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Dinâmicas socioeconómicas do meio rural e competitividade da agricultura

ANEXO XV. Resultados SPSS

Cartograma 12. Dinâmicas socioeconómicas do meio rural e competitividade da agricultura

Fonte: Baptista (2003, pp. 13-14)

Pertinente refletir que é nas zonas onde as dinâmicas socioeconómicas e a competitividade da agricultura são mais baixas que os autores do estudo verificaram as atividades de lazer como tendo um forte interesse para o desenvolvimento. Esta ideia vai

de encontro ao que Marques (2003) define como a terceira fase na relação entre rural e urbano. Diz a autora que

Numa primeira fase, quando as sociedades eram predominantemente rurais, os campos alimentavam as necessidades de consumo alimentar das áreas urbanas. Eram economias sustentadas na produção agrícola. Depois da revolução industrial, as economias passaram a estar sustentadas nos espaços urbanos e os espaços rurais passaram a depender das economias urbanas. Hoje em dia estamos a entrar numa terceira fase, pois os fluxos entre o urbano e o rural têm vindo progressivamente a aumentar. (Marques, 2003, p. 508).

Tendo em consideração as características das zonas rurais já mencionadas – o afastamento e isolamento dos territórios, das pessoas, das dinâmicas locais face aos centros de crescimento económico, de conhecimento e de decisão; as frágeis dinâmicas económicas e sociais; a escassa ou inexistente articulação entre processos de inovação; a população escassa e envelhecida; e os baixos níveis de escolarização dos seus residentes (Figueiredo & Ferrão, 2007, pp. 10-11) – é, então, pertinente pensar em estratégias que diminuam este fosso entre o meio rural e o urbano (na medida em que estas características se estabelecem frequentemente em comparação com a urbanidade do País). Caso contrário, se se continuarem a verificar as mesmas disparidades, as zonas rurais, sobretudo as mais interiores (igualmente mais afetadas pelo fosso urbano- rural), correm vários riscos, como o bloqueio da participação dos atores rurais na sociedade do conhecimento e, consequentemente, a menorização da população rural, remetendo-a para uma situação de subalternização e exclusão (Figueiredo & Ferrão, 2007, p. 13).

Essas estratégias de desenvolvimento do rural já faziam igualmente parte das reflexões da Comunidade Económica Europeia (CEE), como a reestruturação da atividade agrícola e a diversificação da economia, através da criação de novas funções e oportunidades (como o turismo rural) para os seus residentes, mas também novas ou renovadas formas de fazer e de executar os processos (CEE, 1988, p. 5). A globalização assume, aqui, uma importância que não pode ser esquecida, no entanto, não no sentido de mundializar ou homogeneizar os mundos rurais, mas antes no sentido de

[…] ser capaz de tirar partido da flexibilidade de comunicação proporcionada pela redes e serviços

telemáticos para estabelecer trocas económicas e culturais com outros povos e, simultaneamente, ter a oportunidade de dar a reconhecer à escala global os fenómenos e especificidades locais. Neste contexto, o desafio está no desenvolvimento da capacidade de articular as culturas locais e globais no âmbito dos fluxos comunicacionais interculturais. (Silva & Abreu, 2003, p. 60).

Neste sentido de, longe da homogeneização, compreender as procuras e consumos da população rural e, posteriormente, sugerir desenhos e aplicações de estratégias de desenvolvimento mais eficazes, surgiu o projeto RURAL MATTERS -

Significados do Rural em Portugal: Entre as representações sociais, os consumos e as estratégias de desenvolvimento7, coordenado por Elisabete Figueiredo, docente da Universidade de Aveiro, que decorre entre 2012 e 2014. Ainda não é possível apresentar resultados do projeto, no entanto, na medida em que vai incidir sobre as representações sociais criadas sobre o rural e a sua articulação com as motivações e materializações dos consumos do rural e com as suas estratégias de desenvolvimento, considera-se que será mais um precioso contributo para a reflexão sobre o futuro do meio rural português.

Para Covas e Covas (2012), entra-se, agora, numa 2ª ruralidade, associada à sociedade de risco de Beck (2011 [1992]). De acordo com os autores (Covas & Covas, 2012), “os problemas estruturais do mundo rural […] agravam o impacto dos riscos globais e este círculo vicioso gera, ele próprio, uma “exportação de risco” do mundo rural para o mundo urbano.” (Covas & Covas, 2012, p. 98).

Da análise do estado da arte sobre o meio rural português sobressaíram três indicadores principais, nos quais é subdivido este subcapítulo: a população e os movimentos migratórios; o território e a geografia e as atividades económicas e escolarização. Não é objetivo que se considerem em separado, nem seria possível tendo em conta as inter-relações que têm uns com os outros, como aliás já houve oportunidade de analisar, no entanto, considera-se oportuno elaborar uma distinção um pouco mais detalhada para melhor compreensão dos fenómenos.

1.1.2.1. Geografia e território

Antes de dar início a qualquer caracterização de Portugal em termos da sua população e atividades económicas, considera-se pertinente explicar como se encontra o País organizado e como foram ocorrendo as mudanças territoriais.

Portugal Continental está organizado em várias divisões: são 18 distritos (Viana do Castelo, Vila Real, Bragança, Braga, Porto, Aveiro, Viseu, Guarda, Coimbra, Castelo Branco, Leiria, Santarém, Portalegre, Lisboa, Setúbal, Évora, Beja e Faro), subdivididos

em 311 concelhos, por sua vez, divididos em freguesias. Portugal tem ainda mais duas unidades territoriais, a Região Autónoma dos Açores, com nove ilhas (Flores, Corvo, Graciosa, S. Jorge, Terceira, Faial, Pico, S. Miguel, Santa Maria e Ilhéu das Formigas) e a Região Autónoma da Madeira, com quatro ilhas (Madeira, Porto Santo, Desertas e Selvagens).

Após a entrada na Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1986, e como já referido anteriormente, Portugal alterou a forma como define o território, assim, passou a dividir-se através de novas unidades administrativas designadas por NUT (nomenclatura das unidades territoriais para fins estatísticos), com os níveis hierárquicos NUT I, NUT II e NUT III. O Cartograma 13 representa a divisão do País em distritos e ilhas.