume négocios 40% 21%